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160 Observações Medicas Doutrinaes. se deite de alto este cozimento morto sobre a cabeça , repetindose duas vezes no dia , em quanto a doença o pedir , porque naõ se póde explicar a virtude , que esta emborcaçaõ tem para curar a surdez procedida de intemperança fria , porque conforta muito a cabeça , & deseca os humores superfluos , que nella ha . No entretanto que se faziaõ estas emborcações , lhe ordenei recebesse nos ouvidos os seguintes bafos . De polpa de colocintidas , de baga de loureiro , & de semente de alfazema , de cada cousa destas meya maõ cheya , com huma duzia de cravos da India se machuque tudo , & se coza com meya canada de espirito de vinho , & por hum funil se tomem estes bafos , estando mastigando alguma cousa muito dura , paraque se abraõ mais as vias , & orgãos do ouvir , & entrem melhor os ditos bafos . Finalmente deitei todos os dias nos ouvidos quatro gottas de fel de perdiz misturado com igual quantidade de oleo de alambre branco , porque naõ se póde explicar a virtude que tem este remedio para curar os surdos , como experimentei neste Sacerdote , que ouvio claramente tudo , o que fallava , aindaque fosse com voz branda . 6 . A agua de pào freixo destillada per descensum , he remedio maravilhoso , deitando no ouvido quatro gottas della cada dia: mas porque nas aldeas, & terras limitadas se naõ acharà a dita agua feita per descensum , póde fervir em seu lugar a agua , que o dito páo verde deitar de si , metendo huma ponta delle no fogo , & ficando a outra ponta fóra . Nem he menos admiravel a agua , que destilla da enxundia da eyró de rio de agua doce . O espirito de terebinthina , em que ferverem em banho de Maria as flores de enxofre , atè se fazer vermelho , he grande medicina ; com tal condiçaõ , que este , ou qualquer dos remedios sobreditos se applique depois do corpo evacuado . 7 . Permittaõme os Medicos modernos , que lhes faça aqui huma advertencia , senaõ muito agradavel ao seu gosto , muito importante ao seu credito ; e he , pedir-
160 Obfervações Medicas Doutrinaes. fe deite de alto efte cozimento morno fobre a cabeça, repetindofe duas vezes no dia, em quanto a doença o pedir , porque naõ fe póde explicar a virtude, que efta emborcaçaõ tem para curar a furdez procedida de in- temperança fria, porque conforta muito a cabeça, & defeca os humores fuperfluos, que nella ha. Noen- tretanto que fe faziao eftas emborcações, lhe ordenei recebeffe nos ouvidos os feguintes bafos. De polpa de colocintidas, de baga de loureiro, & de femente de al- fazema, de cada coufa deftas meya maõ cheya, com "huma duzia de cravos da India fe machuque tudo, & fe coza com meya canada de efpirito de vinho, & por hum funil fe tomem eftes bafos, eftando maftigando alguma coufa muito dura, paraque fe abrao mais as vias, & orgãos do ouvir, & entrem melhor os ditos ba- fos. Finalmente deitei todos os dias nos ouvidos qua- tro gottas de fel de perdiz mifturado com igual quan- tidade de oleo de alambre branco, porque naõ fe pó- de explicar a virtude que tem efte remedio para curar os furdos, como experimentei nefte Sacerdote, que puvio claramente tudo, o que fe fallava, aindaque fof- fe com voz branda. 6. A agua de pao de freixo deftillada per defcen- fum, he remedio maravilhofo, deitando no ouvido quatro gottas della cada dia:mas porque nas aldeas, & terras limitadas fe nao acharà a dita agua feita per defcenfum, pode fervir em feu lugar a agua, que o di" to páo verde deitar de fi, metendo huma ponta delle no fogo, & ficando a outra ponta fora. Nem he mes . nos admiravel a agua, que fe deftilla da enxundia da cyro de rio de agua doce. O efpirito de terebinthina, em queferverem em banho de Maria as flores de en- xofre , atè fe fazer vermelho, he grande medicina com tal condição, que efte, ou qualquer dos reme+ 'dios fobreditos fe applique depois do corpo evacua- do. 7. Permitaome os Medicos modernos, que lhes façaaqui huma advertencia, fenaõ muito agradavel ao feugofto, muito importante ao feu credito ; & he, pedir-
16o Obfervacoes MedicasDoutrinaes. fe deite de alto efte cozimento morno fobre a cabeca, repetindofe duas vezes no dia, em quantoa doenca pedir , porque na fe póde explicar a virtude, que efta emborcaca tem para curar afurdez procedida de in- temperancafria, porque conforta muito a cabcca, & defeca os humores fuperfluos, que nella ha.. No en- tretanto que fefazia eftas emborcasöes, lhe ordenei recebeffe nos ouvidos os feguintes bafos. De polpa de colocintidas, de baga deloureiro, & de fenente de al- fazema, de cada coufa deftas meya ma cheya, com huma duzia de cravos da India fe machuque tudo, & fe coza com meya canada de efpirito de vinho, & por hum funil fe tomem eftes bafos, eftando maftigando alguma coufa muito dura, paraque fe abra mais as vias, & orgaos do ouvir,& entrem melhor os ditos ba- fos. Finalmente deitei todosos dias nos ouvidos qua- tro gottas de fel de perdiz mifturado com igual quan- tidade de oleo dealambre branco , porque na fe p6 de explicar a virtude que tem efte remedio para curar os furdos, como experimentei nefte Sacerdote, que puvio claramente tudo, quefe fallava, aindaque fof- fe com voz branda. 6. A agua de pao defreixo deftillada per defcen- fum, he remedio maravilhofo, deitando no ouvid. terras limitadas fe na achara a dita agua feita pe defcenfüm, póde fervir em feu lugar a agua, que o di- to pao verde deitar de fi, metendo huma ponta delle nofogo, & ficando a outra pontafora. Nem he me& . nos admiravel aagua, que fe deftilladaenxundia,da cyr6 de rio de agua doce. O efpirito de terebinthina, em queferverem em banho de Maria as flores de en- xofre, ate fe fazer vermelho, he grande mediciaa? com tal condica, que efte, ou qualquer dosreré-- . dios fobreditos fe applique depois do corpo evacua do. 7: .. Permittaöme os Medicos modernos,que Ihe fagaaqui huma advertencia, fena muito:agtadavel feugofto, muito importante aofeu credito; &e, pedir-
160 Oblervações Medicas Douttinaes. fe deite de alto efte cozimento morno fobre a cabeça, repetindofe duas vezes no dia , em quanto à doença o pedir, porque naô fe póde explicara virtude, que efta, emborcaçaõ tem para curar a furdez procedida de in- temperançafria, porque conforta muito à cabeça, & : defeca os humores fuperfluos, que nella ha. No en. tretanto que fefazia6 eftasemborcações, lhe ordeneií recebeffe nos ouvidos os feguintes bafos. De polpa de colocintidas, de baga delouteiro, & de femente de al. fazema, decada coufa deftas meya 1na6ô chega, com huma duzia de cravos da India fe machuque tudo, & . fecoza com meya canada de efpirito de vinho, & por hum funil fe tomem eftes bafos , eftando maftigando alguma coufa muito dura, paraque fe abraô mais as vias, & orgãos do ouvir, & entrem melhor os ditos ba-. fos. Finalmente deitei todos os dias nos ouvidos qua- tro gotras de fel de perdiz mifturado com igual quan tidade de oleo de alambre branco, porque naó fe pó- de explicara virtude que tem efte remedio para curar os furdos , como experimentei nefte Sacerdote, que puvio claramente tudo, o que fe faliava, aindaque tof> fecomvoz branda. co | ; 6. Aaguadepiodefreixodeftillada per defcen- fum, he remedio maravilhofo, deitando no ouvida. quatro gottas della cada dia:mas porque nas aldeas, &, terras limitadas fe naô acharà a dita agua feita per. defcenfim, póde fervir em feu lngar a agua , que o diê to pão verde deitar de fi, metendo huma ponta delle nofogo, & ficando à outra ponta fóra. Nem he mei nos admiravel a agua, que E deftilizda enxundia da eyró de rio de agua doce. O efpirito de terebinthina, em queferverem em banho de Maria as flores de en- xofre , até fe fazer vermelho, he grande medicina; com tal condiçaô, que efte, ou qualquer dos temês« . dios fobreditos fe applique depois do corpo evacua-s do. : 7: - Permittaôme os Medicos modernos, que lhes façaaqui huma advertencia, fenaô muito agradavel ao lengofto, muito importante ao feu credito; & he, 2 NS, pedir=
.... *. 160 Observaçones Medicas Doutrinaes. se deite de alto este cozimento morno sobre a cabeça, repetindose duas vezes no dia, em quanto a doença o pedir, porque naon se pode explicar a virtude, que esta emborcaçao tem para curar a surdez procedida de in¬ temperança fria, porque conforta muito a cabeça, & deseca os humores superfluos, que nella ha. No en¬ tretanto que se faziaon estas emborcaçones, lhe ordenei recebesse nos ouvidos os seguintes bafos. De polpa de colocintidas, de baga de loureiro, & de semente de al- fazema, de cada cousa destas meya maon cheya, com huma duzia de cravos da India se machuque tudo, & se coza com meya canada de espirito de vinhio , & por hum funil se tomem estes bafos, estando mastigando alguma cousa muito dura, paraque se abraon mais as vias, & orgamnos do ouvir, & entrem melhor os ditos ba¬ fos. Finalmente deitei todos os dias nos ouvidos qua¬ tro gottas de fel de perdiz misturado com igual quan¬ tidade de oleo de alambre branco, porque naon se pó- de explicar a virtude que tem este remedio para curat os surdos, como experimentei neste Sacerdote, que puvio claramente tudo, o que se fallava, aindaque fos¬ se com voz branda. 6. A agua de pào de freixo destillada per descen- sum, he remedio maravilhoso, deitando no ouvido quatro gottas della cada dia: mas porque nas aldeas, & erras limitadas se naon acharà a dita agua feita per descensum, pode servir em seu lugar a agua, que o di¬ to páo verde deitar de si, metendo huma ponta delle no fogo, & ficando a outra ponta fora. Nem he mes nos admiravel a agua, que se destilla da enxundia da eyró de rio de agua doce. O espirito de terebinthina, em que ferverem em banho de Maria as flores de en¬ xofre, atè se fazer vermelho, he grande medicina; com tal condiçaon, que este, ou qualquer dos rene¬ dios sobreditos se applique depois do corpo evacua¬ do. 7. Permittaome os Medicos modernos, que lhes faça aqui huma advertencia, fenaon muito agradavel ao seu gosto, muito importante ao seu credito; & he, pedit¬
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Observaçaõ XXVI. 161 pedirlhes que por amor de Deos naõ desemparem aos seus doentes , ( 6 . ) por mais perigosos que estejaõ , porque se o tempo o permittira , pudera eu mostrarlhes com mil exemplos os infinitos doentes , que estando submergidos com as ondas da morte , & deixados dos Medicos , os livrei da sepultura , naõ sem grande vergonha dos que os tinhaõ desemparado . Naõ digo isto por jactancia propria , nem por vituperio alheyo ; mas digo-o para os excitar , & animar a que acudaõ aos doentes , & lhes appliquem remedios em quanto a alma se naõ apartar do corpo ; porque se eu naõ fizera assim , morreriaõ muitos , que devem a vida às minhas resoluçoens : & assim como na natureza acontecem cada dia monstruosidades ; tambem na Arte succedem cada dia muitos prodigios , & sem embargo sey muito bem que no tempo presente he taõ grande a malicia de alguns homens , que aindaque hum Medico de cincoenta doentes perigosissimos livre quarenta & nove , lhe naõ daraõ tanto credito , como lhe tiraráõ de fama hum , ou dous que morraõ . Bem à minha custa tenho experimentado esta verdade : quantas febres malignas , quantas suppressões de ourina , quantos accidentes de gotta coral , quantas alporcas , quantas asthmas , quantos fluxos involuntarios da semente , quantos fluxos de sangue de qualquer parte , quantas camaras , quantas almorreimas , quantas hydropesias , & quantas outras doenças , que estaõ no catalogo das incuraveis , tenho eu curado naõ só nesta terra , mas em todo o Reyno , & na India , & em algumas Conquistas , só por informações de cartas ? & nem huma só palavra se diz em credito de taõ maravilhosas curas ; mas se algũ doente morre , logo se apregoa com voz de trombeta o máo successo : mas digaõ o que quizerem , que em Deos tenho muito bom Juiz : nem averà calumnia , que me atemorize , ( 7 . ) para deixar de fazer o que entender que convem aos doentes , porque , como outro Alsario , ( 8 . ) já não faço caso de detracções . OBSER-
Obfervação XXVI: A pedirlhes que por amor de Deos nao defemparem aos feus doentes, (6.) por mais perigosos que eftejao, por- que fe o tempo o permittira, pudera eu moftrarlhes com mil exemplos os infinitos doentes, que eftando fubmergidos com as ondas da morte, & deixados dos Medicos,os Avrei da fepultura, nao fem grande vergo- nha dos que os tinhaõ defemparado. Nao digo ifto For jactancia propria , nem por vituperio alheyo; mas digo-o para os excitar , & animar a que acudaõ aos doentes , & lhes appliquem remedios em quanto à al- ma fe nao apartar do corpo; porque fe eu o nao fizera afim, morreriaõ muitos, que devem a vida às minhas refoluçoens:& affim como na natureza acontecem ca- da dia monftruofidades; tambem na Arte fuccedem cada dia muitos prodigios, & fem embargo fey muito. bem que no tempo prefente he taõ grande a malicia de alguns homens , que aindaque hum Medico de cin- coenta doentes perigofifimos livre quarenta & nove, lhe naő daraõ tanto credito, como lhe tiraráõ de fama hum, ou dous que morrao. Bem à minha cufta tenho experimentado efta verdade: quantas febres malignas, quantas fuppreffoés de ourina, quantos accidentes de gotta coral, quantas alporcas, quantas afthmas, quan- tos fluxos involuntarios da femente, quantos fluxos de fangue de qualquer parte, quantas camaras ; quantas almorreimas , quantas hydropefias, & quantas outras doenças , que eftaõ no catalogo das incuraveis, tenho eu curado nao fo nefta terra, mas em todo o Reyno, & na India, & em algumas Conquiftas, fo por infor- mações de cartas ? & nem huma fó palavra fe diz em credito de tao maravilhofas curas ; mas fe algú doen- te morre, logo fe apregoa com voz de trombeta o máo fucceffo : mas digao o que quizerem, que em Deos te- nho muito bom Juiz:nem averà calumnia, que me ate- morize, (7.) para deixar de fazer o que entender que convem aos doentes, porque, como outro Alfario, (8.) já não faço cafø de detracções. * OBSER- 161
Obfervacao XXVI: 161 pedirlhes que por amor de Deos na defémparém ás feus doentes, (6.) por mais perigofos que eftejao, por- que fe o tempo permittira, pudera éu moftrarihes com mil exemplos os infinitos doentes , :que eftando fubmergidos com as ondas da morte, & deixados dos Medicos,os vrei da fepultura, na fem grande vergo- nha.dos que os tinha defemparado: Na digo ifto For jactancia propria, nem por vitupério alheyo; mas digo-o para os excitar ., & animar a que acudaaos doentes , & lhes appliquem remedios em quanto. a al- ma fe naapartar do corpo; porque fe euö nafizera affim, morreriao muitos, que devem a vida as minhas refolucoens:& affim como na natureza acontecem ca- dadia monftruofidades ; tambem na Arte fuccedem cada dia muitos prodigios, & fem émbargo fey muita. bem que no tempo prefente he tagrande a malicia de alguns homens, que aindaque hunr Medico de cin- Coenta doentes perigofiffimos livre quarenta& nove, 1he na6 daraó tanto credito , como lhe tiraraode fama hum, ou dous que morra. Bem a minha cufta tenho experimentado efta verdade:quantas febres malignas, quantas fuppreffoés de ourina, quantos-accidentes de gotta coral,quantas alporcas, quantas afthmas, quan- tos fluxos involunitarios da fementé, quantos fluxos de fangue de qualquer parte , quantas camaras ; quantas almorreimas , quantas hydropefias, & quantas outras doencas, que efta no'catalogo.das incuraveis , tenho eu curado na f6 nefta terra, mas em todo o Reyno, & na India,& em algumas Conquiftas , fo por infor- macöes de cartas? & nem huma fopalavra fe diz em credito de ta maravilhofas curas ; mas fe algu doen- te morre, logo fe apregoa com voz de trombeta o mao fucceffo : mas diga o que quizerem, que em Deoa te- nho muito bom Juiz:nem avera calumnia,que me ate- morize , (7.) para deixar de fazer oque entender que (8.) já nao faco cafo de detraccöes. OBSER
PA ” Oblfervaçãô XXVI; 16t oo pedirlhes que por amor de Deosnhaô defémparem aos eus doentes, (6.) por mais perigofos que eftejaõ, por- quê fe otempo o permittira, pudera éu moltrarlhes com mil exemplos os infinitos doentes ; que eftando fubmergidos com as ondas da morte, & deixados dos Medicos,os fivrei da fepultura, naô fem grande vergo- nha dos que os tinhaô defemparado. Nao digo 1fto For ja&tancia propria, nem por vituperio alheyo; mas digo-o para os excitar , & animar a que acuda6ao% doentes , & lhes appliquem terhedios em quanto aal: '* , ima fe naô apartar docorpo; porquefeenonaó fizera | “affim, morrériaô muitos, que devema vida às minhas refoluçoens:& afim como na natureza acontecem ca: "a. da dia monftruofidades ; tambem na Arte fuccedem . cada dia muitos prodigios, & fem embargo, fey muito. : bem que no tempo prefente he taó grande a majiciá * de alguns homens , que aindaque hurPMedico decin- coenta doentes perigofiflimos livre quarenta & nove; ' lhenaódaraõranto credito, como lhe rirarãó de fama : — hum, ou dous que morraó. Bem à minha cufta tenho experimentado efta verdade: quantas febres malignas, quantas fuppreíloês de ourina, quantos accidentes de gotta coral, quantas alporcas, quantas afthmas, quan-= tos fluxos involunitarios da femente, quantos fluxos da fangue de qualquer parte, quantas camaras ; quântas almorreimas , quantas hydropefias , & quantas outras doenças , que eftaô no catalogo das incuraveis, tenho eu curado naõ fó nefta terra, mas emtodo o Reyno, * . & na India, & em algumas Conquiftas , fó por infor- mações de cartas? & nem huma fó palavra fe diz em credito de taô maravilhofas curas; mas fe algá doen- te morre, logo fe apregoa com voz de trombeta o mão fucceflo: mas digaó o que quizerem, que em Deos te- nho muito bom Juiz:nem averà ealumnia,que me ate- morize , (7.) para deixar de fazer o que entender que convem aos doentes, porque, como outro Alfario, (8.) jánão faço cafo de detracções. |
Observaçaon XXVI. 161 pedirlhes que por amor de Deos naon desemparem aos seus doentes, (6.) por mais perigosos que estejaon, por¬ que se o tempo o permittira, pudera eu mostrarlhes com mil exemplos os infinitos doentes, que estando submergidos com as ondas da morte, & deixados dos Medicos, os flvrei da sepultura, naon sem grande vergo¬ nha dos que os tinhao desemparado. Naon digo isto por jactancia propria, nem por vituperio alheyo; mas digo-o para os excitar, & animar a que acudaon aos doentes, & lhes appliquem remedios em quanto a al¬ ma se naon apartar do corpo; porque se eu o naon fizera assim, morreriaon muitos, que devem a vida às minhas resoluçoens: & assim como na natureza acontecem ca¬ da dia monstruosidades; tambem na Arte succedem cada dia muitos prodigios, & sem embargo, sey muito bem que no tempo presente he taon grande a malicia de alguns homens, que aindaque humf Medico de cin- coenta doentes perigosissimos livre quarenta & nove, Ihe naon daraon tanto credito, como lhe tiraráon de fama hum, ou dous que morraon. Bem à minha custa tenho experimentado esta verdade: quantas febres malignas, quan tas suppressoes de ourina, quantos accidentes de gotta coral, quantas alporcas, quantas asthmas, quan¬ tos fluxos involuntarios da sementè, quantos fluxos de sangue de qualquer parte, quantas camaras, quantas almorreimas, quantas hydropesias, & quantas outras doenças, que estaon no catalogo das incuraveis, tenho eu curado naon só nesta terra, mas em todo o Reyno, & na India, & em algumas Conquistas, so por infor¬ maçones de cartas? & nem huma so palavra se diz em credito de tao maravilhosas curas; mas se algum doen¬ te morre, logo se apregoa com voz de trombeta o máo successo: mas digaon o que quizerem, que em Deos te- nho muito bom Juiz: nem averà calumnia, que me ate¬ morize, (7.) para deixar de fazer o que entender que convem aos doentes, porque, como outro Alsario, (8.) ja nano faço caso de detracçones. OBSER¬ *
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162 Observações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XXVII. De hum esquentamento gallico , a que ſobrevieraõ febre ardente tosse seca, pontada no lado esquerdo, e difficuldade na respiraçaõ ; para remedio das quaes doenças , tendo respeito à gonorrhea , mandei sangrar seis vezes ao doente no pé da parte da pontada ; mas vendo que o mal crescia com excesso ; mandei sangrar no braço da ilharga queixosa, ordenando que de seis em seis horas tomasse huma chicara da minha agua antipleuritica ; & com estes dous remedio sarou, e ficou livre de quanto padecia. 1. NInguem póde pode duvidar que o humor gallico complicado com doenças agudas he mais difficultoso de curar : porque se o Medico applicar remedios contra o gallico , avendo febre ardente, pontada aguda , & tosse seca , fará um erro sem desculpa, porque acrescentarà todas as queixas referidas; & se pelo contrario o Medico respeitar a febre , a pontada, & a tosse , como cousas mais urgentes, & de que se póde seguir mayor perigo , crescerà a enfermidade gallica com mais vehemencia , e se curarà com mais difficuldade , porque com as sangrias se enfraqueceràõ as forças , se diminuirà o calor natural, e se extinguiràõ os espiritos. 2. Naõ obstantes porèm estas razões, aconselhaõ os melhores praticos, que nas doenças complicadas se acuda primeiro àquella de que temermos mayor perigo, e que conforme a urgencia da enfermidade mais aguda, se haõ de applicar os remedios , sem fazer caso da qualidade gallica. Em confirmaçaõ desta verdade referirei o que me passou pelas máos ha muitos annos . 3. O Capitaõ Manoel Ayques , sendo solteiro contrahio de hum concubito impuro hua gonorrhea purulenta, a que logo sobreveyo huma febre arden
162 Obfervações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XXVII. De hum efquentamento gallico , a que fobrevierao febre ardente , toffe feca , pontada no lado efqmerdo., do dif- ficuldade na refpiragao ; para remedio das quaes doenças , tendorefpeito a gonorrhea , mandei fangrar feis vezes ao doente nopé daparte da pontada ; mas vendo que o mal crefcia com exceffo; mandei fangrar no braço da ilharga queixofa, ordenando que de feis em .feis hor as tomaffe huma chicara da minha agua antipleuritica; & com eftes dous remedios farou, & fi- cou livre de quanto padecia. Inguem póde duvidar que o humor gal- lico complicado com doenças agudas he mais difficultofo de curar : porque fe o Medico appli- car remedios contra o gallicos avendo febre ardente, pontada aguda, & toffe feca , fara hum erro fem def- culpa, porque acrescentarà todas as queixas referidas; & fe pelo contrario o Medico refpeitar a febre , a pon- tada , & a toffe, como coufas mais urgentes, & de que fe póde feguir mayor perigo, crefcerà a enfermidade gallica com mais vehemencia, & fe curarà com mais difficuldade, porque com as fangrias fe enfraquece- 'rào as forças , fe diminuirà o calor natural, & fe extin- guirao os efpiritos. 2. Naõ obftantes porèm eftas razões, aconfelhaő os melhores praticos, que nas doenças complicadas fe acuda primeiro aquella de que temermos mayor perigo, & que conforme a urgencia da enfermidade mais aguda, fe haõ de applicar os remedios, fem fa- zer cafo da qualidade gallica. Em confirmaçaõ defta verdade referirei o que me paffou pelas mãos ha mui- tos annos. 3. . O Capitao Manoel Ayques , fendo foltei, ro, contrahio de hum concubito impuro hua gonor- thea į urulenta, a que logo fobreveyo huma febre ar- den- : --. 1 .
16z Obfervacoes MedicasDoutrinaes. :O.B SERV AQA M XXVII De bum efquentamento gallico, a que fobreviera febre ardente, toffefeca,pontada no lado efgerdo., s dif- fculdade na refpiraša ; para remedio das quaes doensas, tendorefpeito a gonorrbea, mandeifangrar feis vezes ao doente nopé daparte da pontada; mas vendoque o mal crefciacom exceflo; mandei fangrar nbrago da ilbarga queixofa, ordenando que de:fei em feis boras.tomaffe huma chitara da minba agua antipleuritica; com eftes dous remediosfarou, fi cou livre de quanto padecia. Inguem póde.duvidar que o humor gal- ifcocomplicado com döencas agudas he mais difficultofo de curar : porque fe o Medico appli- car remedios contra o gallicos avendo febre ardente, pontada aguda, & toffe feca , fara hum erro fem def- culpa, porque acrefcentara todas as queixas referidas, & fe pelo contrario o Medicorefpeitar a febre , a pon- tada, & a toffe, como coufas mais urgentes, & de que fe póde feguir mayor perigo, crefcera. aenfermidade. gallica com mais vehemencia, & fe curara com mais difficuldade, porque com as fangrias fe enfraquece- :. 'ra as forcas, fe diminuira ocalor natural, & fe extin- guira os efpiritos. 2...Naö obftantes porém eftas razöes, aconfelha os methores praticos, que nas doencas complicadas fe acuda primeiro aquella de que temermos mayor perigo, & que conforme a urgencia da enfermidade mais aguda, fe hao de applicar os remedios, fem fa. zer cafo da qualidade gallica. Em confirmaca defta verdade referirei o que me paffou pelas maos ha mui-. tos annos. O Capita Manoel Ayques , fendo foltei 3. ro , contrahio de hum concubito impuro hüa gonor- rlca urulenta, a que logofobreveyohuma febre ar- den-
LENDA 1 162 Obfervações Medicas Doutrinaes. s0SS0 cnGG0s costs avion SO end Sen ns S O cassa ans Sto «oi SOr at o cnáãcio O LOBSERVAÇAM XXVIL , Debumef/quentamento gallico , a que fobrevierao febra - — ardente, toffefeca, pontada no lado e/AMerdo., & dif.. | ficúldade na refbiração ;. para remedio das quaes “doenças, tendo refbeito à gonorrhea , mandei fangray º fes vezes ao doente nopé daparte da pontada; mas wendo que o mal crefeia com excelfo ; mandei fangrar - nóbraço dailharga queixofa, ordenando que de feú * em fes boras-tomalfe buma chicara da minha agua .'* amtipleuritica; & com eftes dous remedios farou, & fi- cou livre de quanto padecia. “cao Inguem póde duvidar que o humor gal. ' N flo complicado com doenças agudas he mais difficultofo de curar : porque fe o Medico appli car remedios contra o gallicos avendo febre ardente, pontada aguda , & toffe feca , fará humerro fem def | ES porque acrefcentarà todas as queixas referidas; & fe pelo contrario o Medicorefpeitar a febre , a pon- tada , & a tofle , como coufas mais urgentes, & de que fe póde feguir mayor perigo , crefcerà a enfermidade gallica com mais vehemencia, & fe curarà com mais difficuldade, porque com as fangrias fe enfraquece- > tãõasforças, fe diminuirà o calor natural, & fe extin- « * "guirãõosefpiritos. ANN : 2. Naõoobftantes porêm eftas razões, aconfelhas os melhores praticós, que nas doenças complicadas fe acuda primeiro àquella de que temermos mayor perigo, & que conforme a urgencia da enfermidade maisaguda , fe haô de applicar os remedios , fem fa- zercafo da qualidade gallica. Em confirmaçaõô deita verdade referireio que me pafílou pelas mãos ha mui- tosannos. : | 3.. OCapitaô Manoel Ayques , fendo folteiz" ro , contrahio de hum concubito impuro ha gonor- tl.ea y urulenta, à que Jogo fobreveyohuma febrear-= den- Nr
162 Obfervaçones Medicas Doutrinaes. ae asa ase arßarse ao ar ae asi OBSERVAQAM XXVII. De hum esquentamento gallico, a que sobrevieraon febra ardente, tosse seca, pontada no lado esquerdo, & dif- ficuldade na respiraçaon; para remedio das quaes doenças, tendo respeito à gonorrhea, mandei sangrar seis vezes ao doente no pe daparte da pontada; mas vendo que o mal crescia com excesso; mandei sangrar no braço da ilharga queixosa, ordenando que de seu em seis horas tomasse huma chicara da minha agua antipleuritica; & com estes dous remedios sarou, & si¬ cou livre de quanto padecia. NInguem pode duvidar que o humor gal¬ IIo complicado com doenças agudas he mais difficultoso de curar: porque se o Medico appli¬ car remedios contra o gallicos avendo febre ardente, pontada aguda, & tosse seca, farà hum erro sem des¬ culpa, porque acrescentarà todas as queixas referidas; & se pelo contrario o Medico respeitar a febre , a pon- tada, & a tosse, como cousas mais urgentes, & de que se póde seguir mayor perigo , crescerà a enfermidade gallica com mais vehemencia, & se curarà com mais difficuldade, porque com as sangrias se enfraquece- ràò as forças, se diminuirà o calor natural, & se extin¬ guiràon os espiritos. 2. Nao obstantes porèm estas razones, aconselhaon os mefhores praticos, que nas doenças complicadas se acuda primeiro àquella de que temermos mayor perigo, & que conforme a urgencia da enfermidade mais aguda, se hao de applicar os remedios, sem fa- zer caso da qualidade gallica. Em confirmaçaon desta verdade referirei o que me passou pelas maos ha mui- tos annos. 3. O Capitaon Manoel Ayques, sendo soltei¬ ro, contrahio de hum concubito impuro huma gonor¬ rhea j urulenta, à que logo sobreveyo huma febre ar¬ den¬
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Observaçaõ XXVII. 163 dente , a qual em breves dias emmagreceo , e debilitou sorte , que temi o fizesse hectico, e quando a natureza naõ estava capaz de resistir a huma doença menos perigosa , se achou assaltado de outra mais arriscada , e com symptomas mais formidaveis, como saõ pontada no lado esquerdo , tosse seca , e respiraçaõ difficultosa : e sendo eu chamado para acudir a tantos males juntos , e tomando informaçaõ do mesmo doente , conheci que tinha duas enfermidades , huma aguda , qual he o pleuriz , outra chronica , qual he a gonorrhea ; e como em razaõ da febre , e do pleuriz fossem princisamente necessarias algumas sangrias, entrei em duvida se estas se aviaõ de fazer no pè ( tendo respeito à gonorrhea purulenta ; ) ou se se aviaõ de fazer no braço, (tendo respeito à pontada, e ao affecto inflammatorio.) 4. Neste conflicto me lembrou o conselho de Valesio , (1.) o qual diz : Se nos casos duvidosos fizeres algum remedio tentativamente , naõ seja o tal remedio taõ forte , e vehemente , que se vos achardes enganados no juizo que fizestes , fique o doente muito offendido, nem vòs impossibilitado para tomar outro caminho , sem damno do enferno. E como nas febres acompanhadas com pontada aguda , tosse seca , e respiraçaõ presa, sejaõ grande de remedio as sangrias , quiz tentativamente fazer as primeiras no pè da parte dolorosa , entendendo que desta sorte podia acudir às queixas sobreditas , sem fazer damno à gonorrhea; e que no caso que as sangrias baixas naõ fizessem o bem , que eu esperava , ao menos não fizessem damno taõ consideravel , que se não remediasse facilmente com as sangrias do braço : feito assim este discurso , mandei sangrar seis vezes no pè da parte da dor , porque era taõ nova, que entendi que o fluxo do humor para a parte offendida estava ainda no principio, em cujo sentido seria mais proveitosa a sangria baixa assim para a gonorrhea , como para o pleuriz : mas foi o sucesso taõ contrario ao q eu esperava, e se exacerbou a pontada, e febre de maneira , que o doente quasi doudo desconfiou da sua vida. Neste aper
163 Obfervaçao XXVII. dente , a qual em breves dias o emmagreco, & debi- litou de forte, que temi o fizeffe hectico, & quando a natureza nao citava capaz de refiftir a huma doença menos perigofa, fe achou affaltado de outra mais ar- rifcada, & com fymptomas mais formidaveis ; como fao pontada nolado efquerdo; toffe feca, & refpira- çao difficultofa: & fendo eu chamado para acudir a tantos males juntos., & tomando informação do mef- mo doente, conheci que tinha duas enfermidades, hu- ma aguda, qual he o pleuriz , outra chronica, qualhe a gonorrhea ; & como em razao da febre, & do pleu- riz foffem precifamente neceffarias algumas fangrias, entrei em duvida fe eftas fe aviao de fazer no pè (ten- do refpeito à gonorrhea purulenta ; ) ou fe fe aviaõ de fazer no braço, (tendo refpeito à pontada, & ao affec- to inflammatorio.) 4. Nefte conflicto me lembrou o confelho de Va- lefio, (1.) oqual diz : Se nos cafos duvidofos fizeres al- gum remedio tentativamente , nao feja o tal remediotao forte, & vehemente , que fe vos achardes enganados no jaizo que fizeftes , fique o doente muito ofendido, nem vos impoffibilitado para tomar outro caminho, fem damno do enfermo. E como nas febres acompanhadas com pon- tada aguda, toffe feca , & refpiraçaõ prefa, fejaõ gran- de remedio as fangrias, quiz tentativamente fazer as primeiras no pè da parte dolorofa, entendendo que defta forte podia acudir às queixas fobreditas, fem fa -. zer damno à gonorrhea; & que no cafo que as fangrias baixas naõ fizeffem o bem , que eu efperava, ao menos não fizeffem damno tao confideravel, que fe não re- mediaffe facilmente com as fangrias do braço: feito affim efte difcurfo, mandei fangrar feis vezes no pè da parte da dor , porque era tao nova , que entendi que o fluxo do humor para a parte offendida eftava ainda no principio, em cujo fentido feria mais proveitofa a fan- gria baixa affim para a gonorrhea, como para o pleu- riz ; mas foi o fucceflo tao contrario ao q eu efperava, & fe exacerbou a pontada, & febre de maneira , que o doente quafi doudo delconfiou da fua vida. Nefte. aper-
Obiervacao XXVII. 163 dente , a qual em breves dias o:emmagreceo', & debi- iitou de forte, que teini o fizeffe hectico, & quandoa natureza naö eitava capaz de refiftir a huma doenca menos perigofa , fe achou affaltado de outra mais ar rifcada, & comfymptomas mais forimidaveis ; coino fa pontada rolado efqucrdo, toffe feca, & refpira- ga diffcultofa: & fendo eu chamado paraacudir a .tantos males juntos., & tomando informacaö do mef- .mo doente, conheci que tinha duas enfermidades, hu- ma aguda., qual he pleuriz , outra chronica , qual h agonorrhea; &comoem raza dafebre, & dopleur riz foffem precifamente neceffarias algunas fangrias, entrei em duvida feeftas fe avia de fazer no pe(ten- do refpeitoagonorrhea purulenta,) ou fe fe avia de fazer no braco, (tendo refpeito a pontada, & aoaffec- to inflammatorio.) 4. Nefte conflicto me lembrou gconfelho de Va- 1efio, (1:) oqual diz : Se nosca/os duvido/os.fizeres.al- gum'remedio tentativamente , nafeja o tal remedio.ta forte, vehemente, que fe. vös achardes engantados no jtizo que fizeftes , fique o doente muito offendid, nem rjs impoffibilit ado para tomar outro caminbo s.fem damno d cnfermo.E como nas febres acompanhadas com pon tada aguda, toffe feca, & refpirasaprefa, feja gran- de remedio as fangrias, quiz tentativamente fazer as primeiras no pe da parte dolorofa, entendendo que defta forte podia acudir as queixasfobreditas, lem fa- zer damno a gonorrhea; & que no cafo que as fangrias baixas na fizeffem bem , que eu efperavas ao menos nao fizeffem damno ta confideravel , que fe náo re mediaffe facilmente com as fangrias dobraco: feito affim efte difcurfo, mandei fangrar feis vezes no pe da parte da dor , porque era ta'nova , que entendi que fuxo do humor para a parte offendida eftava ainda n principio , em cujo fentido.feria mais proveitofa a fan- riz ; masfoi fucceffo ta contrarioao eu efperava, & fe exacerbou a pontada, & febre de maneira,que o doente quafi doudo defconfiou da fua vida. Nefte aper
Obfervação XXVIL = 6 dente , a qual em breves dias oemmagreceo”, & debi- litou de forte, que temi o fizefle heético, & quandoa natureza naõ eitava capaz de refiftir a huma doença menos perigofa , fe achou dfMfaltado de outra mais ar" rifcáda, & com fymptomas mais formidaveis ; como faó pontada rolado efquerdo ; toffe feca, & refpiras çaô difficultofa: & fendo eu chamado paraacudir a tântos males juntos, & tomando informmaçaõ do mef= mo doente, conheci que tinha duas enfermidades, hu- 'maaguda, qual he o pleuriz , outra chronica, qual he' agonorrhea; & como em razaõ da febre, & do pleu- riz foflem precifamente neceflarias algumas fangrias, entrei em duvida fe eftas fe aviaô de fazer no pê (tens” do refpeito à gonorrhea purulenta ; )'ou fe fe aviao de fazer no braço, (tendo reípeito à pontada, & ao affec- to inflammatorio. ) MmEaEAR 4. Nefteconflikto me lembrou o confelho de Va- : —lefio;(1.) oqualdiz: Se noscafos dividofos fizeres al-' gum remedio tentativamente , não feja o tal vemediotao Jorte, & vebemente , que fe, vos achardes enganados no jaizo que fizeftes , fique o doente muito ofendido, nem wôs inpalibilicado parva tomar outro caminho , fem damao do enfermo. E como nas febres acompanhadas com pon- tada aguda, tofle feca , & refpiraçaô prefa, fejao gran- de remedio as fangrias , quiz tentativamente fazer as rimeiras no pê da parte dolorofa , entendendo que defta forte podia acudir às queixas fobreditas, fem fa-. zer damno à gonorrhea; & que no cafo que as fangrias baixas naó fizeflem o bem , que eu eperavás ao menos não fizeflem damno taô confideravel, que fe não re- mediafle facilmente com as fangrias do braço: feito aflim éfte difcurfo, mandei fangrar feis vezes no pê da parte da dor , porque era taó nova , que entendi Fº fe -— fluxodo humor para a parte offendida eftava ainda no principio ;em eujo fentido feria mais proveitofá a fan- gria baita affim para a gonorrhea, como pava o pleuú- riz ; masfoiofucceflo taô contrario ao eu elperava, & fe exacerbou a pontada, & febre de maneira, que o doente quafi doudo delconfiou da fua vida. Nefte. o E 2 = aper- x
163 Observaçao AAVII. dente, a qual em breves dias o emmagreceo, & debi¬ litou de sorte , que temi o fizesse hectico , & quando a natureza nao estava capaz de resistir a huma doença menos perigosa, se achou assaltado de outra mais ar- riscada, & com symptomas mais formidaveis, como saon pontada no lado esquerdo, tosse seca, & respira¬ çaon difficultosa: & sendo eu chamado para acudir a tantos males juntos, & tomando informaçaon do mes¬ mo doente, conheci que tinha duas enfermidades, hu- ma aguda, qual he o pleuriz, outra chronica, qual he a gonorrhea; & como em razaon da febre , & do pleu¬ riz fossem precisamente necessarias algumas sangrias, entrei em duvida se estas se aviao de fazer no pè (ten- do respeito à gonorrhea purulenta , ) ou se se aviaon de fazer no braço, (tendo respeito à pontada, & ao affec- to inflammatorio. 4. Neste conflicto me lembrou o conselho de Va- lesio, (1.) oqual diz: Se nos casos duvidosos fizeres al¬ gum remedio tentativamente, naono seja o tal remedio taon forte, & vehemente, que se vos achardes enganados no juizo que fizestes, sique o doente muito offendido, nem vòs impossibilitado para tomar outro caminho, sem damno do enfermo. E como nas febres acompanhadas com pon¬ tada aguda, tosse seca , & respiraçaon presa, sejaon gran¬ de remedio as sangrias, quiz tentativamente fazer as primeiras no pè da parte dolorosa, entendendo que desta sortè podia acudir às queixas sobreditas, sem fa¬ zer damno à gonorrhea; & que no caso que as sangrias baixas naon fizessem o bem, que eu esperava, ao menos namo fizessem damno taon consideravel, que se namo re¬ mediasse facilmente com as sangrias do braço: feito assim este discurso, mandei sangrar seis vezes no pè da parte da dor, porque era taon nova, que entendi que o fluxo do humor para a parte offendida estava ainda no principio, em cujo sentido seria mais proveitosâ a san¬ gria baixa assim para a gonorrhea, como para o pleu¬ riz; mas oi o successo taon contrario ao que eu esperava, & se exacerbou a pontada, & febre de maneira, que o doente quasi doudo desconfiou da sua vida. Neste aper¬
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164 Observações Medicas Doutrinaes. aperto tomando a indicaçaõ da doença mais perigosa, qual he o pleuriz , e posto de parte o rustico temor da gente ignorante , que tem por sacrilegio subir das sangrias dos pès às sangrias dos braços , fiz menos caso da gonorrhea , e todo o meu empenho foi acudir à pontada, mandando-o sangrar no braço do lado queixoso seguindo nisso o preceito de Galeno , (2.) em que nos encomenda que acudamos primeiro àquella doença , que mais apertar , e que mayor risco tiver com tal condiçaõ, que nos não descuidemos de acudir aos outros symptomas, que acompanhão a principal doença: & para que os humores inficionados com a qualidade gallica não subissem com as sangrias do braço, & conspurcassem as partes superiores, & mais nobres, mandei que antes de abrirem a vea, lhe deitassem humas ventosas nas pernas, & que nellas se fizessem ligaduras fortissimas por todo o tempo que se estivesse sangrando. No entretãto que isto se fazia, julguei que era preciso applicar algum remedio especifico , e absorbente dos humores acidos, para dulcificar a acrimonia do sangue pois só por esta via se fixaõ, & extinguem as dores , ou pontadas procedidas dos acidos errantes , e exaltados. Porque ( como dizem os Doutores modernos ( 3. ) exercitados nas filosofias novas) todas as dores procedem dos acidos errantes : e supposto que as sangrias evacuaõ o sangue , naõ adoção a acrimonia , nem o azedume pungente , que algumas vezes reyna nelle ; por isso entendo que a cura dos pleurizes não consiste tanto em sangrar , (como os antigos imaginàrão ) quanto nos remedios alcalicos absorbentes , e nos volatilizantes ; e por isso desde o primeiro dia do pleuriz (àlem das sangrias) uso logo da minha agua antipleuritica , que sobre ter virtude muy especifica para curar pleurizes , he composta dos melhores absorbentes , que tem achado a industria humana. Eu tive a tal agua muitos annos em segredo, porèm agora a quero ensinar para utilidade de todos, e se prepara do modo seguinte. 5. Tomem de cascas de raiz de bardana fresca duas
164 Obfervações Medicas Doutrinaes. · aperto tomando a indicação da doença mais perigofa, qual he o pleuriz , & pofto de parte o ruftico temor da gente ignorante, que tem por facrilegio fubir das fan- grias dos pès às fangrias d'os braços , fiz menos cafo da gonorrhea , & todo o meu empenho foi acudir à pon- tada, mandando-o fangrar no braço do lado queixo- fo, feguindo niffo o.preceito de Galeno, (2.) em que nos encomenda que acudamos primeiro àquella do- ença, que mais apertar, & que mayor rifco tiver ; com. tal condição, que nos não defcuidemos de acudir aos outros fymptomas , que acompanhão a principal do- ença : & paraque os humores inficionados com a qua- lidade gallica não fubiffem com as fangrias do braço, & confpurcaffem as partes fuperiores , & mais nobres, mandei que antes de abrirem a vea, lhe deitaffem hu- mas ventofas nas pernas, & que nellas fe fizeffem li- gaduras fortifimas por todo o tempo que fe eftiveffe fangrando. No entretato que ifto fe fazia, julguei que era precifo applicar algum remedio efpecifico, & ab- forbente dos humores acidos, para dulcificar a acri- monia dofangue, pois fo por efta via fe fixao, & ex- tinguem as dores, ou pontadas procedidas dos acidos errantes, & exaltados. Porque (como dizemos Dou- tores modernos (3.) exercitados nas filofofias novas) todas as dores procedem dosacidos errantes: & fup- pofto que as fangrias evacuaõ o fangue, naõ adoção aacrimonia, nem o azedume pungente , que algumas vezes reyna nelle ; por iffo entendo que a cura dos pleurizes não confifte tanto em fangrar, (como os an- tigos imaginàrão ) quanto nos remedios alcalicos ab- forbentes, & nos volatilizantes ; & por iffo defde o primeiro dia do pleuriz (àlem das fangrias) ufo logo da minha agua antipleuritica, que fobre ter virtude muy efpecifica para curar pleurizes , he compofta dos melhores abforbentes , que tem achado a induftria humana, Eu tive a tal agua muitos annos em fegredo, porem agora a quero enfinar para utilidade de todos, & fe prepara do modo feguinte. 5. Tomem de cafcas de raiz de bardana frefca duas 1
164 Obfervacoes MedicasDoutrinaes aperto tomando a indicaca da doenca mais perigafa, qual heo pleuriz,& pofto de parteoruftico temorda gente ignorante., que tem por facrilegio fubir das fan- grias dos pes as fangrias dos bracos, fiz menos cafo da gonorrhea, & todoo meu empenhofoi acüdir a pon- tada, mandando-ofangrar no braco dclado queixo- fo, feguindo niffo o.preceito de Galeno, (2.) em que nos encomenda que acudamos primeiro aquella do- enca, que mais apertar, & que mayor rifco tiver , com. tal condica, que nos náo defcuidemos de acudir áos outrosfymptomas, que acompanhao a principal do- enca: & paraque os humores inficionados com a qua- & confpurcaffem as partes fuperiores , & mais nobres, mandei que antes de abrirem a vea , lhedeitaffem hu- mas ventofas nas pernas, & que nellas fe fizeffem li- gaduras fortiffimas por todo o tempo que fe eftiveffe fangrando. No entretato que ifto fe fazia, julguei que craprecifo applicar algum remedio efpecifico, & ab- forbente dos humores acidos, para dulcificar aacri- monia dofangue, pois f'por efta via fefixa, &ex- tinguem as dores , ou pontadas procedidas dos acidos. érrantes, & exaltados. Porque (como dizem.os Dou- tores modernos(3.) exercitados nas flofofias novas) todas as dores procedem dosacidos errantes : & fup- pofto que as fangrias evacua.o fangue, na adocáo aacrimonia, nemoazedumepungente, que algumas vezés reyna nelle , por iffo entendo que a cura dos pleurizes nao confiftetanto em fangrar, (como os an- tigos imaginarao.) quantonos remedias alcalicos ab- forbentes, & nos volatilizantes; & por iffo defde o primeiro dia do pleuriz (alem das fangrias) ufo logo da minha agua antipleuritica, que fobre ter virtude muy efpecifica paracurar pleurizes , he compofta dos: melhöres abforbentes , que tem achado a induftria humana, Eu tive a tal agua muitos annos em fegredo, porém agora a: quero enfinar para utilidade de todos, & fe preparado modo feguinte. Tomem. de cafcas de.raiz de bardana. frefca duas
164 Obfervações Medicas Doutrinaes. - aperto tomando a indicaçaô da doença mais perigefa, qual he o pleuriz , & pofto de parte oruftico temor da genteignorante, que tem por facrilegio fubir das fan. grias dos pês às fangrias dos braços , iz menos cafo da gonorrhea , & todo o men empenho foi acudir à pon- tada , mandando-o fangrar no braço do lado queixo- fo, feguindo niflo o.preceito de Galeno, (2.) em que nos encomenda que acudamos primeiro âquella do- ença, que mais apertar, & DE mayor riíco tiver; com. tal condiçaô, que nos não defcuidemos de acudir aos&'* outros fymptomas , que acompanhão a principal do- ença:: & paraque os humores inficionados com a qua- *lidadegallica não fubiflem com as fangrias do braço, & confpurcaflem as partes fuperiores , & mais nobres, mandei que antes de abrirem a vea , lhedeitaflem hu- . mas ventofas nas pernas, & que nellas fe izeflem li- . gaduras fortiflimas por todo o tempo que fe eftivesffe angrando. No entretãto que ifto fe fazia, julguei que era precifo applicar algum remedio efpeciãeo ; &ab- forbente dos humores acidos, para dulcificar a acri= monia dofangue, pois fó por elta via fe fixao, &et- - - tinguem as dores , ou pontadas procedidas dos acidos, érrantes , & exaltados. Porque (como dizemos Dou- tores modernos (3.) exercitados nas filofofias novas) todas as dores procedem dosacidos errantes : & fup- pofto que as fangrias evacuaô.o fangue, naó adoção . aacrimonia, nem oazedume pungente , qué algumas vezês reyna nelle; por iflo entendo que a cura dos pleurizes não confiftetanto em fangrar, (como os an- tigosimaginàãrão ) quanto nos remedias alcalicos ab. forbentes , & nos volatilizantes; & por iflo defde o primeiro dia do pleuriz (Alem das fangrias) ufo logo .' da minha agua antipleuritica, que fobre ter virtude | may efpecifica para curar pleurizes , he compoíta dos: melhôres abforbentes , que tem achado a indufítria humana» Eu tive a tal agua muitos annos em fegredo, porêm agora a. quero enfinar para utilidadetie todos, & fe prepãra do modo feguinte. | 5. “Tomem de caícas de raiz de bardana frefca df
164 Observaçones Medicas Doutrinaes. aperto tomando a indicaçaon da doença mais perigosa, qual he o pleuriz , & posto de parte o rustico temor da gente ignorante , que tem por sacrilegio subir das san- grias dos pès às sangrias dos braços, fiz menos caso da gonorrhea , & todo o meu empenho foi acudir à pon- tada, mandando-o sangrar no braço do lado queixo¬ so, seguindo nisso o preceito de Galeno , (2.) em que nos encomenda que acudamos primeiro àquella do¬ ença, que mais apertar, & que mayor risco tiver; com tal condiçaon, que nos namo descuidemos de acudir aos outros symptomas, que acompanhamo a principal do¬ ença: & paraque os humores inficionados com a qua¬ lidade gallica namo subissem com as sangrias do braço, & conspurcassem as partes superiores, & mais nobres, mandei que antes de abrirem a vea, lhe deitassem hu- mas ventosas nas pernas, & que nellas se fizessem li¬ gaduras fortissimas por todo o tempo que se estivesse sangrando. No entretanto que isto se fazia, julguei que era preciso applicar algum remedio especifico, & ab¬ sorbente dos humores acidos, para dulcificar a acri¬ monia do sangue, pois só por esta via se fixaon, & ex¬ tinguem as dores, ou pontadas procedidas dos acidos errantes, & exaltados. Porque (como dizemos Dou- tores modernos (3.) exercitados nas filososias novas) todas as dores procedem dos acidos errantes: & sup¬ posto que as sangrias evacuaon o sangue, naon adoçao a acrimonia, nem o azedume pungente, què algumas vezés reyna nelle; por isso entendo que a cura dos pleurizes namno consiste tanto em sangrar, (como os an¬ tigos imaginàramo) quanto nos remedios alcalicos ab¬ sorbentes, & nos volatilizantes; & por isso desde o primeiro dia do pleuriz (àlem das sangrias) uso logo da minha agua antipleuritica, que sobre ter virtude muy especifica para curar pleurizes, he composta dos melhôres absorbentes, que tem achado a industria humana. Eu tive a tal agua muitos annos em segredo, porèm agora a quero ensinar para utilidadedę todos, & se prepara do modo seguinte. 5. Tomem de cascas de raiz de bardana fresca duas
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Observaçaõ XXVII. 165 duas onças , cozaõse em panela de barro , em seis quartilhos de agua commua atè que fiquem cinco , e quando quizerem tirar a panela do fogo , lhe deitem dentro huma maõ cheya de flores de papoulas secas, para que larguem na dita agua a tintura vermelha , e coandose com forte expressaõ , desatem nella tres oitavas das minhas pilulas antifebriles , chamadas absorbentes , que saõ muito dulcificantes dos humores acidos : ( e nas terras aonde naõ se acharem as taes pilulas , ou os Medicos naõ quizerem usar dellas, só por serem segredo meu, podem usar, em seu lugar , de tres oitavas de coral bem preparado, porque aindaque este tem muito menor virtude , comtudo póde servir. E desta bebida morna , e bem vascolejada use o enfermo todas as vezes que tiver sede , porque esta he a minha agua antipleuritica , cujos effeitos maravilhosos experimentaraõ os que se aproveitarem della, e então acabaraõ de conhecer o serviço que fiz à Republica, em lhe revelar taõ grande segredo. 6. Finalmente , porque depois da extinçaõ da pontada restavaõ ainda alguns vestigios de febre , entendi seria conveniente sangrar outra vez nos pès , porque deste modo attendia à febre , e à gonorrhea : e foi Deos servido conseguisse taõ perfeitissima saude, que vive por beneficio desta cura ha trinta e oito annos . 7. Infinitos saõ os pleurizes mortaes , que curei por este estylo , aindaque tive alguns tão rebeldes , aos quaes naõ aproveitàraõ sangrias , nem sanguisugas, nem ventosas sarjadas deitadas sobre o lugar da dor, nem a camoeza assada , recheada com huma oitava de almiscar , que he muito melhor que o incenso macho, nem com a sobredita agua : e vendo eu que remedios taõ efficazes , e qualificados com innumeraveis experiencias naõ aproveitavaõ, e que o doente morria, lhe fiz beber quatro onças de oleo da semente do linho tirado de fresco por expressaõ ; do qual dizem graves Authores (4.) maravilhas estupendas para curar os pleurizes desesperados : e obrou o tal oleo taõ prodigio
Obfervação XXVII. 165 duas onças ; cozaofe em panela de barro, em feis quartilhos de agua commua atè que fiquem cinco, & quando quizerem tirar a panela do fogo; lhe deitem dentro huma mao cheya de flores de papoulas fecas; para que languem na dita agua a tintura vermelha ; & coandofe com forte expreffao, defatem nella tres oi- tavas das minhas pilulas antifebriles, chamadas ab- forbentes, que fao muito dulcificantes dos humores acidos : (& nas terras aonde naõ fe acharem as taes pi- lulas , ou os Medicos nao quizerem ufar dellas , fo por ferem fegtedo meu , podem ufar, em feu lugar, de tres pitavas de coral bem preparado, porque aindaque ef- te tem muito menor virtude , comtudo pode fervir. E defta bebida morna, & bem vafcolejada ufe o enfer- mo todas as vezes que tiver fede, porque efta he a mi- nha agua antipleuritica, cujos effeitos maravilhofos experimentarao os que fe aproveitarem della, & então acabaráo de conhecer o ferviço que fiz à Republica; em lhe revelar tao grande fegredo. 6. Finalmente, porque depois da extincao da pon- tada reftavaõ ainda alguns veftigios de febre , enten- di feria conveniente fangrar outra vez nos pès, por- que defte modo attendia a febre, & a gonorrhea: & foi Deos fervido confeguiffe tao perfeitiffima faude, que vive por beneficio defta cura ha trinta & oito an- nos. 7. Infinitos fao os pleurizes mortaes, que curei por efte eftylo , aindaque tive alguns tão'rebeldes , aos quaes nao aproveitarao fangrias , nem fanguifugas, nem ventofas farjadas deitadas fobre o lugar da dor, hem a camoeza affada , recheada com huma oitava de almifcar , que he muito melhor que o incenfo macho, hem com a fobredita agua : & vendo eu que remedios taõ eficazes , & qualificados com innumeraveis expé- riencias naõ aproveitavaõ, & que o doente morria, lhe fiz beber quatro onças de oleo da femente dolinho ti- rado de frefco por expreffaõ; do qual dizem graves Authores (4.) maravilhas eftupendas para curar os pleurizes defefperados : & ebrou otal oleo tao prodi- 1 . gio-
Obfervacao xxvif.: 16s duas oncas , cozaofe em panela de barro, ém feis quartilhos de agua commua ate que fquéin cinco, & quando quizerein tirar a panela dofogo, lhe deitem dentro huma ma cheya de flores de papoulas fecas; para que larguem na dita agua a tintura vermelha, & coardofe tom forte expreffa , defatem nella tres oi- tavas das iminhas pilulas antifebriles, chamadas ab- forbentes, que fa muito dulciffcantes dos humores acidos : (& nas terras aonde naó fe achaicrh as taes pi- lulas , ou os Medicos na quizerem ufar dellas , fó por ferem fegredo meu , podem ufar, cim feu lugar, de tres pitavas dé coral bem preparado, porque aindaque ef- te tem muito menor virtude , cointudo póde fervir. E defta bebida morna, & bem vafcolejada ufe oenfer- mo todas as vezes que tiver fede, porque efta he a mi- nha agua antipleuritica, cujos effeitos maravilhofos experimentaraö 6s que fe aproveitarem della, & enta acabara deconhecer ofervito que fiz aRepublica; em lhe revelar tagrande fegrédo: : .6. Finalnente,porquedepoisdaéxtinša dapon- tada reftava ainda alguns veftigios de febre, enten- di feria conveniente fangrar outra vez nos pes , por- que defte modo attendia afebre, & a gonorrhea: & foi Deos.fervido confeguiffe ta perfeitiffima faude, que vive por beneficio defta cura ha trinta & oito an- nos. 7. . Infinitos fao os pleurizes mortaes, que curei por efte eftylo , aindaque tive alguns tao'rebeldes , aos quaes naó aproveitara fangrias, , nem farguifugas, nem ventofas farjadas deitadas fobre olugar.da dor, nem a camoeza affada , recheadacom huma oitava de almifcar , que he muito rnelhor que o incenfo macho, nem comafobredita agua: & vendoeu quereiedios tao efficazes, & qualificados com innumeraveis expe- riencias na aproveitava, & que o doente morriá, lhe fz beber quatro oncas de oleo da femente dolinhoti- rado de frefco por expreffa, doqual dizem graves Authores (4.) maravilhas eftupendas para curar os pleurizes defefperados : & bru tal oleo ta prodi- gio-
Obtervação XXVIL — 165 . duis otiças ; cozaófe em pánela de barro, em feis quattilhos de agua cominua até que fiquêm cinco, & quando qiirerein tirar à panela dofogo, lhe deitem dentro huma maóõ chreya de flores de papoulas fecás; pará que lárguern na dita agua à tintúra vermelha ; & coanidofe com forte expreílaô , defatem nella tres ois tavas das minhas pilulas ancifebriles, chainadás ab. forbentes , que faó inuito dulcificantes dos humores acidos: (& nas terrás aonde naó fe achaíern às taes pi TJulas ; ou às Medicos naô quizereri ufar dellas , fó por ferem fegredo meu , podem ufar, em feu lugar, de tres pitavas dê coral bem preparado, porque aindáque efº - tetem muito menor vittude , comeudo póde fervir. E defta bebida morna , & bem váfcolejádaá ufe o enfer- mo todas as vezes que tiver fede, porque efta he a mi- nha agua ahtiplearitica, cujos effeitos maravilhofos experimentaráó 65 que fe aproveitarem dellá, & então - acabarãô deconhecer o ferviço que fiz à Républica; em lherevelar taógrandeéfegredo. 0. : 6. Finalmente, porque depois dá extinçaô da pon- tada reftavaó ainda alguns veítigios de febre , enten- di feria conveniente farngrar outrá vez hos pês, por- — que defte modo attendia à febre, & à gonorthea: & foi Deos fervido confeguifle taõ perfeitiflimá faude, que vive por beneficio defta cura ha trinta & oito an- nos. | | 7. .Infinitos faó os pleurizes mortães , que curei . por efte eftylo , aindaque tive alguns tãotrebeldes , aos quaes naõ aproveitàraõo fangrias , nem fanguifugas, nem ventofas farjadas deitádas fobre o lugar da dor, . hem a camoeza aflada , recheadá com huma oitava de almiícar , que he muito melhor que o incenfo macho, nem coma fobredira agua: & vertido eu que remedios taô eficazes , & qualificados com innuúmeraveis expe- fiencias naõ aproveiravaó, & que o doente morria, lhe fiz beber quatro otiças de oleo da fermente dolinho ti- tado de frefco pot expreflaô ; do qual dizem graves Authores (4.) máravilhas eftupendas para curaí os pleurizes defefperados : & ebrou gal oleo taó prodi- des : : g1O-
Observaçao XXVII. 165 duas onças, cozaonse em panela de barro, em seis quartilhos de agua commua atè que fiquem cinco, & quando quizerem tirar à panela do fogo, lhe deitem dentro huma maon cheya de flores de papoulas secas, para que larguem na dita agua à tintura vermelha, & coandose com forte expressaon, desatem nella tres oi¬ tavas das minhas pilulas antifebriles, chamadas ab¬ sorbentes, que sao muito dulcificantes dos humores acidos: (& nas terras aonde naon se acharem as taes pi¬ lulas, ou os Medicos naon quizerem usar dellas, so por serem segredo meu, podem usar, em seu lugar, de tres oitavas dè coral bem preparado, porque aindâque es- te tem muito menor virtude, comtudo pode servir. E desta bebida morna, & bem vascolejada use o enfer¬ mo todas as vezes que tiver sede, porque esta he a mi- nha agua antipleuritica, cujos effeitos maravilhosos experimentaraon os que se aproveitarem della, & entamo acabaraon de conhecer o serviço que fiz à Republica, em lhe revelar taon grande segredo. 6. Finalmente, porquè depois da extinęaon da pon¬ tada restavaon ainda alguns vestigios de febre, enten¬ di seria conveniente sangrar outra vez nos pès, por¬ que deste modo attendia à febre, & à gonorrhea: & soi Deos servido conseguisse tao perfeitissima saude, que vive por beneficio desta cura ha trinta & oito an¬ nos. Infinitos saon os pleurizes mortaes, que curei por este estylo, aindaque tive alguns tamo rebeldes, aos quaes naon aproveitàraon sangrias, nem sanguisugas, nem ventosas sarjadas deitadas sobre o lugar da dor, nem a camoeza assada, recheada com huma oitava de almiscar, que he muito melhor que o incenso macho, nem com a sobredita agua: & vendo eu que remedios taon efficazes, & qualificados com innumeraveis expe¬ riencias naon aproveitavaon, & que o doente morria, lhe fiz beber quatro onças de oleo da semente dolinho ti¬ rado de fresco por expressaon; do qual dizem graves Authores (4.) maravilhas estupendas para curar os pleurizes desesperados: & obrou q tal oleo taon prodi¬ gio¬
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166 Observações Medicas Doutrinaes. giosamente , que dentro de oito dias livrei ao doente da morte. 8. Se me perguntarem a razaõ porque o dito oleo tem taõ grande efficacia para curar os pleurizes rebeldissimos ; responderei que isto procede , porque as dores do pleuriz pela mayor parte nascem da circulaçaõ do sangue estar parada , e tanto que a circulaçaõ se suspende , logo o sangue se faz grosso , e azedo , e do azedume , e crassidaõ nasce a dor ; por quanto o sangue está disconveniente, e improporcionado para alimentar a parte: e como o oleo de linhaça tenha grande prerogativa pra adelgaçar, e arrarar o sangue, logo o faz capaz paraque continue a circulaçaõ , e consequentemente para se tirar o azedume , e a acrimonia de maneira , que naõ possa fazer dor. 9. Agradeçãome o revelar esta razaõ , porque supposto que algus Medicos soubessem primeiro que eu a grande virtude , que tem o oleo da semente do linho para curar os pleurizes m naõ me consta que até o dia de hoje soubesse algum a razaõ porque tem a tal virtude. 10. Por fim desta Observaçaõ advirto aos Medicos principiantes duas cousas importantissimas para o seu credito , e para a saude dos doentes. A primeira he , que se com a qualidade gallica se ajuntar alguma doença aguda muito perigosa, como saõ pleuriz, febre ardente , ou maligna , camaras de sangue , ou outras semelhantes ; se naõ empenhem em acudir primeiro ao gallico , mayormente quando virem que da demora de curar o gallico naõ ha tanto risco , como da tardança em acudir às doenças agudas : já se os remedios, que servem para curar o gallico , forem damnosos para as doenças , que com elle estaõ complicadas , de nenhum modo se devem applicar : ponho por exemplo: Se Pedro estiver enfermo com hua febre ardente complicada com gallico , farà hum erro sem desculpa quem lhe der suores , porque lhe augmentarà a febre, e o matará. E se Paulo , estando gallicado , adoecer com hum garrotilho, ou com hua asthma , fará hum erro
1. 168 Obfervações Medicas Doutrinaes. giofamente, que dentro de oito dias livrei ao doente da morte. 8. Se me perguntarem a razaõ porque o dito oleo tem tao grande efficacia para curar os pleurizes rebel -* diffimos ; refponderei que ifto procede, porque as do-f res do pleuriz pela mayor parte nafcem da circulação. do fangue eftar parada, & tanto que a circulação fe fufpende, logo o fangue fe faz groffo, & azedo, & do azedume, & craffidao nafce a dor ; por quanto o fan- gue efta difconveniente, & improporcionado para ali- mentar a parte: & como o oleo de linhaça tenha gran- de prerogativa para adelgaçar, & arrarar o fangue, logo o faz capaz paraque continue a circulação, & confequentemente para fe tirar o azedume , & aacri- monia de maneira, que naõ poffa fazer dor. 9. Agradeçãome o revelar efta razaõ , porque, fuppofto que algus Medicos foubeffem primeiro que eu a grande virtude, que tem o oleo da femente do li- nho para curar os pleurizes, naõ me confta que até o :. dia de hoje foubeffe algum a razao porque tem a tal · virtude. 10. Por fim defta Obfervaçao advirto aos Medi- cos principiantes duas coufas importantiffimas para o feu credito, & para a faude dos doentes. A primeira; he, que fe com a qualidade gallica fe ajuntar alguma doença aguda muito perigofa, como fao pleuriz, febre? ardente, ou maligna, camaras de fangue, ou outras femelhantes ; fe nao empenhem em acudir primeiro ao gallico, mayormente quando virem que da demo- ra de curar o gallico nao ha tanto rifco, como da tar dança em acudir às doenças agudas: já fe os remedios, que fervem para curar o gallico, forem damnofos para as doenças, que com elle eftaõ complicadas , de ne- nhum modo fe devem applicar : ponho por exemplo: Se Pedro eftiver enfermo com hua febre ardente com- plicada com gallico , farà hum erro fem defculpa quem lhe der fuores , porque lhe augmentarà a febre, & o matara. E fe Paulo, eftando gallicado, adoecer com hum garrotilho, ou com hua afthma, fara hum er- ro
16a Obfervacoes Medicas Doutrinaes. giofamente, que dentro de oito dias livrei ao doenta da morte. 8. Se me perguntarem a raza porque o ditooleo tem ta grande efficacia para curar os pleurizes rebel-t diffimos; refponderei que ifto procede, porque as do. res do pleuriz pela mayor parte nafcem da circulaca& do fangue eftar parada ; & tanto quea circulaca fe fufpende,logoofangue fe faz groffo,& azedo,& do azedume, & craffida nafce a dor ; por quanto.o fan- gue efta difconveniente, & improporcionado para ali- mentar a parte: & como o oleo de linhaca tenha gran- de prerogativa para adelgacar, & arrarar o fangue, logo o faz capaz, paraque continue acirculaca, & confequentemente para fe tirar o azedume, & aacri- monia de maneira , que na poffa fazer dor. Agradecäome o revelar efta raza , porque . 9. fuppofto que algüs Medicos foubeffem primeiro que .eu a grande.virtude, que tem ooleo da femente do li.. nho para curar os pleurizes, naöme confta que atéo: dia de hoje.foubeffe algum a raza porque tem atal virtude. 10. Por fm defta Obfervaca advirto aos Medi- cos principiantes duas coufas importantiffimas para o feu credito , &.para a faude dos doentes. . A primeira? he , que fe com a qualidade gallica fe ajuntar alguma doenca aguda muito perigofa, como fa pleuriz, febre? ardente, ou maligna, camaras de fangue, ou outras. femelhantes ; fe naö empenhem em acudir primeiro ao gallico, mayormente quando virem que da demo ra de curar o gallico na ha tanto rifco , como da tar. danca em acudir as doencas agudas: já fe os remedis, que fervem para curar o gallico , forem.damnofosβara as doencas, que com elle eftaö complicadas , de ne- nhum modo fe devem applicar : ponho por exemplo:* Se Pedro eftiver enfermo com hua febre ardente com- plicada com gallico, fara hum erro fem defculpa quem lhe der fuores, porque lhe augmentara a febre, & o matara. E fe Paulo,eftando gallicado, adoecer com hum garrotilho,ou com hüa afthma,fara hum er- rQ
/ 165 Obfervações Medicas Doutrinaes. giofamente, que dentro de oito dias livrei ao doente da morte. : ; o ” 8. Semeperguntaremarazaó porque o dito oleu tem taô grande eficacia para curar os pleurizes rebel-s, diflimos ; refponderei que ifto procede, porqueas do«i, . resdo pleuriz pela mayor parte nafcemda circulaça&" do fangue eftar parada, & tanto queacirenhação fe- fufpende , logo o fangue fe faz groflo , & azedo, & do azedume, & craffidaô naíce a dor ; por quanto o fan- gue eftá difconveniente, & improporcionado para ali- mentar a parte: & como o oleo de linhaça tenha gran“. de prerogativa para adelgaçar, & arrarar o fangue, logo o faz capaz paraque continue acirculaçaô, & confequentemente para fetirar oazedume, & aacris monia de maneira, que naó poíla fazer dor. Ps 9. Agradeçãome o revelar efta razao , porque- fuppoíto que algús Medicos foubeflem primeiro que: eu a grande virtude, que tem o oleo da femente do li-: nho para curar os pleurizes, naó me confta que até o: dia dehoje foubefle algum arazaô porque tem atal * virtude. : o e 10. Porfim defta Obfervaçãõ advirto aos Medis , cos principiantes duas coufas importantiffimas para o feu credito , & para a faude dos doentes. A primeira: he , que fe com a qualidade gallica fe ajuntaralguma doença aguda muito perigofa, como faó pleuriz, febre ardente, ou maligna, camaras de fangue, ou outras femelhantes$ fe naó empenhem em acudir primeiro * ao gallico, mayormente quando virem que da demos, ra de curar ogallico naó ha tanto rifco , como da rá" dança em acudir às doenças agudas: já fe os remedios, * que fervem para curar o gallico, forem damnofos'para as doenças , que com elle eftaô complicadas ; de ne- nhum modo fe devem applicar: ponho por exemplo:* ;Se Pedro eftiver enfermo com hãa febre ardente com+ Plicada com gallico , fará hum erro fem defeulpa quem lhe der fuores , porque lhe augmenrarà a febre, & o matará, E fe Paulo, eftando gallicado ; adoecer com hum garrotilho,ou com hãa aíthma, fará hum er- ro Í
166 Observaçones Medicas Doutrinaes. giosamente, que dentro de oito dias livrei ao doente da morte. 8. Se me perguntarem a razaon porque o dito oleo tem taon grande efficacia para curar os pleurizes rebel¬ dissimos; responderei que isto procede , porque as do- res do pleuriz pela mayor parte nascem da circulaçaon do sangue estar parada, & tanto que a circulaçaôn se suspende , logo o sangue se faz grosso , & azedo , & do azedume, & crassidaon nasce a dor; por quanto o san- gue está disconveniente, & improporcionado para ali- mentar a parte: & como o oleo de linhaça tenha gran¬ de prerogativa para adelgaçar, & arrarar o sangue, logo o faz capaz paraque continue a circulaçaô, & consequentemente para se tirar o azedume, & a acri- monia de maneira, que nao possa fazer dor. 9. Agradeçaome o revelar esta razao, porque supposto que algums Medicos soubessem primeiro que eu a grande virtude, que tem o oleo da semente do li- nho para curar os pleurizes, naon me consta que até o dia de hoje soubesse algum a razaô porque tem a tal virtude. 10. Por fim desta Observaçaon advirto aos Medi¬ cos principiantes duas cousas importantissimas para o seu credito , & para a saude dos doentes. A primeira: he, que se com a qualidade gallica se ajuntar alguma doenęa aguda muito perigosa, como saon pleuriz, febre ardente, ou maligna, camaras de sangue, ou outras semelhantes; se nao empenhem em acudir primeiro ao gallico, mayormente quando virem que da demo, ra de curar o gallico naon ha tanto risco, como da tar dança em acudir às doenças agudas: ja se os remedios, que servem para curar o gallico , forem damnosos para as doenças, que com elle est ao complicadas, de ne- nhum modo se devem applicar: ponho por exemplo: Se Pedro estiver enfermo com huma febre ardente com- plicada com gallico, farà hum erro sem desculpa quem lhe der suores, porque lhe augmentarà a febre, & o matará. E se Paulo, estando gallicado , adoecer com hum garrotilho, ou com huma asthma, fara hum er¬ ro
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Observaçaõ XXVII. 167 ro casso, quem lhe der unturas, ou fumos de azougue, porque o affogará com os humores , que com as unturas necessariamente haõ de buscar a garganta , e vasos salivaes , que como já estavaõ aggravados, se aggravaraõ mais com a saliva , e baba que a ella ha de acudir. Se Francisco deitar sangue pela boca , ou pelas almorreimas , ou estiver leproso , ou tiver impingens , ou bostellas , ou padecer quenturas do figado, estando gallicado , o matará , quem lhe der suores de falsa , porque aindaque ella respeita muito ao gallico, faz grande damno à lepra , às impingens , aos fluxos de sangue , e às queixas referidas. Porèm se a doença, que se complicar com o gallico , naõ for aguda , nem correr risco a tardança, podemos acudir primeiro ao gallico , ou curalla juntamente com elle , se os remedios , com que o gallico se cura , não affenderem as doenças , que com elle estiverem juntas. Ponho por exemplo ; Se com o gallico se ajuntar hua parlesia, hu estupor , hua gotta, coral, hus vagados , ou hua ciatica, poderaõ curarse juntamente com o mesmo remedio do gallico, porque o tal remedio naõ he damnoso às sobreditas doenças, que com elle se achaõ complicadas. OBSERVAÇAM XXVIII . De huma dor acerrima nas coʃtas mendoʃas , que certa enferma padeceo por cauʃa de hũs vomitos violentamente provocados ; & depois de ʃe lhe applicarem muitos remedios ʃem alivio , cobrou ʃaude , tomando medicamentos , que adelgaçàraõ o ʃangue , paraque ʃe circulaʃʃe melhor . 1 . CErta ʃenhora padecia muitas vezes no anno acerrimas dores de cabeça , & como na mayor força dellas coʃumaʃʃe a meʃma natureza vomitar , ʃemque para iʃʃo intervieʃʃe alguma diligencia da Arte , & com os ditos vomitos aliviaʃʃe muito , tomou
- Observação, XXVII. so crafo,quem lhe der unturas, ou fumos de azougue, porque o affogará com os humores, que com as un- muras neceffariamente hao de bufcar a garganta, & vafos falivaes , que como já eftavao aggravados, le ag- gravarao mais com a faliva, & baba que a ellas hade acudir, Se Francifco deitar fangue pela boca, ou pe- las almorreimas , ou. eftiver leprofo, ou tiver impin- gens, ou boftellas, ou padeces quenturas do figado; eftando gallicado.,o, matara, quero Ine der fuores de falfa, porque aindaque ella refpeita muito ao gallico, faz grande damno à lepra, às impingens, aos fluxos de fangue , & às queixas referidas. Porem fe a doença, que fe complicar com o gallico, nao for aguda, nem correr rifco a tardança, podemos acudir primeiro ao gallico., ou curalla juntamente com elle, fe os reme- dios, com que o gallico fe cura, não offenderem as doenças, que com elle eftiverem juntas. Ponho por exemplo: Se com o gallico fe ajuntar hua parlefia, hű eftupor, hua gotta coral, hus vágados, ou hűa ciatica, poderáõ curarfe juntamente com o mesmo remedio do gallico, porque o tal remedio naő he damnofo às fo- breditas doenças, que com elle fe achaõ complicadas. OBSERVAÇAM XXVIII. De buma dor acerrima nas coft as mendofas, que certa en- ferma padeceo por caufarde būs vomitos violentamen- te provocados; & depois de fe lhe applicarem muitos remedios fem alivio , cobrou faude, tomando medica- mentos , que adelgagarao o fangue , paraque fe circu- la ffe melhor. I .. C · Erta fenhora padecia muitas vezes no an- no acerrimas dores de cabeça, & como, na mayor força dellas coftumafle a mefma natureza vomitar , femque para iffo intervieffe alguma diligen- cia da Arte, & com os ditos vomitos aliviaffe muito, 167 : : --.
Obfervacao, XXVII.: 67 ro craffo,quem lhe der unturas,ou fümos de azougue, uras neceffariamente. haö de :bufcar a garganta, & gravara:mais cotm afaliva, & baba quca clla ha de acudir. Se Francifco deitar fangue pela boca, ou pe- lasalmorreimas , Qu: eftiver leprof, ou ti ver impin. eftando gallicadoo matara, quera lne der fuore: de falfa , porque aindaque.ella refpeita mdito ao gallico, faz grande damno alepra, as impingens, aos fuxos de fangue, & as queixas referidas: Porem fea doengas que fe complicar coin ogallico, na for aguda, nem correr rifcoatardanca , podemos acudir primeiro a gallico., ou curalla juntamente com elle, fe.os reme. dios, com que o gallico fe cura, naooffenderem as doengas, que com tlleeftiverem juntas. Ponho por exemplo: Se com gallico fe. ajuntar hua parlefia, h eftupor, hua gotta coral, hus vagados , ou hua ciatica, podera curarfe juntamente com o..mefino remedio do gallico,porque o tal remedio na he damnöfoas fo. breditas doengas; que com elle fe acha complicadas. OB$E RV.AC A M. XXVIII.: De kuma doi acerrima nas coft as mendofas,que certa en- fermapadeceopor caufade bis vomitos violentamen- te provocados; g depois"defe lbe applicaren muitos remedios fem alivio , coproufaude , tonando medica- mentos , que adelgagara fangue , paraque fe circu- taffe melbor. .Ertafenhora padecia muitas vezes no an- no acerrimas dores de cabeca, & como. na mayor forca dellas coftumaffe a mefma natureza . vomitar , femque para iffo intervieffe alguma diligen- cia da Arte , & com os ditos vomitos aliviaffe muito, tonou
— Obfervação. XXVIL 167 so craffo,quem lhe der unturas,on fumos de azougue; porque o affogatá com os humores, que com as un- tnras neceflariamente haó de :bufcas à garganta, & .valos falivaes ; queçomo já eltavaó-apgravados, le ag- pravarão mais com afaliva, & haba queaella:.ha de acudir, Se Francifço deitar fangue pela boca, ou pe- las almorreimas ; qu eltiver leprofo , ou táver ih pin- gens, ou boftellas| ou padecêt quenturas do figado, eftando gallicado,o, matará, quem IReeler fuore: de falfa, porque aindaque ella refpeica mifite ao gallico, faz grande damno à lepra , às impingenss aos fluxos de fangue , & às queixas referidas. Porêm fea doença, que fe complicar çom o gallico, nao for aguda, nem | correr rifeoa tardança , podemos acudir primeiro a6 ' gallico,, ou curalla juntamente çom elle, fe-os reme- dios, com que o .gallico fe cura , não offenderem as doenças, que com elle eftiverem juntas. Ponho por exemplo: Se com o gallico fe ajuntar hãa parlefia, há eftupar, hãa gotta coral, hós vágados , oú hfia ciatica, oderáo curarfe juntamente com o.mefine remedio do gallico,porque oral remedio naô he damnofo%s fo- breditas doenças; que com elle fe achaô complicadas. cO5d0o caBt0o DS On an SS Oo an SSar an sS do aOSSOn aí G On OS S00 OSC OSSOS coSEO . OBSERVAÇAM, XXVIII. De buma dor -acerrima nas coftas mendof/as,que certa en- Jfermapadeceo por cau/wde bs vormttos violentamen- te provocados; & depois de fe lhe applicarem muitos remedios fem alivio , cobrou faude , tomando medica- : givéntos , que adelgaçãrao o fangue , paraque fé circu- - taffemelhor. | * o” Ertafenhora padeçia muitas vezes no arr- | no acerrimas dores de cabeça, & como, pa mayor força dellas coftumafle a mefma natureza "vomitar, femque para iflo inrerviefle alguma diligen- " cia da Arte, & comos ditos vomitos aliviafle muito, , LOImOLu
167 Observaçaon XXVII. ro crasso, quem lhe der unturas, ou fumos de azougue, porque o affogara com os humores, que com as un¬ turas necessariamente haon de buscar a garganta, & vasos salivaes, que como jà estavaon aggravados, se ag¬ gravaraon mais com a saliva, & haba que a ella; ha de acudir. Se Francisco deitar sangue pela boca, ou pe¬ las almorreimas, ou estiver leproso, ou tiver impin¬ gens, ou bostellas, ou padecer quenturas do figado, estando gallicado, o matara, quem lHeder suores de salsa, porque aindaque ella respeita muito ao gallico, faz grande damno à lepra, às impingens, aos fluxos de sangue, & às queixas referidas. Porèm se a doença, que se complicar com o gallico, nao for aguda, nem correr risco a tardança, podemos acudir primeiro ao gallico, ou curalla juntamente com elle, se os reme¬ dios, com que o gallico se cura, nano offenderem as doenças, que com elle estiverem juntas. Ponho por exemplo: Se com o gallico se ajuntar huma parlesia, hum estupor, huma gotta coral, huns vagados, où huma ciatica, poderao curarse juntamente com o mesmo remedio do gallico, porque o tal remedio naon he damnoso às so- breditas doenças, que com elle se achaon complicadas. e aae ar den arse asign a de= OBSERVAQAM, XXVIII. De huma dor acerrima nas costas mendosas, que certa en¬ ferma padeceo por causadde bus vomitos violentamen¬ te provocados; & depois de se lhe applicarem muitos remedios sem alivio, cobrou saude, tomando medica¬ mentos, que adelgaguraon o sangue, paraque se circu¬ lasse melhor. .Erta senhora padecia muitas vezes no an¬ 1. no acerrimas dores de cabeça, & como na mayor força dellas costumasse a mesma natureza vomitar, semque para isso interviesse alguma diligen¬ cia da Arte, & com os ditos vomitos aliviasse muito, tomou
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168 Observações Medicas Doutrinaes tomou motivo deʃta experiencia , para querer provocar aquella meʃma evacuaçaõ , que tantas vezes tinha experimentado proveitoʃa , & por iʃʃo quando lhe dava a tal dor , ʃe a natureza faltava com os vomitos coʃtumados , metia os dedos na boca , & vomitando ficava logo boa ; chegou porèm hum dia taõ infauʃto , que dandolhe a meʃma dor , lhe faltáraõ os vomitos coʃtumados , & como ʃempre com elles ʃe livrava , pertendeo logo provocallos , metendo os dedos na boca , tendo por infallivel , que como vomitaʃʃe , livraria da dor , que tanto a atormentava ; mas não lhe ʃuccedeo aʃʃim , porque naõ podendo vomitar , porfiou muitas vezes , metendo a mão na boca para eʃte fim ; o que foi grande temeridade ; porque devia eʃta enferma advertir a differença que vay de hum tempo a outro , & que os remedios , aindaque ʃejaõ bons , & os meʃmos , nem ʃempre obraõ igualmente bem . Deʃta violencia que ʃe fez , começou a ʃentir huma dor nas coʃtas mendoʃas da ilharga direita , aindaque ʃem febre , & ʃem difficuldade na reʃpiraçaõ ; para curarʃe da dita dor applicou varios remedios , mas todos ʃem proveito : neʃte aperto me fez chamar , & depois de me dar conta do que padecia , entendi que a tal dor naõ era pleuriz , porque naõ tinha febre , nem toʃʃe , nem difficuldade de reʃpiraçaõ ; mas que era hum flato , que diʃtendia , & mordicava aquella parte , & por iʃʃo appellei para o ʃeguinte remedio , que coʃtuma ʃer maravilhoʃo tanto para reʃolver flatos , & vapores , quanto para desfazer as inchações edematoʃas . Tomem do pò ʃubtiliʃʃimo da raiz da butua , ( chamada tambem parreira brava ) duas oitavas , miʃturemʃe com tanto vinho branco , quanto baʃte para fazer hum polme groʃʃo , & com elle quente mandei fomentar a parte doloroʃa duas vezes no dia . Porèm como eʃte remedio tendo aproveitado a muitos em ʃemelhantes dores , lhe não aproveitaʃʃe a ella , recorri para a ʃeguinte fomentaçaõ , que he excellentiʃʃima . Mandei fazer huma cellada de partes iguaes de loʃna , & alfavaca , & que pondoʃe eʃtas ervas ao fogo em huma tigela nova , ʃe foʃʃem borrifan
: 168 Observações Medicas'Doutrinaes. tomou motivo defta experiencia; para querer provo car aquella mefma evacuaçaõ , que tantas vezes tinha experimentado proveitofa, & por iffo quando the das va a tal dor, fe anatureza faltava com os vomitos cofe tumados , metia os dedos na boca , & vomitando fica va logo boa ; chegou porem hum dia tao infadfto, que dandolhe a mefma dor, lhe faltaraõ os vontitos cof- tumados ; & como fempre com elles felivrava, per tendeologo provocallos, metendo os dedos na boca; tendo por infallivel, que como vomitaffe , livraria da dor, que tanto a atormentava; mas não lhe fucceded affim, porque não podendo vomitar, porfiou muitas vezes , metendo a mão na boca para efte fim ; o que foi . grande temeridade ; porque devia efta enferma adver- tir a diferença que vay de hum tempo a outro, & que- os remedios, aindaque fejao bons , & os mefmos, nem fempre obrao igualmente bem. Defta violencia que fe fez, começou a fentir huma dor nas coftas mendofas da ilharga direita, aindaque fem febre, & fem diffi- culdade.na refpiração; para curarfe da dita dor appli- cou varios remedios, mas todos fem proveito: nefte aperto mefez chamar, & depois de me dar conta do que padecia, entendi que a tal dor naõ era pleuriz, porque nao tinha febre, nem toffe, nem dificuldade de refpiraçao; mas que era hum flato, que diftendia, & mordicava aquella parte , & por iffo appellei para o feguinte remedio, que coftuma fer maravilhofo tanto para refolver flatos , & vapores , quanto para desfazer as inchações edematofas. Tomem do po fubtiliffimo da raiz da butua, (chamada tambem parreira brava. duas oitavas , mifturemfe com tanto vinho branco, quanto bafte para fazer hum polme groffo, & com elle quente mandei fomentar a parte dolorofa duas vezes no dia. Porem como efte remedio tendo apro- veitado a muitos em femelhantes dores, lhe não apro- veitaffe a ella , recorri para a feguinte fomentaçaõ, que he excellentiffima. Mandei fazer huma cellada de partes iguaes de lofna , & alfavaca , & que pondofe ef- tas ervas ao fogo em huma tigela nova , fe foffem bor- rifan- 1
. 16% Obfervacoes Medicas Doutrinaes. tomou motivo defta experiéncia, para qurer provt car aquélla mefma evacuaca,que tantasvezes tinha experimentadoproveitofa, & pr iffo quandothe dar va a tal dor, fe anatureza faltava com os vomitos cof. tumados , metia os dedos na boca , & vomitando fica va logo boa , chegou porem humdia ta infaafto, que dandolhe a mefma dor, lhe faltara os vontitoscoft tumados, & como fempre com elles felivrava, per: tendeo:logo prbvocallos, inétendo os dedos na boca; tendo por infallivel , que como vomitaffe;: livraria da dor , que tantoa atormentava ; mas naolhefuccedeo affim, porque na podendo vomitar , porfiou muitas vezes , metendoamao na boca para cfte fim; oque foi grande'temeridade ; porque devia efta enferma adver tir a differenca que vay de humtempo a outro., & que os remedios, aindaque fejabons , & os mefinos, nem fempre:obra igualmente ben: Defta violencia quefa fez,comecou a fentir huma dor nas coftas mendofas da ilharga direita, aindaque fem febre , & fem diff- culdadenarafpiraca; para curarfe da dita dor appli cou arios remedios, mas todos fem proveito: nefte aperto mefez chamar , & depois de me dar conta do que padecia, entendi que a tal dor na era pleuriz, porque na tinha febre, nem toffe, ném diffculdade de refpiraga ; mas que era hum flato, que diftendia, & mordicava aquella parte, & por iffo appellei paraš feguinte remedio, que coftuma fer maravilhofo tant asinchacöes edematofas. Tomem do po fubtiliffimo da raiz da butua, (chamada tambem parreira brava duas oitavas , mifturemfe com tanto vinho branco, quanto bafte para fazer hum,polme groffo, & com elle quente mandei fomentar a parte dolorofa duas vezes no dia. Porem cono efte remedio tendo apro- veitado a muitos em femelhantes dores,lhe nao apro- veitaffe a ella , recorri. para a feguinte fomentaca, que he éxcéllentiffima. Mandei fazer huma celladade partes iguaes de lofna ,& alfavaca,& que pondofeef- tas crvas aofogo cm huma tigela nova , fe foffem bor- rifan-
168 Oblervações Médicas Doutrinaes. tomou motivo defta experiencia; para quérer provo: caraquélla mefma evacuaçaõ que tantas vezes tinha experimentado'próveitofa, & per iflo quatidothe das va atal dor, fe anatóreza faltava com os vómitos cofe tumados , metia os dedos na boca ; & vomitando fica: va logo boa ; chegou porêm humdia taó infaúfto, que dandolhe-a mefma dor. lhe faltáraô os vanritos cof tumados , & como femipre com elles felivrava, pers tendeologo Pibvocallos, merendo os dedos na boca; tendo por infallivel, que como vofnitafle; livraria dá dor , que tanto a atormentavã ; mas nãolhefuccedeo afim, porque naó podendo vomitar , porfiou muitas vezes , metendo 14 mão na boca pata efte im ; o que foi - grandetemeridade ; porque devia efta enferma advera tira differença que vay de hum tempo à outro. & que" os remedios, aindaque fejaô bons ,.& os melmos, nem fempre'obraô igualmente bem. Defta violência que fe fez , começou a fentir huma dot nas coftas mendofas da ilharga direita, aindaque fem febre , & fem diffi= culdade narefpiraçaô; para curarfe da dita dor appli? cou Parios remedios, mas todos fem proveito: nefte aperto mefez chamar, & depois de me dar conta do que padecia , entendi que a tal dor naõ era pleuriz, porque naô tinha febre, nem toffe , nem dificuldade de refpiraçaô ; mas que era hum flato, que diftendia, & mordicava aquelJa parte , & poriflo appellei para & feguinte remedio, que coftuma fer maravilhofo tanté, para refolver flatos , & vapores , quanto para desfazef. asinchações edematofas. Tl omem do pô fubrililima: da raiz da butua, (chamãda tambem parreira brava) duás oitavas , mifturemfe com tanto vinho branco, quanto bafte para fazer hum polme groflo, & com elle quente mandei fomentar 'a' parte dolorofa duas vezes nodia. Porêm como efte remedio tendo apro- veitado a muitos em femelhantes dores,lhe não apro- veitafle a ella , recorri para a feguinte fomentaçaõ, que he excellentifima. Mandei fázer huma cellada de partes iguaes de lofna , & alfavaca , & que pondofe ef” tas civas aofogo em huma tigela nova fe foflem bor- Lata do
168 Observaçones Medicas Doutrinaes. tomou motivo desta experiencia; para querer provo¬ car aquella mesma evacuaçaon, que tantas vezes tinha experimentado proveitosa, & por isso quando lhe da¬ va a tal dor, se a natureza faltava com os vomitos cos¬ tumados, metia os dedos na boca, & vomitando fica¬ va logo boa; chegou porèm hum dia tao infausto, que dandolhe a mesma dor, lhe faltaraon os vontitos cos¬ tumados, & como sempre com elles se livrava, per¬ tendeo logo provocallos, metendo os dedos na boca, tendo por infallivel, que como vomitasse, livraria da dor, que tanto a atormentava; mas namo lhe succedeo assim, porque naon podendo vomitar, porfiou muitas vezes, metendo a mano na boca para este fim; o que foi grande temeridade; porque devia esta enferma adver- tir a differença que vay de hum tempo à outro, & que os remedios, aindaque sejaon bons, & os mesmos, nem sempre obraon igualmente bem. Desta violencia que se fez, começou a sentir huma dor nas costas mendosas da ilharga direita, aindaque sem febre, & sem diffi¬ culdade na respiraçaon; para curarse da dita dor appli¬ cou varios remedios, mas todos sem proveito: neste aperto me fez chamar, & depois de me dar conta do que padecia, entendi que a tal dor naó era pleuriz, porque nao tinha febre, nem tosse, nem difficuldade de respiraçao ; mas que era hum flato , que distendia, & mordicava aquella parte, & por isso appellei para o seguinte remedio , que costuma ser maravilhoso tanto para resolver flatos, & vapores, quanto para desfazer as inchaçones edematosas. Tomem do po subtilissimo da raiz da butua, (chamada tambem parreira brava) duas oitavas, misturemse com tanto vinho branco, quanto baste para fazer hum polme grosso, & com elle quente mandei fomentar a parte dolorosa duas vezes no dia. Porèm como este remedio tendo apro¬ veitado a muitos em semelhantes dores, lhe nao apro¬ veitasse a ella, recorri para a seguinte fomentaçao, que he excellentissima. Mandei fazer huma cellada de partes iguaes de losna , & alfavaca , & que pondose es- tas ervas ao fogo em huma tigela nova , se fossem bor¬ rifan¬
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Observaçaõ XXVIII. 169 rifando com eʃpirito de vinho , ou com agua da Rainha de Ungria , & ʃe foʃʃem voltando até que amolleceʃʃem , & tomaʃʃem boa quentura , & que entaõ ʃe applicaʃʃem ʃobre o lugar da dor ; mas como nada aliviaʃʃe , appellei para a ʃeguinte fomentaçaõ , que coʃtuma ʃer milagroʃa . Mandei cozer huma maõ cheya de folhas de meimendro , outra de flores de papoulas ʃeccas , ou verdes , outra de ʃemente de linho , em hua canada de leite de cabras , ou de vaccas , & que a eʃte cozimento coado , & eʃpremido ajuntaʃʃem duas colheres de mel , & que nelle enʃopaʃʃem hum paõ vindo do forno , & o applicaʃʃem ʃobre a parte queixoʃa ; porque verdadeiramente eʃte remedio aʃʃim pela virtude anodyna do leyte , & ʃemente do linho , como pela propriedade narcotica do meimendro , & folhas de papoulas coʃtuma fazer prodigioʃos effeitos . Mas como eʃte foʃʃe mui alheyo da minha eʃperança , entendi que a ʃobredita dor naõ procedia ʃó de flatos , mas que tinha tambem por cauʃa alguns humores , & temi que agitados elles com a violencia da dor , correʃʃem , & ʃe deʃpenhaʃʃem com mais ruidoʃa queda para o lugar enfermo , & puzeʃʃem a doente em mayor perigo ; & levado eu deʃta conʃideração mandei ʃangrar a dita ʃenhora no pè da parte enferma ; porèm como a dor perʃeveraʃʃe depois de oito ʃangrias , & de tantos remedios applicados , ʃuʃpeitei que huma rebeldia taõ porfiada ʃó podia naʃcer da lympha ʃer tão groʃʃa , & viʃcofa , que ʃenaõ podia circular naquella parte , por cuja cauʃa (eʃtando remorada) tinha adquirido tal acrimonia , & azedume , q fazia a dor , & pontada taõ rebelde , & deʃobediente ; & como para adelgaçar a dita lympha , & fazella circular , naõ achaʃʃe (depois que ʃou Medico ) remedio mais appropriado que a boʃta de boy freʃca , fervida levemente com huma onça de banha de flor , meya de enxundia de gallinha , hum eʃcropulo de açafraõ , duas oitavas de ʃpermaceti , & duas gemas de ovos cruas deitadas fóra do lume , uʃei deʃte remedio , & ʃem embargo que o appliquei repetidas vezes , não ʃe diminuhio a dor quanto era juʃto eʃpe
169 Obfervaçao XX VIII: rifando com efpirito. de vinho, ou com agua da Rai- nha de Ungria, & fe foffem voltando até que amol- leceffem, & tomaffem boa quentura, & que entao fe applicaffem fobre o lugar da dor ; mas como nada ali- viaffe , appellei para a feguinte fomentaçao, que cof- tuma fer milagrofa. Mandei cozer huma mao cheya de folhas de meimendro, outra de flores de papoulas feccas, ou verdes, outra de femente de linho, em hűa canada de leite de cabras, ou de vaccas, & que a efte cozimento coado , & efpremido ajuntaffem duas co- lheres de mel , & que nelle enfopaffem hum pao vin- do do forno, & o applicaffem fobre a parte queixofa; porque verdadeiramente efte remedio affim pela vir- tude anodyna do leyte, & femente do linho, como pela propriedade narcotica do meimendro, & folhas de papoulas coftuma fazer prodigiofos. effeitos. Mas como efte foffe mui alheyo da minha efperança, en- tendi que a fobredita dor nao procedia fó de flatos, mas que tinha tambem por caufa alguns humores, & temi que agitados elles com a violencia da dor , cor- reffem, & fe defpenhaffem com mais ruidofa queda para o lugar enfermo, & puzeffem a doente em ma- yor perigo; & levado eu defta confideração mandei fangrar a dita fenhora no pè da parte enferma ; porem como a dor perfeveraffe depois de oito fangrias , & de tantos remedios applicados, fufpeitei que huma re- beldia tao porfiada fo podia nafcer da lympha fer tão groffa, & vifcofa, que fenao podia circular naquella parte, por cuja caufa(eftando remorada )tinha adquiri- do tal acrimonia, & azedume, q fazia a dor, & pontada tao rebelde , & defobediente ; & como para adelgaçar a dita lympha, & fazella circular, nao achaffe (depois que fou Medico )remedio mais appropriado que a bof- ta de boy frefca, fervida levemente com huma onça de banha de flor, meya de enxundia de gallinha, hum ef- cropulo de açafrão', duas oitavas de fpermaceti , & duas gemas de ovos cruas deitadas fóra do lume, ufei defte remedio, & fem embargo que o appliquei repe- tidas vezes, não fe diminuhio a dor quanto era jufto efpe- - 1
:Obfervaca XXVIII:.: 169 fando com efpirito. de vinho, ou com agua da Rai-- nha de Ungria, & fe foffem voltando até que ainol- tceffem, &tomaffem boa quentura, & que enta fê applicaffem fobreo lugar da dor ; mas como nada ali- viaffe, appellei para a feguinte fomentaca, que cof- tuma fer milagrofa. Mandei cozer: huma ma cheya de folhas de meimendro, outra de flores de papoulas feccas, ou verdes, outra de femente de linho,em hüa canada de leite de cabras, ou de vaccas, & que a efte. cozimentocoado , & efpremido ajuntaflem duas co- 1heres de mel, & que nelle enfopaffem hum pa vin- do do forno, & o applicaffem fobre a parte queixofa; porque verdadeiramente efte reinedio affim pela vir- tude anodyna do leyte, & femente do linho, como pela propriedade narcotica do meiinendro, & folhas de papoulas coftuma fazer prodigiofos effeitos. Mas como efte foffe mui alheyo da minhaefperanca, en- tendi que a fobredita dor na procedia f6de flatos, mas que tinha tambem por caufa alguns humores, & temi que agitados elles com a violencia da dr , cor- reffem, & fe defpenhaffem com mais ruidofa queda para o lugar enfermo, & puzeffem a doenteem ma- yor.pcrigo; & levado eu defta confideracao mandei fangrara ditafenhora nope da parteenferma ; porem comoa dor perfeveraffedepois deoito fangrias , & de tantos remedios applicados, fufpeitei que huma re: beldia taö porfadafó podia nafcer da lympha fer tao groffa, & vifcofa, que fena podia.circular naquella parte,por cuja caufa(eftando remörada)tinha:adquiri- do tal acrimonia, & azedume,g faziaa dor,& pontada ta rebelde, & defobediente.; & como para adelgacar a ditalympha, & fazella circular, nao achaffe (depois que fou Medico)remediomais appropriado que a bof- ta de boy frefca,fervida levemente com huma onca de banha deffor, meya de enxundia de gallinha, hum ef- cropulo de acafra&', duas oitavas de fpermaceti , & duas gemas de ovos cruas deitadas fóra do lume, ufei defte remedio, & fem.embargo que o appliquei repe tidas vezes, naofe diminuhio a dor quanto era jufto eipe-
cObfervaçãd XXVII 69 fifando com efpirito. de vinho , ou.com agua da Rai- tha de Ungria, & fe foffem voltândo até que amol- teceflem, &tomaílem boa quentura, & que entaô fe applicaflem fobreo lugar da dor ; mas como nada ali viaíle , appellei para a feguinte fomentaçaõô, quecof- tuma fer milagrofa. Mandei cozei: huma maô cheya de folhas de meimendro, outra de flores de papoulas feccas , ou verdes , outra de femente de linho, em hia canada de leite de cabras , ou de vaccas, & que a efte cozimento coado , & efpremido ajuntaflem duãs cos lheres de mel , & que nel do do forno, & o applicaflem fobre a parte queixofa;, le enfopaffem hum paô vin - porque verdadeiramente efte remedio aflim pela vir= . « tude anodyna doleyte, & femente do linho, como : pela propriedade narcotica do meimendro, & folhas de papoulas coftuma fazer prodigiofos. effeitos. Mas couo efte foffe mui alheyo da minha efperança, en- tendi que a fobredita dor naõ procedia fó de flatos, mas que tinha tambem por canta alguns humores, & temi que agitados elles coma violencia da dôr , cor-« reflem, & fe defpenhaflem com mais ruidofa queda para o lugar enfermo, & puzeflem a doenteemma+ yor perigo; & levado eu defta confideração mandei fangrara dita fenhora no pê da parteehferma; porêm como a dor perfeveraffe depois de oito fangrias , & de. tantos remedios applicados, fufpeitei que huma re+ beldia taó porfiada f podia nafcer da lympha fer tão grofla, & vifcofa, que fenaô podia circular naquella parte,por cuja caufa(eftando remarada tinha adquiri- do tal acrimonia, & azedume,d fazia a dor,& pontada taô rebelde , & defobediente ; & como para adelgaçar . a ditalympha, & fazella circular, naô achafle (depois que fou Medico )remedio mais appropriado que a bof=" ta de boy frefca,fervida levemente com huma onça de banha de fik, meya de enxundia de gallinha, hum efº : cropulo de açafraô', duas oitavas de fpermaceti, & duas gemas de ovos cruas deitadas fóra de lume, ufei defíte remedio, & fem embargo que o appliquei repe“ tidas vezes, não fe diminuhio a dor quanto era juító Ce : " efpes oo
Observaçao XXVIII. 169 nifando com espirito de vinho, ou com agua da Rai¬ nha de Ungria, & se fossem voltando até que amol- lecessem, & tomassem boa quentura, & que entaon se applicassem sobre o lugar da dor; mas como nada ali¬ viasse, appellei para a seguinte fomentaçaon, que cos- tuma ser milagrosa. Mandei cozer huma mao cheya de folhas de meimendro , outra de flores de papoulas seccas, ou verdes, outra de semente de linho, em huma canada de leite de cabras, ou de vaccas, & que a este cozimento coado, & espremido ajuntassem duas co¬ Iheres de mel, & que nelle ensopassem hum pao vin- do do forno , & o applicassem sobre a parte queixosa; porque verdadeiramente este remedio assim pela vir¬ tude anodyna do leyte , & semente do linho , como pela propriedade narcotica do meimendro, & folhas de papoulas costuma fazer prodigiosos effeitos. Mas como este fosse mui alheyo da minha esperança, en¬ tendi que a sobredita dor nao procedia só de flatos, mas que tinha tambem por causa alguns humores, & temi que agitados elles com a violencia da dor, cor- ressem, & se despenhassem com mais ruidosa queda para o lugar enfermo, & puzessem a doente em ma¬ yor perigo; & levado eu desta consideraçano mandei sangrar a dita senhora no pè da parte enferma; porèm como a dor perseverasse depois de oito sangrias , & de tantos remedios applicados, suspeitei que huma re¬ beldia taon porfiada so podia nascer da lympha ser tamo grossa, & viscosa, que senaon podia circular naquella parte, por cuja causa(estando remorada) tinha adquiri¬ do tal acrimonia, & azedume, que fazia a dor, & pontada taon rebelde , & desobediente ; & como para adelgaçar a dita lympha, & fazella circular, naon achasse (depois que sou Medico) remedio mais appropriado que a bos- ta de boy fresca, fervida levemente com huma onça de banha de ffor, meya de enxundia de gallinha, hum es- cropulo de açafrao, duas oitavas de spermaceti, & duas gemas de ovos cruas deitadas fóra do lume, usei deste remedio, & sem embargo que o appliquei repe¬ tidas vezes, namo se diminuhio a dor quanto era justó espe¬
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170 Observações Medicas Doutrinaes. eʃperar de hum remedio tão grande ; appellei entaõ para o mais efficaz abʃorbente dos acidos remorantes , & impedientes da circulaçaõ que ha no mundo , & he o ʃeguinte . Tomai de folhas de cerfolio , & de pimpinella , de cada couʃa deʃtas huma mão cheya , tudo ʃe coza em panela de barro , & em fogo brando , com quatro quartilhos de agua ordinaria , & coandoʃe a tal agua , mandei deʃatar nella duas oitavas das minhas pilulas alcalicas ; ou , em falta dellas , de coral bem preparado , & deʃta agua bem revolvida , & vaʃcolejada mandei dar meyo quartilho de ʃeis em ʃeis horas ao enfermo ; & tão efficazmente ʃe dulcificáraõ os acidos pungentes , & incraʃʃantes , que em poucas horas ʃe tirou a dor , & ʃe continuou a circulaçaõ , porque ʃe dulcificàrão os acidos , que a impediaõ , & cobrou a ʃaude que deʃejava . 2 . Neʃte lugar he neceʃʃario advertir que as pilulas abʃorbentes ʃaõ ʃegredo meu , q̃ preparo com minhas mãos , & a portas fechadas ; & como a ambiçaõ dos homens he hoje mayor que nunca , naõ falta quem falʃifique o tal remedio , de que me não queixo , porque lá virá hora , em que se dará conta deʃte engano ; o de que me queixo , & o que não poʃʃo tolerar he , que vendaõ eʃtas pilulas , & o meu Bezoartico das febres malignas , & outros meus ʃegredos com o nome de que ʃaõ meus , & carregaõ ʃobre o meu credito os máos ʃucceʃʃos , de que ʃó tem a culpa quem os falʃifica . Os que quizerem uʃar dos meus ʃegredos ʃem eʃcrupulo , podem recorrer a minha caʃa ,ou às boticas de Saõ Domingos , de Joaõ Gomes Silveira , ou de João Baptiʃta Leitaõ , porque eʃtes boticarios os tem verdadeiros , porque os compraõ feitos por minhas mãos , como inventor delles . OBSER-
170 Obfervações Medicas Doutrinaes. efperar de hum remedio tão grande; appellei entao para o mais efficaz abforbente dos acidos remorantes, & impedientes da circulação que ha no mundo, & he. o feguinte. Tomai de folhas de cerfolio, & de pimpi- nella, de cada coufa deftas huma mão cheya, tudo fe coza em panela Įde barro, & em fogo brando, com quatro quartilhos de agua ordinaria, & coandofe à tal agua, mandei defatar nella duas oitavas das mi- nhas pilulas alcalicas; ou, em falta dellas,de coral bem preparado, & defta agua bem revolvida, & vafcole- jada mandei dar meyo quartilho de feis em feis horas ao enfermo; & tão efficazmente fe dulcificarao os aci- dos pungentes, & incraffantes, que em poucas horas fe tirou a dor, & fe continuou a circulação, porque fe dulcificarão, os acidos, que a impediaõ, & cobrou 2 faude que defejava. 2. Nefte lugar he neceffario advertir que as pilulas abforbentes fao fegredo meu, q preparo com minhas mãos , & a portas fechadas ; & como a ambiçaõ dos homens he hoje mayor que nunca, nao falta quem fal- fifique o tal remedio, de que me não queixo, porque lá virá hora, em que fe dará conta defte engano ; o de que me queixo, & o que não poffo tolerar he, que ven- dao eftas pilulas , & o meu Bezoartico das febres ma- lignas, & outros meus fegredos com o nome de que fao meus, & carregaõ fobre o meu credito os máos fucceffos, de que fo tem a culpa quem os falfifica. Os que quizerem ufar dos meus legredos fem efcrupulo, podem recorrer a minha cafa, ou às boticas de Sao Do- mingos, de Joao Gomes Silveira, ou de João Baptista Leitao, porque eftes boticarios os tem verdadeiros, porque os compraõ feitos por minhas mãos, como in- ventor delles. OBSER-
17o Obfervacoes Medicas Doutrinaes. efperar de hum remedio täogrande, appellei enta& & impedientes da circulaca que ha no mundo, & ha 'o feguinte. Tomai de folhas de cerfolio, & de pimpi- nella, de.cada coufa deftas huma mao cheya, tudo fe coza'em panela de barro, & em fogo brando, com quatro quartilhos de agua ordinaria, & coandofe a tal agua, mandei defatar nella duas oitavas das mi- nhas pilulas alcalicas; ou,em falta dellas,de coral bem preparado , & defta agua bem revolvida, & vafcole- jadamandei dar meyo guartilho de feis em feis horas ao enfermo; & tao cfficazmente fe dulcificara os aci- dos pungentes,& incraffantes, que ein poucas horas fe tirou a dor, &.fe continuoua circulaca , porque fe dulcificaraoosacidos, que aimpedia, &cobrou a faude que defejava. 2. . Nefte lugar he neceffarioadvertir que as pilulas abforbentes faö fegredo meu, preparo com minhas maos , & a portas fechadas ; & como a ambicados homens hé hoje mayor que nunca, na falta quem fal- fifique o tal remedio, de.que me nao queixo, porque que me queixo, & o que nao poffo tolerar he, que ven- da eftas pilulas , & o meu Bezoartico das febres ma- .lignas, & outros meus fegredos com o nome de que fa meus, & carrega fobre o meu credito os maos fucceffos, de que fo tem a culpa quem os falfifica. Os que quizerem ufar dos meus fegredos fem efcrupulo, podem recorrer a minha cafa,ou as boticas de Saö Do- mingos, de Joaö Gomes Silveira , ou de Joao Baptifta Leita, porque eftes boticarios os tem verdadéiros, porque os.compraö feitos por minhas maos, como in? ventor delles. OBSER-
* D 170 Obfervações Medicas Doutrinaes. efperar de hum remedio tão grande ; appellei enta& para o mais efficaz abforbentedos acidos remorantes, & impedientes da circulaçaô que ha no mundo, & ha. 0 feguinte. Tomai de folhas de cerfolio, & de pimpi- nella, de cada coufa deftas huma mão cheya, tudo fe coza em panela Ide barro, & em fogo brando , com “quatro quartilhos de agua ordinaria, & coandofe à tal agua, mandei defatar nella duas oitavas das mi- nhas pilulas alcalicas; on,em falta dellas,de coral bem preparado , & defta agua bem revolvida , & vafcoles' jada mandei dar meyo quartilho de feis em feis horas ao enfermo; .& tão eficazmente fe dulcificáraô os aci- dos pungentes, & incraflantes, que em poucas horas fetirou ador, & fe continuouna circulaçaõ, porque fe dulcificárão.os acidos , que a impediaõ, & cobrou a faude que defejava. ; — 2, Neftelugar heneceflarioadvertir que as piluJas ablorbentes faó fegredo meu , á preparo com minhas mãos , & a portas fechadas ; & como a ambiçaô dos homens he hoje mayor que nunca, naó falta quem fal. fifique o tal remedio, de que me não queixo, porque lávirá hora, em que fe dará conta defte engano ; o de que me queixo, & o que não poílo tolerar he, que ven- daô eftas pilulas, & o men Bezoartico das febres ma« JTignas , & outros menus fegredos com onome de que fao meus , & carregaõ fobre o meu credito os mãos fucceflos, de que fó tem a culpa quem osfalfifica. Os que quizerem ufar dos meus fegredos fem eferupulo, podemrecorrer a minha cafa,ou às boticas de Sao D.o- mingos, de Joao Gomes Silveira , ou de João Baptifta eitao, porque eftes boticarios ostem verdadéiros, porque os compraõ feitos por minhas mãos, como ins ventor delles, - . "OBSER-
170 Observaçones Medicas Doutrinaes. esperar de hum remedio tamo grande; appellei entao para o mais efficaz absorbente dos acidos remorantes, & impedientes da circulaçaon que ha no mundo, & he o seguinte. Tomai de folhas de cerfolio , & de pimpi- nella, de cada cousa destas huma mano cheya, tudo le coza em panela lde barro , & em fogo brando , com quatro quartilhos de agua ordinaria, & coandose à tal agua, mandei desatar nella duas oitavas das mi¬ nhas pilulas alcalicas; ou, em falta dellas, de coral bem preparado , & desta agua bem revolvida , & vascole- jada mandei dar meyo quartilho de seis em seis horas ao enfermo; & tamo efficazmente se dulcificaraon os aci¬ dos pungentes, & incrassantes, que em poucas horas se tirou a dor , & se continuou a circulaçaon, porque se dulcificàramo. os acidos, que a impediaon, & cobrou a saude que desejava. 2. Neste lugar he necessario advertir que as pilulas absorbentes saon segredo meu, que preparo com minhas mamos, & a portas fechadas; & como a ambiçaon dos homens he hoje mayor que nunca, naon falta quem fal- sifique o tal remedio, de que me namo queixo, porque la virá hora, em que se dara conta deste engano; o de que me queixo, & o que nano posso tolerar he, que ven- daon estas pilulas, & o meu Bezoartico das febres ma¬ lignas, & outros meus segredos com o nome de que saon meus, & carregaon sobre o meu credito os maos successos, de que so tem a culpa quem os falsifica. Os que quizerem usar dos meus segredos sem escrupulo, podem recorrer a minha casa, ou às boticas de Sao Do¬ mingos, de Joaon Gomes Silveira, ou de Joano Baptista Leitaon, porque estes boticarios os tem verdadeiros, porque os compraon feitos por minhas manos, como in¬ ventor delles. OBSER.
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Observaçaõ XXIX. 171 OBSERVAÇAM XXIX . De huma grande dor de pedra , que por occasiaõ de hum repentino , & excessivo desgosto , se arrancou do lugar em que estava ; & para sahir da bexiga atormentou com tanto excesso a hum Religioso , que o chegou às portas da morte . 1 . NAõ se pòde negar que as paixões do animo ( quando saõ grandes ) fazem mayores estragos que as mais perniciosas doenças , & tiraõ muitas vezes a vida com tanta brevidade , como se fossem o veneno mais presentaneo . Esta verdade confessaõ graves Authores , ( 1 . ) & pelas experiencias de cada dia o observamos ; pois vemos que de excessivo gosto , ou tristeza , de excessiva ira , temor , ou vergonha morrèraõ alguns homens ; outros pelas mesmas causas se viraõ assaltados de dores mortaes : & supposto que esta verdade naõ necessitava de mais prova ; comtudo como os exemplos , que entraõ pelos olhos , movem melhor os nossos animos , que as informações , que entraõ pelos ouvidos ; ( 2 . ) por isso damos mais credito aos successos , que nos passaõ pelas mãos , do que àquelles , de que os antigos nos daõ conta : por esta razaõ me parece acertado referir aqui algumas observações que vi , & de que fui testimunha , donde ficarà mais autentica a verdade com que fallo . 2 . Certo fidalgo tão poderoso , como soberbo , deo huma bofetada em hum homem de menor esfera , & vendo este que naõ podia desafrontarse , sentio o aggravo com tal excesso , que dentro de tres dias perdeo a vida , sem que para a sua morte ouvesse outra causa mais que a tristeza , & sentimento . 3 . Nesta Cidade conheço a huma nobre matrona , que andando prenhada , sonhou que matavaõ a seu marido ; & foi tão grande a tristeza , & agonia que esta
Öbfervaçao XXIX. 17 I - OBSERVAÇAM. XXIX. De huma grande dor de pedra , que por occafiaõ de bum · repentino , & exceffivo defgofto , fe arrancou do ly- gar em que estava; dy para fabir da bexiga atormentou com tanto exceffo a hum Re- ligiofo , que o chegou as portas da morte. . 1. N Aõ fe pode negar que as paixões do ani- mo (quando fao grandes )fazem mayores eftragos que as mais perniciofas doenças , & tirao muitas vezes a vida com tanta brevidade, como fe fof- fem o veneno mais prefentanco. Efta verdade confef- fao graves Authores , (1.) & pelas experiencias de ca- da dia o obfervamos; pois vemos que de exceffivo gof- to , ou trifteza, de exceffiva ira, temor, ou vergonha · morrerao alguns homens ; outros pelas mefmas cau- fas fe virao affaltados de dores mortaes : & fuppofto que efta verdade naõ neceffitava de mais prova ; com- tudo como os exemplos , que entraõ pelos olhos , mo- vem melhor os noffos animos, que as informações, que entraõ pelos ouvidos ; ( ¿. ) por iffo damos mais credi- to aos fucceffos , que nos paffao pelas mãos, do que àquelles, de que os antigos nos daõ conta : por efta ra- zao me parece acertado referir aqui algumas obferva- ções que vi., & de que fui teftimunha, donde ficarà mais autentica a verdade com que fallo. 2. Certo fidalgo tão poderofo , como foberbo, deo huma bofetada em hum homem de menor esfera, & vendo efte que nao podia defafrontarfe, fentio o ag- gravo com tal exceffo , que dentro de tres dias perdeo a vida , fem que para a fua morte ouveffe outra caufa. mais que a'trifteza, & fentimento. 3. Nefta Cidade conheço a huma nobre matro- na, que andando prenhada, fonhou que matavaõ a feu marido'; & foi tao grande a trifteza, & agonia que efta 20 - .1 1 : .
Obfervacao XXIX. 171 O B.S E R V A C A M. XXIX. De busna grande dor de pedra; que por ocrafia de bum repentino, & exceflivo defgofto, /e arrancou do lu- gar em que eftava; s para fabir da bexiga atormentou com tanto exceffo a buin Re- ligiofo , que o chegou asportas da morte. Aó fe pode negar que as paixes do ani- 20 mo (quando fa grandes)fazem mayores 0: eftragos que as mais perniciofas doencas , & tira le. muitas vezes a vida com tanta brevidade, como fe fof- )u fem o veneno mais prefentaneo. Efta verdade confef- faö graves Authores, (1.).& pelas experiencias de ca- da dia o obfervamos; pois vemos que de exceffivo gof- to,ou trifteza, de exceffiva ira, temor, ou vergonha morréra alguns homens ; outros pelas mefmas cau- fas fe vira affaltados de dores mortaes : & fuppofto que efta verdade na neceffitava de mais prova ; com- tudo como os exemplos, que entra pelos olhos , m- vem melhor os noffos animos,que as informacöes,que entra pelos ouvidos ; (2.) por iffo damos mais. credi- to aos fucceffos, que nos paffao pelas maos , do que aquelles , de que os antigos nos da conta : por efta ra- za me parece acertado referir aqui algumas obferva- ges que vi, &de que fui teftimunha, donde ficara mais autentica a verdade com que fallo. Certo fidalgo tao poderofo , como foberbo, 2. deo huma bofetada emhum homem de menor esfera, & vendo:efte que na podia defafrontarfe, fentio o ag- gravo com tal exceffo , que dentro de tres dias perdeo a vida, fém que para a fua morte ouveffe outra caufa mais que a'trifteza, & fentinento. na, que andando prenhada, fonhou que matava a fcu inarido; & foi ta grande a trifteza, & agonia que. efta
TUTTI TITO CREA Óbfervação XXIX. 178 | tes0 OSSO ant S On aaçÃO «ns Sm OS Ono SS Or anSSCr andor os Son ae S On anDÃOS — COBSERVAÇAM XXIX. Debuma grande dor de pedra , que por ocrafiao de bum repentino , & excellivo defgofto rá arrancou do lu gar em que eftava; & para fabir da bexiga atormentou com tanto exce/fo a bum Re- ligiofo , que o chegou asportas da A morte, . . mo (quando faó grandes Yfazem mayores eftragos que as mais perniciofas doenças , & tiraô muitas vezes a vida com tanta brevidade, como fe fof- fem o veneno mais prefentaneo. Efta verdade confef- faõ graves Authores , (1.) & pelas expetiencias de ca- * dadiao obfervamos; pois vemos que de exceffivo gof- | to ,ourrifteza, de excefliva ira, temor, ou vergonha | * morrêraô alguns homens ; outros pelas mefmas cau- fas fe vira affaltados de dores mortaes : & fuppoíto que efta verdade naô neceffitava de mais prova ; com: tudo como os exemplos , que entraó pelos olhos , mo- vem melhor os noflos animos,que as informações,que entraô pelos ouvidos ; (2.) por 1flo damos mais credi- to aos fucceflos, que nos paífaô pelas mãos , do que àquelles , de que os antigos nos daó conta : por efta ra- 2.46 me párece acertado referir aqui algumas obferva- ções que vi, & de que fui reftimunha, donde ficarà mais autentica a verdade com que fallo. | .. 2. Certo fidalgo tão poderofo , como foberbo, deo huma bofetada em hum homem de menor esfera, & vendo efte que naõ podia defafrontarfe, fentio o ag- gravo comtal exceflo , que dentro de tres dias perdeo a vida , fem que para a fua morte ouvefle outra caufa. mais que atrifteza, & fentimento. | : “3. —Nefta Cidade conheço ahumanobre matro- na , que andando prenhada, fonhou que matavaô a feu marido; & foi taô grande a trifteza, & agonia que efta 1. N Aõ fe pôde negar que as paixões do ani
171 Observaçao XXIX. OBSERVAQAM XXIX. De huma grande dor de pedra, que por occasiao de hum repentino , & excessivo desgosto, se arrancou do lu¬ gar em que estava; & para sabir da bexiga atormentou com tanto excesso a hum Re¬ ligioso, que o chegou às portas da morte. Aon se pode negar que as paixones do ani¬ mo (quando sao grandes) fazem mayores estragos que as mais perniciosas doenças, & tiraon muitas vezes a vida com tanta brevidade, comò se fos¬ sem o veneno mais presentaneo. Esta verdade confes- saon graves Authores, (1.) & pelas experiencias de ca¬ da dia o observamos; pois vemos que de excessivo gos¬ to , ou tristeza, de excessiva ira, temor, ou vergonha morrèrao alguns homens; outros pelas mesmas cau¬ sas se viraon assaltados de dores mortaes: & supposto que esta verdade naon necessitava de mais prova; com- tudo como os exemplos, que entrao pelos olhos , mo- vem melhor os nossos animos, que as informaçones, que entraon pelos ouvidos; (2.) por isso damos mais credi¬ to aos successos, que nos passaon pelas manos, do que àquelles, de que os antigos nos daon conta: por esta ra- zaon me parece acertado referir aqui algumas observa¬ çones que vi., & de que fui testimunha, donde ficarà mais autentica a verdade com que fallo. 2. Certo fidalgo tamo poderoso, como soberbo, deo huma bofetada em hum homem de menor esfera, & vendo este que naon podia desafrontarse, sentio o ag- gravo com tal excesso, que dentro de tres dias perdeo a vida, sem que para a sua morte ouvesse outra causa mais que a tristeza, & sentimento. Nesta Cidade conheço a huma nobre matro¬ 3. na, que andando prenhada, sonhou que matavaon a scu marido; & foi taon grande a tristeza, & agonia que esta
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172 Observações Medicas Doutrinaes. esta dor sonhada lhe causou , que de improviso moveo huma criança . 4 . Por huma reprehensaõ aspera , mas bem merecida , que o Senhor Rey Dom Joaõ o IV . deo a certo homem , recebeo tanta melancolia , & sentimento , que de improviso , estando ainda na presença do mesmo Rey , lhe deo huma taõ grande , & mortal febre , que dentro de cinco dias o matou . Por huma triste nova , que se deo a Manoel Gonçalves Chanquino , de que avia perdido toda a sua fazenda , perdeo repentinamente o juizo , & no seguinte dia se affogou em hum profundo pégo . Por outra triste nova , que se deo a Sebastião Mult , morador junto à Ermida do Corpo Santo , se fez repentinamente icterico , & dentro de seis horas lhe deo huma forte apoplexia , que o matou . Por huma grande ira , que o Padre Damiaõ Vieira teve contra huma pessoa ; que o aggravou , & de quem não pode vingarse , cahio repentinamente morto : nem he para admirar que assim succedesse ; porque ( como diz Riverio ) ( 3 . ) a ira move , & accende o sangue , & a colera de tal sorte , que não cabendo dentro nos seus vasos , suffoca o coraçaõ , & os espiritos , & consequentemente mata . 5 . Finalmente por causa de grandes , & repentinos medos vemos muitas vezes soltarse o ventre , & as ourinas a algumas pessoas ; outras sabemos que estando atormentadas com acerrimas dores de gotta , se lhes tiràraõ repentinamente com hum repentino medo que tiveraõ . Tambem he verdade constante , que algumas pessoas sendo moças apparecèrão repentinamente velhas , & com o cabello todo branco por causa de excessivas tristezas , porque estas debilitão muito o calor natural , ( 4 . ) resfriam , & seccaõ o corpo de maneira , que saõ capazes de anticipar a velhice muitos annos antes do que era devida . De muita agonia , & tristeza suou Christo sangue , como consta do sagrado Evangelho . ( 5 . ) 6 . Tambem os excessivos gostos , como diz Galeno , ( 6 . ) & Riverio , ( 7 . ) sendo repentinos , sabemos que
172 Oblervações Medicas Doutrinaes.' efta dor fonhada lhe caufou , que de improvifo moveo. huma criança. 4. Por huma reprehenfaõ afpera, mas bem me- recida, que o Senhor Rey Dom Joao o IV. deo a cer- to homem, recebeo tanta melancolia, & fentimento, que de improvifo, eftando ainda na prefença do mef- mo Rey , lhe deo huma tao grande , & mortal fe- bre, que dentro de cinco dias o matou. Por huma trif- te nova, que fe deo a Manoel Gonçalves Chanquino, de que avia perdido toda a fua fazenda , perdeo repen- tinamente o juizo, & no feguinte dia fe affogou em . hum profundo pégo. Por outra trifte nova ; que fe deo a Sebastião Mult, morador junto à Ermida do Corpo Santo, fe fez repentinamente icterico, & dentro de feis horas lhe deo huma forte apoplexia, que o matou. Por huma grande ira , que o Padre Damiao Vieira te- ve contra huma peffoa; que o aggravou, & de quem não pode vingarfe, cahio repentinamente morto: nem he para admirar que affim fuccedeffe ; porque (como diz Riverio ) (3.) a ira move, & accende ofangue, & . a. colera de tal forte , que não cabendo dentro nos feus vafos, fuffoca o coracao, & os efpiritos, & confequen- temente mata. 5. . Finalmente por caufa de grandes , & repenti- nos medos vemos muitas vezes foltarfe o ventre , & as ourinas a algumas peffoas ; outras fabemos que eftan- do atormentadas com acerrimas dores de gotta , fe lhes tiràrao repentinamente com hum repentino me- do que tiverao. Tambem he verdade conftante, que algumas peffoas fendo moças apparecèrão repentina- mente velhas, & com o cabello todo branco por caufa de exceffivas triftezas , porque eftas debilitão muito o calor natural, (4.) resfriam , & feccao o corpo de ma- neira, que fao capazes de anticipar a velhice muitos annos antes do que era devida. De muita agonia, & trif- teza fuou Chrifto fangue , como confta do fagrado Evangelho. (5.) 6. Tambem os exceffivos goftos, como diz Gale- no, (6.) & Riverio, (7.) fendo repentinos, fabemos . « que 1
172 Obfervacöes Medicas Doutrinaes. efta dor fonhiada lhe caufou , que de improvifomoveo huma crianca. 4. Por huma reprehenfao afpera, mas bem me- recida, que o Senhor Rey Dom Joa o IV. deo a cer- to homem, recebeo tanta melancolia , & fentimento, que de improvifo, eftando ainda na prefenca domef- mo Rey , lhe deo huma ta grande , & mortal fe- bre , que dentro de cinco dias o matou. Por huma trif- tenova , que fe deoa Manoel Goncalves Chanquino, de que avia perdido toda a fua fazenda , perdeorepen- tinamente juizo, & no feguinte diafe affogou em hum profundopégo. Por outra trifte nova ; que fe deo a Sebaftiao Mult ,morador junto a Ermida do Corpo Santo, fe fez repentinamente icterico, & dentro de feis horas lhe deo huma forte apoplexia, que o matou. Por huma grande ira , que o Padre Damia Vieira te- ve contra huma peffoa, que o aggravou, & dequem nao pode vingarfe, cahio repentinamente.morto: nein he para admirar que affim fuccedeffe ; porque(como diz Riverio)(3.) a ira move, & accende ofangue, & a.colera de tal forte , que nao cabendo dentro nos feus vafos, fuffoca o coracao, & os efpiritos, & confequen temente mata. 5. - Finalmente por caufa de grandes, & repenti- nos medos vemos muitas vezes foltarfe o ventre , & as ourinas a algumas peffoas ; outras fabemos que eftan- do atormentadas com acerrimas dores de gotta , fe lhes tirara repentinamente com hum repentino me- do que tivera. Tambem he verdade conftante, que algumas peffoas fendo mocas apparecéraorepentina- mente velhas,& com.o.cabello todo branco por caufa dé exceffivas triftezas , porque eftas debilitao muito calor natural, (4.) resfriam , & feccaö o corpo de ma- neira, que facapazes deanticipar a velhice muitos annos'antes doque era devida.De muita.agonia,& trif- teza fuou Chrifto fangue , como confta dofagrado Evangelho.(5.) 6. Tambem os exceffivos goftos, como diz Gale- no,(6.) & Riverio, (7.) fendo repentinos, fabemos que
172 Oblertvações Medicas Doutrinaes. N : efta dor fonhada lhe caufou, que de improvifomoveo. huma criança. | 4. Por huma reprehenfaõ afpera, mas bem me- recida, que o Senhor Rey Dom Joaõ o IV. deo a cer- to homem, recebeo tanta melancolia, & fentimento, que de improvifo, eftando ainda na prefença do mef- mo Rey , lhe deo huma taó grande , & mortal fe- bre , que dentro de cinco dias o matou. Por humatrif. tenova, que fe deo a Manoel Gonçalves Chanquino, de que avia perdido toda a fua fazenda, perdeorepen- tinamente o juizo, & no feguinte dia (e affogou em - hum profundo pégo. Por outra trifte nova ; que fe deo a Sebaftião Mult , morador junto à Ermida do Corpo Santo, fe fez repentinamente i&terico , & dentro de feis horas lhe deo huma forte apoplexia, que o matou. Por huma grande ira , que o Padre Damiaô Vieira te- ve contra huma peffoa que o aggravou, & dequem não pode vingarfe, cahio repentinamente morto: nem he para admirar que aflim fuccedefle ; porque (como diz Riverio ) (3.) a ira move, & accende o fangue, & ' a.colera de tal forte , que não cabendo dentro nos feus vaíos, fuffoca o coraçaó, & os efpiritos, & confequen- temente mata. : ' 5.* Finalmente por caufa de grandes, & repenti- nos medos vemos muitas vezes foltarfe o ventre , & as oúrinas a algumas peíloas ; outras fabemos que eftan- do arormentadas com acerrimas dores de gotta , fe lhes tirãraô repentinamente com hum repentino me- do que tiverao. Tambem he verdade conftante, que: algumas peffoas fendo moças apparecêrão repentina» mente velhas, & com o cabello todo branco por caufa dé exceffivas triftezas , porque eftas debilitão muito o calor natural, (4.) resfriam , & feccaó o corpo de ma- neira, que faô capazes deanticipar a velhice muitos annos antes do que era devida.De muita agonia,& trif- teza fuou Chrifto fangue , como confta do fagrado Evangelho.(5.) . - | 6. Tambemos exceflivos goftos, como diz Gale- no, (6.) & Riverio, (7.) fendo repentinos”, fabemos . -« que
172 Observaçones Medicas Doutrinaes. esta dor sonhada lhe causou, que de improviso moveo huma criança. Por huma reprehensaon aspera, mas bem me¬ 4. recida, que o Senhor Rey Dom Joao oIV. deo a cer- to homem , recebeo tanta melancolia , & sentimento, que de improviso , estando ainda na presença do mes- mo Rey, lhe deo huma tao grande , & mortal fe- bre , que dentro de cinco dias o matou. Por huma tris- te nova, que se deo a Manoel Gonçalves Chanquino, de que avia perdido toda a sua fazenda, perdeo repen- tinamente o juizo, & no seguinte dia se affogou em hum profundo pégo. Por outra triste nova , que se deo a Sebastiamo Mult, morador junto à Ermida do Corpo Santo, se fez repentinamente icterico, & dentro de seis horas lhe deo huma forte apoplexia, que o matou. Por huma grande ira, que o Padre Damiaon Vieira te¬ ve contra huma pessoa, que o aggravou, & de quem namo pode vingarse, cahio repentinamente morto: nem he para admirar que assim succedesse; porque (como diz Riverio ) (3.) a ira move, & accende o sangue , & a colera de tal sorte , que nao cabendo dentro nos seus vasos, suffoca o coraçaon, & os espiritos, & consequen¬ temente mata. 5. Finalmente por causa de grandes, & repenti- nos medos vemos muitas vezes soltarse o ventre, & as ourinas a algumas pessoas; outras sabemos que estan¬ do atormentadas com acerrimas dores de gotta, se lhes tiràraon repentinamente com hum repentino me¬ do que tiverao. Tambem he verdade constante, que algumas pessoas sendo moças apparecèramo repentina¬ mente velhas, & com o cabello todo branco por causa deè excessivas tristezas, porque estas debilitamo muito o calor natural, (4.) resfriam, & seccao o corpo de ma¬ neira, que saó capazes de anticipar a velhice muitos annos antes do que era devida. De muita agonia, & tris- teza suou Christo sangue, como consta do sagrado Evangelho. (5. 6. Tambem os excessivos gostos, como diz Gale¬ no, (6.) & Riverio , (7.) sendo repentinos, sabemos que
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Observaçaõ XXIX. 173 que matàraõ a muitos , de que ha mil exemplos ; apontarei só hum , que succedeo a huma filha do Doutor Antonio Mendes , Lente de prima de Medicina na Universidade de Coimbra . Vendo a sobredita menina a ama , que a tinha creado a seus peitos , se alegrou com taõ grande excesso , que dandolhe hum abraço morreo . Casos saõ estes , que acontecem no mundo muitas vezes ; porèm o que pòde causar admiraçaõ , por ser mais raro , he dizer eu que vi dar de improviso humas excessivas dores de ventre , & de pedra procedidas de hum grandissimo temor , & tristeza , cujo successo me seja permittido referir em confirmaçaõ do grande poder , que tem as paixões do animo para aballar , & perturbar os nossos corpos , & fazer nelles effeitos estupendos . ( 8 ) . 7 . O Padre Fr . Pedro da Barca , Religioso Franciscano da provincia da Piedade , teve repentinamente hum grandissimo desgosto , a que logo se seguiraõ tantas ancias do coração , & taõ excessivas dores de ventre , que naõ faltou quem suspeitasse lhe terião dado veneno ; & sendo eu chamado para ver a este Religioso , achei que demais das grandes dores , & ancias que o affligião , tinha continuos desejos de ourinar ; o que fazia em pouca quantidade , & com muitos ardores . Destes sinaes vim a entender que as dores , & anxiedades procediaõ de alguma pedra , q̃ arrancada como grande medo , & desgosto o atormentava taõ cruelmente . A esta minha presumpçaõ replicou o doente , dizendo que avia mais de trinta annos , que nem deitava areas , nem tivera em sua vida sinaes de pedra ; & por consequencia que me enganava , se tinha essa presumpção . Ao que respondi que se elle soubera o muito poder , que tem os desgostos grandes , & repentinos para alterar , & aballar os corpos , naõ duvidaria que algũa pedra , por mais fixa que estivesse , poderia ( com a grande perturbação do animo ) despegarse donde estava , & fazer aquelle damno , & estrago ; mayormente confessando elle que algum dia deitàra areas , & não era impossivel que creasse pedras , quem areas crea-
173 Observação XXIX. · que matàraõ a muitos, de que ha mil exemplos; apon- tarei fó hum , que' fuccedeo a huma filha do Doutor Antonio Mendes, Lente de prima de Medicina na Univerfidade de Coimbra. Vendo a fobredita meni- na a ama , que a tinha creado a feus peitos, fe alegrou com tao grande exceffo, que dandolhe hum abraço morreo. Cafos fao eftes, que acontecem no mundo muitas vezes ; porem o que pode caufar admiraçao, por fer mais raro, he dizer eu que vi dar de improvifo humas exceffivas dores de ventre, & depedra proce- didas de hum grandifimo temor , & trifteza, cujo fucceffo me feja permittido referir em confirmaçao do grande poder, que tem as paixões do animo para aballar, & perturbar os noffos corpos, & fazer nelles effeitos eftupendos. (8.) 7. O Padre Fr. Pedro da Barca, Religiofo Fran- cifcano da provincia da Piedade, téve repentinamen- te hum grandiffimo defgofto, a que logo fe feguirao tantas ancias do coração , & tao exceffivas dores de ventre , que naõ faltou quem fufpeitaffe lhe terião da- do veneno ; & fendo eu chamado para ver a efte Reli- giofo, achei que demais das grandes dores, & ancias que o affligião, tinha continuos defejos de ourinar ; o que fazia em pouca quantidade, & com muitos ardo- res. Deftes finaes vim a entender que as dores, & an- xiedades procediaõ de alguma pedra , q arrancada co- m o grande medo, & defgofto o atormentava tao cru- elmente. A efta minha prefumpçaõ replicou o doente, dizendo que avia mais de trinta annos, que nem dei- tava areas , nem tivera em fua vida finaes de pedra ; & por confequencia que me enganava, fe tinha effa pre- fumpção. Ao que refpondi que fe elle foubera o mui- to poder , que tem os defgoftos grandes, & repentinos para alterar, & aballar os corpos, nao duvidaria que algua pedra, por mais fixa que eftiveffe, poderia ( com a grande perturbação do animo ) defpegarfe don- de eftava , & fazer aquelle damno, & eftrago ; mayor- mente confeffando elle que algum dia deitàra areas, & nao era impoffivel que creaffe pedras , quem areas crea- .
Obfervacao XXIX.: 173 . que matara a muitos, de que ha mil éxemplos; apon- tarei f6 hum, que fuccedeo a huma filha do Doutor Antonio Mendes, Lente de prima de Medicina na Univerfidade de Coinbra. Vendo a fobredita meni- na a ama, que a tinha creado a feus peitos, fe alegrou com taö grande exceffo, que dandolhe hum abraco morreo. Cafos fa eftes, que acontecem no mundo muitas vezes ; porein oque pode caufar admiraca, por fer mais raro, he dizer eu que vi dar de improvifo humas exceffivas dores de ventre, & depedra proce- didas de hum grandiffmno temor, & trifteza, cujo fucceffo me feja permittido referir em confirmaca aballar,& perturbar os noffos corpos , & fazer nelles effeitos eftupendos.(&.) 7. O Padre Fr. Pedroda Barca, Religiofo Fran cifcano da provincia da Piedade, teve repentinamen- te hum grandiffimo defgofto, aquelogo fe feguira tantas ancias do coracao , & taexceffivas dores de ventre , que na faltou quem fufpeitaffe lhe teriao da- do veneno ; & fendoeu chamado para ver a efte Reli giofo, achei que demais das grandes dores, & ancias que oaffligiao, tinha continuos defejos de ourinar ; o quefazia eim pouca quantidade, & Com muitos ardo- res. Deftes finaes vim a entender que as dores, & an- xiedades procedia.de alguma pedra , arrancada co- m o grande medo, & defgofto:0atormentava taö cru- elmente. A efta minha prefumpca replicou o doente, dizendo que avia mais de trinta annos, que nem dei- tava areas , nem tivera em fua vida finaes de pedra ; & por confequencia que me enganava, fe tinha'effa pre- fumpcao. Ao que refpondi que fe elle foubera o mui- . to poder , que tem os defgoftos grandes, & repentinos para alterar , & aballar os corpos, na duvidaria que algua pedra, por mais fixa que eftiveffe, poderia ( com a grande perturbacao do animo ) defpegarfe don- de eftava, & fazer aquelle damno, &.eftrago ; mayor- mente confeffando elle que algum dia deitaraareas, & na era impoffivel que creaffe pedras , quem areas crea-
Obfervação XXIX.. 173 « que matàraõa muitos, de que hamil exemplos; apon< tareifó hum , que fuccedeo a huma filha do Doutor Antonio Mendes, Lente de prima de Medicina na Univerfidade de Coimbra. Vendo a fobredita meni- na aama, que a tinha creado a feus peitos, fe alegrou com taô grande exceflo, que dandolhe hum abraço morreo. Cafos faõô eftes, que acontecem no mundo muitas vezes ; porém o que pôde caufar admiraçaõ, - por fer mais raro, he dizer eu que vi dar de improvifo umas exceflivas dores de ventre , & depedra proce- didas de hum grandiflimo temor , & trifteza, cujo fucceflo me feja permittido referir em confirmaçaõ do grande poder , que temas paixões do animo para aballar, & perturbar os noflos corpos , & fazer nelles effeitos eltupendos. (8.) | 7. OPadreFr. Pedroda Barca, Religiofo Fran- cifcano da provincia da Piedade, téve repentinamen- te hum grandiffimo defgofto, a quelogo fe feguiraõ tantas ancias do coração , & taô exceílivás dores de ventre, que naó faltou quem fufpeitaíle lhe terião da- do veneno ; & fendo eu chamado para ver a efte Reli- giofo, achei que demais das grandes dores, & ancias que o affligião , tinha continuos defejos de ourinar; o que fazia em pouca quantidade, & Com muitos ardo- res. Deftes finaes vim a entender que as dores, & an- xiedades procediaó-de alguma pedra , q arrancada co- mo grande medo, & deflgofto: o atormentava taô cru- . elmente. A efta minha prefumpçaõ replicou o doente, dizendo que avia mais de trinta annos, que nem dei- tavaareas , nem tivera em fua vida finaes de pedra ; & por confequencia que me enganava, fetinha eflapre- fumpção. Ao que refpondi que fe elle foubera o mui- . to poder , que tem os defgoftos grandes, & reperitinos para alterar, & aballar os corpos-, .naô duvidaria que algãa pedra, por mais fixa que eftivefle, poderia ( com a grande perturbação do animo ) delvegaríe don. de eftava , & fazer aquelle damno, & eftrago ; mayor- mente confeflando elle que algum dia deitâraareas, "& naãô era impoílivel que creafle pedras, quemareas o crea-
Observaçaon XXIX. 173 .que matàraon a muitos, de que ha mil exemplos; apon¬ tarei só hum, que' succedeo a huma filha do Doutor Antonio Mendes, Lente de prima de Medicina na Universidade de Coimbra. Vendo a sobredita meni- na a ama, que a tinha creado a seus peitos , se alegrou com tao grande excesso, que dandolhe hum abraço morreo. Casos saô estes, que acontecem no mundo muitas vezes; porèm o que pòde causar admiraçao, por ser mais raro, he dizer eu que vi dar de improviso humas excessivas dores de ventre , & de pedra proce- didas de hum grandissimo temor, & tristeza, cujo successo me seja permittido referir em confirmaçaon do grande poder, que tem as paixoes do animo para aballar, & perturbar os nossos corpos, & fazer nelles effeitos estupendos. (8.) 7. O Padre Fr. Pedro da Barca, Religioso Fran- ciscano da provincia da Piedade, tève repentinamen- te hum grandissimo desgosto, a que logo se seguiraon tantas ancias do coraçamo, & tao excessivas dores de ventre, que naon faltou quem suspeitasse lhe teriamo da do veneno ; & sendo eu chamado para ver a este Reli- gioso, achei que demais das grandes dores , & ancias que o affligiamo , tinha continuos desejos de ourinar ; o que fazia em pouca quantidade , & com muitos ardo- res. Destes sinaes vim a entender que as dores, & an- xiedades procediaon de alguma pedra, que arrancada co- mo grande medo , & desgosto o atormentava tao cru- elmente. A esta minha presumpęaon replicou o doente, dizendo que avia mais de trinta annos, que nem dei- tava areas, nem tivera em sua vida sinaes de pedra ; & por consequencia que me enganava , se tinha essa pre- sumpçamo. Ao que respondi que se elle soubera o mui- to poder , que tem os desgostos grandes, & repentinos para alterar, & aballar os corpos, naon duvidaria que alguma pedra, por mais fixa que estivesse, poderia (com a grande perturbaçamo do animo) despegarse don¬ de estava, & fazer aquelle damno , & estrago; mayor- mente confessando elle que algum dia deitàra areas, & naon era impossivel que creasse pedras, quem areas crea¬
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174 Observações Medicas Doutrinaes. creava , & que de as não deitar tantos annos , se não inferia com certeza que estava livre dellas , ou de pedras ; assim que o avia de curar de accidente de pedra , porque só deste modo esperava livrallo da afflicçaõ que padecia . Por tanto para laxar as vias , excitar a faculdade fraca , & deitar fóra as pedras , ordenei tomasse as seguintes ajudas . De folhas de malvas , violas , ortigas mortas , & de alfavaca de cobra , de cada cousa destas huma mão cheya , tudo se coza com hum rim de vacca , ou ( em falta delle ) com hum frangaõ , & a cinco onças deste cozimento coado mandei ajuntar huma onça de diafenicaõ , quatro onças de oleo de amendoas doces , dez oitavas de terebinthina de beta , lavada tantas vezes em agua de malvas , atè ficar branca , & huma gema de ovo crua . Porèm como estas ajudas ( ainda que admiraveis ) naõ sortissem aquelle grande effeito , que muitas vezes tinha visto , & justamente se podia esperar dellas , determinei darlhe , na mayor força das dores , duas onças de vinho emetico , ou tres onças de agua benedicta vigorada , ou dous escropulos de vitriolo branco desatados em duas onças de caldo de gallinha , naõ só porque qualquer destes vomitorios tem presentanea virtude para as dores de areas , & pedra , mas para todas as queixas dos rins , da bexiga , & das partes pudendas , como dizem graves Authores ; ( 9 . ) pois com o aballo , & força que fazem os vomitos , não só se evacua , & revelle a causa antecedente das dores , mas se deita mais facilmente a pedra . 8 . Obedeceo promptamente o enfermo ao meu preceito , & bebendo tres onças da sobredita agua benedicta vigorada , deitou por huma , & outra via taõ grande quantidade de coleras , & humores viscosos , que antes de passar hũa hora se sentio muito aliviado ; mas como não deitasse pedra alguma , nem areas , ( como eu esperava ) antes no seguinte dia lhe repetissem as dores com a mesma crueldade , mandei sangrallo seis vezes nos braços , para lhe dar cõ mais segurança a minha agua lithontriptica , q̃ em serviço do bem commum
174 Obfervações Medicas Doutrinaes. creava, & que de as nao deitar tantos annos, fe nao in- feria com certeza que eftava livre dellas, ou de pedras; afim que o avia de curar de accidente de pedra, por- que fó defte modo elperava livrallo da afflicçaõ que padecia. Por tanto para laxar as vias , excitar a facul- dade fraca, & deitar fóra as pedras, ordenei tomaffe as feguintes ajudas. De folhas de malvas., violas , orti- gas mortas, & de alfavaca de cobra , de cada coufa deftas huma mão cheya, tudo fe coza com hum rim de vacca, ou (em falta delle ) com hum frangao, & a · cinco onças defte cozimento coado mandei ajuntar huma onça de diafenicaõ, quatro onças de oleo de amendoas doces , dez oitavas de terebinthina de beta, lavada tantas vezes em agua de malvas, atè ficar bran- ca, & huma gema de ovo crua. Porem como eftas aju- das (aindaque admiraveis )nao fortiffem aquelle gran- de effeito , que muitas vezes tinha vifto, & juftamen- . te fe podia efperar dellas, determinei darlhe, na mayor força das dores, duas onças de vinho emetico, ou tres onças de agua benedicta vigorada, ou dous efcropu- los de vitriolo branco defatados em duas onças de cal- dode gallinha, nao fó porque qualquer deftes vomi- torios tem prefentanea virtude para as dores de areas, & pedra, mas para todas as queixas dos rins, da bexi- ga, & das partes pudendas, como dizem graves Au- thores ; (9.) pois com o aballo, & força que fazem os. vomitos , não fó fe evacua, & revelle a caufa antece- dente das dores , mas fe deita mais facilmente a pe- dra. 8. Obedeceo promptamente o enfermo ao meu preceito, & bebendo tres onças da fobredita agua be- nedicta vigorada, deitou por huma, & outra viataő grande quantidade de coleras, & humores vifcofos, que antes de paffar hua hora fe fentio muito aliviado; mas como não deitaffe pedra alguma, nem areas, ( co- mo cu efperava ) antes no feguinte dia lhe repetiffem as dores com a mefma crueldade, mandei fangrallo feis vezes nos braços, para lhe dar cô mais fegurança a minha agua lithontriptica, q em ferviço do bem com- mum 1 V n m 0 d :
174 Obfervacöes MedicasDoutrinaes. creava, & que de as nao deitar tantosannos, fe nao in- feria com certeza que eftava livre dellas,ou de pedras; affim que oavia de curar de accidente de pedra, por- que fó defte modo efperava livrallo da afficca que padecia. Por tanto para laxar as vias , excitar a facul- dade fraca ; & deitar fora as pedras , ordenei tomaffe as feguintes ajudas. De folhas de malvas., violas , orti- gas mortas., & de alfavaca de cobra , de cada coufa deftas huma mao cheya, tudofe coza com hum rim de vacca, ou (em falta delle) com hum franga, &a cinco oncas defte cozimento coado mandei ajuntar huma ónca de diafenica, quatro oncas de oleo de amendoas doces , dez oitavas de terebinthina de beta, lavada tantas vezes em agua de malvas, ate ficar bran-- ca, & huma gema de ovo crua. Porem como eftas aju- das (aindaque admiraveis)na fortiffem aquelle gran- de effeito, que muitas vezes tinha vifto, & juftamen- te fe podia efperar dellas, determinei darlhe,na mayor forca das dores, duas oncas de vinho emetico, ou tres oncas de agua.benedicta vigorada, ou dous efcropu- los de vitriolo branco defatados em duas oncas de cal- dode gallinha, naö fó porque qualquer deftes vomi- torios tem prefentanea virtude para as dores de areas, & pedra, mas para todas as queixas dos rins, da bexi- ga,& das partes pudendas, como dizem graves Au- thores ; (9.) pois com o aballo, & forca que fazem os-- vomitos , naof6fe evacua, & revelle a caufa antece- dente das dores , mas fe deita mais facilmente a pe- dra. 8. Obedeceo promptamente o enfermo ao meu n preceito , & bebendo tres oncas da fobredita agua be- nedicta vigorada, deitou por huma, & outra via ta : 0 grande quantidade de coleras, & humores vifcofos, n que antes de paffar hua hora fe fentio muito aliviado; mas como nao deitaffe pedra alguma, nem areas , ( co- no cu efperava ) antes no feguinte-dia lhe repetiffem as dores com a mefma crueldade, mandei fangrallo feis vezes nos bracos,para lhe dar cö mais fegurangaa minha agua lithontriptica, em fervigo do bein com-- mun
174 Obfervações Medicas Doutrinaes. creava, & que de as não deitar tantos annos, fenãoin- , feria com certeza que eftava livre dellas,ou de pedras; aflim que o avia de curar de accidente de pedra, por- que fó defte modo elperava livrallo da afllicçaô que - adecia. Por tanto para laxar asvias , excitar a facul- dade fraca, & deitar fóra as pedras , ordenei tomaíle as feguintes ajudas. De folhas de malvas,, violas , orti- º | gas mortas, & de alfavaca de cobra , de cada coufa deftas huma mão cheya , tudo fe coza com humrim de vacca , ou (em falta delle ) com hum frangaô, &a ' cinco onças defte cozimento coado mandei ajuntar huma ónça de diafenicaô, quatro onças de oleo de amendoas doces , dez oitavas de terebinrhina de beta, lavada tantas vezes em agua de malvas, até ficar bran-- - .ca, & huma gema de ovo crua. Porêm como eftas aju- das (aindaque admiraveis )na6ó fortiflem aquelle gran- de effeito , que muitas vezes tinha vifto, & juftamen- te fe podia elperar dellas, determinei dárlhe,na mayor força das dores, duas onças de vinho emetico, ou tres onças de agua benedi&ta vigorada , ou dous efcropu-' los de vitriolo branco defatados em duas onças de cal- dode gallinha, nao fó porque qualquer deftes vomi- toriostem prefentanea virtude para as dores de areas, & pedra, mas pãra todas às queixas dos rins, da bexi- ga , & das partes pudendas , como dizem graves Au-- thores ; (9.) poiscom o aballo, & força que fazem os“ t $ V dente das dores , mas fe deita mais facilmente ape-' — & " vomitos , não fó fe evacua, & revelle a caufa antece-" dra. : 8. —"Obedeceo promptamente o enfermo aomeu — “n preceito , & bebendo tres onças da fobreditaaguabe- — nm nedi&a vigorada , deitou por huma , & outra viataõ o grande quantidade de coleras , & humores vifcofos, — in que antes de paflar hãa hora fe fentio muito aliviado; d mas como não deirtafle pedra alguma, nem areas , ( co- mo cu elperava ) antes no feguinte dia lhe repetiflfem as dores com a mefima crueldade, mandei ngrailo feis vezes nos braços, para lhe darcômaisfegurançaa *— | minha agua lithontriptica, G emferviçodobemcom-* — | muia
174 Observaçones Medicas Doutrinaes. creava, & que de as nao deitar tantos annos, se namo in¬ feria com certeza que estava livre dellas, ou de pedras; assim que o avia de curar de accidente de pedra , por- que só deste modo esperava livrallo da afflicçaon que padecia. Por tanto para laxar as vias, excitar a facul dade fraca, & deitar fóra as pedras, ordenei tomasse as seguintes ajudas. De folhas de malvas, violas , orti- gas mortas, & de alfavaca de cobra, de cada cousa destas huma mao cheya, tudo se coza com hum rim de vacca, ou (em falta delle ) com hum frangaô , & a cinco onças deste cozimento coado mandei ajuntar huma onça de diafenicaô, quatro onças de oleo de amendoas doces, dez oitavas de terebinthina de beta, lavada tantas vezes em agua de malvas, atè ficar bran- ca, & huma gema de ovo crua. Porèm como estas aju¬ das (aindaque admiraveis) naon sortissem aquelle gran- de effeito , que muitas vezes tinha visto , & justamen- te se podia esperar dellas, determinei darlhe,na mayor força das dores, duas onças de vinho emetico , ou tres onças de agua benedicta vigorada, ou dous escropu- los de vitriolo branco desatados em duas onças de cal- do de gallinha, naon so porque qualquer destes vomi- torios tem presentanea virtude para as dores de areas, & pedra, mas pára todas as queixas dos rins, da bexi- ga, & das partes pudendas, como dizem graves Au- thores; (9.) pois com o aballo , & força que fazem os vomitos, nao só se evacua, & revelle a causa antece¬ dente das dores, mas se deita mais facilmente a pe- dra. Obedeceo promptamente o enfermo ao meu preceito , & bebendo tres onças da sobredita agua be- nedicta vigorada, deitou por huma , & outra via taon grande quantidade de coleras, & humores viscosos, que antes de passar huma hora se sentio muito aliviado; mas como namo deitasse pedra alguma, nem areas, (co mo eu esperava) antes no seguinte dia lhe repetissem as dores com a mesma crueldade, mandei sangrallo seis vezes nos braços, para lhe dar con mais segurança a minha agua lithontriptica, que em serviço do bem com¬ mum
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Observaçaõ XXIX. 175 mum faço agora publica , & he a seguinte . Tomai de raiz de bardana , de resta boy , & de saxifragia , de cada cousa destas meya onça , tudo se machuque levemente , & se ponha a cozer em panela de barro com fogo brando , em tres quartilhos de agua commua , até que fique em dous & meyo , & deste cozimento coado , & espremido dei ao doente , de seis em seis horas , meyo quartilho , a que ajuntei de olhos de caranguejos preparados , de semente de bardana , & de pòs dos bichos chamados Mille-pedes , de cada cousa destas meya oitava ; & no entretanto que applicava este grande remedio , mandei que sobre o pentem , & regiaõ da , bexiga se puzesse huma filhò , ou bolo preparado de cebolas feitas em rodas , & mal cozidas em vinho brãco , pizadas , & misturadas com igual quantidade de bosta de boy fresca , gemas de ovos , oleo de lacraos , & meya onça de açafraõ ; & foraõ estes remedios taõ bem succedidos , que deitou muitas pedras , que tenho em meu poder , & ficou saõ . 9 . Advirtão os Medicos modernos que este remedio , que lhes quiz revelar em serviço do bem commum , he hum dos principaes segredos , de que uso ha muitos annos com prospera fortuna ; porèm como nas cousas humanas naõ aja certeza infallivel , pòde acontecer que falte alguma vez . Neste caso saibaõ que eu tenho hum remedio para as suppressões de ourina , de virtude tão admiravel , que nunca me deixou envergonhado , salvo me chamàrão quando o doente estava espirando , & com o bafo fedendo , a ourina podre , nos quaes termos só Deos póde valer ; mas se me chamàrão até o quinto , ou sexto dia , curei a todos com o sobredito remedio , como os curiosos poderáõ ver na minha Polyanthea da segunda impressaõ no tratado 2 . cap . 8I . fol . 509 . desde o num . 36 . até 42 . aonde refiro as pessoas que curei de suppressões altas , estando já ungidas , & pranteadas ; & só naõ pude curar aquellas suppressões que procedião de parlesia , ou affecto spasmodico das veas emulgentes , ou ureteras , ou dos musculos , & esphinter da bexiga . Algum dia estive resolu
175 Óbfervaçaõ . XXIX. mum faço agora publica , & he a feguinte. Tomai de raiz de bardana, de refta boy , & de faxifragia, de cada coufa deftas meya onça, tudo fe machuque leve- mente, & fe ponha a cozer em panela de barro com fogo brando, em tres quartilhos de agua commaa,até que fique em dous & meyo, & defte cozimento coa- do, & efpremido dei ao doente , de feis em feis horas, meyo quartilho , a que ajuntei de olhos de carangue- jos preparados, de femente de bardana , & de pòs dos bichos chamados Mille-pedes, de cada coufa deftas meya oitava; & no entretanto que applicava efte gran- de remedio, mandei que fobre o pentem, & regiao da bexiga fe puzeffe huma filho, ou bolo preparado de cebolas feitas em rodas , & mal cozidas em vinho bra- co, pizadas, & mifturadas com igual quantidade de bofta de boy frefca, gemas deovos, oleo de lacraos, & meya onça de açafrão ; & foraõ eftes remedios tao bem fuccedidos , que deitou muitas pedras, que tenho em meu poder , & ficou fao. 9. Advirtão os Medicos modernos que efte reme- dio , que lhes quiz revelar em ferviço do bem com- mum , he hum dos principaes fegredos , de que ufo ha , muitos annos com profpera fortuna ; porem como nas coufas humanas naõ aja certeza infallivel, pòde acon- tecer que falte alguma vez. Nefte cafo faibao que eu tenho hum remedio para as fuppreffões de ourina , de. virtude tão admiravel, que nunca me deixou enver- gonhado, falvo me chamarão quando o doente efta- va efpirando, & com o bafo fedendo, a ourina podre, nos quaes termos fó Deos póde valer ; mas fe me cha- marão até o quinto, ou fexto dia, curei a todos com o fobredito remedio, como os curiofos poderáõ ver na minha Polyanthea da fegunda impreffao no trata- do 2. cap. 81. fol. 509. defde o num. 36. até 4z. aonde refiro as peffoas que' curei de fuppreffões altas, eftando já ungidas, & pranteadas ; & fo nao pude curar aquel- las fuppreffões que procediao de parlefia, ou affecto fpafmodico das veas emulgentes, ou ureteras , ou dos mufculos, & efphinter da bexiga. Algum dia eftive re- folu- . .
Obfervacao . XXIX. 17s mum faco agora publica , & he a feguinte. Tomai de raiz debardana, de reftaboy , & de faxifragia, de cada coufa deftas meya onca , tudo fe machuque leve- mente, & fe ponha a cozer em panela debarro com fogobrando, em tres quartilhos de agua commua,até que fique em dous & meyo, & defte cozimento coa- do,&efpremido dei ao doente,de feis em feis horas, meyo quartilho , a que ajuntei de olhes de carangue- jos preparados, de femente de bardana, & de pos dos bichos chamados Mille-pedes, de cada coufa deftas meya oitava;& no entretanto que applicava eftegran- de remedio, mandei quc fobre o pentein, & regia da bexiga fe puzeffe huma filho, ou bolo preparado de cebolas feitas em rodas , & mal cozidas ein vinho bra- co, pizadas,& mifturadas com igual quantid ade de bofta de boy frefca, gemas deovos, oleo de lacraos, & meyaonca de acafra; & fora.eftes remedios ta bem fuccedidos , que deitou muitas pedras, que tenho em meu poder , & ficou fao. 9... Advirtao os Medicos modernos que efte reme- dio , que lhes quiz revelar em ferviso do bem com- mum, he hum dos principaes fegredos , de que ufo ha . muitos annos com profpera fortuna ; porcm corno nas coufas humanas na aja certeza infalfivel, pde acon- tecer.que falte alguma vez... Nefte cafo faiba que cu tenho hum remedio para as fuppreffoes de ourina , de. virtude tao admiravel, que nunca me deixou enver- gonhado, falvo ine chamarao quando o doente efta- va efpirando, & com o bafo fedendo, a ourina podre; nos quaes terfmos f6 Deos p6de valer ;, mas. fe me cha- maraoatéo quinto, ou fexto dia, curei a todos com ofobredito remedio, como os curiofos podera ver na minha Polyanthea da fegunda impreffa no trata- do 2. cap. 81.fol.so9.defde o num. 36.até 4z. aonde refro as peffoas que'curei de fupprefföes altas,eftando ja ungidas, & pranteadas , & f6naö pudecurar aquel- as fuppreffes que procediao de parlefia, ou affe&to fpafmodico das veas einulgentes, ou ureteras , ou dos mufculos, & efphinter da bexiga.Algum dia eftive re- folu-
— Oblervaçao - XXIX, 78 - mum faço agora publica , & he a feguinte. Tomai . —deraizdebardana,dereftaboy, & defaxifragia, de ; — cadaconfadeftasmeya onça, tudo fe máchuque!eve- mente, & fe ponha a cozer em panela de barro com fogo brando, em tres quarrilhos de agua commua,até que fique em dous & meyo, & defte cozimento coa- o , & eípremido dei ao doente ,de feis em feis horas, meyo quartilho , a que ajuntei de olhes de carangue- jo preparados , de fêmente de bardana , & de pôs dos ichos chamados Mille-pedes , de cada coufa deftas meya oitava;& no entretanto quê applicava eftegran- de remedio, mandei que fobre o pentem, & regiao da bexiga fe puzefle huma filhô, vu bolo preparado de cebolas feitas em rodas , & ma! cozidas em vinho brã- co, pizadas, & mifturadas com igual quantidade de bofta de boy freíca, gemas deovos , oleo de lacraos, & meya onçade açafraô ; & foraô eftes remedios taô bem fuccedidos,, que deitou muitas pedras, que tenho em meu poder , & ficou faõ. . Na 9. Advirtãoos Medicos modernos que elte reme- dio , que lhes quiz revelarem ferviço do bem com- mum, he hum dos principaes fegredos , de que ufo ha ; muitos annos com profpera fortuna ; porém como nas coufas humanas naô aja certeza infallivel, pôde acon- tecer que falte alguma vez. Nefte calo faibao que en tenho hum remedio para as fuppreflões de ourina , de. virtude tão admiravel, quenunca me deixou enver- gonhado, falvo me chamàrão quando odoente efta- va eípirando, & com o bafo fedendo , a ourina podre, nos quaes terfnos [fó Deos póde valer ; mas fe me cha- mãàrão até o quinto , ou fexto dia, curei a todos com o fobredito remedio, como os curiofos poderãô ver na minha Polyanthea da fegunda impreffaõ no trata- , do 2. cap. 81. fol. 509. defde o num. 36. até 42. aonde refiro as pefloas que curei de fuppreflões altas,eftando já ungidas , & pranteadas ; & 1ó naó pude curar aquel las fuppreflões que procedião de parlefia, ou affe&o fpafinodico das veas emulgentes, ou ureteras , ou dos muículos, & efphinter da bexiga. Algum dia eítive re” ' . : 10lu” !
Observaçaon XXIX. 175 mum faço agora publica, & he a seguinte. Tomai de raiz de bardana, de resta boy, & de saxifragia, de cada cousa destas meya onça, tudo se machuque leve¬ mente, & se ponha a cozer em panela de barro com fogo brando, em tres quartilhos de agua commua, até que fique em dous & meyo, & deste cozimento coa- do , & espremido dei ao doente , de seis em seis horas, meyo quartilho , a que ajuntei de olhos de carangue- jos preparados, de semente de bardana , & de pòs dos bichos chamados Mille-pedes, de cada cousa destas meya oitava; & no entretanto que applicava este gran- de remedio , mandei que sobre o pentem, & regiao da bexiga se puzesse huma filhò, ou bolo preparado de cebolas feitas em rodas, & mal cozidas em vinho bran¬ co, pizadas, & misturadas com igual quantidade de bosta de boy fresca, gemas de ovos, oleo de lacraos, & meya onça de açafraon ; & foraon estes remedios tao bem succedidos, que deitou muitas pedras, que tenho em meu poder, & ficou sao. 9. Advirtamo os Medicos modernos que este reme¬ dio, que lhes quiz revelar em serviço do bem com- mum, he hum dos principaes segredos, de que uso ha, muitos annos com prospera fortuna; porèm como nas cousas humanas naon aja certeza infallivel, pòde acon¬ tecer que falte alguma vez. Neste caso saibaon que eu tenho hum remedio para as suppressones de ourina, de virtude tamo admiravel, que nunca me deixou enver¬ gonhado, salvo me chamàrao quando o doente esta va espirando , & com o bafo fedendo , a ourina podre, nos quaes termos só Deos pode valer; mas se me cha- màramo até o quinto, ou sexto dia, curei a todos com o sobredito remedio, como os curiosos poderaô ver na minha Polyanthea da segunda impressao no trata¬ do 2. cap. 81. fol. 509. desde o num. 36. até 42. aonde refiro as pessoas que curei de suppressones altas, estando jà ungidas, & pranteadas; & só naon pude curar aquel¬ las suppressones que procediamo de parlesia, ou affecto spasmodico das veas emulgentes, ou ureteras, ou dos musculos, & esphinter da bexiga. Algum dia estive re¬ solu¬
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176 Observações Medicas Doutrinaes. soluto a revelar este grande segredo a algum boticario , paraque os necessitados o achassem a comprar sem lhes custar a vergonha de mo pedir , nem darem a conhecer aos doentes , que as vitorias , que alcançavaõ , eraõ com as minhas armas ; comtudo como as experiencias me tem ensinado , que este máo mundo nenhum agradecimento dà aos seus bemfeitores , nem faz estimaçaõ dos homens , que se desvelão pelo servir , & que taõ pouco obrigado me ficaria , se eu lhe revelasse todos os meus segredos , como se lhos encubrisse , por esta razaõ não quiz apressarme em o revelar , por naõ ter mais cedo de que me arrepender ; porque se ensinasse este , ou qualquer outro segredo meu a hum só boticario , ou o puzesse feito em huma botica , aviaõ de dizer os mal intencionados , que eu os revelava , ou tinha feitos pelo interesse de os vender , esquecendose da Ley Divina , & humana , pelas quaes he prohibido suspeitar mal do proximo , ou tirarlhes a sua boa fama , sob pena do grande castigo , que se determinarà ao dar da conta . Mas só Deos que conhece os corações , sabe o candor , & zelo com que revelei muitos remedios excellentes , que com grande estudo , & trabalho alcancei no discurso de muitos annos , como se deixa ver na minha Polyanthea ; & só reservei para mim a manufactura de dezaseis segredos , para se algum contratempo , ou infortunio me perseguir , tenha os taes segredos , de cujo rendimeto me possa aproveitar ; & sendo esta a causa de os reter comigo , naõ fiz aggravo a alguem em os fechar , basta que tenha feitos os taes remedios , para acudir com elles aos doentes nos seus apertos ; naõ estou obrigado a tirar o paõ da minha boca , & da minha familia , & deixala pedindo esmolas : aquelles , que com esta reposta se naõ satisfizerem ; podem vingarse em naõ usar dos taes remedios , se a consciencia lhes ficar quieta , depois de lhes constar pelas suas experiencias , ou alheyas , dos admiraveis effeitos , que os taes remedios costumaõ obrar . ( IO . ) 10 . Dos damnos que fazem em nòs as paixoens d’al
176 Obfervações Medicas Doutrinaes. foluto a revelar efte grande fegredo a algum boti- cario, paraque os neceffitados o achaffem a comprar fem lhes cuftar a vergonha de mo pedir, nemdarem a conhecer aos doentes, que as vitorias, que alcança- vaõ, eraõ com as minhas armas ; comtudo como as experiencias me tem enfinado, que efte máo mundo nenhum agradecimento dà aos feus bemfeitores, nem faz eftimaçaõ dos homens, que fe defvelão pelo fer- vir , & que tao pouco obrigado me ficaria, fe eu lhe re- velaffe todos os meus fegredos, como fe lhos encu- briffe , por efta razao não quiz apreffarme em o reve- lar, por nao ter mais cedo de que me arrepender; por- que fe enfinaffe efte , ou qualquer outro fegredo meu a hum fo boticario, ou o puzeffe feito em huma boti- ca, aviaõ de dizer os mal intencionados, que eu os re- velava, ou tinha feitos pelo intereffe de os vender, ef- quecendofe da Ley Divina, & humana, pelas quaes he prohibido fufpeitar mal do proximo , ou tirarlhes a fua boa fama, fob pena do grande caftigo, que fe de- terminarà ao dar da conta. Mas fó Deos que conhece os corações, fabe o candor , & zelo com que revelei muitos remedios excellentes, que com grande eftudo, & trabalho alcancei no difcurfo de muitos annos, co- mo fe deixa ver na minha Polyanthea ; & fo refervei para mim a manufactura de dezafeis fegredos, para fe algum contratempo, ou infortunio me perfeguir, te- nha os taes fegredos, de cujo rendiméto me poffa apro- veitar; & fendo efta a caufa de os reter comigo, nao fiz aggravo a alguem em os fechar, bafta que tenha fei- tos os taes remedios , para acudir com etles aos doen- tes nos feus apertos ; naõ eftou obrigado a tirar o paõ da minha boca , & da minha familia, & deixala pedin- do efmolas : aquelles, que com efta repofta fe naõ fa- tisfizerem ; podem vingarfe em nao ufar dos taes re- medios, fe a confciencia lhes ficar quieta, depois de lhes conftar pelas fuas experiencias , ou alheyas , dos admiraveis effeitos, que os taes remedios coftumao obrar. (10.) 10. Dos damnos que fazem em nos as paixoens d'al-
176 Obfervacoes.Medicas Doutrinaes. foluto a revelar efte grande fegredo aalgum boti- cario, paraque os neceffitados oachaffem a comprar fem lhes cuftar a vergonha de mo pedir , nemdarem a conhecer aos doentes, que as vitorias, que alcanca- va, erao com as minhas armas ; comtudo.como as experiencias me tem enfinado, que efte maomundo nenhum agradecimento da aos feus bemfeitores, nem faz eftimasa dos homens, que fe defvelao pelo fer- vir , & que ta pouco obrigado me ficaria, fe eu lhe re- velaffe todos os meus fegredos, como fe lhos encu- briffe, por efta raza nao quiz apreffarme emo reve- lar , por naö ter mais cedo de que me arrepender; por- que fe enfinaffe efte, ou qualquer outro fegredo meu a hum f6 boticario, ou o puzeffe feito em huma boti- ca , avia de dizer os mal intencionados, que eu os re- velava, ou tinha feitos pelo intereffe de os vender, ef- quecendofe daLey Divina, & humana, pelas quaes he prohibido fufpeitar mal do proximo , ou tirarlhes a fua boa fama, fob pena do grande caftigo , que fe de- terminara ao dar da conta. Mas f' Deos que conhece oscoraces , fabe ocandor , & zelo com que revelei muitos remedios excellentes, que com grandeeftudo, & trabalho alcancei no difcurfo de muitos annos, co- mo fe deixa ver na minha Polyanthea; & f6 refervei para mim a manufactura de dezafeis fegredos, para fe algum contratempo,ou infortunio me perfeguir,te- nha os taes fegredos,de cujo rendiméto me poffa apro- veitar; & fendocfta a caufa deos reter comigo, naö fiz aggravo a alguem em os fechar , bafta que tenha fei- tos os taes remedios , para acudir com efles aos doen- tes nos feus apertos ; na eftou obrigado a tirar o pa da minha boca, & da minha familia, & deixala pedin- doefmolas : aquelles , que com efta repofta fe na fa- tisfizerem; podem vingarfe em na ufar dos taes re- medios, fe a confciencia lhes ficarquieta, depois de lhes conftar pelas fuas experiencias , ou alheyas , dos obrar.(10.) 10. Dos damnos que fazem em nos as paixoens d'al-
176 Obfervações Medicas Doutrinaes. foluto a revelar efte grande fegredo a algum boti- cario, paraque os neceffitados o achaflem a comprar fem lhes cuftar a vergonha de mo pedir , nemdarema conhecer aos doentes , que as vitorias, que alcança- va6, eraó com as minhas armas ; comtudo como as experiencias me tem enfinado, que efte mão mundo nenhum agradecimento dà aos feus bemfeitores, nem faz eftimaçaô dos homens, que fe defvelão pelo fer- vir , & que taô pouco obrigado me ficaria, fe eu lhe re- velafle tódos os meus fegredos , como fe lhos encu- brifle, por efta razaô não quiz apreflarme emo reve- ' ' Jar, por naó ter mais cedo de que me arrepender; por- que fe enfinaffe efte , ou qualquer outro fegredo meu a hum fó boticario, ou o puzefle feito em huma boti- ca, aviaô de dizer os mal intencionados, que eu os re- velava, ou tinha feitos pelo intereíle de os vender, ef. quecendofe da Ley Divina, & humana, pelas quaes he prohibido fufpeitar mal do proximo, ou tirarlhes a fua boa fama , fob pena do grande caftigo, que fe de- : terminarà ao darda conta. Mas fó Deos que conhece os corações ; fabe o candor , & zelo com que revelei muitos remedios excellentes, que com grande eftudo, & trabalho alcancei no difceurfo de muitos annos , co= mo fe deixa ver na minha Polyanthea ; & fó refervei para mim a manufa&tura de dezafeis fegredos , para fe algum contratempo,ou infortunio me perfeguir,te- nha ostaes fegredos,de cujo rendimêto me pofla ápro- veitar; & lendo efta a caufa de os reter comigo, nao fiz aggravo a alguem em os fechar , bafta que tenha fei- tos os taes remedios , para acudir com efles aos doen-= tes nos feus apertos ; naó eftou obrigado a tirar o pa& da minha boca , & da minha familia, & deixala pedin- do efmolas : aquelles , que com efta repoíta fe naô fa- tisfizerem ; podem vingarfe em naõ ufar dos taes re- medios, fe a confciencia lhes ficar quieta, depois de lhes conftar pelas fuas experiencias , ou alheyas , dos admiráveis effeitos , que os taes remedios coftumas obrar. (10.) 10. Dos damnos que fazem em nôsas paixoens dal-
176 Observaçones Medicas Doutrinaes. soluto a revelar este grande segredo a algum boti¬ cario, paraque os necessitados o achassem a comprar sem lhes custar a vergonha de mo pedir , nemdarem a conhecer aos doentes, que as vitorias, que alcança- vaò, eraô com as minhas armas; comtudo como as experiencias me tem ensinado, que este máo mundo nenhum agradecimento dà aos seus bemfeitores, nem faz estimaçao dos homens, que se desvelao pelo ser- vir , & que tao pouco obrigado me ficaria, se eu lhe re- velasse todos os meus segredos, eomo se lhos encu- brisse, por esta razaon nao quiz apressarme em o reve¬ lar, por nao ter mais cedo de que me arrepender; por- que se ensinasse este , ou qualquer outro segredo meu a hum só boticario, ou o puzesse feito em huma boti¬ ca, aviao de dizer os mal intencionados, que eu os re- velava, ou tinha feitos pelo interesse de os vender, es- quecendose da Ley Divina, & humana, pelas quaes he prohibido suspeitar mal do proximo , ou tirarlhes a sua boa fama , sob pena do grande castigo , que se de- terminarà ao dar da conta. Mas só Deos que conhece os coraçoes, sabe o candor, & zelo com que revelei muitos remedios excellentes, que com grande estudo, & trabalho alcancei no discurso de muitos annos , co- mo se deixa ver na minha Polyanthea ; & só reservei para mim a manufactura de dezaseis segredos, para se algum contratempo, ou infortunio me perseguir, te¬ nha os taes segredos, de cujo rendimento me possa apro- veitar; & sendo esta a causa de os reter comigo, nao fiz aggravo a alguem em os fechar, basta que tenha fei- tos os taes remedios, para acudir com efses aos doen- tes nos seus apertos; naon estou obrigado a tirar o paon da minha boca, & da minha familia, & deixala pedin¬ do esmolas : aquelles , que com esta reposta se nao sa- tisfizerem, podem vingarse em nao usar dos taes re¬ medios, se a consciencia lhes ficar quieta , depois de lhes constar pelas suas experiencias, ou alheyas, dos admiraveis effeitos, que os taes remedios costumaon obrar. (10.) 10. Dos damnos que fazem em nòs as paixoens d'al-
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Observaçaõ XXIX. 177 d’alma , falláraõ Valerio Maximo , ( 11 . ) Vanelmonte , ( 12 . ) Theophilo Boneto , ( 13 . ) Monardes , ( 14 . ) Tito Livio , ( 15 . ) Amato Lusitano , ( 16 . ) Galeno , ( 17 . ) Christovaõ da Veiga , ( 18 . ) & outros muitos . He porèm de advertir , que nem o gosto , nem a tristeza , nem a ira , nem a vergonha , nem outra qualquer paixaõ d’alma saõ capazes de matar , nem de fazer damno grave , salvo quando forem excessivos , & repentinos : assim o diz Galeno no lugar citado : para o que tambem ajuda muito o ser fraca a faculdade vital , & o desordenado , ou arrebatado movimento dos espiritos . 11 . Visto que nesta Observaçaõ digo que a ira , & paixaõ , o temor , & o medo , o gosto, & a tristeza , sendo grandes , saõ capazes de matar , perguntaráõ os curiosos , que cousa he Ira , & porque mata ; que cousa he Temor , & porque tira a vida ; & que cousa he Gosto , & porque causa a morte . 12 . Respondo . Ira he hum fervor de sangue no coraçaõ com desejo de vingarse de quem lhe fez alguma offensa : se a tal ira he moderada , tão longe está de matar a quem a tem , que antes espertando o calor , augmenta as forças ; mas quando a ira hé excessiva , resolve , & debilita de sorte os espiritos , que tira a vida . 13 . Temor he hum medo de algum mal , que està para vir , por cuja causa o sangue , os espiritos , & o calor natural , que nelles se sujeita , se recolhem ao coraçaõ , do qual recolhimento se segue resfriaremse as extremidades , descorarse o rosto, tremer o corpo , soltaremse as ourinas , & a camara , embaraçarse a lingua , prostraremse as forças ; & quando he demasiado , & em pessoas fracas , ou delicadas , mata de repente : & esta he a causa porque alguns homens , sendo muito moços , & tendo o cabello negro , amanhecèraõ repentinamente com elle todo branco , porque lhes faltou o calor natural naquellas partes ; & esta he tambem a causa porque se arrepiaõ , & irritaõ os cabellos aos que tem grande medo ; porque como a pelle por causa do temor se esfrie faltandolhe o calor natural , se aper
171 Obfervação XXIX. d'alma, fallarao Valerio Maximo , (11.) Vanelmon- . te, (12. ) Theophilo Boneto , (13.) Monardes, (14.) Tito Livio, (15.) Amato Lufitano, (16.)Galeno; (17.) Chriftovao da Veiga, (18.) & outros muitos. He po- rèm de advertir, que nem o gofto, nem a trifteza, nem a ira, nem a vergonha , nem outra qualquer paixao d'alma fao capazes de matar, nem de fazer damno grave, falvo quando forem exceffivos, & repentinos: .affim o diz Galeno no lugar citado: para o que tam- bem ajuda muito o fer fraca a faculdade vital , & o def- ordenado, ou arrebatado movimento dos efpiritos. II. Vifto que nefta Obfervacao digo que aira, & paixao, o temor, & o medo, o gofto, & a trifteza, fen- do grandes, faõ capazes de matar , perguntaráõ os cu- riofos, que coufa he Ira, & porque mata ; que coufa he Temor, & porque tira a vida; & que coufa he Gof- to, & porque caufa a morte. 12. Refpondo. Ira he hum fervor de fangue no coração com defejo de vingarfe de quem lhe fez algu- ma offenfa : fe a tal ira he moderada, tão longe eftá de matar a quem atem, que antes efpertando o calor, augmenta as forças ; mas quando a ira he exceffiva, re- folve, & debilita de force os efpiritos, que tira a vi- da. 13. Temor he hum medo de algum mal, que eftà para vir , por cuja caufa o fangue, os efpiritos , & o ca- for natural , que nelles fe fujeita, fe recolhem ao cora- çaõ, do qual recolhimento fe fegue resfriaremfe as extremidades, defcorarfe o rofto, tremer o corpo, fol- taremfe asourinas , & a camara, embaraçarfe a lingua, proftraremfe as forças ; & quando he demafiado, & em peffoas fracas , ou delicadas, mata de repente: & efta he a caufa porque alguns homens, fendo muito moços, & tendo o cabello negro, amanheceraõ re- pentinamente com elle todo branco, porque lhes fal- tou o calor natural naquellas partes ; & efta he tam- bem a caufa porque fe arrepiao, & irritao os cabellos aos que tem grande medo; porque como a pelle por caufa do temor fe esfrie faltandolhe o calor natural, fe aper- - 1 .. - : . j . .. -
Obfervacao XXIX. 177 d'alma, fallarao ValerioMaximo , (11.) Vanelmon- te, (12.) Theophilo Boneto,(13.) Monardes, (14.) TitoLivio,(15.) Amato Lufitano,(16.)Galeno,(17:) Chriftovaoda Veiga,(18.) & outros muitos: He po. rem de advertir, que nem o gofto, nem a trifteza, nem a ira, nem a vergonha , nem outra qualquer paixa d'alma fa capazes de matar, nem de fazer damno grave, falvo quando forem exceffivos, & repentinos: affim o diz Galeno no lugar citado: para o quetam- bem ajuda muitoofer fraca a faculdade vital , & o def- ordenado, ou arrebatado movimento dos efpiritos. I 1. Vifto que nefta Obfervaca digo que aira,& paixa, o temor, & o medo, gofto, & a trifteza, fen- dograndes, fa capazes de matar , perguntara os cu- riofos, que coufa he Ira, & porque mata ; quccoufa he Temor , & porque tiraa vida; & que coufa he Gof- to, & porque caufa a morte. I2. Refpondo. Ira he hum fervor de fangue no coraca com defejo de vingarfe de quem lhe fez algu- ma offenfa : fe a tal ira he moderada , tao longe efta de matar a quem a tem, que antes efpertando ocalor, augmenta as forcas ; mas quando a ira he exceffiva, re- folve,& debilita de forte os efpiritos, que tira a vi- da. Temor he hum medo de algum mal, queefta 13. para vir , por cuja caufa o fangue, os efpiritos , & o ca- Ior natural , que nelles fe fujeita, fe recolhem ao cora- gao, do qual recolhimento fe fegue resfriaremfe as extremidades, defcorarfe o rofto, tremer ocorpo, fol- taremfe asourinas , & a camara, embaracarfe a lingua, proftraremfe as forcas ; & quando he demafiado, & cm.peffoas fracas, oudelicadas, mata de repente: & eftahe a caufa porque alguns homens., fendo muito mocos, & tendo o cabello negro, amanhecera re- pentinamente com elle todo branco, porque lhes fal- tou o calor natural naquellas partes ; & efta he tam- bem a caufa porque fe arrepia, & irrita oscabellos aos que tem grande medo; porque como a pelle por caufa do.temor fe esfrie faltandolhe o calor natural, fe aper?
Obfervação XKXIX. 15) : — talma,fallárao Valerio Maximo , (11.) Vanelmon- ' te, (12.) Theophilo Boneto , (13.) Monardes, (14.) 1º "TitoLivio,(15.) Amato Lufitano,(16.)Galeno,(17:) ." —Chriftovaóda Veiga, (18.) & outros muitos. He po- 3 rêemdeadvertir, que nem o gofto, nem atrifteza, nem | aira, nem avergonha , nem outra qualquer paixaó d'alma faô capazes de matar, nem de fazer damno grave , falvo quando forem exceflivos , & repentinos: .aflim o diz Galeno no lugar citado: para o quetam- bem ajuda muito o fer fraca a faculdade vital , & o def- | ordenado, ouarrebatado movimento dos efpiritos. | 11. Viftoquenefta Obfervaçaô digo que aira, & paixaó , o temor, & o medo, o gofto, & a trifteza, fen- do grandes, faô capazes de matar , perguntaraô os cu- riolos, que coufa he Ira, & porque mata ; quecoufa he Temor, & porque tira a vida; & que coufa he Gof- to, & porque tanfa amorte. | 12. Refpondo. Ira he hum fervor de fangueno coraçaóô com defejo de vingarfe de quem lhe fez algu- ma offenfa: fe a tal ira he moderada , tão longe eftá de matar a quem atem, que antes efpertando o calor, augmenta as forças ; mas quando a ira he excefliva, re- folve, & debilita de forte os elpiritos, que tira a vi- da. ; —. 13. Temorhehummedode algum mal, queefta para vir, por cuja caufa o fangue, os efpiritos , & o ca- Jor natural, que nelles fe fujeita, fe recolhem ao cora- çaô, do qual recolhimento fe fegue resfriaremfe as extremidades, defcorarfe o rofto, tremer ocorpo, fol- taremfe asourinas , & a camara, embaraçaríe a lingua, proftraremfe as forças ; & quando he demahfiado, & em pefloas fracas, oudelicadas, mata derepente: & eíta he a caufa porque alguns homens, fendo muito moços, & tendo o cabello negro, amanhecêraõ re- pentinamente com elle todo braânco , porque lhes fal- tou o calor natural naquellas partes ; & eita he tam- . hem acanufa porque fearrepiaõ, & irrita6 oscabellos aos que tem grande medo; porque como a pelle Po | caufa do. temor fe esfrie faltandolhe o calor natural, fe aper-
177 Observaçaon XXIX. d'alma, falláraon Valerio Maximo, (11.) Vanelmon- te, (12.) Theophilo Boneto , (13.) Monardes, (14. Tito Livio, (15.) Amato Lusitano, (16.) Galeno, (17. Christovaon da Veiga, (18.) & outros muitos. He po¬ rèm de advertir, que nem o gosto, nem a tristeza, nem a ira, nem a vergonha, nem outra qualquer paixaon d’alma saô capazes de matar, nem de fazer damno grave, salvo quando forem excessivos, & repentinos: assim o diz Galeno no lugar citado. para o que tam¬ bem ajuda muito o ser fraca a faculdade vital , & o des- ordenado, ou arrebatado movimento dos espiritos. 11. Visto que nesta Observaçaon digo que a ira, & paixao , o temor, & o medo , o gosto, & a tristeza, sen- do grandes, sao capazes de matar, perguntaraon os cu- riosos, que cousa he Ira, & porque mata; que cousa he Temor, & porque tira a vida; & que cousa he Gos- to, & porque causa a morte. 12. Respondo. Ira he hum fervor de sangue no coraçaon com desejo de vingarse de quem lhe fez algu- ma offensa : se a tal ira he moderada , tamo longe està de matar a quem a tem, que antes espertando o calor, augmenta as forças; mas quando a ira he excessiva, re- solve, & debilita de sorte os espiritos, que tira a vi¬ da. Temor he hum medo de algum mal, que està 13. para vir, por cuja causa o sangue, os espiritos, & o ca¬ lor natural, que nelles se sujeita, se recolhem ao cora- çaô, do qual recolhimento se segue resfriaremse as extremidades, descorarse o rosto, tremer ocorpo, sol¬ taremse as ourinas, & a camara, embaraçarse a lingua, prostraremse as forças; & quando he demasiado, & em pessoas fracas, ou delicadas, mata de repente: & esta he a causa porque alguns homens, sendo muito moços, & tendo o cabello negro, amanhecèraôn re¬ pentinamente com elle todo branco , porque lhes fal- tou o calor natural naquellas partes; & esta he tam¬ bem a causa porque se arrepiaon, & irritaòn os cabellos aos que tem grande medo; porque como a pelle por causa do temor se esfrie faltandolhe o calor natural, se aper¬
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178 Observações Medicas Doutrinaes. apertaõ os póros , que antecedentemente estavaõ largos , & por isso se levantão os cabellos . 14 . Gosto he huma complacencia , & alegria de algum bem que se logra ; se he moderado , he muito conveniente para a saude ; se he muito grande , & repentino , mata muitas vezes , como consta de varias historias fidedignas , & de alguns exemplos , que eu tenho visto : & a razaõ porque mata o gosto repentino he , porque com o grande gosto sahe para fóra o calor , & se espalha por todo o corpo para contemplar o objecto deleitavel ; & como he pouco , & espalhado , facilmente se extingue . OBSERVAÇAM XXX . De huma grande febre , que procedeo de enchimento do eʃtomago ; & porque ʃangràraõ ao doente quando lhe aviaõ de dar hum vomitorio , ou huma purga para evacuar as cruezas , que faziaõ a febre , lhas meteraõ nas veas com as ʃangrias , & fizeraõ que a febre , que era ʃymptomatica , degeneraʃʃe em maligna mortal . 1. Muitas ʃaõ as doenças , a que os exceʃʃos da gula deraõ cauʃa ; & ʃuppoʃto que eʃta verdade naõ neceʃʃitava de prova , pois a experiencia nos moʃtra cada dia o innumeravel numero de enfermidades , & mortes apreʃʃadas de que a fartura teve culpa ; comtudo paraque os comilões ʃe moderem , & naõ tenhaõ razaõ , com que deʃculpem a ʃua voracidade , mo ʃtrarei neʃta Obʃervaçaõ os damnos , a que ʃe ʃujeitaõ os glotões , & quam grande erro ʃeja o ʃangrar aos que adoecem de fartos , ʃem os purgar primeiro , aindaque tenhaõ muita febre . E quanto aos damnos que faz o muito comer , digo que os grandes comedores raras vezes chegaõ a ʃer velhos ; & por iʃʃo diz Galeno , (1.) q os antigos adoeciaõ poucas vezes , porque eraõ muito moderados no comer : & Hippocrates
178 Obfervações Medicas Doutrinaes, apertaõ os póros , que antecedentemente eftavao lar- gos , & por iffo fe levantão os cabellos. 14. Gofto he huma complacencia, & alegria de algum bem que fe logra; fe he moderado, he muito conveniente para a faude ; fe he muito grande, & re- pentino, mata muitas vezes, como confta de varias hiftorias fidedignas , & de alguns exemplos , que eu tenho vifto : & a razao porque mata o gofto repentino he, porque com o grande gofto fahe para fora o calor, & fe efpalha por todo o corpo para contemplar o ob- jecto deleitavel ; & como he pouco , & efpalhado, fa- cilmente fe extingue. OBSERVAÇAM XXX. De huma grande febre , que procedeo de enchimento do eftomago ; & porque fangrarao ao doente quando lhe avia5 de dar hum vomitorio, ou huma purga para. evacuar as cruezas, que faziao a febre, lhas meterao: nas veas com as fangrias, & fizerao que a febre, que era fyuptomatica , degeneraffe em maligna mortal. I. M Uitas fao as doenças, a que os exceffos da gula derao caufa; & fuppofto que efta. " verdade nao neceffitava de prova, pois a experiencia .. . nos moftra cada dia o inmumeravel numero de enfer- midades, & mortes apreffadas de que a fartura teve, culpa ; comtudo paraque os comilões fe moderem , & nao tenhaõ razaõ, com que defculpem a fua voraci- dade, mo ftrarei nefta Obfervaçaõ os damnos, a que fe fujeitao os glotoes , & quam grande erro feja ofan -. grar aos que adoecem de fartos, fem os purgar pri- meiro, aindaque tenhaõ muita febre. E quanto aos damnos que faz o muito comer, digo que os grandes comedores raras vezes chegao a fer velhos ; & por iffo. diz Galeno, (1.) q os antigos adoeciao poucas vezes,; porque erao muito moderados no comer; & Hippo -. crates
178 Obfervacoes Medicas Doutrinaes, aperta os pöros , que antecedentemente. eftava. lar: gos , & por iffofe levantao os cabellos. 14. Gofto he huma complacencia, & alegria de algum bem que fe logra; fe he moderado, he muito conveniente para a faude ; fe he muito grande, & re- pentino, mata muitas vezes, comoconfta de varias hiftorias fidedignas:& de alguns exemplos,queeu tenho vifto : & a raza porque mata o gofto repentino he, porque com o grande gofto fahe para fóra o calor, & fe efpalha por todo corpo para contemplar.o ob- jecto deleitavel ; & como he pouco , & efpallado , fa- cilmente fe extingue. O BS ER V A C A M XXX.. De buma grande febre , que procedeo de cnchimento do eftonago; porquefangrara ao doente quando lbe avia5 de dar bum vomitorio, ou buna purga para. evacuar as cruezas , que fazia a febre, . lbas metera: nas veas com asfangrias, fizera que a febre, qus: erafymptomatica, degeneraffe em maligna mortal.. Uitas fa as doencas, a que os.exceffos verdade na neceffitava de prova, pois aexperiencia nos moftra cada dia o innumeravel numero. de enfer- midades, & mortes apreffadas de que a fartura teve: culpa ; comtudo paraque os comiles fe moderem, & naö tenha raza, com que defculpem a fua voraci-. dade, mo ftrarei nefta Obfervaca os damnos, aque fe fujeita'os.glotöes , & quam grandeerro feja ofan-. grar aos que adoecem de fartos, fem os purgar pri-- meiro, aindaque tenha muita febre. E quanto aos damnos que faz o muito conmer , digo que os.grandes coimedores raras vezes chega a fer velhos ; & por iffo diz Galeno , (1.) q os antigos adoecia poucas vezes,: porque eraö muito moderados no coiner; & Hippo-. crates
178 Obfervações Medicas Doutrinaes, apertaó os póros , que antecedenremente eftavao-lar- gos , & por iflofe levantão os cabelos. ' 14. Goftohe huma complacencia, & alegria de algum bem que fe logra ; fe he moderado, he muito conveniente para a faude ; fe he muito grande, & re-. pentino, mata muitas vezes, como confta de varias fiftorias fidedignas ,.& de alguns exemplos, queeu tenho vifto : & a razaó porque mara o gofto repentino he, porque com o grande gofto fahe para fóra o calor,. & fe elpalha por todo o corpo para contemplar 6 ob- je&to deleitavel ; & como he pouco , & efpalhado , fa-. cilmente fe extingue. 0850005 300 a08 500 «OSS Oa0S 500 OS SO «0S500aD E 300 SS 00 NE SEO o SS 00 RS OO. OBSERVAÇAM XXX.. De huma grande febre, que procedeo de enchimento do eflonago; & porque fangrárao ao doente quando lhe avias de dar hum vomitorio, ou buma purga para. CVACUAr As Ccruezas , que faziao a febre, lhas meterao: nas veas com as fangrias, & fizerao que a febre, que. era fyupromatica , degenerafe em maligna mortal. . “1. Uitasfaõ as doenças, a que os exceflos M da gula deraô caufa;& fuppofto que efta- * verdade naô necellitava de prova, pois aexperiencia. . nos moftra cada dia o innumeravel numero de enfer=. midades, & mortes aprefladas de que a fartura teve, culpa ; comtudo paraque os comilões fe moóderem, & : naô tenhaô razao, com que defculpem a fua voraci-. . dade, mo ftrarei nefta Obfervaçaô os damnos , a que fe fujeitaô os glotões , & quam grande erro feja ofan-: grar aos que adoeçem de fartos, fem os purgar pri . meiro, aindaque tenhaô muita febre. E quanto aos damnos que faz o muito comer , digo que os.grandes comedores raras vezes chegaõ a fer velhos ; & poriflo diz Galeno, (1.) q osantigos adoeciaô poucas vezes,.: porque eraó muito moderados no comer; & H ippo-. ENS | ' crates > em peenme Lg çm mento
178 Observaçones Medicas Doutrinaes, apertaon os póros, que antecedentemente estavaon lar- gos , & por isso se levantamo os cabellos. 14. Gosto he huma complacencia , & alegria de algum bem que se logra; se he moderado , he muito conveniente para a saude ; se he muito grande , & re- pentino, mata muitas vezes, como consta de varias historias fidedignas, & de alguns exemplos, que eu tenho visto : & a razaon porque mata o gosto repentino he , porque com o grande gosto sahe para fóra o calor, & se espalha por todo o eorpo para contemplar o ob- jecto deleitavel ; & como he pouco , & espalhado , fa- cilmente se extingue. OBSERVAQAM XXX. De huma grande febre, que procedeo de enchimento do estomago; & porque sangraraòn ao doente quando lbe avia) de dar hum vomitorio, ou huma purga para evacuar as cruezas, que faziao a febre, lhas meterao nas veas com as sangrias, & fizeraò que a febre, que era symptomatica, degenerasse em maligna mortal. Uitas saon as doenças, a que os excessos da gula deraon causa; & supposto que esta verdade naô necessitava de prova, pois a experiencia nos mostra cada dia o innumeravel numero de enfer¬ midades, & mortes apressadas de que a fartura teve culpa; comtudo paraque os comilones se moderem, & naon tenhaon razaon, com que desculpem a sua voraci¬ dade, mo strarei nesta Observaçaon os damnos, a que se sujeitaon os glotones, & quam grande erro seja o san- grar aos que adoeçem de fartos, sem os purgar pri- meiro, aindaque tenhaon muita febre. E quanto aos damnos que faz o muito comer, digo que os grandes comedores raras vezes chegaon a ser velhos; & por isso diz Galeno , (1.) q os antigos adoeciaô poucas vezes, porque eraò muito moderados no comer: & Hippo¬ crates
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Observaçaõ XXX. 179 crates (2.) diz que quem quizer ter ʃaude , ha de comer pouco , & trabalhar muito : & o Eccleʃiaʃtes (3.) diz que nos naõ entreguemos muito às iguarias , porque nellas acharemos as enfermidades: & verdadeiramente naõ ʃaõ tantos os que morrem aos fios da eʃpada , quantos os que perdem a vida pelos exceʃʃos da gula ; (4.) eʃta he a que abrevia os annos , (5.) a que faz a gotta , a que cauʃa as parlesias , apoplexias , eʃtillicidios , febres , convulʃoes ; eʃta a que embora o juizo ; (6.) & finalmente eʃta he a mãy de quaʃi todas as doenças , como ʃe deixa ver ; pois pela mayor parte eʃtas , & outras enfermidades ʃe achaõ naquellas peʃʃoas , que naõ vivem mais que para comer : & pelo contrario raras vezes vemos enfermar aos que comem pouco ; porque , como diz Riverio , (7.) a ʃobriedade , & parʃimonia no comer he cauʃa da ʃaude , & de prolongar a vida . E quanto ao grande erro que fazem os que ʃangraõ nas febres , que procedem de enchimento de eʃtomago , ʃem primeiro purgar , ʃe confirma com o ʃeguinte caʃo . 2. Em dezaseis de Mayo de 1667 . (ʃendo alta noite ) fui chamado para acudir a Manoel Pedro , que eʃtava eʃpirando , ʃem falla , ʃem acordo , com pulʃos deʃiguaes , & com huma febre ardentiʃʃima : & perguntando eu aos aʃʃiʃtentes pelas queixas daquelle enfermo , me reʃpondèraõ que eraõ de grande pejo no eʃtomago , amargores de boca , vontades de vomitar , & ancias de coraçaõ taõ grandes , que naõ cabia na cama ; o que tudo lhe procedèra das muitas iguarias , que tinha comido em hum banquete : o que ʃe verificava , porque poucas horas depois de ʃahir delle o aʃfaltàraõ as queixas referidas com huma febre de taõ desmedida grandeza , que no dia ʃeguinte o ʃangràra o barbeiro , ʃem que precedeʃʃe ordem , ou conʃelho de Medico ; & vendo o barbeiro que a febre , as ancias , os deʃejos de vomitar , as queixas do eʃtomago ʃe augmentavaõ , entendeo que todo o remedio etaʃva nas ʃangrias , & aʃʃim foi ʃangrando , & mais ʃangrando , & tornando a ʃangrar , atè que o doente cahio em deʃmayos
179 Obervação. XXX. crates { 2. )diz que quem quizer ter faude, ha de comer pouco, & trabalhar muito: & o Ecclefiaftes (3.) diz que nos naõ entreguemos muito às iguarias, porque nellas acharemos as enfermidades i& verdadeiramen- te nao fao tantos os que morrem aos fios da efpada, quantos os que perdem a vida pelos exceffos da gula; (4.) efta he a que abrevia os annos, (5. ) a que faz a got- ta, a que caufa as parlefias , apoplexias , eftillicidios, febres, convulfoes ; efta a que embota o juizo ; (6. ) & finalmente efta he a may de quafi todas as doenças, como fe deixa ver ; pois pela mayor parte eftas , & ou- tras enfermidades fe achaõ naquellas peffoas ; quenao vivem mais que para comer : & pelo contrario raras vezes vemos enfermar aos que comem pouco; porque, como diz Riverio, (7.) a fobriedade, & parfimonia no. comer he caufa da faude , & de prolongar a vida. E quanto ao grande erro que fazem os que fangrao nas febres, que procedem de enchimento de eftomago, fem primeiro purgar , fe confirma com o feguinte ca- .fo. ·2. Em dezafeis de Mayo de 1667. (fendo alta noi- te) fui chamado para acudir a Manoel Pedro , que ef- tava efpirando , fem falla, fem acordo, com pulfos defiguaes, & com huma febre ardentifima : & per- guntando eu aos afiftentes pelas queixas daquelle en- fermo, me refponderaõ que erao de grande pejo no. eftomago , amargores de boca, vontades de vomitar, & ancias de coraçaõ taõ grandes , que naõ cabia na ca- ma ; o que tudo lhe procedera das muitas iguarias, que tinha comido em hum banquete: o que fe verifi- cava, porque poucas horas depois de fahir delle o af- ·faltàraõ as queixas referidas com huma febre de taõ defmedida grandeza, que no dia feguinte o fangràra o barbeiro, fem que precedeffe ordem, ou contelho de - Medico; & vendo o barbeiro que a febre, as ancias, . os' defejos de vomitar , as queixas do eftomago fe aug- :mentavaõ, entendeo que todo o remedio eftava nas fangrias , & affim foi fangrando, & mais fangrando, & tornando a fangrar , atè que o doente cahio em def- mayos -30 -2. 1
Qblervaca. XXX. 179 crates.f 2.)diz que quem quizer'ter faude,ha de comer pouco,&trabalhar muito: & o Ecclefiaftes(3.) diz que nos na entreguemos muito as iguarias , porque nellas acharemos as enfermidades:& verdadeiramen- te na fa tantos os que morrem aos.fs da éfpada, quantos s que perdem a vida pelos exceffos da gula; (4.)efta he a que abrévia os annos,(5.) a que faz a got- ta, a que caufa as parlefias , apoplexias , eftillicidios, febres, convulfots ; efta a que embota.o juizo ; (6. ) & finalmente efta he a may de quafi todas as. docncas , como fe deixa ver ; pois pela mayor parte eftas , & ou- tras enfermidades fe acha naquellas peffoas ; que na vivem mais que para comer : & pelocontrario raras vezes vemos enfermar aos que comcm pouco; porque, coino diz Riverio, (7.) a fobriedade, & parfimonia np .comer he caufa.da faude , & de prolongar a vida. E quanto aogrande erro que fazem os que fangraö nas fem primeiro purgar , fe confirma com o feguinte ca- 1o. Em dezafeis de Mayo dc 1667.(fendo alta noi. :2. te) fui chamado para acudir a Manoel Pedr ,que ef. tava efpirando , fem falla, fem acordo, com pulfos defiguaes, & com huma febre ardentiffima : & per- guntando euaos affiftentes pelas queixas daquelle en- fermo, me refpondera que éra de grandepejono. eftomago, amargores de boca, vontades de vmitar, & ancias de'coraca ta grandes, que na cabia na ca- ma ; o que tudo Ihe procedera das muitas iguarias, :que tinha comido em hum banquete: o que. fe veriff- -cava, porque poucas horas depois de fahir delle af- defmedidagrandeza, quc no diafeguinte o fangrara ..o barbeiro, fem que precedeffe ordem, ou confelho de -Medico, &vendo obarbeiro que a febre, as ancias, -os'defejos de vomitat , as queixas do eftomago fe aug- .:mentavao, entendeo que todo o reimedioeftava na* -fangrias, & affim foi fangrando, & mais fangrando, : & tornando a fangrar , atequc doentecahioem der- mayos
Dá Qblervação. XXX. 9 crates (2.)diz que quern quizer ter faude,ha de comer pouco, & trabalhar muito: & O Ecclefiaftes (3.) diz que nos naô entreguemos muito às iguárias , porque nellas acharemos as enfermidades:& verdadeiramen- te naó faó tantos os que morrem aos os da efpada, quantos Os que perdema vida pelos exceflos da gula; (4.) efta hea que abrevia os annos,(5.) a que faz a got- ta, a que caufa as parlefias , apoplexias , eftillicidios, febres, convulfoês ; efta a que embora o juizo ; (6.) & finalmente efta he amãy de quáfi todas às docnças, como fe deixa ver ; pois pela mayor parte eftas , & ou- tras enfermidades fe achaó naquellas peffoas ; que nao vivem mais que para comer: & pelo contrario raras vezes vemos enfermar aos que comem pouco; porque, como diz Riverio, (7.) 2 fobriedade, & parfimonia no « comer he caufa da fande , & de prolongar a vida. E quanto ao grande erro que fazem os que angraó nas febres, que procedem de enchimento de eltomago, fem primeiro purgai , fe confirma com o feguinte ca- a, EmdezafeisdeMayode 1667.(fendo alta hoi- te) fui chamado para acudir a Manoel Pedro que ef- tava elpirando , fem falla, fem acordo, com pulfos “defiguaes, & com huma febre ardentiffima : & per- gunrando eu aos afliftentes pelas queixas daquelle en- - “termo, me refponderaô que eraó de grande pejo no. . eftomago, amargores de boca, vontades de vomitar, ma 3e ancias de coraçao taó grandes, que na cabia na ca- ma ; o que tudo lhe procedêra das muitas iguárias, — : «que tinha comido em hum banquete: 6 que fe verifi= Cava, porque poucas horas depois de fahir delle oaf- ' faltãraó às queixas referidas com huma febre de taO “defmedida grandeza, que no dia feguinte o fangràra ..o barbeiro, fem que precedefle ordem, ou confelho de . Medico; & vendo obarbeiro que à febre, as ancias, .os' defejos de vomitar, as queixas do eftomago fe aug- Tmentavaõ, entendeo que todo o remedio eltava has fangrias, & aflim foi fangrando , & mais fangrando, & tornando a fangrar , atéque 6 doente calioem def- . - : Mmayos .
179 Observaç a0 XXX. crates (2.) diz que quem quizer ter saude, ha de comer pouco , & trabalhar muito : & o Ecclesiastes (3.) diz que nos naô entreguemos muito às iguarias, porque nellas acharemos as enfermidades: & verdadeiramen¬ te naon saon tantos os que morrem aos fios da espada, quantos os que perdem a vida pelos excessos da gula; (4.) esta he a que abrevia os annos,(5.) a que faz a got- ta, a que causa as parlesias , apoplexias , estillicidios, febres, convulsoës; esta a que embota o juizo; (6.) & finalmente esta he a may de quási todas as doenças, como se deixa ver; pois pela mayor parte estas , & ou- tras enfermidades se achaon naquellas pessoas, que naon vivem mais que para comer: & pelo contrario raras vezes vemos enfermar aos que comem pouco; porque, como diz Riverio, (7.) a sobriedade, & parsimonia no comer he causa da saude , & de prolongar a vida. E quanto ao grande erro que fazem os que sangraô nas febres, que procedem de enchimento de estomago, sem primeiro purgar, se confirma com o seguinte ca¬ so. Em dezaseis de Mayo de 1667. (sendo alta noi¬ te) fui chamado para acudir a Manoel Pedro , que es- tava espirando, sem falla, sem acordo, com pulsos desiguaes, & com huma febre ardentissima: & per¬ guntando eu aos assistentes pelas queixas daquelle en¬ fermo, me responderaon que eraon de grande pejo no estomago, amargores de bocą, vontades de vomitar, & ancias de coraçaon taon grandes, que naon cabia na ca- ma; o que tudo lhe procedèra das muitas iguarias, qque tinha comido em hum banquete: o que se verifi¬ cava, porque poucas horas depois de sahir delle o as¬ faltàraon as queixas referidas com huma febre de taon desmedida grandeza, que no dia seguinte o sangràra obarbeiro, sem que precedesse ordem, ou conselho de Medico; & vendo obarbeiro que a febre, as ancias, os desejos de vomitar, as queixas do estomago se aug¬ mentavaon, entendeo que todo o remedio estava nas sangrias, & assim foi sangrando, & mais sangrando, & tornando a sangrar, ate que o doente cahio em des- mayos
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180 Observações Medicas Doutrinaes. mayos taõ ʃyncopaes , que lhe tiràraõ a falla , & o conhecimento dos aʃʃiʃtentes . Ouvida etʃa informaçaõ , naõ pude deixar de enfurecerme vendo hum abʃurdo taõ barbaro , como foi o ʃangrar a hum homem , que enfermou de fartura , ʃem advertir que a febre procedia do enchimento que tinha no eʃtomago , & que por iʃʃo quanto mais o ʃangravaõ , tanto mais peyorava , & as ancias creʃciaõ , porque ʃe metiaõ nas veas as cruezas do eʃtomago , donde ʃe puderaõ aver tirado na meʃma noite como hu vomitorio de tres onças de agua benedicta vigorada , ou com duas onças de vinho emetico , ou (ʃe o doente tiveʃʃe medo aos vomitorios , como remedio odioʃo aos Portuguezes) com quatro onças de aʃʃucar roʃado de Alexandria ; mas que de taõ enorme erro , como foi o ʃangrar , etʃando o eʃtomago recheado de comer , naõ era taõ culpado o barbeiro , como os parentes do enfermo , pois fiavão de hum homem ignorante hum negocio de tanta importancia como he a vida , devendo chamar logo algus Medicos de mayor fama , porque ʃe aʃʃim o fizeraõ , indubitavelmente o purgariaõ logo , pois das cruezas , & carga de iguarias lhe ʃobrevieraõ a febre , & as mais queixas ; & ʃem embargo de que era já alta noite , me parecia que lhe deitaʃʃem logo hua ajuda de cinco onças de aʃʃucar maʃcavado , & ʃeis oitavas de diaprunis , & que no dia ʃeguinte chamaʃʃem alguns Medicos para ver ʃe concordavaõ comigo em que ʃe purgaʃʃe , como me parecia neceʃʃario . Deitouʃelhe a ajuda , & fez com ella oito curʃos , (evidente final da grande carga que tinha) & aliviou taõ viʃivelmente , que eʃtando ʃem falla , & ʃem acordo quando me chamaraõ , fallou , & conheceo a ʃua mulher , & mais parentes , em cujos deʃanimados corações reʃuʃcitáraõ as eʃperanças da vida , mas como o que ha de ʃer tem muita força , chamàraõ para ʃe ajuntar comigo dous Medicos inimigos capitaes das purgas , & muito mais inimigos dos vomitorios & aʃʃim taõ longe etiʃveraõ de renderʃe às minhas razões , nem aos textos que alleguei em abono da purga , que antes o mandáraõ ʃangrar mais . Oh Deos eterno ,
180 Observações Medicas Doutrinaes. mayos tao fyncopaes , que lhe tirarao a falla, & oco- nhecimento dos affiftentes. Ouvida efta informação, naõ pude deixar de enfurecerme vendo hum abfurdo tao barbaro, como foi o fangrar a hum homem , que enfermou de fartura, fem advertir quea febre proce- dia do enchimento que tinha no eftomago, & que por iffo quanto mais o fangravaõ , tanto mais peyoravà, & as ancias crefciao , porque fe metiao nas veas as cruezas do eftomago, donde fe puderaõ aver tirado na mefma noite com hű vomitorio de tres onças de agua benedicta vigorada, ou com duas onças de vinho eme- tico, ou (fe o doente tiveffe medo aos vomitorios, co- mo remedio odiofo aos Portuguezes ) com quatro on- ças de affucar rofado de Alexandria; mas que de tao · enorme erro, como foi o fangrar , eftando o eftomago recheado de comer, nao era taõ culpado o barbeiro, como os parentes do enfermo, pois fiavão de hum ho- mem ignorante hum negocio de tanta importancia como he a vida, devendo chamar logo algūs Medicos de mayor fama, porque fe affim o fizerao,indubitavel- mente o purgariao logo, pois das cruezas; & carga de iguarias lhe fobrevierao a febre, & as mais queixas; & fem embargo de que era já alta noite, me parecia que lhe deitaflem logo hua ajuda de cinco onças de affucar . mafcavado, & feis oitavas de diaprunis, & quenodia . feguinte chamaffem alguns Medicos para ver fe con, cordavaõ comigo em que fe purgaffe, como me pare- cia neceffario. Deitoufelhe a ajuda, & fez com ella oi- to curfos, (evidente final da grande carga que tinha) & aliviou tao vifivelmente, que eftando fem falla, & fem acordo quando me chamarao, fallou, & conhe- ceo a fua mulher , & mais parentes , em cujos defani- mados corações refufcitáraõ as efperanças da vidas mas como o que ha de fer tem muita força, chamarao para fe ajuntar comigo dous Medicos inimigos, capi- taes das purgas, & muito mais inimigos dos vomito- rios, & affim tao longe eftiverao de renderfe as minhas razões, nem aos textos que alleguei em abono da par- ga, que antes o mandarao fangrar mais. Oh Deoseter- no, : ! 1 1 1 1
1*o Obfervacoes Medicas Doutrinaes. mayos ta fyncopaes , que lhe tirara a falla ,..& oco- nhecimentö dos affiftentes. Ouvida efta informaca naö pude deixar de enfurecerme vendo humabfurdo ta barbaro, como foi o fangrar a hum homem , que enfermou de fartura, fem advertir quea febre proce- dia doenchimento que tinha no eftomago, & que por iffo quanto mais ofangrava , tanto mais peyorava, & as ancias crefcia , porque fe metia nas veas as cruezas do eftomago, dondefe pudera aver tirado na mefma noite com hü vomitorio de tres oncas de agua benedicta vigorada,ou com duas ongas de.vinho eme- tico, ou (fe o doente tiveffe medo aos vomitorios, co- moremedio odiofo aos Portuguezes ) com quatro on- 'gas de affucar rofado de Alexandria ; mas. que de ta enorme erro, como foi o fangrar , eftando o eftomag como os parentes do cnfermo, pois fiavao de hum ho. : mem ignorante hum negocio de tanta importancia coma he a vida, devendo chamar logo algus Medicos de mayor fama, porque fe affim o fizera,indubitavel- .mente o purgaria logo, pois das cruezas, &.carga . de iguarias lhe fobreviera a febre, & as mais queixas; & fem embargo de que era jä alta noite,me parecia que 1he deitaffem logo hüa ajuda de cinco oncas de affucar mafcavado,& feis oitavas de diaprunis , & que:ngdia feguinte chamaffem alguns Medicos. para ver fe con cordavao comigoem que fe purgaffe, como me pare- cia neceffario. Deitoufelhe aajuda, & fez com ella oi- .to.curfos, (evidente final dagrande carga que tinha) & aliviou ta vifivelmente, que eftandofem falla , & fem acordo quando me chamarao, fallou, &conke- ceo a fua mulher , & mais parentes, em.cujos defani- mados coracöes refufcitára as efperancas da vida mas.como o que ha de fer tem muita forca, chamara@ para.fe ajuntar comigo dous Medicos inimigos..capi-. taes .das purgas., & muito mais inimigos dos. vqmito- rios, & affim ta longe eftivera de renderfe as minhas razöcs, nem.aos textos que alleguei em abono da pur. ga,que antes o mandaraó fangrar inais: Oh Deoseter- no2
180 Obfervações Medicas Doutrinaes. .ga,que antes o mandáraô fangrar mais: Oh Deoserer- | mayos tao fyncopaes , que lhe tirâraõ a falla , & oce- nhecimento dos afliftentes. Ouvida efta informaçaõ, naõ pude deixar de enfurecerme vendo hum abfurdo taó barbaro, como foi o fangrar a hum homem ,-que enfermou dé fartura , fem advertir quea febre proces« dia do enchimento que tinha no eftomago, & que por iffo quanto mais ofangravaô , tanto mais peyoravi, “& as ancias crefciaôó , porque fe metiaô nas veas as cruezas do eftomago, donde fe puderaô aver tirado na mefma noite com há vómitorio de tres onças de agua benedi&ta vigorada,ou com duas onças de vinho eme- tico, ou (fe o doente tivefíle medo aos vomitorios, co- moremedio odiofo aos Portuguezes ) com quatro on- ças de aflucar rofado de Alexandria; mas que de ta& enorme erro, como foi o fangrar , eftando o eftomago recheado de comer , naó era taóô culpado o barbeiro, como os parentes do enfermo, pois fiavão de hum ho .mem ignorante hum negocio de tanta importancia coma he a vida, devendo chamar logo algúás Medicos de mayor fama, porque fe aflim o fizeraó,indubitavel- mente o purgariaô logo , pois das cruezas , & carga .de iguarias lhe fobrevieraõ a febre, & as mais queixas; & fem embargo de que era já alta noite,me parecia que lhe deitaflem logo húa ajuda de cinco onças de aflucar mafcavado , & feis oitavas de diaprunis , & quenodia feguinte chamaflem alguns Medicos para ver fe con cordavaô comigo em que fe purgafle , como me pare- cia neceffario. Deitoufelhe a ajuda, & fez com ella oi- tocurfos, (evidente final da grande carga que tinha) & aliviou taô vifivelmente, que eftando fem falla , & fem acordo quando me chamáraõ , fallou, & conhe- ceo a fua mulh e SPY mados corações refufcitáraô as efperaánças da vidas mas como o que ha de fer tem muita força, chamâfag para fe ajuntar comigo dous Medicos inimigos. capi+ tacs das purgas , & muito mais inimigos dos vomnito<« ' tios, & aflim tao longe eftiveraó de renderfe às minhas razões, nem aos textos que alleguei em abono da pur no, er , -& mais parentes, em cujos defani- * 4 mo
180 Observaçones Me dicas Doutrinaes. mayos taon syncopaes, que lhe tiràraon a falla, & oco¬ nhecimento dos assistentes. Ouvida esta informaçaon, naon pude deixar de enfurecerme vendo hum absurdo taon barbaro, como foi o sangrar a hum homem, que enfermou de fartura, sem advertir que a febre proce- dia do enchimento que tinha no estomago, & que por isso quanto mais o sangravaon, tanto mais peyoravâ, & as ancias cresciaon, porque se metiao nas veas as cruezas do estomago, donde se puderaon aver tirado na mesma noite com hum vomitorio de tres onças de agua benedicta vigorada, ou com duas onças de vinho eme- tico, ou (se o doente tivesse medo aos vomitorios, co- mo remedio odioso aos Portuguezes ) com quatro on- ças de assucar rosado de Alexandria; mas que de tao enorme erro, como foi o sangrar , estando o estomago recheado de comer, nao era taô culpado o barbeiro, como os parentes do enfermo, pois fiavano de hum ho¬ mem ignorante hum negocio de tanta importancia como he a vida, devendo chamar logo alguns Medicos de mayor fama, porque se assim o fizerao, indubitavel- mente o purgariaon logo, pois das cruezas, & carga de iguarias lhe sobrevieraon a febre, & as mais queixas; & sem embargo de que era jà alta noite, me parecia que Ihe deitassem logo huma ajuda de cinco onças de assucar mascavado, & seis oitavas de diaprunis, & que no dia seguinte chamassem alguns Medicos para ver se cong cordavaon comigo em que se purgasse , como me pare- cia necessario. Deitouselhe a ajuda, & fez com ella oi- to cursos, (evidente sinal da grande carga que tinha) & aliviou tao visivelmente, que estando sem falla , & sem acordo quando me chamárao , fallou , & conhe- ceo a sua mulher, & mais parentes, em cujos desani- mados coraçones resuscitaraon as esperanças da vida; mas como o que ha de ser tem muita força, chamàtaon para se ajuntar comigo dous Medicos inimigos capi¬ taes das purgas, & muito mais inimigos dos vomito¬ rios, & assim taon longe estiveraon de renderse às minhas razones, nem aos textos que alleguei em abono da pur¬ ga, que antes o mandárao sangrar mais. Oh Deos eter- no,
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Observaçaõ XXX. 181 no , até quando permitireis que dure alguns Medicos tanta cegueira , & tanta crueldade contra huma obra das voʃʃas mãos ? Vendo pois eu a teimoʃa obʃtinaçaõ dos taes remedios , & que as minhas razões naõ eraõ baʃtantes para rendellos , me quiz deʃpedir ; mas o grande alivio que o doente ʃentio com a ajuda , & as concludentes razões , com que moʃtrei a neceʃʃidade que tinha de ʃer purgado , ʃatisfizeraõ de ʃorte ao doente , & a ʃeus parentes , que todos me pediraõ o naõ deʃemparaʃʃe , pois tinha cobrado tanta opiniaõ da minha peʃʃoa . Obrigado deʃtes rogos , & compadecido de ver que ʃe o naõ purgaʃʃem morreria , tornei a pedir aos ʃobreditos Medicos ʃe lembraʃʃem que aquelle enfermo avia eʃtado em hum banquete no qual naõ tiveraõ numero as iguarias : que era recem caʃado com mulher moça , & fermoʃa : que tinha o eʃtomago muito cheyo com grande amargores de boca , & deʃejos de vomitar : & que das ʃangrias naõ aviaõ tirado fruto , antes com ellas creʃcèraõ todas as queixas muito ; & ʃobretudo advertiʃʃem no alivio que tivera com a ajuda , que lhe mandei deitar & no muito que obràra com ella ; o que tudo arguhia grande carga de cruezas , & grande neceʃʃidade de deʃpejallas ; & que ʃe a nenhuma razão deʃtas quizeʃʃem attender , ʃeguiʃʃem os conʃelhos , & preceitos de Galeno , (8.) de Avicenna , (9.) de Paulo Gineta , (10.) & de infinitos Doutores , que todos uniformemente condemnaõ as ʃangrias nos enchimentos , & cruezas do eʃtomago , & mandaõ continuar os remedios , quando aproveitaõ , & fugir delles , quando damnificaõ , (11.) Nenhũa perʃuaʃaõ deʃtas foi baʃtante para reduzir a inflexibilidade dos ʃobreditos Medicos , porque lhes pareceo que era menoʃcabo de ʃuas peʃʃoas eʃtar pelo conʃelho de hum Medico moderno , como ʃe foʃʃe incompativel o ʃaber com a mocidade , ou impoʃʃivel o ʃer ignorante com a velhice : proteʃtei pois aos taes Medicos , & aos parentes do enfermo , que ʃe o ʃangraʃʃem mais , morreria antes de tres dias ; & ʃuccedeo como eu o diʃʃe , porque ʃangrando-o mais quatro
181 Obfervação. XXX. "no, até quando permitireis que dure em alguns Me+ dicos tanta cegueira, & tanta crueldade contra hu- ma obra das voffas mãos? Vendo pois eu a teimofa obftinaçaõ dos taes remedios, & que as minhas ra- zões nao eraõ baftantes para rendellos, me quiz def- pedir ; mas o grande alivio que od ente fentio com a ajuda, & as concludentes razões, tom que moftrei a neceffidade que tinha de fer purgado, fatisfizerao de forte ao doente, & a feus parentes, que todos me pe- diraoso nao defemparaffe, pois tinha cobrado tanta opiniao da minha peffoa. Obrigado deftes rogos, & compadecido de ver que fe o naõ purgaffem morre- ria, tornei a redir aos fobreditos Medicos fe lembraf- fem que aquelle enfermo avia eftado em hum ban- quete, no qual naõ tiveraõ numero as iguarias : que era recem cafado com mulher moça, & fermofa : que tinha o eftomago muito cheyo com grandes amargo- res de boca, & defejos de vomitar : & que das fan- grias naõ avião tirado fruto, antes com ellas crefcèraõ todas as queixas muito ; & fobretudo advertiffem no alivio que tivera com a ajuda, que lhe mandei deitar, & no muito que obràra com ella ; o que tudo arguhia grande carga de cruezas, & grande neceffidade de def- pejallas ; & que fe a nenhuma razão deftas quizeffent attender , feguiffem os confelhos , & preceitos de Ga- leno, (8. )de Avicenna, (9.) de Paulo Gineta , (10.) & de infinitos Doutores, que todos uniformemente con- demnaõ as fangrias nos enchimentos,& cruezas do ef- tomago , & mandao continuar os remedios , quan- do aproveitaõ , & fugir delles, quando damnificao. (11.) Nenhua perfuafao deftas foi baftante para redu- zir a inflexibilidade dos fobreditos Medicos , porque lhes pareceo que era menofcabo de fuas peffoas eftar pelo confelho de hum Medico moderno, como fe fof- fe incompativel o faber com a mocidade, ou impoffi- vel o fer ignorante com a velhice : proteftei pois aos taes Medicos, & aos parentes do enfermo, que fe o fangraffem mais, morreria antes de tres dias; & fucce- deo como eu o diffe, porque fangrando-o mais qua- É. . tro 1 *
Obfervacao. XXX. 1&1 no, até quando permitireis que dure em alguns Me dicos tanta cegueira, & tantacrueldade contra hu- ma obra das voffas maos?. Vendo pois eu.a teimofa obftinaca dos taes renedros, & que as minhas ra- zöes naó eraö baftantes para rendelfos, me quiz def- pedir ; mas o grande alivio que o d :nte fentiocoma ajuda, & as concludentes razoes, tom que moftrei a neceffidade que tinha de fer purgado, fatisfzera de forte ao doente, & a feus parentes, que todos me pe- dira.ona defemparaffe, pois tinha cobrado tanta opinia da minha peffoa. brigado deftes rogos, & compadecido de ver que fe na purgaffem morre? ria , tornei a redir aos fobreditos Medicos fe lembraf- fem que aquelle enfermo avia eftado em hum ban- quete, no qual na tivera numero as iguarias : que .era recein cafado com mulher moga, & fermofa : que tinha o cftomago muito cheyo com grandes amargo- res de boca, & defejos devomitar : & que das fan- grias na aviao tirado fruto, antes comellas crefcera todas as queixas muito; & fobretudo advertiffem no alivi que tivera com a ajuda, que lhe mandei deitar, & no muitoque obrara com élla ; o que. tudoarguhia grande carga de cruezas,& graride neceffidade de def- pejallas ; & que fe a nenhuma razao deftas quizeffeni attender , feguiffem os confelhos, & preceitos de Ga- leno,(8.)de Avicenna, (9.) de PauloGineta , (10.) & demna as fangrias nos enchimentos,& cruezas do ef- tomago , & mandao continuar os remedios , quan- do aproveita , & fugir delles, quand damnifica. (1 1.) Nenhua perfuafa deftas foi baftante para redú- zir a inflexibilidade dos fobreditos Medicos , porque Thes pareceo que era menofcabo de fuas peffoas. eftar pelo confelho de hum Medico moderno, como fe fof fe incompativel ofaber com a mocidade , ou impoffi- vel o fer ignorante com a velhice : proteftei pois aos taes Medicos, & aos parentes do enfermo, que fe o fangraffem mais, morreria antes de tres dias, & fucce- deo como eu o diffe, porque fangrando-o mais qua- tro
"= Obfervaçaão. XXX. 183 no, até quando permitireis que dure em alguns Mes dicos tanta cegueira, & tanta crueldade contra hu mma obra das voflas mãos? Vendo pois eu .ateimofa obítinaçaõ dos taes remedfos , & que as minhas ra: zões naô eraô baftantes para rendellos, me quiz def: pedir; mas o grande alivio queod nte fentiocomá ajuda, & as concludentes razões , toni que moítrei à neceflidade que tinha de fer purgado,, fatisfizeraó de forte ao doente , & a feus parentes , que todos me pe- diraõeo nao defemparaífe , pois tinha cobrado tanta 'opiniaô da minha peffoa. Obrigado deftesrogos, & compadecido de ver que feo naô purgaflem morre? ria , tornei a pedir aos fobreditos Medicos fe lembraf- fem que aquelle enfermo avia eftado em hum -ban- uete, no qual naô tiveraô numero as iguarias: que : le, q era recem cafado com mulher moça, & fermofa: que tinha o eftomago muito cheyo com grandes amargo- res de boca, & defejos de vomitar : & que das F grias naó avião tirado fruto, antes com ellas crefcêraõ todas as queixas muito ; & fobretudo advertiflem no alivio que tivera com a ajuda , que lhe mandei deitar, & no muito que obràra com ella ; o que tudo arguhis grande carga de cruezas,& graride neceflidade de def- pejallas ; & que fe a nenhuma rázão deftas quizeflem ' attender , feguiflem os confelhos , & preceitos de Ga- leno, (8.)de Avicenna, (9.) de Paulo Gineta , (10.) & de infihitos Doutores, que todos uniformemente con- dempnaóõ as fangrias nos enchimentos,& cruezas do ef- tomago , & mandaõ continuar os remedios , quan- do aproveitaô , & fugir delles, quando damnificaõ, (11.) Nenhãa perfuafaô deftas foi baftante para redú= zir a inflexibilidade dos fobreditos Medicos , porque lhes pareceo que era menofcabo de fuas pefloas efa pelo confelho de hum Medico moderno, como fe fof- de incompatível o faber com a mocidade, ou impoffi- vel ofer ignorante com a velhice: proteítei pois aos taes Medicos, & aos parentes do enfermo, que fe o fanoraflem mais, morreria antes de tres dias; & Íucce- * deo comoeuodifle, porque fangrando-o mais qua- tro
Observaçaon XXX. 181 no, até quando permitireis que dure em alguns Me- dicos tanta cegueira, & tanta crueldade contra hu¬ ma obra das vossas mamos? Vendo pois eu a teimosa obstinaçaon dos taes remedios, & que as minhas ra¬ zones naon eraon bastantes para rendellos, me quiz des¬ pedir; mas o grande alivio que od ente sentio com a ajuda, & as concludentes razones, tom que mostrei a necessidade que tinha de ser purgado , satisfizeraon de sorte ao doente, & a seus parentes, que todos me pe- diraoneo naon desemparasse, pois tinha cobrado tanta opiniaon da minha pessoa. Obrigado destes rogos, & compadecido de ver que se o nao purgassem morre- ria , tornei a pedir aos sobreditos Medicos se lembras- sem que aquelle enfermo avia estado em hum ban¬ quete, no qual naon tiveraon numero as iguarias: que era recem casado com mulher moça, & fermosa: que tinha o estomago muito cheyo com grandes amargo res de boca, & desejos de vomitar: & que das san- grias naon aviamo tirado fruto, antes com ellas crescèradn todas as queixas muito; & sobretudo advertissem no alivio que tivera com a ajuda, que lhe mandei deitar. & no muito que obràra com ella; o que tudo arguhia grande carga de cruezas, & grande necessidade de des- pejallas; & que se a nenhuma razamo destas quizessem attender, seguissem os conselhos , & preceitos de Ga- leno, (8.) de Avicenna, (9.) de Paulo Gineta, (10.) & de infinitos Doutores, que todos uniformemente con¬ demnaon as sangrias nos enchimentos, & cruezas do es¬ tomago, & mandaô continuar os remedios, quan¬ do aproveitaon , & fugir delles, quando damnificaon. (11.) Nenhuma persuasaon destas foi bastante para redu¬ zir a inflexibilidade dos sobreditos Medicos, porque Ihes pareceo que era menoscabo de suas pessoas estar pelo conselho de hum Medico moderno, como se fos- se incompativel o saber com a mocidade, ou impossi- vel o ser ignorante com a velhice: protestei pois aos taes Medicos, & aos parentes do enfermo, que se o sangrassem mais, morreria antes de tres dias; & succe¬ deo como eu o disse, porque sangrando-o mais qua¬ tro
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182 Observações Medicas Doutrinaes tro vezes , acabou a vida com grande perda da ʃua caʃa , & afronta vergonhoʃiʃʃima dos dous Medicos , que por ignorancia , ou teima naõ quizeraõ admitir as minhas advertencias , dando por razão que os humores eʃtavão crus , & incapazes para ʃe purgar . Eʃta repoʃta , diz Valeʃio , (12.) que he de homẽs rudes , & não de Medicos letrados ; porque naõ ha regra na Medicina , como diz Valhes , que naõ tenha ʃuas excepções , & eʃte era o caʃo em que he arte afaʃtarse da arte . (13.) Eis-aqui os damnos que fazem as ʃangrias nos enchimentos do eʃtomago , pois delle cheyo de alimento ʃe ʃeguem as corrupções , & fuligens podres , que ʃubindo ao coraçaõ fazem febre , & ʃubindo à cabeça fazem dores , delirios , convulʃoẽs , & apoplexias , pela grande communicaçaõ que eʃtes membros tem entre ʃi , donde ʃe ʃegue morrerem alguns , porque os naõ purgam , & ʃararem outros , porque os purgàrão com hum vomitorio , que neʃte caʃo louva muito o doutiʃʃimo Valhes . (14.) 3. Aprendaõ pois daqui os Medicos modernos a naõ ʃangrar eʃtando o eʃtomago cheyo de comer , ou carga de humores na primeira regiaõ , ʃem purgar primeiro com hum vomitorio de agua benedicta , ou com hũa purga alviduca , por mais que a febre , & as cruezas pareçaõ q o prohibem ; porque ʃuccede muitas vezes , que limpo o eʃtomago dos humores , que ʃaõ cauʃa da febre , & dos ʃymptomas , que a acompanhaõ , ʃe tire no meʃmo dia ; & no caʃo que ʃe naõ tire logo , baʃtaráõ poucas ʃangrias para a tirar , & ʃem a purga naõ baʃtariaõ muitas . Aʃʃim obʃervei em alguns doentes , a quem livrei da morte dandolhes hum vomitorio , ou huma purga no primeiro dia , em que adoecèraõ . Peço muito aos barbeiros , que curaõ em aldeas , & terras aonde naõ ha Medico , ou a peʃʃoas taõ pobres que o naõ podem ter , que quando forem chamados para curar a algum doente , ʃe informem primeiro ʃe o tal doente he muito comilaõ , ʃe ʃente pejo no eʃtomago , ʃe tem deʃejos de vomitar , ou amargores de boca ; (15.) ʃe he mui falto de exercicio , & dado à vida deʃ-
182 Obfervações Medicas Doutrinaes. tro vezes , acabou a vida com grande perda da fua cafa, & afronta vergonhofiffi ma dos dous Medicos, que por ignorancia , ou teima nao quizerao admi- tir as minhas advertencias, dando por razão que os humores eftavão crus, & incapazes para fe purgar. Ef- ta repofta, diz Valefio, (12. ) que he de homes rudes, & não de Medicos letrados ; porque nao ha regra na Medicina, como diz Valhes, que naõ tenha fuas ex- cepções, & efte era o cafo em que he arte afaftarfe da arte.(13.)Eis-aqui os damnos que fazem as fangrias nos enchimentos do eftomago, pois delle cheyo de. alimento fe feguem as corrupções, & fuligens podres, que fubindo ao coraçaõ fazem febre , & fubindo à ca- beça fazem dores , delirios, convulfoes, & apople- xias , pela grande communicaçaõ que eftes membros tem entre fi, donde fefegue morrerem alguns, por -. que os nao purgam , & fararem outros, porque os pur- gàrão com hum vomitorio, que nefte cafo louva mui -. to o doutiffimo Valhes. (14.) 3. Aprendaõ pois daqui os Medicos modernos a nao fangrar eftando o eftomago cheyo de comer, ou carga de humores na primeira regiaõ, fem purgar pri- meiro com hum vomitorio de agua benedicta, ou com hua purga alviduca, por mais que a febre, & as cruezas pareçaõ q o prohibem ; porque fuccede muitas vezes, que limpo o eftomago dos humores, que faõ caufa da febre , & dos fymptomas , que a acompanhao, fe tire no mefmo dia ; & no cafo que fe naõ tire logo, bafta- ráõ poucas fangrias para a tirar, & fem a purga naő baftariao muitas. Affim obfervei em alguns doentes, a quem livrei da morte dandolhes hum vomitorio, ou huma purga no primeiro dia, em que adoecèraő. Pe- ço' muito aos barbeiros, que curaõ em aldeas, & ter- ras aonde nao ha Medico, ou a peffoas taõ pobres que o nao podem ter, que quando forem chamados para curar a algum doente, fe informem primeiro feo tal doente he muito comilao, fe fente pejo no eftomago, fe tem defejos de vomitar, ou amargores de boca; ( 15.) fe he mui falto de exercicio , & dado à vida def- .
182 Obfervacoes Me dicas Doutrinaes. tro vezes , acabou a vida com grande perda dafua cafa, & afronta vergonhofiffima dos dous Medicos, que por ignorancia , ou teima na quizera admi- tir as minhas advertencias, dando por razao que os humores eftavao crus,& incapazes parafe purgar. Ef- ta repofta , diz Valefio , (12.) que he de homés rudes, & naode Medicos letrados ; porque naö ha regra na Medicina, como diz Valhes, que nao tenha fuas ex- cepcoes, &'efte era o cafo em que he arte afaftarfe da arte.(13.)Eis-aqui os damnos quefazem as fangrias nos enchimentos do eftomago, pois delle cheyo de alimentofe feguem as corrupces,& fuligens podres, quefubindo ao coraca fazem febre, & fubindo a ca- beca fazem dores , delirios, convulfos, & apople- xias, pela grande communicaca que eftts.membros tem entrefi, donde fefegue morrerem alguns, por-- queos na purgam , & fararem outros, porque os pur- garao com hum vomitorio , que nefte cafo louva mui-. to o doutiffimo Valhes. (14.) naö fangrar eftando o eftomago cheyo de comer, ou carga de humores na primeira regia, fem purgar pri- meiro com hum vomitorio de agua benedicta,ou com hua purga alviduca,por mais que afebre, & as'cruezas parecaö o prohibem ; porquefuccede muitas vezes, que limpo o eftomago dos humores, que fao caufa da febre,& dos fymptomas, que a acompanha, fe tire. no mefmo dia ; & no cafo que fe na tire logo, bafta- rá poucas fangrias paraatirar , & fem a purga na baftaria muitas. Affim obfervei em alguns doentes, 'a quem livrei da morte dandolhes hum vomitorio, ou huma purga no primeiro dia , em que adoecera. Pe- co muito aos barbeiros, que cura em aldeas , & ter- ras aonde na ha Medico , ou a peffoas ta pobres que o naö podem ter , que quando forem chamados para curar a algum doente, fe informem primeiro feotal fe tem defejos de vomitar, ou amargores de boca; (15.) fe he mui falto de exercicio , & dado a vida def-
sos 182 Obfervações Me dicas Doutrinaes. tro vezes , acabou a vida com grande perda dafua cafa, & afronta-vergonhofiflima dos dous Medicos, que por ignorancia , ou teima naõ quizeraô admi- tir as minhas advertencias, dando por razão que os humores eftavão crus,& incapazes para fe purgar. Ef« ta repofta, diz Valefio, (12.) que he de homês rudes, & não de Medicos letrados ; porque naóô ha regra na Medicina, como diz Valhes, que naó tenha fuas ex- cepções, & efte era o cafo em que he arte afaftarfe da arte.(13.)Eis-aqui os damnos que fazem as fangrias nos enchimentos do eftomago , pois delle cheyo de. alimento fe feguem as corrupções,& fuligens podres, que fubindo ao coraçaõ fazem febre, & fubindo à ca- beça fazem dores , delirios, convulfoês, & apoples xias, pela grande communicação que eftes membros tem entrei, donde fefegue morrerem alguns, por- que os naô putgam , & fararem outros, porque os pur- - gârão com hum vomitorio, que nefte cafo louva mui-. to o doutiffimo Valhes. (14. | 3. —Aprendaõ pois daqui os Medicos modernos a nao fangrar eftando o eftomago cheyo de comer, ou carga de humores na primeira regiaô, fem purgar pri- meiro com hum vomitorio de agua benediéta, ou com hãa purga alviduca,por mais que a febre, & as cruezas pareçaõô d o prohibem ; porque fuccede muitas vezes, que limpo o eftomago dos humores, quefaócanfa da | | ebre , & dos fymptomas, que aacompanhaõ, fe tire — no mefmo dia ; & no cafo que fe naó tire logo , bafta- ráô poucas fangrias para atirar, & fem a purga naó baftariaô muitas. Affim obfervei em alguns doentes, — a quem livrei da morte dandolhes hum vomitorio, ou huma purga no primeiro dia , em que adoecêraó. Pe- ço muito aos barbeiros , que curaó emaldeas , & ter- ras aonde naô ha Medico, ou 4 pefloas taô pobres que o naó podem ter , que quando forem chamados para curar a algum doente , fe informem primeiro feo'tal. doente he muito comilaô , fefente pejo no eftomago, "fe tem defejos de vomitar, ou amargores de boca; = (15.) fe he mui falto de exercicio , & dado à vida : & : def= ”
182 Observaçones Me dicas Doutrinaes. tro vezes, acabou a vida com grande perdà da sua casa, & afronta vergonhosissi ma dos dous Medicos que por ignorancia, ou teima naô quizeraon admi¬ tir as minnas advertencias, dando por razamo que os humores estavamo crus, & incapazes para se purgar. Es¬ ta reposta, diz Valesio, (12.) que he de homens rudes, & nao de Medicos letrados; porque nao ha regra na Medicina, como diz Valhes, que nao tenha suas ex- cepçones, & este era o caso em que he arte afastarse da arte. (13.) Eis-aqui os damnos que fazem as sangrias nos enchimentos do estomago, pois delle cheyo de alimento se seguem as corrupçones, & fuligens podres, que subindo ao coraçaon fazem febre , & subindo à ca- beça fazem dores, delirios, convulsoës, & apople¬ xias, pela grande communicaçaôn que estès membros tem entre si, donde se segue morrerem alguns, por- que os naon purgam, & sararem outros, porque os pur¬ gàramo com hum vomitorio, que neste caso louva mui¬ to o doutissimo Valhes. (14. Aprendaon pois daqui os Medicos modernos a naon sangrar estando o estomago cheyo de comer, ou carga de humores na primeira regiaôn, sem purgar pri¬ meiro com hum vomitorio de agua benedicta, ou com huma purga alviduca, por mais que a febre, & as cruezas pareçaon que o prohibem; porque succede muitas vezes, que limpo o estomago dos humores, que saon causa da febre, & dos symptomas, que a acompanhao, se tire no mesmo dia ; & no caso que se nao tire logo , basta- raon poucas sangrias para a tirar, & sem a purga naon bastariaon muitas. Assim observei em alguns doentes, a quem livrei da morte dandolhes hum vomitorio, ou huma purga no primeiro dia, em que adoecèrao. Pe¬ ço muito aos barbeiros, que curao em aldeas, & ter¬ ras aonde naon ha Medico, ou a pessoas taon pobres que o nao podem ter, que quando forem chamados para curar a algum doente, se informem primeiro se o tal doente he muito comilao , se sente pejo no estomago, se tem desejos de vomitar, ou amargores de boca; (15.) se he mui falto de exercicio, & dado à vida des¬
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Observaçaõ XXX. 183 deʃcanʃada , & regalona , ʃe he caʃado de poucos dias , ou muito dado a mulheres , porque ʃe tiver alguma couʃa destas , o matarà , quem o ʃangrar , ʃem primeiro lhe limpar o eʃtomago com huma purga vomitiva , ou alvidejectoria . Tambem ʃe informará ʃe o doente he muito penitente , ou demaʃiadamente eʃtudioʃo , ou trabalhador , ou ʃe lhe falta o comer a ʃeu tempo ; porque a eʃtas taes peʃʃoas gaʃtadas , & exhauʃtadas das forças , às matarà naõ ʃó quem as ʃangrar , mas tambem quem as purgar ; & por iʃʃo , aindaque tenhaõ febre , ʃe lhes naõ ha de fazer mais remedio , que darlhes bons alimentos , prohibirlhes as penitencias , & retirallas do eʃtudo , & trabalho . Paʃmaria o mundo ʃe eu nomeaʃʃe aqui as muitas peʃʃoas , que vi morrer , porque as ʃangràraõ , tendo feito alguns exceʃʃos com mulheres, ou com estudo, ou trabalho, ou tendo os eʃtomagos taõ cheyos de comer , & coleras , que as eʃtavaõ vomitando : mas não he licito nomear os que fizeraõ etʃes abʃurdos ; eu me contento com deixar eʃtas advertencias aos vindouros : nem eu eʃcrevo eʃtas couʃas para offender a alguem ; eʃcrevo-as fim para aproveitar a todos . 4. Duas couʃas muito importantes advirto aos ʃenhores Medicos : A primeira , que naõ deʃprezem os votos dos mais moços , aindaque lhes pareça que ʃaõ menos doutos , porque muitas vezes permite Deos que acerte melhor o que era tido em menor conta : reparem em que a materia de que trata he a vida do homem : aprendaõ de Antonio Ponce de Santa Cruz , (16.) que ʃendo hum dos mayores Medicos , que ouve no ʃeu ʃeculo , dizia as ʃeguintes palavras : Renego do Medico teimoʃo , & inflexivel : muitas vezes me aconteceo ouvir aos meus diʃcipulos , (elles o ʃabem , ) & cuido que Deos lhes póde dar a luz para o acerto , que me negou a mim pela minha ʃoberba : eu tomo o conʃelho de quem quer que mo dà , com tanto que o doente ʃe cure bem . Eʃtas palavras ʃaõ de hum Medico Catholico , ouçaõ agora as de Hippocrates (17.) ʃendo gentio ; diz elle : Ninguem ʃe envergonhe de aprender , & perguntar alguma couʃa pro-
Obfervaçaõ XXX. 183 defcanfada, & regalona, fe he cafado de poucos dias, ou muito dado a mulheres, porque fe tiver alguma coufa deftas , o matarà, quem o fangrar, fem primeiro lhe limpar o eftomago com huma purga vomitiva, ou alvidejectoria. Tambem fe informara fe o doente he muito penitente, ou demafiadamente eftudiofo, ou trabalhador, ou fe lhe falta o comer a feu tempo; por- que a eftas taes peffoas gaftadas, & exhauftadas das forças, às matarà nao fo quem 'as fangrar, mas tam- bem quem as purgar ; & por iffo , aindaque tenhao fe- bre , fe lhes nao ha de fazer mais remedio, que dar- lhes bons alimentos, prohibirlhes as penitencias, & retirallas do eftudo, & trabalho. Pafmaria o mundo fe eu nomeaffe aqui as muitas peffoas , que vi morrer, porque as fangràraõ, tendo feito alguns exceffos com mulheres , ou com eftudo, ou trabalho, ou tendo os eftomagos tao cheyos de comer , & coleras, que as ef- tavaõ vomitando : mas não he licito nomear os que fi- zerao eftes abfurdos ; eu me contento com deixar ef- tas advertencias aosvindouros : nem eu efcrevo eftas coufas para offender a alguem ; efcrevo-as fim para aproveitar a todos. 4. Duas coufas muito importantes advirto aos fe- nhores Medicos : A primeira, que nao defprezem os votos dos mais moços, aindaque lhes pareça que fao menos doutos, porque muitas vezes permite Deos que acerte melhor o que era tido em menor conta: re- parem em que a materia de que trata he a vida do ho- mem : aprendaõ de Antonio Ponce de Santa Cruz, (16.) que fendo hum dos mayores Medicos , que ouve no feu feculo , dizia as feguintes palavras; Renego do Medico teimofo, & inflexivel : muitas vezes me aconte- ceo ouvir aos meus dificipulos, (elles o fabem,) & cuido que Deos lhes pode dar a luz para o acerto, que me negou a mim pela minha foberba: eu tomo o confelho de quem quer que mo da , com tanto que o doente fe cure bem. Eftas pa- lavras fao de hum Medico Catholico, ouçao agora as de Hippocrates (17.) fendo gentio; diz elle : Ninguem fe envergonbe de aprender , & perguntar alguma coufa pro- ?
Obfervacao XXX. . 1*3 defcanfada, & regalona, fe he cafado de poucos dias; ou muito dado a mulheres, porque fe tiver alguma coufa deftas , o matara, quem ö fangrar, fem primeir Ihe limpar o eftomago com huma purga vomitiva, ou alvidejectoria. Tambem fe informara fe o doente he muito pénitente , ou demafiadamente eftudiofo, ou trabalhador, ou fe lhe falta o comer a feu tempo; por- que aeftas taes peffoas gaftadas, & exhauftadas das forcas , as matara na f6 quem as fangrar, mas tam- bem quemas purgar ; & por iffo, aindaque tenha fe- bre , fe lhes nao ha de fazer mais remedio, que dar- Thes bons alimentos, prohibirlhes as penitencias, & rctirallas doeftudo, & trabalho. Pafmaria omundo fe eu nomeaffe aqui as muitas peffoas , que vi morrer, porque as fangrara , tendo feito alguns exceffos com mulheres , ou com eftudo, ou trabalho, ou tendo os eftomagos ta cheyos de comer , & coleras, que as ef- tavaö vomitando : mas nao he licito nomear os que fi- zera éftes abfurdos ; eu me contento com deixar ef- tas advertencias aosvindouros : nem eu efcrevo eftas coufas para offender a alguem ; efcrevo-as fimpara aproveitar a todos. : 4. Duas coufas muitoimportantes advirt aos fe- nhores Medicos : A primeira,quena defprezem os .votos dos mais mocos, aindaque lhes pareca que fa menos doutos, porque muitas vezes permite Deos parem em que a materia de que trata he a vida do ho- mem : aprendao de Antonio Ponce de Santa Cruz, (16.) que fendo hum dos mayores Medicos, que ouve no feu feculo, dizia as feguintes palavras: Renego do Medico teimo/o, ds inflexivel : muitas vezes. me aconte- ceo ouvir aos meus diftipulos,(elles o/abem,) d:cuido que Deos lhespóde dar a luz para o acerto, que me negou a mim pela minba foberba: cu tomo o confelbo de quem quer que mo da , com tanto que o doente fe cure bem. Eftas pa- lavras fa de hum Medico Catholico , uga agora as de Hippocrates (17:) fendo gentio; diz elle : Ninguem fe envergonbe de aprender s. & perguntar alguina coufa pre-
— feeunvergonhe de aprender, & perguntar alguma voufa Obfetvaçõão XXX . 183 defcanfada, & regalona , fe he cafado de poucos dias; ou muito dado a mulheres, porque fe tiver alguma coufa deftas , o matarà, quem o fangrar, fem primeiro lhe limpar o eftomago com huma purga vorhitiva, ou alvidejed&toria. Tambem fe informara fe o doente he muito penitente, ou demafiadamente eftudiofo, ou trabalhador, ou fe lhe falta o comer a feutempo; por+ que acelftas taes pefloas gaftadas, & exhauftadas das . forças, às matarà nao (ó quem 'as fangrar, mas tam- bem quemas purgar ; & por illo , aindaque tenhaõ fe- bre , telhes nao ha de fizer mais remedio, que dar- - lhes bons alimentos, prohibirlhes as penitepcias, & = . retirallas do eftudo, & trabalho. Paímaria omundo fe eu nomeafle aqui as muitas pefloas , que vi morrer, porque as fangrãraõô, tendo feito alguns exceflos com mulheres , ou com eftudo , ou trabalho, ou tendo os eftomagos taô cheyos de comer , & coleras, que as ef- tavaô vomitando : mas não he licito nomear.os que fi- zeraó Eltes abfurdos ; eu me contento com deixar ef tas advertencias aosvindouros: nem eu efcerevo eftas coufas para offender a alguem ; eferevo-as fimpara - | aproveitar a todos. | : , 4. Duascoufas muito importantes advirto aos fe- | nhores Medicos: A primeira, que naô defprezem os votos dos mais moços, aindaque lhes pareça que faõ menos doutos, porque muitas vezes permite Deos que acerte melhor o que era tido em menor conta: re- parem em que a materia de que trata he a vida do ho- mem : aprendaô de Antonio Ponce de Santa Cruz; (16.) que fendo hum dos mayores Medicos, que ouve no fên feculo, dizia as feguintes palavras; Renego do Medico teimofo, & inflexrvel: muitas vezes me aconte- eo ouvir aos meus difeipulos, (elles o fabem,) & cuido que Deos lhes póde dar a luz para o acerto, que menegou a mim pela minha foberba: eu tomo o confelho de quem quer que mo da , com tanto que o doente fe cure bem. Eftas pa- | Jdavras faó de hum Medico Catholico , ouçaô agora as de Hippocrates (17.) fendo gentio; diz elle : Ninguem pros À E EI
Observaçaon X. 183 descansada, & regalona, se he casado de poucos dias, ou muito dado a mulheres, porque se tiver alguma cousa destas, o matarà, quem o sangrar, sem primeirò Ihe limpar o estomago com huma purga vomitiva , ou alvidejectoria. Tambem se informara se o doente he muito penitente, ou demasiadamente estudioso, ou trabalhador, ou se lhe falta o comer a seu tempo; por que a estas taes pessoas gastadas, & exhaustadas das forças, às matarà naon so quem as sangrar, mas tam¬ bem quem as purgar; & por isso, aindaque tenhao fe¬ bre, se lhes nao ha de fazer mais remedio, que dar¬ Ihes bons alimentos, prohibirlhes as penitencias, & retirallas do estudo, & trabalho. Pasmaria o mundo se eu nomeasse aqui as muitas pessoas, que vi morrer, porque as sangràraon , tendo feito alguns excessos com mulheres, ou com estudo, ou trabalho, ou tendo os estomagos taon cheyos de comer, & coleras, que as es- tavaon vomitando: mas namo he licito nomear os que fi¬ zeraon estes absurdos; eu me contento com deixar es¬ tas advertencias aosvindouros: nem eu escrevo estas cousas para offender a alguem; escrevo-as sim para aproveitar a todos. Duas cousas muito importantes advirto aos se¬ nhores Medicos: A primeira, que nao desprezem os votos dos mais moços, aindaque lhes pareça que saon menos doutos, porque muitas vezes permite Deos que acerte melhor o que era tido em menor conta: re- parem em que a materia de que trata he a vida do ho¬ mem: aprendao de Antonio Ponce de Santa Cruz, (16.) que sendo hum dos mayores Medicos, que ouve no seu seculo, dizia as seguintes palavras; Renego do Medico teimoso, & inflexivel: muitas vezes me aconte¬ ceo ouvir aos meus discipulos, (elles o sabem,) & cuido que Deos lhes pode dar a luz para o acerto, que me negou a mim pela minha soberba: eu tomo o conselho de quem quer que mo dà , com tanto que o doente se cure bem. Estas pa¬ lavras saon de hum Medico Catholico, ouçaon agora as de Hippocrates (17.) sendo gentio; diz elle : Ninguem se envergonhe de aprender, & perguntar alguma cousa pro¬
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184 Observações Medicas Doutrinaes. proveitoʃa para curar, ainda que ʃeja a huma velha , ou official mecanico . 5. A ʃegunda couʃa que advirto he , que aʃʃim como na hora de morte hei de dar conta a Deos , ʃe fiz o que aqui enʃino , & eʃcrevo , vòs leytor a dareis tambem, ʃe o não fizerdes depois deʃtas advertencias dadas por hum Medico taõ cheyo de experiencias , como de annos , & taõ vizinho da ʃepultura , como quem paʃʃa de ʃetenta . OBSERVAÇAM XXXI . De huma peripneumonia causada de grande frialdade do ar muito impetuoso , & penetrante , que fechou os póros do corpo , & impedio a transpiração , & circulação do sangue . 1. Ninguem me condene , se me atrever a dizer com Galeno , ( 1 . ) que muitas doenças , que sobrevem aos nossos corpos , principalmente os pleurizes , & peripneumonias , procedem , pela mayor parte , da grande frialdade do ar ambiente ; pois observamos muitas vezes que no inverno , ou avendo ventos frigidissimos , reynaõ semelhantes doenças , que de nenhuma outra causa costumaõ succeder , senaõ porque com o frio se fechaõ , & apertaõ todos os póros do corpo de maneira , que se suspende a transpiração das fuligẽs , & a circulaçaõ do sangue , & daquellas suspendidas ; ou retrocedidas , & deste reprezado , & detido na pleura , & nas vias do bofe , necessariamente se inflamma , azeda , & incapacita para nutrir , & alimentar as ditas partes , & por isso a natureza sentindose offendida , irritada , & dolorosa pelo tal sangue acre , incrassado , & retrocedido , se altera , & sahe a campo , naõ só para deitar fóra , mas tambem para franquear a entrada ao ar ; porque he impossivel que estando obstruidos os vasos pneumonicos com sangue grosso
- 184 Observações Medicas Doutrinaes. proveitofa para curar , ainda que feja a buma velha , ou official mecanico. 5. A fegunda coufa que advirto he, que affim co- mo na hora da morte hei de dar conta a Deos, fe fiz o que aqui enfino, & efcrevo, vos leytor a dareis tam- bem, fe o não fizerdes depois deftas. advertencias da- das por hum Medico taõ cheyo de experiencias, co- mode annos, & tao vizinho da fepultura, como quem paffa de fetenta. OBSERVAÇAM XXXI. De huma peripneumonia caufada de grande frialdade do ar muito impetuofo, & penetrante, que fechou os poros do corpo , & impedio a tranfpira- çao , & circulação do Sangue. I. N Inguem me condene, fe me atrever a di- zer com Galeno, (1.) que muitas doen- ças , que fobrevem aos noffos corpos, principalmente os pleurizes, & peripneumonias, procedem, pela ma- yor parte, da grande frialdade do ar ambiente ; pois obfervamos muitas vezes que no inverno, ou avendo ventos frigidiffimos , reynaõ femelhantes doenças, que de nenhuma outra caufa coftumao fucceder, fe- nao porque com o frio fe fechao, & apertaõ todos os póros do corpo de maneira , que fe fufpende a tranfpi- ração das fuligés, & a circulaçaõ do fangue,& daquel- las fufpendidas; ou retrocedidas, & defte reprezado, & detido na pleura, & nas vias do bofe, neceffaria- mente fe inflamma, azeda, & incapacita para nutrir, & alimentar as ditas partes , & por iffo a natureza fen- tindofe offendida, irritada, & dolorofa pelo tal fan- gue acre, incraffado, & retrocedido, fe altera, & fahe a campo, naõ fó para o deitar fóra, mas tambem para franquear a entrada ao ar ; porque he impoffivel que eftando obftruidos os vafos pneumonicos com fangue groffo
184 :Obfervacoes Medicas Doutrinaes. proveitofa para curar, ainda que fejaa huma velba, ou official mecanico. 5. A fegunda coufa que advirto he, que.affimco- mo na hora da morte hei de dar conta a Deos, fe fiz o que aqui enfino,& efcrevo, vos leytor a dareis tam- bem, fe o nao fizerdes depois deftas. advertencias da- das por hum Medico tacheyo de experiencias, co- mode annos, & ta vizinho da fepultura, como quem paffa de fetenta. OBSERVACAM XXXI. De bumaperipneumonia caufada de grande frialdade do ar muito impetuofo, penetrante, que feshou os póros do corpo , ds impedio a tranfpira- sa, circulaga do fangue, Inguem me condene, fe me atrever a di zer com Galeno , (1.) que muitas doen- cas , que fobrevem aos noffos corpos , principalmente os pleurizes, & peripneumonias, procedem, pela ma- yor parte, da grande frialdade do ar ambiente ; pois obfervamos muitas vezes que no inverno, ou avendo ventos frigidiffimos , reyna femelhantes doencas , que de nenhuma outra caufa coftuma fucceder, fe- na porquecomofriofefecha, & aperta todos os póros do corpo de maneira , que fe fufpende a tranfpi- racao das fuligés,& a circulaca do fangue,& daquel- las fufpendidas; ou retrocedidas, & defte reprezado, & detido na pleura, &.nas vias dobofe, neceffaria- mente fe inflamma, azeda, & incapacita para nutrir, & alimentar as ditas partes , & por iffo a natureza fen- tindofeoffendida, irritada, &dolorofa pelo tal fan- gue acre, incraffado, & retrocedido, fe altera, & fahe a campo, na f para o deitar fóra , mas.tambem para franquear aentrada aoar ; porque he impoffivel que eftando obftruidos os vafos pneumonicos com fangue groffo
' — xr84 Obfervações Medicas Doutrinaes: ' proveitofa para curar , ainda que feja a buma velha , oze official mecanico. " p s. Afegundacoufaqueadvirto he, queaflimco- mo na hora da morte hei de dar conta a Deos, fehizo que aqui enfino, & efcrevo, vôs leytor a dareis tam- bem, feo não fizerdes depois deftas. advertencias da- das por hum Medico taó cheyo de experiencias, co- mode annos, & taô vizinho da fepultura, como quem pafladefetenta. — + : «09S0-c0S 507 «OSS 00 ans Sn aa SS Om o SS Oa aoS Scr an SON al AS Oo doSS Co aa S Sto ans Soo OBSERVAÇAM XXXI. De huma periphneumonia caufada de grande frialdade do ar muito impetuofo , & penetrante , que fechou ospóros do corpo , & impedio a tranfbira- sao , & circulação do fangue, 1. 7 Inguem me condene, fe me atrever a di- ' N zer com Galeno, (1.) que muitas doen- ças , que fobrevem aos noflos corpos, principalmente os pleurizes, & peripneumonias, procedem, pela ma- yor parte, da grande frialdade do ar ambiente ; pois obfervamos muitas vezes que no inverno, ou avendo ventos frigidiflimos , reynaô femelhantes doenças ,: que de nenhuma outra caufa coftumaô fucceder , fe- naô porque com o frio fefechaô , & apertaõ todos os póros do corpo de maneira , que fe fulpende a tranfípi- ração das fuligês,& a circulaçaó do fangue,& daquel- las fulpendidas; ou retrocedidas , & defte reprezado, & derido na pleura, & nas vias dobofe, neceffaria- mente fe inflamma , azeda, & incapacita para nutrir, & alimentar as ditas partes , & por iflo a natureza fen- tindofe offendida,, irritada , & dolorofa pelo tal fan- gue acre, incraflado, & retrocedido, fe altera , & fahe: a campo, naô fó para o deitar fóra , mas tambem para franquear a entrada ao ar; porque he impoffivel que eltando obftruidos os vafos pneumonicos com fangue groflo '
184 Observaçones Medicas Doutrinaes. proveitosa para curar, ainda que seja a huma velha, ou official mecanico. A segunda cousa que advirto he, que assim co- mo na hora da morte hei de dar conta a Deos , se fizo que aqui ensino, & escrevo, vòs leytor a dareis tam- bem, se o namo fizerdes depois destas. advertencias da¬ das por hum Medico tao cheyo de experiencias, co- mo de annos , & tao vizinho da sepultura, como quem passa de setenta. e OBSERVAQAM XXXI. De huma peripneumonia causada de grande frialdade do ar muito impetuoso, & penetrante, que fechou os póros do corpo , & impedio a transpira¬ gaon, & circulagao do sangue. 1. JInguem me condene, se me atrever a di- zer com Galeno, (1.) que muitas doen- ças, que sobrevem aos nossos corpos, principalmente os pleurizes, & peripneumonias, procedem, pela ma¬ yor parte, da grande frialdade do ar ambiente; pois observamos muitas vezes que no inverno, ou avendo ventos frigidissimos, reynaon semelhantes doenças. que de nenhuma outra causa costumaon succeder, se¬ naon porque com o frio se fechaon , & apertao todos os póros do corpo de maneira , que se suspende a transpi- raçamo das fuligens, & a circulaçaon do sangue, & daquel¬ las suspendidas, ou retrocedidas, & deste reprezado, & detido na pleura, & nas vias do bofe, necessaria- mente se inflamma, azeda, & incapacita para nutrir, & alimentar as ditas partes, & por isso a natureza sen¬ tindose offendida , irritada , & dolorosa pelo tal san- gue acre, incrassado, & retrocedido, se altera , & sahe a campo, naon só para o deitar fora, mas tambem para franquear a entrada ao ar; porque he impossivel que estando obstruidos os vasos pneumonicos com sangue grosso
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Observaçaõ XXXI. 185 grosso , ou outra qualquer materia corpulenta , possa respirar o enfermo com aquella liberdade , que costumava no tempo da saude : & posto que se possaõ dar muitos pleurizes , & perineumonias sem vento frio , ou ar nevado , mas de excessivo vinho , ou agua ardente , de muito exercicio , ou trabalho violento , de demasiada agua nevada , ou frigidissima , de muita ira , de grandes brados , de beber aguas encharcadas , & alagadiças , de algum veneno , & de humores melancolicos , & de mil outras cousas , que pervertem repentinamente a boa temperança do sangue , ou impedem a transpiraçaõ , & a diaphoresi dos vapores ; comtudo naõ me resolverei facilmente a crer que he apocrifa a opiniaõ dos que dizem que do grande frio , & vento muito delgado procedem as ditas enfermidades ; mayormente quando me lembra que vi duas peripneumonias procedidas das taes causas , como pelas seguintes Observações farei manifesto . 2 . Em nove de Abril de 1676 . foi huma honesta viuva , chamada Anna Ayques , ao Convento de Santa Catharina de Riba-mar , que está situado junto às abas do Rio Tejo , naõ tanto para se divertir , quanto para ver a hum filho Religioso , morador no dito Convento ; & como amanhecesse hum dia fermosissimo , sahio a dita senhora de casa para huma quinta , na qual o frondoso das arvores , a verdura dos campos , a musica das aves , o sussurro das aguas , a purpura das rosas , a graça das violetas , & a fragrancia dos goivos , erão doce feitiço aos olhos , & roubavaõ as attenções : se olhava para huma parte , via hum exercito de formigas occupadas em differentes trabalhos ; humas levando cargas mayores que os seus corpos ; outras desempedindo o caminho para as que passavaõ ; outras levando na boca as sementes das ervas para o seu sustento ; outras acarretando , & deitando fóra a terra para fabricar o seu celleiro ; outras ajudando a levar os pesos àquellas que por sua fraqueza naõ podiaõ ; outras levando sobre si ( com piedosa caridade ) os corpos das formigas defuntas ; finalmente via a todas occupadas ,
18 5 Obfervaçao XXXI. groffo, ou outra qualquer materia corpulenta, pofa refpirar o enfermo com aquella liberdade, que coftu- mava no tempo da faude: & pofto que fe poffao dar muitos pleurizes, & perineumonias fem vento frio, ou ar nevado, mas de exceffivo vinho , ou agua arden- te , de muito exercicio, ou trabalho violento , de de- mafiada agua nevada, ou frigidiffima, de muita ira, de grandes brados , de beber aguas encharcadas, & alagadiças, de algum veneno, & de humores melanco- licos , & demil outras coufas, que pervertem repen- tinamente a boa temperança do fangue, ou impedem a tranfpiraçao, & a diaphorefi dos vapores ; comtudo nao me refolverei facilmente a crer que he apocrifa a opiniao dos que dizem que do grande frio, & vento muito delgado procedem asditas enfermidades ; ma- yormente quando me lembra que vi duas peripneu- monias procedidas das taes caufas , como pelas fe- guintes Obfervações farei manifefto. 2. Em nove de Abril de 1676. foi huma honefta viuva, chamada Anna Ayques,ao Convento de Santa Catharina de Riba-mar , que efta fituado junto às abas do Rio Tejo, nao tanto para fe divertir , quanto para ver a hum filho Religiofo, morador no dito Con- vento; & como amanheceffe hum dia fermofiffimo, fahio a dita fenhora de cafa para huma quinta, na qual o frondofo das arvores , a verdura dos campos, a mu- fica das aves , o fuffurro das aguas , a purpura das ro- fas, agraça das violetas , & a fragrancia dos goivos, erão doce feitiço aos olhos , & roubavaõ as attenções: fe olhava para huma parte, via hum exercito de for- migas occupadas em diferentes trabalhos ; humas le- vando cargas mayores que os feus corpos ; outras defempedindo o caminho para as que paffavaõ; ou- tras levando na boca as fementes das ervar para o feu fuftento; outras acarretando, & deitando fora a terra para fabricar o feu celleiro; outras ajudando a levar os pefos àquellas que por fua fraqueza naõ podiaõ;ou- tras levando fobre fi(com piedofa caridade) os corpos das formigas defuntas; finalmente via a todas occupa- das, 1 1 1 i
Obfervaca.XXXI. 1ss groffo, ou outra qualquer materia corpulenta, poffa refpirar o enfermo com aquella liberdade, que coftu- mava no tempo da faude: & pofto que fe poffa dar muitos pleurizes, & perineumonias fem vento frio, ou ar nevado, mas de exceffivo vinho , ou agua arden- te , de muito exercicio, ou trabalho violento, de de mafiada agua nevada, ou frigidiffima, de muita ira, de grandes brados, de beber aguas encharcadas, & alagadicas, de algum veneno, & de humores melanco- licos, & demil outras coufas, que pervertem repen- tinainente aboa temperanca do fangue , ou impedem a tranfpiraca6, & a diaphorefi dos vapores ; comtud na me refolverei facilmente a crer que heapocrifa a opiniao dos quedizem que dogrande frio, & vento muitodelgado procedem asditas enfermidades ; ma- yornente quando me lembra que vi duas peripneu- monias procedidas das taes caufas , como pelas fe- guintes Obfervacoes farei manifefto. 2. Em nove de Abril de 1676. foi huma honefta viuva, chamada Anna Ayques,ao Convento de Santa abas do Rio Tejo, na tanto para fe divertir , quanto para ver a hum filho Religiofo,morador no dito Con- vento ; & como amanheceffe hum dia fermofiffimo, fahio a dita fenhora de cafa para huma quinta, na qual ö frondofo das.arvores, a verdura dos campos , a imu- fica das aves , o fuffurro das aguas , a purpura das ro- fas, agraca das violetas, & afragrancia dos goivos, erao doce feitico aos olhos , & roubavao as attencöes: fe olhava para huma parte, via hum exercito defor- migas occupadas em differentes trabalhos ; humas le- vando cargas mayores que os feus corpos ; outras defempedindo o caminho para as que paffava ; ou- tras levando na boca as fementes das ervar para ofeu fuftento ; outras acarretando, & deitando fora a terra para fabricar o feu celleiro; outras ajudandoa levar os pefos aquellas que por fua fraqueza na podiaö;ou- tras levando fobre fi(com piedofa caridade) os corpos das formigas defuntas; finalmente via a todas occupa- das,
'Obfervaçaõ XXXI. 18 groflo, ou outra qualquer materia corpulenta, poffá — refpiraro enfermo com aquella liberdade , que coftu« inava no tempo da faude: & pofto que fe poffaô dar Muitos pleurizes , & perineumonias fem vento frio, “ou ar nevado, mas de exceflivo vinho , ou agua ardens te, de muito exercicio, ou trabalho violento , de de- mafiada agua nevada, ou frigidifima , de muita ira, de grandes brados , de beber aguas encharcadas , & alagadiças, de algum veneno, & de humores melanco- licos , & demil outras coufas, que pervertem repen+ tinamente a boa temperança do fangue, ou impedem a tranfpiraçaõ , & adiaphorefi dos vapores ; comtudo naõ me refolverei facilmente acrer que heapocrifa a opiniaô dos quedizem que do grande frio, & vento muito delgado procedem asditas enfermidades ; ma* * yormente quando me lembra que vi duas peripneu-" manias procedidas das taes caufas , como pelas fe- guintes Obfervações farei manifefto. 2. Em nove de Abril de 1676. foi huma honefta viuva, chamada Anna Ayques,ao Convento de Santa Garharina de Riba-mar , que eftá fituado junto às abas do Rio Tejo, naô tanto para fe divertir , quanto para ver a hum filho Religiofo, morador no dito Con- vento; & como amanhecefle hum dia fermofiflimo, fahioadiea fenhora de cafa para huma quinta, na qual o frondofo das arvores , a verdura dos campos , a mu- fica das aves , o fuflhrro das aguas , a purpura das ro- fas, agraça das violetas ; & a fragrancia dos goivos, erão doce feitiço aos olhos , & roubavaô as attenções: fe olhava para huma parte, via hum exercito de for« migas occupadas em differentes trabalhos ; humas le« vando cargas mayores qua os feus corpos ; outras defempedindo o caminho para as que paflavaô ; ou- tras levando na boca as fementes das ervaapara ofen fuftento ; outras acarretando, & deitando fora a terra * para fabricar o feu celleiro; outras ajudando a levar os pelos àquellas que por fua Faqueza naô podiaó;ou- tras levando fobre fi(com piedofa caridade) os corpos das formigas defuntas; finalmente via a todas occupa- | ' das, NS
Observaçao XXXI. 185 grosso, ou outra qualquer materia corpulenta, possa respirar o enfermo com aquella liberdade , que costu- mava no tempo da saude : & posto que se possaon dar muitos pleurizes, & perineumonias sem vento frio, ou ar nevado, mas de excessivo vinho , ou agua arden- te , de muito exercicio , ou trabalho violento , de de- masiada agua nevada, ou frigidissima, de muita ira, de grandes brados, de beber aguas encharcadas, & alagadiças, de algum veneno, & de humores melanco- licos, & de mil outras cousas, que pervertem repen¬ tinamente a boa temperança do sangue, ou impedem a transpiraçaon, & a diaphoresi dos vapores; comtudo nao me resolverei facilmente a crer que he apocrifa a opiniaon dos que dizem que do grande frio , & vento muito delgado procedem as ditas enfermidades; ma¬ yormente quando me lembra que vi duas peripneu- monias procedidas das taes causas, como pelas se¬ guintes Observaçones farei manifesto. 2. Em nove de Abril de 1676. foi huma honesta viuva, chamada Anna Ayques, ao Convento de Santa Gatharina de Riba-mar, que está situado junto às abas do Rio Tejo, naon tanto para se divertir, quanto para ver a hum filho Religioso, morador no dito Con¬ vento; & como amanhecesse hum dia fermosissimo, sahio a dita senhora de casa para huma quinta, na qual o frondoso das arvores, a verdura dos campos, a mu¬ sica das aves, o sussurro das aguas, a purpura das ro¬ sas, a graça das violetas, & a fragrancia dos goivos, eramo doce feitięo aos olhos, & roubavaon as attençones: se olhava para huma parte, via hum exercito de for¬ migas occupadas em differentes trabalhos; humas le¬ vando cargas mayores que os seus corpos; outras desempedindo o caminho para as que passavaon; ou¬ tras levando na boca as sementes das ervaspara o seu sustento; outras acarretando, & deitando fora a terra para fabricar o seu celleiro; outras ajudando a levar os pesos àquellas que por sua fraqueza naon podiao; ou¬ tras levando sobre si (com piedosa caridade) os corpos das formigas defuntas; finalmente via a todas occupa¬ das,
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186 Observações Medicas Doutrinaes das, & a nenhuma ociosa ; & o que fazia mais plausivel a este espectaculo , era ver que em huma multidaõ de tantos caminhantes , as que sahiaõ , naõ eraõ embaraço às que entravaõ : se olhava para outra parte , estava admirando como as mellificas abelhas voavaõ , jà sobre os redondos cachos das verdes heras , já sobre os agradaveis , & cheirosos rosmaninhos , jà sobre as pallidas giestas , jà sobre as fragrantes , & encarnadas rosas , jà sobre os brancos , & nevados jasmins , chupando de humas , & bebendo em outras o doce orvalho , para fabricarem o suave , & delicioso mel . Entre tantas delicias da vista , & recreaçaõ dos mais sentidos estava gostosamente divertida esta pobre senhora , quando repentinamente se levãtou hum furacaõ de vento tão grande , frio , & desabrido , q foi necessario recolherse a casa com muita pressa ; porque como estivesse vestida com huma delgada roupa , a trespassou a frialdade de tal modo , como se tivesse sobre si toda a neve dos montes Alpes ; & sem embargo que logo a recolhéraõ em huma camera abrigada , & a cubrirão com muita roupa , metendolhe juntamente os pés em agua bem quente , que he remedio de que tenho muita experiencia , para mover a circulaçaõ do sangue , para aquecer o corpo , abrir os póros , & continuar a transpiraçaõ das fuligens , que he huma especie de evacuação muito proveitosa , como diz Galeno . ( 2 . ) Nada foi bastante para sentir alivio , nem cobrar quentura as primeiras quatro horas , porèm passadas ellas , começou a ter febre , dor gravativa em todo o corpo , tosse secca , & respiraçaõ tão difficultosa , & apressada , que a não podia fazer , sem ter a cabeça levantada , & o corpo erguido ; aos quaes symptomas se ajuntárão outros sinaes não menos formidaveis , & ameaçadores da mayor ruina , como forão não poder estar deitada de nenhum dos lados , excessiva vermelhidão no rosto , & sede inextinguivel . De todos estes sinaes não pude deixar de entender que a doença era huma peripneumonia , na qual as entranhas , principalmente o bofe , estavão inflammadas , & erysipeladas , & ardendo em Vesu
786 Observações Medicas Doutrinaes. das, & a nenhuma ociofa; & o que fazia mais plaufi- vel a efte efpectaculo, era ver que em huma multidao de tantos caminhantes, as que fahiaõ, naõ eraõ emba- raço às que entravaõ : fe olhava para outra parte, ef- tava admirando como as mellificas abelhas voavaõ, jà fobre os redondos cachos das verdes heras, ja fobre os agradaveis, & cheirofos rofmaninhos, jà fobre as pal- lidas gieftas , jà fobre as fragrantes, & encarnadas ro- fas , ja fobre os brancos , & nevados jafmins , chupan- do de humas, & bebendo em outras o doce orvalho, para fabricarem o fuave,& deliciofo mel. Entre tantas delicias da vifta, & recreação dos mais fentidos efta- va goftofamente divertida efta pobre fenhora, quando repentinamente fe levãtou hum furacao de vento tão grande, frio, & defabrido, q foi neceffario recolher- fe a cafa com muita preffa ; porque como eftiveffe vel- tida com huma delgada roupa, a trefpaffou a frialda- de de tal modo, como fe tiveffe fobre fi toda a neve dos montes Alpes; & fem embargo que logo a reco- lhéraõ em huma camera abrigada, & a cubrirão com muita roupa, metendolhe juntamente os pés em agua bem quente , que he remedio de que tenho muita ex- periencia, para mover a circulação do fangue, para aquecer o corpo, abrir os poros , & continuar a tranf- piraçao das fuligens, que he huma efpecie de evacua- ção muito proveitofa,como diz Galeno.{(2.) Nada foi. baftante para fentir alivio , nem cobrar quenturaas primeiras quatro horas , porem paffadas ellas, come- çou a ter febre, dor gravativa em todo ocorpo, toffe fecca, & refpiraçao tão difficultofa, & apreffada, que a não podia fazer , fem ter a cabeça levantada, & o cor- po erguido; aos quaes fymptomas fe ajuntarão outros finaes não menos formidaveis., & ameaçadores da mayor ruju, como forão não poder eftar deitada de nenhum dos lados, exceffiva vermelhidão no rofto , & fede inextinguivel. De todos eftes finaes não pude dei- xar de entender que a doença era huma peripneumo- nia, na qual as entranhas, principalmente o bofe, efta- vão inflammadas, & eryfipeladas, & ardendo em Ve- fu- -
1*6 Qbfervacoes Medicas Doutrinaes. das, & a nenhuma ociofa; & oquefazia mais plaufi- vel a efte efpectaculo , era ver que em huma multida de tantos caminhantes, as queTahia, na eraö emba raco as queentrava: feolhavaparautra parte, ef fobre os redondos cachos das verdes heras, ja fobre os agradaveis, & cheirofos rofimaninhos, ja fobre as pal- lidas gieftas, ja fobre as fragrantes , & encarnadas ro- fas , ja fobre os brancos , & nevados jafmins, chupan- do de humas, & bebendo em outras o doce orvalho, para fabricarem o fuave,& deliciofo mel.Entre tantas delicias da vifta, & recreaca dos'mais fentidos efta- va goftofamente divertida efta pobre fenhöra,quando repentinamente fe levátou hum furaca de vento tao grande, frio, & defabrido, foi neceffario recolher- fe a cafa com muita preffa ; porque como eftiveffe vef- tida com huma delgada roupa, a trefpaffou a frialda- de de tal modo, como fetiveffe fobrefi toda aneve dos montes Alpes; & fem embarga:que logoareco- 1héra em huma camera abrigada,& a cubriraocom muita roupa , metendolhe juntamente os pés em agua bem quente, que he remedio de que tenho muita ex- periencia, para mover a circulaca do fangue, para aquecer o corpa, abrir os póros , & continuar a tranf-- piraca das fuligens, que'he huma efpecie de evacua-: cao muito proveitofa,como diz Galeno.t(2.) Nada foi) baftante para fentir alivio , nem cobrar quenturaas primeiras quatro horas , porem paffadas ellas, come-- cou a ter febre, dor gravativaemtodo ocorpo, toffe fecca,.& refpiraca tao difficultofa, & apreffada, que a nao podia fazer , fem ter a cabeca levantada, & o cor poerguido ; aos quaes fymptomas fe ajuntärao outros finaes nao menos formidaveis.,.& ameacadores da mayorruy , comoforao nao poder eftar deitada de nenhum dos lados, exceffiva vérmelhidao no rofto , & fede inextinguivel.De todoseftes finaes nao pude dei- xar de entender quea doenca era huma peripneumo- nia, na qual as entranhas, principalmente obofe, efta-- vao inflammadas, & eryfipeladas, & ardendo em Ve- fu-
e 186 Obfervações Medicas Douttinaes. das , & a nenhuma ociofa; & o que fazia mais plaufi- vela efte efpeétaculo, era ver que em huma multidaã de tantos caminhantes, as que ahiaõô, naõ eraô emba- raço às que entravao: feol ava para outra parte, ef- tava admirando como as mellificas abelhas voavaoõ, BB fobre os redondos cachos das verdes heras, já fobre os agradaveis, & cheirofos rofmaninhos, jà fobre as pal- lidas gieítas , jà fobre as fragrantes , & encarnadas ro- fas , jà fobre os brancos , & nevados jafmins , chupan- do de humas , & bebendo em outras o doce orvalho, para fabricarem o fuave, & deliciofo mel. Entre tantas delicias da vifta , & recreaçaô dos mais fentidos efta. va goftofamente divertida efta pobre fenhora,quando repentinamente fe levãtou hum furacaõ de vento tão rande, frio, & defabrido , q foi neceflario recolher-« já a cafa com muita prefla ; porque como eftiveffe vel. tida com huma delgada roupa, atrefpaflou afrialda- de de tal modo, como fetivefle fobre fi toda a neve dos montes Alpes; & fem embargo que logo a reco- lhéraô em huma camera abrigada, & a cubrirão com muita roupa, metendolhe juntamente os pés em agua bem quente , que he remedio de que tenho muita ex- periencia, para movera circulaçaô do fangue, para aquecer o corpq, abrir os póros , & continuar a tranf« piraçaô das fuligens, que'he huma eípecie de evacuas ção muito proveitofa,como diz Galeno.!(2.) Nada foi. baftante para fentir alivio , nem cobrar quenturaas primeiras quatro horas , porêm pafladas ellas , come- çou a ter febre, dor gravativaem todo ocorpo, toffe fecca, & refpiraçaõ tão difficultola, & apreffada, que a não podia fazer , fem ter a cabeça levantada , & ocor- poerguido ; aos quaes fymptomas fe ajuntárão outros finaes não menos formidaveis, & ameaçadores da mayor rui , como forão não poder eftar deitada de nenhum dos lados, excefliva vérmelhidão no rofto , e fede inextinguivel.De todos eftes finaes não pude dei- xar de entender que doença era huma peripneumo- nia, na qual as entranhas, principalmente obofe, efta- ; vão inflammadas, & eryfipeladas ; &ardendoem Vez fu-
186 Observaçones Medicas Doutrinaes. das, & a nenhuma ociosa; & o que fazia mais plausi¬ vel a este espectaculo, era ver que em huma multidaon de tantos caminhantes, as que sahiaon, naon eraon emba¬ raço às que entravaôn: se olhava para outra parte, es¬ tava admirando como as mellificas abelhas voavaon, jà sobre os redondos cachos das verdes heras, ja sobre os agradaveis, & cheirosos rosmaninhos, jà sobre as pal¬ lidas giestas, jà sobre as fragrantes, & encarnadas ro- sas, jà sobre os brancos, & nevados jasmins, chupan¬ do de humas, & bebendo em outras o doce orvalho, para fabricarem o suave, & delicioso mel. Entre tantas delicias da vista, & recreaçaon dos mais sentidos esta¬ va gostosamente divertida esta pobre senhora,quando repentinamente se levantou hum furacaon de vento tamo grande , frio , & desabrido , quae foi necessario recolher- se a casa com muita pressa; porque como estivesse ves¬ tida com huma delgada roupa, a trespassou a frialda¬ de de tal modo, como se tivesse sobre si toda a neve dos montes Alpes; & sem embargo que logo a reco- Ihérao em huma camera abrigada, & a cubriramo com muita roupa, metendolhe juntamente os pés em agua bem quente, que he remedio de que tenho muita ex- periencia, para mover a circulaçao do sangue, para aquecer o corpo, abrir os poros, & continuar a trans- piraçaon das fuligens, que'he huma especie de evacua- çamo muito proveitosa, como diz Galeno. ((2.) Nada foi bastante para sentir alivio, nem cobrar quentura as primeiras quatro horas, porèm passadas ellas, come¬ çou a ter febre, dor gravativa em todo o corpo , tosse secca, & respiraçaon tamo difficultosa, & apressada, que a namo podia fazer, sem ter a cabeça levantada, & o cor- po erguido; aos quaes symptomas se ajuntáramo outros sinaes namo menos formidaveis, & ameaçadores da mayor ruim, como foramo namo poder estar deitada de nenhum dos lados, excessiva vermelhidamo no rosto, & sede inextinguivel. De todos estes sinaes namo pude dei- xar de entender que à doença era huma peripneumo- nia, na qual as entranhas, principalmente obofe, esta¬ vamo inflammadas, & erysipeladas, & ardendo em Ve¬ su¬
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Observaçaõ XXXI. 187 suvios de fogo ; & como para extinguir semelhante inflammação , & incendio , naõ aja remedio mais efficaz que as sangrias , como diz Galeno , ( 3 . ) logo a quiz mandar sangrar , se mo não impedira o grande pejo que sentia no estomago , & a grande propensão que tinha para vomitar por causa de humas favas verdes , que na mesma hora tinha comido ; no qual caso seria erro sangralla , sem lhe tirar primeiro o dito enchimento , mayormente quando elle era a causa da doença : porque , como diz Valesio , ( 4 . ) a abundancia de cruezas no estomago he hum grande impedimento para sangrar , porque despejando as veas , chamão para si as ditas cruezas , & arrebatadas ellas , ou ficão dentro nas veas pequenas , & causaõ obstrucções , ou se metem em lugares mais grandes , & enchem a todo o corpo de cruezas , & vicião ao sangue ; ou fazem huma , & outra cousa ; por tanto , diz o mesmo Valhes , ( 5 . ) o que convem , he evacuar as taes cruezas , antes que se faça sangria ; persuadindo-o tambem assim Hippocrates ; ( 6 . ) pois , como diz este Doutor , a inflammação do bofe nasce pela mayor parte dos excessos de comer , ou beber ; & nesta supposiçaõ , diz Lormes ( 7 . ) referido por Sponio , que naõ he fóra de razaõ dar algũas vezes vomitorios , q valerosamente evacuem , & fação revellir os humores , q correm para o bofe , principalmente se o doente não escarrar sufficientemente : desta opinião he Hippocrates , ( 8 . ) & outros graves Authores , ( 9 . ) os quaes expressamente mandão dar o vomitorio de agua benedicta , dizendo que ainda que alguns Medicos medrosos se naõ atrevaõ a seguir este methodo de curar , comtudo que elle he fundado em razaõ , & experiencia , porque ouve Medico doutissimo , que por este estylo curou peripneumonias de que não avia esperança ; mas como contra estes Doutores aja outros tambem gravissimos , que nos pleurizes , & peripneumonias , por serem inflammaçoens internas , condemnaõ as purgas , & só louvão as sangrias ; contendèrão entre si a peripneumonia , & o enchimento do estomago , sobre qual dos remedios avia
Obfervação . XXXI. 187 fuvios de fogo ; & como para extinguir femelhante inflammação, & incendio, naõ aja remedio mais effi- caz que as fangrias , como diz Galeno, (3.) logo a quiz mandar fangrar, fe mo não impedira o grande pe- jo que fentia no eftomago, & a grande propenfão que tinha para vomitar por caufa de humas favas verdes, que 'na mefma hora tinha comido ; no qual cafo feria erro fangralla, fem lhe tirar primeiro o dito enchi- mento, mayormente quando elle era a caufa da doen- ça : porque, como diz Valefio, (4.) a abundancia de cruezas no eftomago he hum grande impedimento para fangrar , porque defpejando as veas , chamão pa- ra fi as ditas cruezas, & arrebatadas ellas, ou ficao. dentro nas veas pequenas , & caufaõ obftrucções, ou fe metem em lugares mais grandes, & enchem a todo o corpo de cruezas , & vicião ao fangue; ou fazem huma, & outra coufa; por tanto, diz o mefmo Valhes, (5.) o que convem, he evacuar as taes cruezas, antes que fe faça fangria ; perfuadindo-o tambem affim Hip- pocrates; (6.) pois,como diz efte Doutor, a inflamma- ção do bofe nafce pela mayor parte dos exceffos de comer , ou beber; & nefta fuppofiçao, diz Lormes (7.) referido por Sponio, que nao he fóra de razaõ dar al- guas vezes vomitorios , q valerofamente evacuem , & fação revellir os humores, q correm para o bofe, prin- .cipalmente fe o doente não efcarrar fufficientemente: defta opinião he Hippocrates, (8.) & outros graves Authores, (9.) os quaes expreffamente mandão dar o vomitorio de agua benedicta, dizendo que ainda que alguns Medicos medrofos fe nao atrevao a feguir efte methodo de curar, comtudo que elle he fundado em razao , & experiencia, porque ouve Medico dou- tiffimo, que por efte eftylo curou peripneumonias de que não avia esperança ; mas como contra eftes Dou- tores aja outros tambem graviffimos, que nos pleuri- zes, & peripneumonias , por ferem inflammaçoens internas , condemnao as purgas, & fo louvão as fan- grias ; contenderão entre fi a peripneumonia , & o enchimento do eftomago, fobre qual dos remedios avia 1 . ! ; 1 ". . 1 3
Obfervacao : XXXI.:: 187 fuvios de fogo ; & como para extinguir femelhante inflammacao , & incandio, na aja remedio mais effi. caz que as fangrias , como diz Galeno, (3.) logoa quiz mandar fangrar, fe mo nao impedira o grande pe- jo que fentia noeftomago, & a grande propenfao que tinha para vomitar por caufa de humas favas verdes, que 'na mefma hora tinha comido , no qual cafo fcria erro fangralla, fem lhe tirar primeiro o dito enchi- mento , mayormente quando elle era a caufa da doen- a : porque,como diz Valeffo, (4.)a abundanciade cruezas no eftomago he hum grande impedimento parafangrar , porque defpejando as veas , chamao pa- ra fi as ditas cruezas, & arrebatadas ellas, ou ficao: dentro nas veas pequenas , & caufa obftruccöes , ou fe metem em lugares mais grandes, & enchem a todo o corpo de cruezas , & viciao aofangue; ou fazem huma, & outra coufa; por tanto, diz o mefimo Valhes, (s.) oque convem, he'evacuar as taes cruezas, antes que fe faca fangria ; perfuadindo-o tambem affim Hip- pocrates; (6.) pbis,como diz efte Doutor, a inflamma- ao do bofe nafce pela mayor parte dos exceffos de comer , ou beber; & nefta fuppofica,diz Lormes (7.) referido por Sponio, que naö he fora de razaö dar al- guas vezes vomitorios, valerofamente evacuem, & facao revellir os humores, correm para o bofe, prin- .ci palmente fe o doente naoefcarrar fufficientemente: defta opiniao he Hippocrates , (8.) & outros graves Authores, (9.) osquaes expreffamente mandao dar o vomitorio de agua benedicta, dizendo que ainda que alguns Medicos medrofos fe na atrevaö a feguir efte methodo de cnrar, comtado que elle he fundado em raza,& experiencia, porque ouve Medico dou- tiffimo, que por efte eftylo curou peripneumonias de gue nao aviacfperanca ; mas como contra eftes Dou- tores ajaoutros. tambem graviffimos, que nos pleuri- zes, & peripneumonias , por ferem inflammacoens internas , condemna as purgas., & f6 louvao as fan- grias ; contenderao entre fi a peripneumonia , & . enchimento do eftomago, fobre qual dos remedios avia
Obfervação” XXXI. — 187 uvios de fogo ; & como para extinguir femelhante inflammação , & incêndio, naõ aja remedio mais effi- caz que as fangrias , como diz Galeno, (3.) logoa quiz mandar fangrar, fe mo não impedira o grande pe- jo que fentia no eftomago, & a grande propentfão que tinha para vomitar por caufa de humas favas verdes, que 'na mefma horã tinha comido ; no qual cafo feria erro fangralla , fem lhe tirar primeiro o dito enchi- mento, mayormente quando elle era a caufa da doen- ça : porque ,como diz Valefio, (4.) a abundancia de cruezas no eftomago he hum grande impedimento * parafangrar, porque defpejando as veas , chamão pa- ra fi as ditas cruezas, & arrebatadas ellas, ou ficão" dentro nas veas pequenas , & caufaô obftrucções , ou fe metem em lugares mais grandes, & enchema todo o corpo de cruezas , & vicião ao fangue; ou fazem huma, & outra coufa; por tanto, diz o melmo Valhes, (5-) oque convem, he evacuar as taes cruezas , antes que fe faça fangria ; perfuadindo-o tambem aflim Hip- pocrates; (6.) pois,como diz efte Doutor, a inflamma- ção do bofe naíce pela mayor parte dos exceflos de comer , ou beber; & nefta fuppoliçaó,diz Lormes (7.) referido por Sponio, que naô he fóra de razaõ dar al- ias vezes vornitorios , q valerofamente evacuem , & ação revelliros humores, 4 correm pata o bofe, prin- " .cipalmente fe o doente não efcarrar fufficientemente: defta opinião he Hippocrates , (8.) & outros graves Authores, (9.) osquaes expreflfamente mandão dar o vomitorio de agua benediéta, dizendo que ainda que alguns Medicos medrofos fe naô atrevaô a feguir efte merhodo de curar, comtudo que elle he fundado em razaó , & experierícia, porque ouve Medico dou- tiffimo , que por efte eftylo curon peripneumonias de que não avia eíperança ; mas como contra eftes Dou- tores aja outros tambem graviffimos , que nos pleuri- zes, & peripneumonias , por ferem inflammaçoens internas , condemnaõ as purgas , & fó louvão as fan- grias ; contendêrão entre fi a peripnenmoria, & o enchimento do eftomago, fobre qual dos remedios ' avia
187 Observaçaon XXXI. suvios de fogo; & como para extinguir semelhante inflammaçamo, & incundio, naon aja remedio mais effi caz que as sangrias, como diz Galeno, (3.) logo a quiz mandar sangrar, se mo namo impedira o grande pe¬ jo que sentia no estomago , & a grande propensano que tinha para vomitar por causa de humas favas verdes, que na mesma horà tinha comido; no qual caso seria erro sangralla, sem lhe tirar primeiro o dito enchi¬ mento, mayormente quando elle era a causa da doen- ça: porque , como diz Valesso, (4.) a abundancia de cruezas no estomago he hum grande impedimento para sangrar, porque despejando as veas, chamao pa- ra si as ditas cruezas, & arrebatadas ellas, ou ficamo dentro nas veas pequenas, & causaon obstrucçones, ou se metem em lugares mais grandes, & enchem a todo o corpo de cruezas, & viciao ao sangue; ou fazem huma, & outra cousa; por tanto, diz o mesmo Valhes, (5.) o que convem, he evacuar as taes cruezas, antes que se faça sangria; persuadindo-o tambem assim Hip¬ pocrates; (6.) pois, como diz este Doutor, a inflamma¬ çamo do bose nasce pela mayor parte dos excessos de comer, ou beber; & nesta supposiçaon, diz Lormes (7. referido por Sponio, que nao he fóra de razaon dar al¬ gumas vezes vomitorios, qu valerosamente evacuem, & façamo revellir os humores, que correm para o bofe, prin¬ ci palmente se o doente nano escarrar sufficientemente: desta opiniamo he Hippocrates, (8.) & outros graves Authores, (9.) os quaes expressamente mandamo dar o vomitorio de agua benedicta, dizendo que ainda que alguns Medicos medrosos se naon atrevaon a seguir este methodo de curar, comtudo que elle he fundado em razao, & experiencia, porque ouve Medico dou¬ tissimo, que por este estylo curon peripneumonias de que namo avia esperança; mas como contra estes Dou¬ tores aja outros tambem gravissimos, que nos pleuri¬ zes, & peripneumonias, por serem inflammaçoens internas, condemnaon as purgas, & só louvamo as san¬ grias; contenderamo entre si a peripneumonia, & o enchimento do estomago, sobre qual dos remedios avia
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188 Observações Medicas Doutrinaes. avia de preferir ; mas prevalecèrão não só as experiencias de Lormes , de Handschio , jà referidos ; mas a de Hartmano , ( 10 . ) de Rulando , ( 11 . ) de Freitagio , ( 12 . ) & de outros Doutores graves , que disserão naõ aver remedio mais efficaz para curar o pleuriz , & peripneumonia , do que o antimonio applicado no primeiro dia da doença : assim o aconselha tambem Pedro Pacheco ( 13 . ) & eu o faço tambem assim , quando com o pleuriz , ou peripneumonia se ajuntão cruezas , ou carga de comer no estomago , & observo admiraveis effeitos . Nem me acovardou a authoridade do grande Hippocrates , ( 14 . ) o qual aconselha aos Medicos , que nas doenças mui perigosas , em que os enfermos tem já a morte na garganta , se naõ appliquem remedios , por não infamar com huns os medicamentos que tem aproveitado a outros . Naõ obstante porèm este conselho , costumo eu dizer , que em quanto a alma se não aparta do corpo , sempre podemos ter esperanças da vida , & applicar remedios ; por tanto , aindaque a sobredita enferma estava moribunda , me pareceo impiedade ver perigar a hua doente , a quem eu amava como mãy , & não perigar juntamente com ella , & assim tentei a cura , dandolhe no mesmo dia vinte grãos de pòs de quintilio preparados por minhas mãos , misturando-os com tres onças de agua commua ; & forão tão proveitosos os vomitos que se seguirão , que logo respirou com facilidade , & passadas seis horas , a fiz sangrar na vea d‘Arca do lado enfermo , repetindo este remedio quatro vezes no mesmo dia , paraque despejadas com pressa as veas do sangue , se despejasse tambem a causa da doença , & resorbessem as veas em si a materia , que estava embebida na parte queixosa . Neste comenos para retundir o fervor do sangue furioso , & refrigerar as partes interiores inflammadas receitei o seguinte cordeal antipleuripneumonico . Tomai de cevada pilada hua mão cheya , ponhase a cozer em panela de barro com vinte quartilhos de agua commua , até ficarem seis , & então se deite na dita agua huma onça de cascas de raiz de bardana
188 Observações Medicas Doutrinaes. avia de preferir; mas prevalecerão não fó as experien- cias de Lormes , de Handfchio, jà referidos ; mas a de Hartmano, (10.) de Rulando, (11.) de Freitagio, (12.) & de outros Doutores graves, que differão nao aver remedio mais efficaz para curar o pleuriz, & pe- ripneumonia , do que o antimonio applicado no pri- meiro dia da doença: affim o aconfelha tambem Pe- dro Pacheco, (13.) & eu o faço tambem affim, quando com o pleuriz , ou peripneumonia fe ajuntão cruezas, ou carga de comer no eftomago, & obfervo admira- veis effeitos. Nem me acovardou a authoridade do grande Hippocrates, (14.) o qual aconfelha aos Me- dicos, que nas doenças mui perigofas, em que os en- fermos tem já a morte na garganta, fe naõ appliquem remedios, por não infamar com huns os medicamen- tos que tem aproveitado a outros. Nao obftante po- rèm efte confelho, coftumo eu dizer, que em quanto a alma fe não aparta do corpo, fempre podemos ter efperanças da vida , & applicar remedios; por tanto, aindaque a fobredita enferma eftava moribunda, me pareceo impiedade ver perigar a hua doente , a quem eu amava como may , & não perigar juntamente com ella, & affim tentei a cura, dandolhe no mefmo dia vinte grãos de pòs de quintilio preparados por minhas mãos , mifturando-os com tres onças de agua com- mua ; & forão. tão' proveitofos os vomitos que fe fe- guirão, que logo refpirou com facilidade, & paffadas feis horas , a fiz fangrar na vea d' Arca do lado enfer- mo, repetindo efte remedio quatro vezes no mefmo dia , paraque defpejadas com preffa as veas do fangue, fe defpejaffe tambem a caufa da doença, & reforbef- fem as veas em fi a materia, que eftava embebida na parte queixofa. Nefte comenos para retundir o fervor do fangue furiofo , & refrigerar as partes interiores inflammadas receitei o feguinte cordeal antipleuri- pneumonico. Tomai de cevada pilada hűa mão cheya,' ponhafe a cozer em panela de barro com vinte quar- tilhos de agua commua, até ficarem feis, & entao fe deite na dita agua huma onça de cafcas de raiz de bar- dana
188 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. avia de preferir; mas prevalecerao nao fo as experien- cias de Lormes, de Handfchio, ja referidos ; mas a de Hartimano, (10.) de Rulando ,(11 .) de Freitagio , (12.) & de outros.Doutores graves, que differ&o na aver remedio mais efficaz para curar pleuriz, & pe- ripneumonia , do que o antimonio applicado no pri- imeiro dia da doenca: affim o aconfelha tambem Pe- dro Pacheco, (13.) & eu o faco tambem affim, quando com o pleuriz , ou peripneumonia fe ajuntao cruezas, ou carga de comer no eftomago, & obfervo admira- veis effeitos.: Nem me acovardou a authoridade do grande Hippocrates, (14.) o qual aconfelha aos Me- dicos, que nas doencas mui perigofas, em que os en- remedios, por nao infamar com huns os medicamen- tos que tem aproveitadoaoutros. Naoobftante po rém efte confelho, coftumo eu dizer, que em quanto a alma fe nao aparta do corpo, fempre podemos ter efperancas da vida , & applicar remedios; por tanto, aindaque a fobredita enfermaeftava moribunda, me pareceo impiedade ver perigar ahua doente , aquem eu ainava comomay , & nao perigar jtntamente com ella, & affim téntei a cura, dandolhe no mefmo dia vinte graos de pos de quintilio preparados por minhas maos , mifturando-os com tres oncas deagua com- mua; & forao.tao proveitofos os vomitos que fefe- guirao , que logorefpirou con facilidade, & paffadas feis horas, a fiz fangrar na vea d'Arca dolado enfer- mo., repetindo efte remedio quatro vezes no mefmo dia ,paraque defpejadas com preffa as veas do fangue, fe defpejaffe tambem acaufa da doenca,& reforbef-- fem as veas em fi a materia, qüe eftava embebida na parte queixofa. Nefte comenos para retundir o fervor do fangue furiofo., & refrigerar as partes interiore's inffammadas receitei o feguinte cordeal antipleuri- pneumonico.Tomai de.cevada pilada hua mao cheya, ponhafe a cozer em panela debarro com vinte quar- tilhos .de agua commua, até ficarem feis, & enta fe deite na dita agua huma onca de cafcas de raiz de bar- dana
188 Obfeérvações Medicas Doutrinaes. avia de preferir; mas prevalecerão não fó as experien+ cias de Lormes , de Handfchio, jà referidos ; masa | de Hartimano, (10.) de Rúlando,(11.) de Freitagio, (12.) & de outros Doutores graves , que differão naõ aver remedio mais efficaz para curar o pleuriz, & pe- ripneumonia , do que oantimonio applicado no pri- meiro dia da doença: aflfim o aconfelha tambem Pe- dro Pacheco, (13.) & eu 0 faço tambem affim, quando com o pleuriz , ou peripneumonia fe ajuntão cruezas, ou carga de comer no éltomago, & obfervo admira- veis effeitos. Nem me acovardou a authoridade do grande Hippocrates, (14.) o qual aconfelha aos Me- | dicos, que nas doenças mui perigofas, em que os en- fermos tem já a morte na garganta , fe naô appliquem remedios, por não infamar com huns os medicamen- tos que tem aproveitado a outros. Naô obftante po- | rêm efte confelho, coftumo eu dizer , que em quanto a alma fe não aparta do corpo, fempre podemos ter efperanças da yida , & applicar remedios; por tanto, aindaque a fobredita enferma eftava moribunda, me pareceo impiedade ver perigar à hõa doente , a quem eu amava como mãy , & não perigar jantamente com ella, & aflim têntei a cura , dandolhe no mefmo dia | vinte grãos de pôs de quintilio preparados por minhas mãos , mifturando-os com tres onças deagua com-— mua ; & forão.tão'proveitofos os vomitos que fe fe- guirão, que logorefpirou com facilidade, & paffadas teis horas , a fiz fangrar na vea dº Arca dolado enfer- mo, repetindo efte remedio quatro vezes no melmo dia ,paraque defpejadas com preffa as veas do fangue, fe defpejafle tambem acanfa da doença, & reforbef” fem as veas em fia materia , que eftava embebida na parte queixofa. Nefte comenos para retundir o fervor do fangue furiofo , & refrigerar às partes interiores inflammadas receitei o feguinte cordeal antipleuri- pneumonico. Tomai de cevada pilada ha mão cheya, ponhafe a cozer em panela de barro com vinte quar= tilhos de agua commua, até ficarem feis, & entaó fe . deite na dita agua huma onça de cafcas de raiz de bar- dana
188 Observaçones Medicas Doutrinaes. avia de preferir; mas prevalecèrao nano só as experien¬ cias de Lormes, de Handschio, jà referidos; mas a de Hartmano, (10.) de Rulando , (11.) de Freitagio , (12.) & de outros Doutores graves, que disseráo naon aver remedio mais efficaz para curar o pleuriz, & pe¬ ripneumonia , do que o antimonio applicado no pri- meiro dia da doença: assim o aconselha tambem Pe¬ dro Pacheco, (13.) & eu o faço tambem assim, quando com o pleuriz, ou peripneumonia se ajuntao cruezas, ou carga de comer no estomago , & observo admira- veis effeitos. Nem me acovardou a authoridade do grande Hippocrates, (14.) o qual aconselha aos Me- dicos, que nas doenças mui perigosas, em que os en- fermos tem jà a morte na garganta , se naon appliquem remedios, por nano infamar com huns os medicamen¬ tos que tem aproveitado a outros. Naon obstante po¬ rèm este conselho , costumo eu dizer, que em quanto a alma se nao aparta do corpo, sempre podemos ter esperanças da vida , & applicar remedios; por tanto, aindaque a sobredita enferma estava moribunda, me pareceo impiedade ver perigar a huma doente , a quem eu amava como may, & nao perigar juntamente com ella , & assim tentei a cura , dandolhe no mesmo dia vinte gramos de pòs de quintilio preparados por minhas maos, misturando-os com tres onças de agua com¬ mua; & foramo tamo proveitosos os vomitos que se se¬ guiramo, que logo respirou com facilidade , & passadas seis horas, a fiz sangrar na vea d’Arca do lado enfer- mo, repetindo este remedio quatro vezes no mesmo dia, paraque despejadas com pressa as veas do sangue, se despejasse tambem a causa da doença , & resorbes- sem as veas em si a materia, que estava embebida na parte queixosa. Neste comenos para retundir o fervor do sangue furioso, & refrigerar às partes interiores inflammadas receitei o seguinte cordeal antipleuri¬ pneumonico. Tomai de cevada pilada hua máo cheya, ponhase a cozer em panela de barro com vinte quar- tilhos de agua commua, até ficarem seis, & entaô se deite na dita agua huma onça de cascas de raiz de bar- dana
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Observaçaõ XXXI. 189 dana machucadas , & hum punhado de flores de papoulas seccas , ou verdes , & com estas duas cousas ferva hum quarto de hora , & entaõ se tire a panela do fogo , & dentro na tal agua , estando ainda quente , deitem seis esquibalas , ou bonicos de esterco de cavallo fresco daquelle instante , & passadas duas horas se coe a sobredita agua por panno bem tapado , & entaõ lhe mandei ajuntar duas onças de lambedor magistral de flores de papoulas , & tres oitavas das minhas pilulas absorbentes , chamadas por outro nome alcalicas : & nas terras aonde não se acharem as taes pilulas , podem deitar em seu lugar tres oitavas de coral bem preparado , porque ainda que não tem tanta virtude como as sobreditas pilulas , em falta de paõ de trigo póde servir paõ de centeyo , ainda que seja muito inferior . E deste cordeal antipleuripneumonico bem vascolejado , & revolvido fiz tomar à doente meyo quartilho de seis em seis horas ; & naõ he dizivel a brevidade , com que a doente sarou , porque logo respirou com liberdade , logo se pode deitar de hum , & outro lado , logo se tirou a excessiva vermelhidaõ do rosto , logo se tirou a febre , & ficou livre do grande perigo , em que avia estado . Nem he de admirar que assim succedesse , porque este cordeal constava dos melhores absorbentes , & volatílizantes , que ha em toda a Medicina : porque dos absorbentes os melhores são as minhas pilulas antifebriles , os olhos dos caranguejos , os aljofares , & os coraes : & dos volatilizantes os melhores saõ o esterco do cavallo , a ferrugem da chaminè , o priapo do veado , o espirito do corno de veado , o incenso , o almiscar , o sangue do bode , a raiz da bardana , as flores das papoulas , & outras muitas cousas , que deixo de referir por não enfadar . 3 . Finalmente como todas estas cousas tenhão admiravel virtude , assim para embeber os humores acidos , que coalhaõ o sangue , como para descoalhar a grossura delle , & estes dous vicios costumaõ ser a causa do sangue se reprezar , & não se circular, & de apo
C dana machucadas, & hum punhado de flores de pa- poulas feccas, ou verdes, & com eftas duas coufas ferva hum quarto de hora, & entao fe tire a panela do fogo, & dentro na tal agua, eftando ainda quente, deitem feis efquibalas, ou bonicos de efterco de ca- vallo frefco daquelle inftante, & paffadas duas horas fe coe a fobredita agua por panno bem tapado, & en- tao lhe mandei ajuntar duas onças de lambedor ma- giftral de flores de papoulas, & tres oitavas das minhas pilulas abforbentes, chamadas por outro nome alca- licas : & nas terras aonde não fe acharem as taes pilu- las , podem deitar em feu lugar tres oitavas de coral bem preparado, porque ainda que não tem tanta vir- tude como as fobreditas pilulas, em falta de pao de trigo pode fervir pao de centeyo, ainda que feja muito inferior. E defte cordeal antipleuripneumonico bem vafcolejado , & revolvido fiz tomar à doente meyo quartilho de feis em feis horas ; & nao he dizivel a brevidade, com que a doente farou, porque logo ref- pirou com liberdade , logo fe pode deitar de hum, & outro lado, logo fe tirou a exceffiva vermelhidão do rofto, logo fe tirou a febre, & ficou livre do grande perigo, em que avia eftado. Nem he de admirar que affim fuccedeffe , porque efte cordeal conftava dos melhores abforbentes, & volatilizantes, que ha em toda a Medicina : porque dos abforbentes os melho- res fao as minhas pilulas antifebriles , os olhos dos ca- ranguejos, os aljofares, & os coraes : & dos volatili- zantes os melhores fao o efterco do cavallo, a ferru- gem da chaminè, o priapo do veado, o efpirito do corno de veado , o incenfo, o aliifcar, o fangue do bode, a raiz da bardana , as flores das papoulas , & ou- tras muitas coufas , que deixo de referir por não enfa- dar .. . 3. Finalmente como todas eftas coufas tenhão admiravel virtude, affim para embeber os humores acidos, que coalhaõ o fangue, como para defcoalhar a groffura delle, & cftes dous vicios coftumao fer a caufa do fangue fe reprezar, & nao fe circular, & de apo- 189 bfervacao XXXI.
:Obfervacao XXXI. .189 dana machucadas, & hum punhadode flores depa poulas feccas, ou verdes, & com eftas duas coufas ferva hum quarto de hora, & enta fe tire a panela do fogo, & dentro na tal agua, eftando ainda quente, deiteim feis efquibalas, ou bonicos de efterco de ca- vallo frefco daquelle inftante, & paffadas duas horas fe coe a fobredita agua por panno bem tapado, & en- taö lhe mandei ajuntar duas ongas de lambedor ma- giftral de flores dé papoulas,& tres oitavas das minhas pilulas abforbentes, chamadas por outro nome alca- jicas : & nas terras aonde nao feacharem as taes pilu- las , podem deitar em feu lugar tres oitavas de coral bem preparado, porque ainda que nao tem tanta vir. tude como as fobreditas pilulas, emfalta de pa de trigo póde fervir.pa de centeyo, ainda que feja muito inferior. E defte cordeal antipleuripneumonicobem vafcolejado , & revoivido fiz tomar a doente meyo quartilho de feis em feis horas ; & na he dizivef a brevidade, com que a doente farou, porque logo ref- pirou com.liberdade, logo fe pode deitar de hum, & outro lado, logo fe tirou a exceffiva vermelhida do rofto, logo fe tirou a febre, & fcou livre do grande perigo, em que avia eftado. Nem he de admirar que affim fuccedeffe , porque efte cordeal conftava dos melhores abforbentes, & volatilizantes, que ha em toda a Medicina : porque dos abforbentes os melho- res fa as minhas pilulasantifebriles , os olhos dos ca ranguejos, os aljofares, & os coraes : & dos volatili- zantes os melhores faoefterco docavallo, a ferru- corno de veado, o incenfo, o alinifcar,ofangue do bode, a raiz da bardana, as flores das papoulas , & ou- tras muitas coufas, que deixo de referir por nao enfa- dar.. Finalmente como todas eftas coufas tenhao :3. admiravel virtude, affim .para émbeber os humores acidos, que coalhao fangue., como para defcoalhar a groffura delle, & .cftes dous vicios coftuma fer a caufa do fangue fe reprezar, & naofe circular, & de apo
. Obfervaçaõ XXXL 1% dana machucadas, & hum punhado de flores de pa- poulas feccas, ou verdes, & com eftas duas coufas ferva hum quarto de hora, & entaô fe tire a panela do fogo, & dentro na tal agua, eftando ainda quente, deitem feis elquibalas, ou bonicos de efterco de ca- vallo frefco daquelle inítante , & pafladas duas horas fe coe a fobredita agua por panno bem tapado, & en- taô lhe mandei ajuntar duas onças de lambedor ma- giftral de flores de papoulas,& tres oitavas das minhas pilulas abforbentes, chamadas por outro nome alca- licas: & nas terras aonde não fe acharem as taes pilu- las , podem deitar em feu lugar tres oitavas de coral bem preparado, porque ainda que não tem tanta vire tude como as fobreditas pilulas, em falta de paó de : trigo póde fervir paô de centeyo, ainda que feja muito * inferior. E defte cordeal antipleuripneumonico bem vafcolejado , & revolvido fiz tomar à doente meyo ' — quartilho de feis em feis horas; & naô hedizivela ] brevidade, com que a doente farou, porque logo ref. | pirou com liberdade , logo fe pode deitar de hum, & outro lado, logo fe tirou a excefliva vermelhida6 do rofto, logo fe tirou a febre, & ficou livre do grande perigo, em que avia eftado. Nem he de admirar que aílim fuccedefle , porque efte cordeal conftava dos melhores abforbentes, & volatilizantes, que ha em toda a Medicina: porque dos abforbentes os melho- res faõ as minhas pilulas antifebriles , os olhos dos ca- ranguejos , os aljofares, & os coraes: & dos volatili- zantes os melhores faõo efterço do cavallo, a ferru- gem da chaminê, o priapo do veado, o eípirito do corno de veado , o incenfo, o alimifcar, o fangue do bode , a raiz da bardana , as flores das papoulas , & ou- tras muitas coufas , que deixo de referir por não enfa- dar.. : 3. — Finalmente como todas eftas coufas tenhão admiravel virtude ; afim para embeber os humores : acidos, que coalhaõo fangue, como para defcoalhar a groffura delle, & cfítes dous vicios coftumasõ fer a caufa do fangue fe reprezar, & não fe circular, & de apo”
Observaçaon XXXI. 189 dana machucadas, & hum punhado de flores de pa¬ poulas seccas, ou verdes, & com estas duas cousas ferva hum quarto de hora, & entaon se tire a panela do fogo, & dentro na tal agua, estando ainda quente, deitem seis esquibalas, ou bonicos de esterco de ca¬ vallo fresco daquelle instante , & passadas duas horas se coe a sobredita agua por panno bem tapado, & en- tao lhe mandei ajuntar duas onças de lambedor ma- gistral de flores de papoulas, & tres oitavas das minhas pilulas absorbentes, chamadas por outro nome alca¬ licas: & nas terras aonde namo se acharem as taes pilu¬ las, podem deitar em seu lugar tres oitavas de coral bem preparado, porque ainda que namo tem tanta vir¬ tude como as sobreditas pilulas, em falta de pao de trigo póde servir pao de centeyo, ainda que seja muito inferior. E deste cordeal antipleuripneumonico bem vascolejado , & revolvido fiz tomar à doente meyo quartilho de seis em seis horas; & nao he dizivel a brevidade, com que a doente sarou, porque logo res- pirou comliberdade, logo se pode deitar de hum , & outro lado, logo se tirou a excessiva vermelhidaon do rosto, logo se tirou a febre , & ficou livre do grande perigo, em que avia estado. Nem he de admirar que assim succedesse, porque este cordeal constava dos melhores absorbentes, & volatilizantes, que ha em toda a Medicina: porque dos absorbentes os melho- res saon as minhas pilulas antifebriles, os olhos dos ca¬ ranguejos, os aljofares, & os coraes: & dos volatili¬ zantes os melhores saon o esterço do cavallo, a ferru¬ gem da chaminè, o priapo do veado, o espirito do corno de veado , o incenso , o almiscar , o sangue do bode, a raiz da bardana, as flores das papoulas , & ou- tras muitas cousas, que deixo de referir por namo enfa¬ dar. Finalmente como todas estas cousas tenhamo admiravel virtude, assim para embeber os humores acidos, que coalhaon o sangue, como para descoalhar a grossura delle, & estes dous vicios costumaon ser a causa do sangue se reprezar, & nano se circular, & de apo¬
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190 Observações Medicas Doutrinaes apodrecer , daqui procedem as inflammações pleuriticas , & peripneumonicas ; & daqui se segue serem estes remedios a clava de Hercules , que ajuntandose com as sangrias repetidas costumaõ obrar milagrosos effeitos na cura dos pleurizes , & peripneumonias , como neste caso , & no que logo contarei , se deixa ver com toda a evidencia . Observaçam XXXII. De outra peripneumonia, que sobreveyo a huma mulher, porque estando muito suado, & cansada bebeo hum pucaro de agua fria, & se poz a huma janella por onde entrava ar muito delgado; & sendo estes erros capazes de a matar repentinamente, (como tem succedido algumas vezes) cahio em huma peripneumonia tão perigosa, que se lhe eu naõ acudira com hum vomitorio , & repetidas sangrias, & outros remedios especificos ,infallivelmente morreria. 1. GRande fortuna he daquelle doente, que para se curar acha hum Medico douto; mas ainda he mais bem afortunado, se sobre ser douto , tiver constancia, & valor, paraque nem o desempare, se o vir em grande perigo, nem tenha medo de lhe applicar os mais efficazes remedios, ainda que sejaõ violentos, quando não achar outro recurso para salvarlhe a vida, sem recear que a malicia o calumnîe, quando o sucesso seja menos bom do que o seu desejo . Digo isto, porque avendo nesta Corte alguns Medicos grandes letrados, se atemorizaõ de maneira, (quando vem que a doença he muito perigosa, ) que naõ se atrevevem a applicar os remedios mais activos, de puro medo de que lhes attribuaõ algum sinistro acontecimento, como muitas vezes attribuem ( de q já se queixava Hippocrates, ) (1.) sem reparar na grande razaõ que o Medico teve para applicar este, ou aquel
190, Observações Medicas Doutrinaes. apodrecer , daqui procedem as inflammações pleuri- ticas, & peripneumonicas ; & daqui fe fegue ferem ef- tes remedios a clava de Hercules, que ajuntandofe com as fangrias repetidas coftumaõ obrar milagrofos effeitos na cura dos pleurizes , & peripneumonias, co- mo nefte cafo, & no que logo contarei, fe deixa ver com toda a evidencia. OBSERVAÇAM XXXIL De outr a peripneumonia , que fobreveyo a huma mulher, porque eftando muito fuada, & canfada bebeo bum pucaro de agua fria , & fe poz a humajanella por on- de entrava ar muito delgado; & fendo eftes erros ca- pazes de a matar repentinamente, (como tem fuccedi- do algumas vezes ) cabio em huma peripneumonia tão perigofa, que fe the eu nao acudira com bum vomito- rio, & repetidas fangrias, & outros remedios efpeci -. ficos , infallivelmente morreria. I. G Rande fortuna he daquelle doente, que para fe curar acha hum Medico douto; mas ainda he mais bem afortunado, fe fobre fer dou- to, tiver conftancia, & valor, paraque nem o defem- pare , fe o vir em grande perigo, nem tenha medo de The applicar os mais eficazes remedios, ainda quefe- jao violentos, quando não achar outro recurfo para falvarlhe a vida, fem recear que a malicia o calumnie, quando o fucceffo feja menos bom do que o feu defe- jo. Digo ifto, porque avendo nefta Corte alguns Me- dicos grandes letrados , fe atemorizaõ.de maneira, (quando vem que a doença he muito perigofa, ) que nao fe atrevem a applicar os remedios mais activos, de puro medo de que lhes attribuao algum finiftro acontecimento, como muitas vezes attribuem ( de q. já fe queixava Hippocrates,) (1. )fem reparar na gran- de razao que o Medico teve para applicar efte , ou aquel-
19o. Obfervacoes Medicas Doutrinaes. apodrecer , daqui procedem as inflammacöes pleuri- . ticas , & peripneumonicas ;, & daqui fe fegue ferem ef- tes remedios a clava de Hercules, que ajuntandofe com as fangrias repetidas coftuma obrar milagrofos effeitos na cura dos pleurizes , & peripneumonias, co- mo nefte cafo, & noquelogocontarei, fe deixa ver com toda a evidencia. O B S E R V A C A M XXXIL De outra peripneumonia, que /obreveyo a buma mulber: porque eftando muito.fuada, &.canfada bebeo bum pucaro de agua fria, o /epoza humajanella por on- de entrava ar muito delgado; &fendoeftes erros ca- pazes de a matar repentinamente, (como tem fuccedi- do algumas vezes ) cabio em buma peripneumonia tiio perigofa, quefe lbe eu na acudira com bum vomito- rio., repetidas/angrias, outros reinedios e/péti- ficos , infallivelmente morreria. Rande fortuna he daquelle doenté, que T para fe curar acha hum Medico douto; mas ainda he mais bem afortunado, fe fobre fer dou- to, tiver conftancia, & valor, paraque nem o defem- pare, feo vir emgrande perigo, nem tenha medo de Ihe applicar os mais efficazes remedios, ainda quefe- ja vilentos, quando naó achar outro recurfo para falvarlhe a vida , fem recear que a malicia o calumnie, quando o fucceffo feja menos bom do que o feu defe- jo. Digo ifto , porque ayendo nefta Corte alguns Me- dicos grandes letrados , fe atemoriza.de maneira (quando vem que a doenca he muito perigofa, ) que na fe atrevem a applicar os remedios mais activos, de puro medo de que lhes attribua algum finiftro acontecimento, como muitas vezes attribuem ( de jáfe queixava Hippocrates;) (1 .)fem reparar na gran- de raza que o Medico teve para applicar efte , ou. aquel-
NS 2 — —. r90 Obfervações Medicas Dôutrinaes. - apodrecer, daqui procedem as inflammações pleuri- ticas, & peripneumonicas ; & daqui fe fegue ferem ef- tes remedios a clava de Hercules, que ajuntandofe com as fangrias repetidas coftumaõ obrar milagrofos effeitos na cura dos pleurizes , & peripneumoniás, co- -» * monefte calo, & noquelogo contarei, fe deixa ver — comtodaa evidencia. | 09100 eNSS00-a9 SS 00 ao SS 00 an SS ON ADS OO OS SOMADAS O an S SONO SÃO DS SO ANS SOO OBSERVAÇAM XXXIL. De outra peripneumonia , que fobreveyo a huma mulher, porque fiando muito “lada ; & .canfada bebeo bum o pucaro de agua fria , & fé poza huma janella por onº — deentrava armnuito delgado; & fêndo eftes erros ca- pazes de a matar vepentinamente , (como tem fuccedi». do algumas vezes ) cahio em buma peripneumonia tão perigofa, que fe lhe eu nao acudira combum vomito- Fio, E repetidas fangrias, & outros remedios e/péci- Jficos , infallivelmente morreria. 1. Rande fortuna he daquelle doente, que Na para fe curar acha hum Medico douto; mas ainda he mais bem afortunado, fe fobre fer dou<« to , tiver conftancia, & valor, paraque nem o defem+ pare ,feovir em grande perigo, nem tenha medo de heapplicar os mais efficazes remedios, ainda quefe- . jaô violentos, quando não achar outro recurfo para Ffalvarlhea vida, fem recear quea malicia o calumnie, quando o fucceflo feja menos bom do que o feu defe- jo. Digoifto , porque avendo nefta Corte alguns Me- dicos grandes letrados , fe atemorizaõ.de maneira ; (quando vem que a doença he muito perigofa, ) que naô fe atrevem a applicar os remedios mais a&tivos, de puro medo de que lhes attribuaó algum finiftro acontecimento, como muitas vezes attribuem ( de jáfe queixava Hippocrates,) (1.)fem reparar na gran- de razaô que o Medico teve para applicar efte , ou aquel. : : ' cms P
190 Observaçones Medicas Doutrinaes. apodrecer, daqui procedem as inflammaçones pleuri¬ ticas, & peripneumonicas; & daqui se segue serem es¬ tes remedios a clava de Hercules, que ajuntandose com as sangrias repetidas costumaon obrar milagrosos effeitos na cura dos pleurizes, & peripneumonias, co¬ mo neste caso, & no que logo contarei, se deixa ver com toda a evidencia. OBSERVAQAM XXXII. De outra peripneumonia , que sobreveyo a huma mulher, porque estando muito suada, & cansada bebeo hum pucaro de agua fria , & se poz a huma janella por on¬ de entrava ar muito delgado; & sendo estes erros ca¬ pazes de a matar repentinamente, (como tem succedi¬ do algumas vezes) cahio em huma peripneumonia tao perigosa, que se lhe eu nao acudira com hum vomito¬ rio, & repetiaas sangrias, & outros remedios especi¬ ficos, infallivelmente morreria. Rande fortuna he daquelle doente, que para se curar acha hum Medico douto; mas ainda he mais bem afortunado, se sobre ser dou¬ to, tiver constancia, & valor, paraque nem o desem- pare , se o vir em grande perigo , nem tenha medo de lhe applicar os mais efficazes remedios, ainda que se- jaô violentos, quando namo achar outro recurso para salvarlhe a vida, sem recear que a malicia o calumnie, quando o successo seja menos bom do que o seu dese- jo. Digo isto, porque avendo nesta Corte alguns Me- dicos grandes letrados, se atemorizao. de maneira, (quando vem que a doença he muito perigosa, ) que naon se atrevem a applicar os remedios mais activos. de puro medo de que lhes attribuao algum sinistro acontecimento, como muitas vezes attribuem (de que jà se queixava Hippocrates,) (1.) sem reparar na gran- de razaô que o Medico teve para applicar este, ou aquel¬
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Observaçaõ XXXII. 191 aquelle remedio; mas desta demasiada covardia se seguem dous grandes damnos: o primeiro he, morrerem os doentes, que poderiaõ viver, se o Medico naõ fosse medroso: o segundo he, privarse da gloria de fazer curas, que parecessem milagrosas: mas destes taes Medicos, que sabendo muito, (de pura covardia) obraõ pouco, ou nada, não só se queixa Galeno, mas os pragueja, & almadiçoa. (2.). 2. Em confirmaçaõ disto que digo, referirei o seguinte caso. No fim da rua das Arcas era morador Luis Rodriguez de Pavîa: avia em sua casa hua criada , que ao romper de hum dia muito frio, se ergueo da cama para amassar, & para o fazer com mais vigor, almoçou muito bem, & pondose ao trabalho, prezada de grande amassadeira, se fatigou na fabrica daquella obra com tal excesso, que acabou com hum copiosissimo suor, & com muita quentura, & sem saber o que fazia, não só se fartou de agua fria, mas se poz a huma janella, aonde corria ar mui penetrante , & delgado: de improviso parou o suor, & se fecháraõ os póros de todo o corpo de maneira, que não continuou a transpiraçaõ, & lhe deo logo huma pontada na parte esquerda, tosse secca, vermelhidaõ no rosto, difficuldade de respirar, & de poder deitarse, com huma febre taõ intensa, que todos entendèraõ que naquella mesma hora morreria: neste aperto me chamàraõ, & pelos symptomas referidos conheci que a sobredita enferma naõ só tinha o bofe inflammado, mas tambem a membrana, que o prende com as costas : tinha inflammaçaõ, porque sentia dor, que não teria, se o bofe só fosse o inflãmado: bem conheci que esta doença era huma peripneumonia, & que o verdadeiro remedio para escapar da morte, aviaõ de ser as sangrias grandes, & repetidas, feitas nos braços, como he conselho de Baronio, (3.) o qual tratou desta enfermidade melhor que todos, & fallando nella, diz as seguintes palavras: Em conclusaõ he erro da mayor marca, nas grandes doenças, qual he a peripneumonia, sangrar poucas vezes, mas he necessario fazer sangrias copio
Obfervação XXXII. aquelle'remedio ; mas defta demafiada covardia fe fe- guem dous grandes damnos : o primeiro he, morre+ rem os doentes, que poderiao viver , fe o Medico nao foffe medrofo : o fegundo he, privarfe da gloria de fa- zer curas , que pareceffem milagrofas : mas deftes taes Medicos , que fabendo muito, (de pura covardia) obraõ pouco, ou nada , não fó fe queixa Galeno, mas os pragueja, & amaldiçoa. (z.) 2. Em confirmação difto que digo, referirei o fe- guinte cafo. No fim da rua das Arcas era morador Luis Rodriguez de Pavia : avia em fua cafa hua cria- da, queao romper de hum dia muito frio, fe ergueo da cama para amaffar, & para o fazer com mais vigor, almoçou muito bem , & pondofe ao trabalho, preza- da de grande amaffadeira, fe fatigou na fabrica da- quella obra com tal exceffo, que acabou com hum copiofiffimo fuor , & com muita quentura, & fem fa- ber o que fazia, não fó fe fartou de agua fria, mas fe poz a huma janella, aonde corria ar mui penetran- te, & delgado : de improvifo parou o fuor, & fe fecha- raõ os póros de todo o corpo de maneira, que não continuou a transpiração, & lhe deo logo huma pon- tada na parte efquerda, toffe fecca, vermelhidão no rofto, difficuldade de refpirar, & de poder deitarfe, com huma febre tao intenfa, que todos entenderao que naquella mefma hora morreria: nefte aperto me chamaraõ, & pelos fymptomas referidos conheci que a fobredita, enferma nao fo tinha o bofe inflammado, mas tambem a membrana, que o prende com as cof- tas : tinha inflammaçao, porque fentia dor, que não teria, fe o bofe fó foffe o inflamado : bem conheci que efta doença era huma peripneumonia, & que o verda- deiro remedio para efcapar da morte, aviaõ de fer as fangrias grandes , & repetidas, feitas nos braços, co- mo he confelho de Baronio, (3.) o qual tratou defta enfermidade melhor que todos, & fallando nella, diz as feguint es palavras : Em conclufao be erro da mayor marca, nas grandes doenças, qual be a peripneumonia, fangrar poucas vezes, mas be neceffario fazer fangrias copio- 191 . + 1
Obfervacao XXXII. 19 1 aquelle'remedio; mas defta demafiada covardia fe fe-- guem dous grandes damnos : o primeiro he, morré- rem os doentes, que poderiaö viver , fe o Medico na foffe medrofo: fegundo he, privarfe daglorin de fa- zer curas , que pareceffem milagrofas : mas deftes taes Medicos, que fabendo muito, (de pura covardia)) bra pouco, u nada , nao f6 fe queixa Galeno , mas os pragueja,& amaldigoa. (z.) 2. - Em confrmasa diftoque digo, referirei o fe guinte cafo. No fim da rua das .Arcas era morador Luis Rodriguez de Pavia : avia em fua cafa hua cria- da, queao romper de hum dia muito frio, fe erguco da cama para amaffar , & para o fazer com mais vigor, almocou muito bem, & pondofe ao trabalho, preza- da de grande amaffadeira, fe fatigou na fabrica da- quella.obra com tal exceffo , que acabou Comhum ber oque fazia, nao f6fe fartou de aguafria, mas fe poz a huma janella , aonde corria ar mui penetran- te, & delgado: de improvifo parou o fuor, & fe.fecha- ra os póros de todö o corpo de maneira, que na continuou a tranfpiraca,& lhe deologo huma pon- tadana parte efquerda, toffe fecca, vermelhidaö na rofto, difficuldade de refpirar, & de poder deitarfe, com huma febre ta intenfa, que todos entendera que naquella mefma hora morreria: nefte aperto me chamara.,& pelos fyimptomas referidos conheci que a fobredita.enferma naö f6 tinha o bofe inflammado, mas tambem a membrana, que o prende com as cof- tas: tinha inflammaca, porque fentia dor, que nao teria, fe o bofe fo foffe o inflamado : bem conheci que efta döenca era huma peripneumonia , & que verda- deiroremedio para efcapar da morte, aviadefer as fangrias grandes,& repetidas, feitas nos bracos, co-- mo he confelho de Baronio, (3.) oqual tratou defta enfermidade melhor que todos, & fallando nella, diz as feguint es palavras : Em conclu/a5 be erro da mayor marca, nas grandes doengas, qual be a peripneumonia, fangrar poucas vezes., mas be neceffario fazer fargrias copio-
Obfervação XXXII — 191 aquelleremedio ; mas defta demafiada covardia fe fez- guem dous grandes damnos : o primeiro he, morre? rem os doentes , que poderiaô viver , fe o Medico naõ fofle medrofo: o fegundo he, privarfe da gloria de fa- ger curas , que pareceflem milagrofas : mas deftes taes Medicos, que fabendo muito, (de pura covardia) obraó pouco , ou nada , não fó fe queixa Galeno, mas os pragueja, & amaldiçoa. (2.) - 2. Emcohfirmaçaó difto que digo, referirei o fe- guinte cafo. No fim da rua das Arcas era morador Luis Rodriguez de Pavia: avia em fua cafa hua cria- da, queao romper de hum dia muito frio, fe ergueo da cama para amallar, & para o fazer com mais vigor, almoçou muito bem , & pondofe ao trabalho, preza- * da de grande amaffadeira, fe fatigou na fabrica da- quella. obra com tal exceflo , que acabou combhum copiofiflimo fuor , & com'muita quentura , & fem fa- ber o que fazia, não fó fe fartou de agua fria , mas fe poz a huma janella , aonde corria ar mui penetran- te, & delgado: de improvifo parou o fuor, & fe fechá- raóô os póros de todo o corpo de maneira, que não continuou a tranfpiraçaõô, & lhe deologo huma pon- tada na parte efquerda , toffe fecca, vermelhidaô na rofto, difficuldade de refpirar, & de poder deitarfe, com huma febre taô intenfa, que todos entendêraõ que naquella meíma hora morreria: nefte aperto me chamãraó, & pelos Íymptomas referidos conheci que a fobredita enferma naõ fó tinha o bofe inflammado, mas tambem a membrana, que o prende com as cof- tas: tinha inflammaçaõ , porque féntia dor , que não teria, fe o bofe [ó fofle o infâmado : bem conheci que efta doença era huma peripneumonia, & que o verda- deiro remedio para elcapar da morte , aviaó de fer as fahgrias grandes , & repetidas, feitas nos braços, co-* mo he confelho de Baronio, (3.) oqualtratou defta enfermidade melhor que todos , & fallando nella, diz as feguintes palavras: Emconclu/ao be erro da mayor marca , nas grandes doenças , qual be a peripneumonia, Jangrar poucas vezes, mas be neceffario fazer fângrias | çopio-
Observaçaon XXXII. 191 aquelle remedio; mas desta demasiada covardia se se¬ guem dous grandes damnos: o primeiro he, morre- rem os doentes, que poderiaon viver, se o Medico naon fosse medroso : o segundo he , privarse da gloria de fa- zer curas, que parecessem milagrosas. mas destes taes Medicos, que sabendo muito, (de pura covardia) obraon pouco, ou nada, namo so se queixa Galeno, mas os pragueja, & amaldiçoa. (2.) 2. Em confirmaçaon disto que digo, referirei o se¬ guinte caso. No fim da rua das Arcas era morador Luis Rodriguez de Pavia: avia em sua casa huma cria¬ da, que ao romper de hum dia muito frio, se ergueo da cama para amassar, & para o fazer com mais vigor, almoçou muito bem, & pondose ao trabalho, preza¬ da de grande amassadeira, se fatigou na fabrica da- quella obra com tal excesso, que acabou com hum copiosissimo suor, & commuita quentura, & sem sa¬ ber o que fazia, nano só se fartou de agua fria, mas se poz a huma janella, aonde corria ar mui penetran¬ te, & delgado: de improviso parou o suor, & se fechá- rao os poros de todo o corpo de maneira, que nao continuou a transpiraçaon , & lhe deo logo huma pon- tada na parte esquerda, tosse secca, vermelhidao no rosto, difficuldade de respirar, & de poder deitarse, com huma febre tao intensa, que todos entendèraon que naquella mesma hora morreria: neste aperto me chamàraon , & pelos symptomas referidos conheci que a sobredita enferma nao so tinha o bofe inflammado, mas tambem a membrana, que o prende com as cos¬ tas: tinha inflammaçaon, porque sentia dor, que namo teria, se o bofe só fosse o inflammado : bem conheci que esta doença era huma peripneumonia, & que o verda¬ deiro remedio para escapar da morte, aviaô de ser as sangrias grandes, & repetidas, feitas nos braços, co¬ mo he conselho de Baronio , (3.) oqual tratou desta enfermidade melhor que todos , & fallando nella, diz as seguint es palavras: Em conclusaon he erro da mayor marca, nas grandes doenças, qual he a peripneumonia, sangrar poucas vezes, mas be necessario fazer sangrias copio¬
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192 Observações Medicas Doutrinaes copiosas , porque nas grandissimas inflammaçoens, saõ necessarias grandissimas descargas, para acudir com pressa, & revellir os humores da parte que padece. E em outro lugar diz: Ninguem se admire se vir morrer de peripneumonia aquelles doentes, a quem os Medicos em lugar de os sangrar copiosa, & repetidamente, os sangrarem pouco. E em outra parte diz: Naõ ha razaõ , ou pretexto; que baste para despersuadir as sangrias na cura da peripneumonia, pois em toda a sorte de pleuriz, & peripneumonia he remedio conveniente. 3. Não obstante porèm estas razões de hum Author tão grave, & que compoz hum livro inteiro sobre esta doença, faziãome grande duvida para as sangrias as cruezas que tinha no estomago; no qual caso assim Galeno, (4.) como toda a Escola Medica prohibem muito as sangrias, por não meter as cruezas nas veas, em lugar de sangue que dellas se tirou; por outra parte o aperto da doença aguda, & o grande perigo da doente não davão lugar para que se cozessem, & distribuissem; neste aperto escolhi por melhor remedio despejar logo o estomago das cruezas, para que pudesse sangrar com mayor segurança, seguindo deste modo o conselho de Celso, (5.) o qual diz: Se hum doente estiver em grandissimo perigo, & para o livrar delle naõ ouver outro remedio mais que hum temerario , deve o Medico usar delle com toda a confiança ; porque he melhor fazer algum remedio duvidoso, que deixar morrer o doente com certeza. E como eu visse que sem despejar o estomago o matarião as sangrias , dei à sobredita enferma logo nas primeiras horas da doença tres onças de agua benedicta vigorada, de que se seguio hum grande despejo de cruezas por vomito, & curso, & hum consideravel alivio da natureza . Nem esta minha resoluçaõ de dar o vomitorio foi tão sem padrinho, que não tivesse em seu favor a muitos Authores doutissimos, que nos pleurizes, & peripneumonias os dão, & louvão tanto, que os antepoem a outras purgas. 4. Despejado já o estomago, sangrei naquella mes
192 Obfervações Medicas Doutrinaes. copiofas , porque nas grandifimas inflammagoens , fao necefarias grandifimas defcargas , para acudir .com preffa, & revellir os humores da parte que padece. E em outro lugar diz : Ninguem fe admire fe vir morrer de peripneumonia aquelles doentes , a quem os Medicos em lugar de os fangrar copiofa , & repetidamente, os fangrarem pouco. E em outra parte diz : Nao ba ra- zao , ou pretexto ; que bafte para defperfuadir as fan- grias na cura da peripneumonia, pois enttoda a forte de pleuriz, & peripneumonia he remedio conveniente. 3. Não obftante porem eftas razões de hum Au+ thor tao grave, & que compoz hum livro inteiro fo- bre efta doença, faziãome grande duvida para as fan- grias as cruezas que tinha no eftomago; no qual cafo affim Galeno, (4.) como toda a Efcola Medica prohi- bem muito as fangrias, por não meter as cruezas nas veas, em lugar do fangue que dellas fe tirou ; por ou- tra parte o aperto da doença aguda, & o grande peri- go da doente não davão lugar para que fe cozeffem, & diftribuiffem; nefte aperto efcolhi por melhor re- medio defpejar logo o eftomago das cruezas , para que pudeffe fangrar com mayor fegurança, feguindo defte modo o confelho de Celfo, (5.)o qual diz: Se bum doente eftiver em grandifimo perigo, & para o li- vrar delle nao ouver outro remedio mais que hum te merario, deve o Medico ufar delle com toda a confian- ça; porque he melhor fazer algum remedio duvidofo, que deixar morrer o doente com certeza. E como eu vif- fe que fem defpejar o eftomago o matariao as fan- grias, dei à fobredita enferma logo nas primeiras ho- ras da doença tres onças de agua benedicta vigorada, de que fe feguio hum grande defpejo de cruezas por yomito, & curfo, & hum confideravel alivio da na- tureza. Nem efta minharefolucao de dar o vomito- rio foi tão fem padrinho, que não tiveffe em feu fa- vor a muitos Authores doutiffimos, que nos pleurizes, & peripneumonias os dão, & louvão tanto, que os an- tepoem a outras purgas. 4. Defpejado ja o eftomago , fangrei naquella mef- ? - -
192' Obfervacoes Medicas Doutrinaes. copiofas , porque nas grandiffimas inflanmagoens , fa neceffarias grandifima: defcargas., para acudir .com preffa, & revellir os bumores da parte que padece..E emoutrolugar diz : Ninguem feadmire fe vir morrer deperipneunonia aquclles doentes , a quem os Medicos em lugar de os fangrar copiofa , repetidamente, os fangrarein pouco. Eem outra parte diz : Na ba ra- 2a, ou prctexto , que bafte para defperfuadir asfan- grias nacura daperipneunonia, pois entoda aforte de pleuriz, peripneumonia be remedioconveniente. 3. Naoobftante porém eftas razoes de hum Au- thor taograve, &que compoz hum livro inteiro.fo. bre efta doenca, faziaome grandeduvida para as fan- grias as cruezas que tinha no eftomago ; noqual cafo affim Galeno, (4.) como toda a Efcola Medica prohi- bem muito as fangrias , por naometer as cruezas nas veas, em lugar do fangue'que dellas fe tirou ; por ou- tra parte o apertoda doenca aguda, & o grande peri- go da doente nao davao.lugar para que fe cozeffem, & diftribuiffem ; nefte aperto efcolhi por melhor re- medio defpejar logo o eftomago das cruezas , para que pudeffe fangrar com mayor feguranca, feguindo bum doente eftiver em grandifimo perigo, parao li- vrar delle na ouver outro remedio mais que bum te. merario, deve o Medico ufar delle com toda aconfian- sa; porque bc melbor fazer algum remedio,duvidof6, que deixar morrer o doente com certeza. E comöeu vif- fe que fem defpejar o eftomago o matariao as fa-- grias , dei a fobredita enferma logo nas primeiras ho- ras da doenca tres oncas de aguabenedita vigorada, de que fe feguio hum grande defpejo de cruezas por: yomito, & curfo, & hum confideravel alivio da na- tureza. Nem efta minharefoluca de dar o vomit- rio foi tao fem padrinh, que nao tiveffe emfeu fa- vor a muitos Authores doutiffimos, que nos pleurizes, & peripneumonias os dao,&.louvaatanto, que os an tepoem a outras purgas. .. Defpejado ja o eftomago , fangrei naquella +. mef:
192º Obfervações Medicas Doutrinaes, copiofas, porque nas grandilfimas inflammaçoens , faô necellavias grandifimas defcargas , para acudir corra trela, & revelhr os humores da parte que padece. E em outro lugar diz: Ninguem fe admire fé vir morrer de peripneuimonia aquelles doentes , a quem os Medicos em lugar de os fangrar copiofa , & repetidamente, os Sangrarem pouco. É em outra parte diz : Nao ba ra- 2a , ou pretexto, que bafte para defberfuadir as fau- grias na curada peripneumonia , pou enttoda a forte de Dleuriz, & peripuneumonia be remedio conveniente. 3. “Nãoobfítante porém eftas razões de hum Au- thor tãograve, & que compoz hum livro inteiro fo. bre efta doença, faziãome grande duvida para as fan- Brias as cruezas que tinha no eftomago; no qual cafo aflim Galeno, (4.) como toda a Efcola Medica prohi- bem muito as fangrias , por não meter ascruezas nas veas, em lugar do fangue que dellas fe tirou ; por ou- tra parte o aperto da doença aguda, & o grande peri- go da doente não davão lugar para que fe cozeflem,- & diftribuiffem ; nefte aperto efcolhi por melhor re medio defpejar logo o eftomago das cruezas , para que pudefle fangrar com mayor fegurança, feguindo eftemodo o confelho de Celfo, C.o qual diz: Se bum doente eftiver em grandilfirno perigo, & parao li. vrar delle nao ouver outro remedio mais que hum te. merario, deve o Medico ufar delle com toda a confian= $a; porque he melhor fazer algum remedio duvidofo, que deixar morrer o doente com certeza. E como eu SE ' le que fem defpejar o eftomago o matarião as faf- grias, dei A fobredita enferma logo nas primeiras hos ras da doença tres onças de agua benedi&ta vigorada, de que fe feguio hum grande defpejo de cruezàs por. vomito, & curfo , & hum confideravel alivio da na- Ttureza, Nem efta minharefoluçaõ de dar O VOmitd rio foi tão fem padrinho, que não tiveflê em feu fa- Vora muitos Authores doutiflimos, que nos pleutizes, & peripneumonias os dão ; &louvãatanto, que os an- têpoem a outras purgas. | + Defpejadojao eftomago , fangrei naquella : mei= . . . qo
192 Observaçones Medicas Doutrinaes. copiosas, porque nas grandissimas inflammaçoens, saeon necessarias grandissimas descargas, para acudir com pressa, & revellir os humores da parte que padece. E em outro lugar diz: Ninguem se admire se vir morrer de peripneumonia aquelles doentes, a quem os Medicos em lugar de os sangrar copiosa , & repetidamente, os sangrarem pouco. E em outra parte diz: Nao ha ra¬ zaò, ou pretexto, que baste para despersuadir as san- grias na cura da peripneumonia, pois enftoda a sorte de pleuriz, & peripneumonia he remedio conveniente. Namo obstante porèm estas razones de hum Au¬ thor tamo grave, & que compoz hum livro inteiro so¬ bre esta doença , faziamome grande duvida para as san- grias as cruezas que tinha no estomago; no qual caso assim Galeno , (4.) como toda a Escoia Medica prohi¬ bem muito as sangrias, por nao meter as cruezas nas veas, em lugar do sangue que dellas se tirou; por ou- tra parte o aperto da doença aguda , & o grande peri- go da doente náo daváo lugar para que se cozessem, & distribuissem; neste aperto escolhi por melhor re¬ medio despejar logo o estomago das cruezas, para que pudesse sangrar com mayor segurança , seguindo deste modo o conselho de Celso , (5.)o qual diz: Se hum doentè estiver em grandissimo perigo, & para o li¬ vrar delle nao ouver outro remedio mais que hum te¬ merario, deve o Medico usar delle com toda a consian ga; porque he melhor fazer algum remedio duvidoso, que deixar morrer o doente com certeza. E comò eu vis- se que sem despejar o estomago o matariao as sañ- grias, dei à sobredita enferma logo nas primeiras ho- ras da doença tres onças de agua benedicta vigorada, de que se seguio hum grande despejo de cruezàs por vomito, & curso, & hum consideravel alivio da na¬ tureza. Nem esta minha resoluçaon de dar o vomitò¬ rio foi tamo sem padrinho, que nano tivesse em seu fa¬ vor à muitos Authores doutissimos, que nos pleurizes, & peripneumonias os damo, & louvamotanto, que os an¬ tepoem a outras purgas. 4. Despejado ja o estomago , sangrei naquella mes¬
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Observaçaõ XXXII. 193 mesma tarde duas vezes, & no seguinte dia tres, & no outro outras tres, esperando que com taõ apressada descarga se impedisse o augmento, & perigo da inflammação de parte taõ mimosa, & delicada, como he o bofe; & no entretanto que se hiaõ repetindo as sangrias , lhe fazia tomar ajudas frescas, & levissimas, feitas de seis onças de soro de leite, & tres de assucar mascavado; outras vezes de caldo de frangaõ, & tres onças de lambedor violado. Tambem lhe mandei que de seis em seis horas tomasse meyo quartilho da seguinte agua antipleuritica, que para temperar a inflãmaçaõ , & dulcificar a acrimonia dos humores acidos he mui appropriada. Tomai as cascas de raizes de bardana machucadas huma onça, de flores de papoulas vermelhas huma maõ cheya, de agua ordinaria huma canada, tudo se coza em panela de barro com fogo brando, & coandose, ajuntai a este cozimento duas oitavas de pó subtilissimo de dente de porco montèz, & tres oitavas das minhas pilulas antifebriles, que saõ absorbentes, & dulcificantes da mayor grandeza, com duas onças de lambedor de papoulas. Porèm ainda que esta agua he admiravel, comtudo a dor nascida dos acidos errantes, & exaltados picava, & espasmava as fibras das partes inflammadas de tal modo, que necessitava de mais efficazes remedios para modificar a sensaçaõ da parte, & rebater a acrimonia do humor, & assim usei da seguinte fomentaçaõ anodyna , & tanto, ou quanto narcotica, feita de huma onça de unguento peitoral, & tres oitavas de triaga magna , & huma gema de ovo crua; & com este lenimento fiz fomentar o lugar da dor, pondolhe por cima hum paõ quente vindo do forno, partido pelo meyo. Mas como a dor se naõ tirasse com os absorbentes, nem com os rarefacientes, & volatilizantes, nem com os anodynos, entendi que era preciso cozer a materia, que estava embebida no bofe, para que com toda a brevidade se deitasse fóra por escarro; porque o escarrar bem na peripneumonia ainda he mais proveitoso, & necessario que no pleuriz; por quanto a causa da pe
193 Observação XXXII. mefma tarde duas vezes , & no feguinte dia tres , & no outro outras tres, efperando que com tao apreffada defcarga fe impediffe o augmento, & perigo da inflam- mação de parte taõ mimofa, & delicada, como he o bofe ; & no entretanto que fe hiao repetindo as fan- grias , lhe fazia tomar ajudas frefcas, & leviffimas, feitas de feis onças de foro de leite, & tres de affucar mafcavado ; outras vezes de caldo de frangaõ , & tres onças de lambedor violado. Tambem lhe mandei que de feis em feis horas tomaffe meyo quartilho da fe- guinte agua antipleuritica, que para temperar a infla- maçaõ, & dulcificar a acrimonia dos humores acidos he mui appropriada. Tomai de cafcas de raizes de bar- dana machucadas huma onça, de flores de papoulas vermelhas huma maõ cheya, de agua ordinaria huma canada, tudo fe coza em panela de barro com fogo brando, & coandofe, ajuntai a efte cozimento duas oitavas de pó fubtiliffimo de dente de porco montez, & tres oitavas das minhas pilulas antifebriles, que fao abforbentes , & dulcificantes da mayor grandeza, com duas onças de lambedor de papoulas. Porem ain- da que efta agua he admiravel, comtudo a dor nafci- da dos acidos errantes , & exaltados picava, & efpaf- mava as fibras das partes inflammadas de tal modo, que neceffitava de mais efficazes remedios para modi- ficar a fenfaçao da parte, & rebater a acrimonia do humor, & affim ufei da feguinte fomentaçao anody- na , & tanto , ou quanto narcotica, feita de huma on- ça de unguento peitoral, & tres oitavas de triaga mag- na , & huma gema de ovo crua; & com efte lenimen- to fiz fomentar o lugar da dor , pondolhe por cima hum pao quente vindo do forno, partido pelo meyo. Mas como a dor fe nao tiraffe com os abforbentes, nem com os rarefacientes, & volatilizantes, nem com os anodynos, entendi que era precifo cozer a materia, que eftava embebida no bofe, para que com toda a brevidade fe deitaffe fora por efcarro; porque o efcar- rar bem na peripneumonia ainda he mais proveitofo, & neceffario que no pleuriz ; por quanto a caufa da pe-
Obfervaca6 XXXII. 193 mefma tarde duas vezes , & no feguinte dia tres , & n outro outras tres, efperando que com taδ apreffada defcarga fe impediffe o augmento,& perigo da infam macao de parte ta mimofa, & delicada, como he bofe ; & no entretanto que.fe hia repetindo as fan- grias, lhe fazia tomar ajudas frefcas, & leviffimas, feitas de feis oncas de foro de leite, & tres de affucar mafcavado ; outras vezes de caldo de franga,& tres oncas de lambedor violado. Tambeim lhe mandei que de feis em feis horas tomaffe meyoquartilhoda fe- guinte agua antipleuritica , que para temperar a infla- maca, & dulcificar a acrimonia dos humores acidos he mui appropriada.Tomai de cafcas de raizes de bar- dana machucadas huma onca, de flores de papoulas vermelhas huma ma cheya, de agua ordinaria huma canada, tudo fecoza em panela de barro com fogo brando, & coandofe, ajuntai aefte cozimento duas oitavas de p6fubtiliffimo de dente de porco montéz, & tres oitavas das minhas pilulas antifebriles, que fa abforbentes , & dulcificantes da mayor grandeza, com duas oncas de lambedor de papoulas. Porém ain- da que éfta agua he admiravel , comtudo a dor nafci- da dos acidos errantes, & exaltados picava, & efpaf- mava as fbras das partes inflammadas de tal modo, que neceffitava de mais efficazes remedios para modi- ficar a fenfaca da parte, & rebater a acrimonia do humor,& affim ufeida feguinte foméntacao anody- na., & tanto, ou quanto narcotica , feita de huma on- $a de unguento peitoral, & tres oitavas de triaga mag- na, &humagemadeovo crua; & comefte lenimen- to:fiz fomentar o lugar da dor , pondolhe por cima hum pa quente vindo do forno , partido pelo ineyo. Mas coimo a dor fe na tiraffe com os abforbentes, nem com os rarefacientes, & volatilizantes , nem com os anodynos, entendi que era precifo cozer a materia, que eftava cmbebida no bofe, para que com toda a brevidade fe deitaffe fóra por efcarro; porque o efcar- rar bem na peripneumonia ainda he mais proveitofo, & neceffario que nopleuriz ; por quanto a caufa da pe-
Oblervaçao XXXIL. — 63 “nefma tarde duas vezes , & no feguinte dia tres, & no outro outras tres, eflperando que com raô apreffada defcarga fe impedifle o augmento,& perigo da inflam= mação de parte taô mimofa, & delicada, como he o bofe ; & no entretanto que fe hiaô repetindo as fan- grias , lhe fazia tomar ajudas freícas, & leviflimas, feitas de feis onças de foro deleite, & tres de affucar malcavado ; outras vezes de caldo de frangaõ, & tres onças de lambedor violado. Tambem lhe mandei que de feis em feis horas tomafle meyo quartilho da fe- guinte agua antipleuritica, que para temperar a inflã-« maçaõ, & dulcificar a acrimonia dos humores acidos he mui appropriada. Toma; de cafcas de raizes de bar= dana machucadas huma onça , de flores de papoulas vermelhas huma maô cheya, de agua ordinária huma canada, tudo fecoza em panela de barro com fogo brando, & coandofe, ajuntai aefte cozimento duas oitavas de pó fubrtiliflimo de dente de porco montêz, & tres oitavas das minhas pilulas antifebriles, que faõ abforbentes , & dulcificantes da mayor grandeza, com duas onças de lambedor de papoulas. Porêm ain- da que éfta agua he admiravel, comtudo a dor nafci- da dos acidos errantes , & exaltados picava , & eípafl. mava as fibras das partes inflammadas de tal modo, ue neceflitava de mais eficazes remedios para modi- fear a fenfaçaô da parte, & iebater a acrimonia do humor, & aflim ufei da feguinte fomentaçaó anody: na , & tanto , ou quanto narcotica, feita de huma on- ça de unguento peitoral, & tres oitavas de triaga mag- na , &huma gema de ovo crua; & com efte lenimen-" to fiz fomentar o lugar da dor , pondolhe por cima hum paó quente vindo do forno, partido pelo meyo. * Mas como a dor fe naô tirafle com os abforbentes, nem com os rarefacientes, & volatilizantes , nem com os anodynos, entendi que era precifo cozer a materia, e eftava embebida no bofe, para que com toda a brevidade fe deitafle fóra por efcarro; porque o efcar- rar bem na peripneumonia ainda he mais proveitofo, & neceffario que no pleuriz ; por quanto a caufa da | . - pe ES
Observaç a5 XXXII. 193 mesma tarde duas vezes, & no seguinte dia tres, & no outro outras tres, esperando que com taon apressada descarga se impedisse o augmento, & perigo da inflam- maçamo de parte taon mimosa, & delicada, como he o bose; & no entretanto que se hiao repetindo as san¬ grias, lhe fazia tomar ajudas frescas, & levissimas, feitas de seis onças de soro de leite, & tres de assucar mascavado; outras vezes de caldo de frangaon, & tres onças de lambedor violado. Tambem lhe mandei que de seis em seis horas tomasse meyo quartilho da se¬ guinte agua antipleuritica, que para temperar a infla¬ maçaon, & dulcificar a acrimonia dos humores acidos he mui appropriada. Tomai de cascas de raizes de bar- dana machucadas huma onça, de flores de papoulas vermelhas huma maon cheya, de agua ordinaria huma canada, tudo se coza em panela de barro com fogo brando, & coandose, ajuntai a este cozimento duas oitavas de pó subtilissimo de dente de porco montèz, & tres oitavas das minhas pilulas antifebriles, que saon absorbentes, & dulcificantes da mayor grandeza, com duas onças de lambedor de papoulas. Porèm ain- da que esta agua he admiravel, comtudo a dor nasci- da dos acidos errantes, & exaltados picava, & espas¬ mava as fibras das partes inflammadas de tal modo, que necessitava de mais efficazes remedios para modi ficar a sensaçaon da parte, & rebater a acrimonia do humor, & assim usei da seguinte fomentaçaon anody¬ na, & tanto, ou quanto narcotica, feita de huma on¬ ça de unguento peitoral, & tres oitavas de triaga mag- na, & huma gema de ovo crua; & com este lenimen- to fiz fomentar o lugar da dor, pondolhe por cima hum pao quente vindo do forno , partido pelo meyo. Mas como a dor se nao tirasse com os absorbentes, nem com os rarefacientes, & volatilizantes, nem com os anodynos, entendi que era preciso cozer a materia, que estava embebida no bofe, para que com toda a brevidade se deitasse fora por escarro; porque o escar- rar bem na peripneumonia ainda he mais proveitoso, & necessario que no pleuriz; por quanto a causa da pe¬
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194 Observações Medicas Doutrinaes peripneumonia , como està no mesmo bofe, tem mayor perigo que a materia do pleuriz, que não està nelle ; por tanto ordenei que tomasse muitas vezes no dia o seguinte lambedor morno. Tomai de raizes de malvaisco , & de bardana machucadas, de cada cousa destas meya onça, de folhas de avenca huma maõ cheya, de cabeças de hyssopo, & de oregão, de cada cousa destas meya duzia, com vinte maçãs da Nafega, tres figos passados, & hum cacho de passas sem grainha, se coza tudo em panela de barro com tres quartilhos de agua, & coandose com forte expressaõ, se faça lambedor com o assucar necessario; ao que fiz ajuntar duas oitavas de sperma ceti, porque tem admiravel propriedade de descoalhar o sangue, & resolver os humores tartareos do bofe. 5. Finalmente para acabar de aperfeiçoar o cozimento da materia, & facilitar mais os escarros, lhe dei tres noites successivas hum pero camoez recheado com meya oitava de almiscar, & hum escropulo de pò de flor de papoulas, assado com fogo brando, bebendolhe em cima quatro onças de agua de cardo santo morna; & foi taõ efficaz este remedio, que cozeo a materia, & a foi deitando por escarro com tanta felicidade , que dentro de doze dias teve perfeitissima saude . Alguns usaõ do pero assado com huma oitava de incenso macho; mas o almiscar faz tanta ventagem ao incenso, quanta faz o ouro ao chumbo, creame quem quizer. 6. Do que acima disse consta, que nos pleurizes, & peripneumonias póde alguas vezes ser conveniente o purgar: & ainda que antes do septeno tenha algum risco, por serem inflammações internas; comtudo naõ faltaõ Authores gravissimos, que o aconselhaõ, avendo grande necessidade. 7. Martim Rulando (6.) purgou a alguns com quatro onças de xarope violado solutivo, desatado com duas onças de agua de chicoria, repetindo a mesma purga passados tres dias: a outros purgou dandolhes huma onça do seu espirito da vida aureo, com que
194 Obfervações Medicas Doutrinaes." peripneumonia, como eftà no mefmo bofe, tem ma- yor perigo que a materia do pleuriz, que não eftà nel- le ; por tanto ordenei que tomaffe muitas vezes no dia o feguinte lambedor morno. Tomai de raizes de mal+ vaifco, & de bardana machucadas, de cada coufa def- tas meya onça, de folhas de avenca huma ma cheya, de cabeças de hyffopo, & de oregão, de cada coufa deftas meya duzia, com vinte maçãs da Nafega, tres figos paffados , & hum cacho de paffas fem grainha, fe coza tudo em panela de barro com tres quartilhos de agua, & coandofe com forte expreffao, fe faça lambe- dor com o affucar neceffario; ao que fiz ajuntar duas oitavas' de fperma ceti, porque tem admiravel pro- priedade de defcoalhar o fangue , & refolver os humo- res tartareos do bofe. 5. Finalmente para acabar de aperfeiçoar o cozi- mento da materia', & facilitar mais osefcarros , lhe dei tres noites fucceffivas hum pero camoez recheado com meya oitava de almifcar, & hum efcropulo de po de flor de papoulas, affado com fogo brando, be- bendolhe em cima quatro onças de agua de cardo fan- to morna ; & foi tao efficaz efte remedio, que cozeo a materia, & a foi deitando por efcarro com tanta feli- cidade, que dentro de doze dias teve perfeitiffima fau- de. ' Alguns ufao do pero affado com huma oitava de . i ineenfo macho; mas o almifcar faz tanta ventagem ao incenfo; quanta faz o ouro ao chumbo , creame quem quizer. 6 ... Do que acima diffe confta, que nos pleurizes, &: peripneumonias pode alguas vezes fer convenieng te o purgar: & ainda que antes do fepteno tenha al- gum rifco , por ferem inflammações internas ; comtu- do naő faltaõ Authores graviffimos, que o aconfelhaõ, avendo grande neceffidade. : 7: Martim Rulando ( 6. ) purgou a alguns com quatro onças de xarope violado folutivo , defatado com duas onças de agua de chicoria, repetindo a mef -- ma purga paffados tres dias : a outros purgou dando- lhes huma onça do feu efpirito da vida aureo, com que
194 . Obfervacoes Medicas Doutrinaes. peripheumonia,. como efta no mefmo bofe, tem ima yor perigo que a.materia do pleuriz, que nao efta nel- le ; par tanto ordenei que tomaffe muitas vezes no dia ofeguinte lambedor morno. Tomai de raizes de mal- vaifco , : & de bardana machucadas, de cada coufa def- tas meya onca , de.folhas de avenca huma ma cheya; de cabegas de hyffopo,& deoregao, de cada coufa deftas meya duzia, com vinte macas da Nafega, tres figos paffados , & hum cacho de paffasfem grainha, fe coza tudo em panela de barro com tres quartilhos de agua , & coandofe com forte expreffa, fe fasa lambe- dor com o affucar neceffario; ao que fiz ajuntar duas oitavas' de fperma ceti, porque tem admiravel pro- priedade dedefcoalhar o fangue , & refolver os humo- res tartaréos do bofe. 5.. Finalmente para acabar de aperfeicoar o cozi- mento da materia', & facilitar mais osefcarros, lhe dci tres noites fucceffivas hum pero camoez recheado com meya oitava de almifcar, & hum efcropulo de po de flor de papoulas, affado com fogo brando, be- bendolhe em cima quatroongas de agua de cardo fan- to morna; & foi taefficaz efte remedio, que cozeo a materia,& a foi deitando por efcarro com tanta feli-- cidade, que dentro de doze dias teve perfeitiffima fau: de. : Alguns ufa do pero affado com huma oitava de incenfo.macho, mas o.almifcar faz tanta ventagem: ao :incenfo; quanta faz o ouro ao chumbo , creame quemquizer. : : --6. : Doqueacima diffe confta, que nos pleurizes,: : &: peripneumonias póde algüas vezés fer convenienzi teo purgar.: & ainda que antes dofepteno tenha al-: gum rifco , por ferem inflammacöes internas ; comta- do na falta Authores graviffimos,que o aconfelha, avendo grandeneceffidade. . 7: -. Martim Rulando (6. ) purgou a alguns com quatró oncas de xarope violado folutivo , defatado com dúas oncas de agua de chicoria , repetindo a mef ma purga paffados tres dias : aoutros purgou dando-. lhes huma onga do feu efpirito da vida aureo, com que
- 194 Obfervações Medicas Doutrinaes. peripheumonia , como eftà no mefmo bofe, tem inás - vyor perigo que a materia do pleuriz , que não eftà nel. le ; por tanto ordenei que tomaíle muitas vezesnodia ofeguinte lambedor morno. Tomai deraizes de mal: vaifco ;-& de bardana machucadas, de cada coufa def tas meya onça , de folhas de avenca huma maó cheya, de cabeças de hyflopo, & de oregão , de cada coufa deftas meya duzia , com vinte maçãs da Nafega, tres figos paflados , & hum cacho de paffas fem grainha, fe coza tudo em panela de barro com tres quartilhos de agua , & coandofe com forte expreflaõ, fe faça lambe- dor com o aflucar neceffario ; ao que fiz ajuntar duas oitavas de fperma ceti, porque tem admiravel pro- priedade dedefcoalhar o fâangue , & refolver os humo- res tartarêos do bofe. : ! 5. Finalmente para acabar de aperfeiçoar o cozi- mento da materia”, & facilitar mais osefícarros , lhe dei tres noites fucceflivas hum pero camoez recheado com meya oitava de almifcar, & hum efcropulo de pô de flor de papoulas, aflado com fogo brando, be- endolhe em cima quatro onças de agua de cardo fan- to morna ; & foi taô efficaz efte remedio, quecozeo a * materia , & a foi deitando por efcarro com tanta feli- cidade, que dentro de doze dias teve perfeiriflima fan». de. ' Alguns ufaô do pero affado com huma oirava de | ineehfo macho; mas o.almiícar faz tanta ventagem. do incenfo ; quanta faz o ouro ao chumbo , creame' quemquizer, +. : no, “6. Doqueacimadiffeconfta, que nos pleurizes, * &: peripneumonias póde algas vezés fer convenienz:. .teopurgar:. & ainda que antes do fepteno tenha al: gumrifco, por ferem inflammações internas ; comtux= do naó faltaó Authores graviflimos,que o aconfelhaõ, avendo grandeneceflidade. Ds +37: Martim Rulando (6. ) purgou a alguas com: quatro onças de xarope violado folutivo , defatadao com duas onças de agua de chicoria, repetindo a mefz - ma purga paífados tres dias : a outros purgou dando=- lhes huma onça do feu efpirito da vida aureo, com Pa U
194 Observaçones Medicas Doutrinaes. peripneumonia, como està no mesmo bofe, tem ma¬ yor perigo que a materia do pleuriz, que nao està nel- le; por tanto ordenei que tomasse muitas vezes no dia o seguinte lambedor morno. Tomai de raizes de mal- vaisco, & de bardana machucadas, de cada cousa des- tas meya onça, de folhas de avenca huma mao cheya, de cabeças de hyssopo, & de oregao, de cada cousa destas meya duzia, com vinte maçans da Nafega, tres figos passados, & hum cacho de passas sem grainha, se coza tudo em panela de barro com tres quartilhos de agua, & coandose com forte expressaon, se faça lambe- dor com o assucar necessario; ao que fiz ajuntar duas oitavas de sperma ceti, porque tem admiravel pro¬ priedade de descoalhar o sangue , & resolver os humo- res tartareos do bofe. Finalmente para acabar de aperfeiçoar o cozi- mento da materia, & facilitar mais os escarros, lhe dei tres noites successivas hum pero camoez recheado com meya oitava de almiscar, & hum escropulo de pò de flor de papoulas, assado com fogo brando , be- bendolhe em cima quatro onças de agua de cardo san- to morna; & foi taon efficaz este remedio, que cozeo a materia, & a foi deitando por escarro com tanta feli¬ cidade, que dentro de doze dias teve perfeitissima sau- de. Alguns usao do pero assado com huma oitava de incenso macho; mas o almiscar faz tanta ventagem ao incenso, quanta faz o ouro ao chumbo, creame quem quizer. 6. Do que acima disse consta, que nos pleurizes, & peripneumonias pode algumas vezes ser conveniene te o purgar: & ainda que antes do septeno tenha al- gum risco, por serem inflammaçones internas; comtu¬ do naon faltaon Authores gravissimos, que o aconselhaon, avendo grande necessidade. 7. Martim Rulando (6.) purgou a alguns com quatro onças de xarope violado solutivo, desatado com duas onças de agua de chicoria , repetindo a mes- ma purga passados tres dias: a outros purgou dando¬ Ihes huma onça do seu espirito da vida aureo, com que
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Observaçaõ XXXII. 195 que purgavão por huma, & outra parte com felicissimo successo, não lhes dando de comer mais que caldo de gallinha, & em lugar de agua, leite de amendoas doces, & pevides de melaõ desatadas em agua de farelos , primeiro muito bem lavados, & limpos da farinha . Gregorio Handskio (7.) nas doeças difficultosissimas de curar, como faõ as peripneumonias, as inflammações do coraçaõ, & do estomago, dava o antimonio preparado. Pedro Pacheco (8.) diz q todos os doentes , que tendo pleuriz vomitàraõ no primeiro dia da enfermidade, saràraõ, aliviada a pleura da carga, que a opprimia, com o beneficio da purga. Riverio (9.) purgou a hum peripneumonico ao quarto dia com felicissimo successo. Hartmano (10.) diz q a verdadeira peripneumonia se cura com vomitorios dados no primeiro dia. O Doutor Lormes (11.) dava aos peripneumonicos , & pleuriticos os pòs de quintilio, & livrava com esta purga a muitos, estando já sem esperança de vida. Sponio diz que elle usa nas peripneumonias de vomitorios, & que nunca se achou enganado com o tal remedio; antes tem por muito covardes aos Medicos que temem usar delle. 8. Sejame licito advertir aos Medicos principiantes , que o Mediastino, ou tunica, que divide os lobos do bofe, se inflamma, & incha algumas vezes de tal sorte, pela grande quantidade de humor, que nelle se embebe, que naõ só o faz adquirir nome de peripneumonia , mas he causa de que o bofe se inflamme pela vizinhança que com elle tem. 9. Tambem advirto aos modernos, que se algum dia succeder que o pleuriz, ou peripneumonia sejaõ taõ rebeldes que naõ obedeçaõ aos remedios sobreditos , que neste caso dem com toda a confiança aos taes doentes duas vezes no dia hum bom copo da seguinte amendoada antipleuritica, que se fará do modo seguinte. Tomem de semente de linho huma onça , de semente de dormideiras brancas meya onça, pizemse estas duas cousas muito bem em hum gral de pedra, & entaõ se desfaça esta massa em meya canada de
Obfervaçaõ XXXII. 19$ que purgavão por huma, & outra parte com feliciffi- mo fucceffo, não lhes dando de comer mais que cal- do de gallinha, & em lugar de agua, leite de amendoas doces , & pevides de melaõ defatadas em agua de fare- los , primeiro muito bem lavados, & limpos da fari- nha. Gregorio Handskio(7.) nas doeças difficultofiffi- mas de curar, como faõ as peripneumonias, as inflam- mações do coraçaõ, & do eftomago, dava o antimo- nio preparado. Pedro Pacheco (8.) diz q todos os do+ entes , que tendo pleuriz vomitàraõ no primeiro dia da enfermidade', faràraõ, aliviada a pleura da carga, que a opprimia,com o beneficio da purga. Riverio(9.) purgou a hum peripneumonico ao quarto dia com feli- ciffimo fucceffo. Hartmano(10. )diz q a verdadeira pe- ripneumonia fe cura com vomitorios dados no pri- meiro dia.O Doutor Lormes (11.) dava aos peripneu- monicos , & pleuriticos os pos de quintilio, & livra- va com efta purga a muitos , eftando jáfem efperança de vida. Sponio diz que elle ufa nas peripneumonias de vomitorios, & que nunca fe achou enganado com o tal remedio ; antes tem por muito covardes aos Me- dicos que temem ufar delle. . 8. Sejame licito advertir aos Medicos principian- tes , que o Mediaftino , ou tunica, que divide os lobos do bofe, fe inflamma, & incha algumas vezes de tal forte, pela grande quantidade de humor, quenelle fe embebe, que nao fó o faz adquirir nome de perip- neumonia, mas he caufa de que o bofe fe inflamme pe- la vizinhança que com elle tem. 9. Tambem advirto aos modernos, que fe algum dia fucceder que o pleuriz, ou peripneumonia fejaõ taõrebeldes que nao obedeçaõ aos remedios fobredi- tos , que nefte cafo dem com toda a confiança aos taes doentes duas vezes no dia hum bom copo da fe- guinte amendoada antipleuritica, que fe fará do mo- do feguinte. Tomem de femente de linho huma on- ça, de femente de dormideiras brancas meya onça, pizemfe eftas duas coufas muito bem em hum gral de pedra, & entao fe desfaça efta maffa em meya canada de .
Obiervatao XXXII. 19$ qut purgavao por huma, & outra parte com feliciff- mofucceffo, nao lhes dando de comer mais quecal- do de gallinha, & em lugar de agua,leite de amendoas doces , & pevides de melaö defatadas em agua de fare- los, primeiro muito bem lavados, & limpos dafari- nha.GregorioHandskio(7.) nas dotcas difficultofiffi- mas de curar, como faö as peripneumonias, as inffam- mages do .corasa, & do eftomago, dava o antimo- nio preparado. Pedro Pacheco(8.) diz q todos os do- entes, que tendo pleuriz vomitara no primeiro dia da enfermidade', farara, aliviada a pleura dacarga, que a opprimia,com o beneficio da purga.Riverio(9.) purgou a hum peripneumonico ao quarto dia com feli- ciffimo fucceffo.Hartmano(10.)diz a verdadeira pe- ripneumonia fe cura com vomitorios dados no pri- meiro dia.O Doutor Lormes (1 1.) dava aos peripneu- monicos, & pleuriticos os pos de quintilio, & livra- va com efta purga a muitos,eftando jafem efperanca de vida. Sponio diz que elle ufa nas peripneumonias de vomitorios, & que nunca fe achou enganadocom o. tal remedio ; antes tem por-muito covardes aos Me- dicos que temem ufar delle. . 8. Sejame licito advertir aos Medicos principian- tes , que o Mediaftino , ou tunica, que divide os lobos do bofe, fe inflamma, & incha algumas vezes de tal forte, pela. grande quantidade de humor, que nelle fe embebe, que naf6 ofaz adquirir nome de perip- neumonia, mas he caufa de que o bofe fe inflamme pe- la vizinhanca que.com elle tem. 9. Tambem advirto aos modernos, que fe algur dia fucceder que o pléuriz, ou peripneumonia feja ta.rebeldes que naö obedeca aös remedios fobredi- tos , quenefte cafo dem com.toda a confiarca aos taes doentes duas vezes no diahum boim copo da fe- guinte amendoada antipleuritica, que fe fara do mo- do feguinte. Tomem de femente de linho huma on- ca, de femente dedormideiras brancas meya onca, pizemfe eftas duas coufas muito bem em hum gral de pedra , & enta fe.destaca efta maffa em meya canada te
Oblervaçãoó XXXII — 9% que purgavão por huma , & outra parte com felicifli- | - - mofucceflo, não lhes dando de comer mais quecal- do de gallinha, & em lugar de agua, leite de amendoas doces , & pevides de melaô defatadas em agua de fare- los , primeiro muito bem lavados, & limpos da fari. . nha.Gregorio Handskio(7.) nas doéças difficultofiffi- mas de curar, como faô as peripneumontias, as inflam- mações do coraçaô , & do eftomago, dava o antimo= nio preparado. Pedro Pacheco (8.) diz G todos os do* entes , que tendo pleuriz vomitàraô no primeiro dia da enfermidade”, farãraó, aliviada a pleurá da carga, que a opprimia,com o beneficio da purga.Riverio(9.) Purgou a hum peripneumonico ao quarto dia com feli- cifimo fucceffo.Hartmano( 10. )diz q a verdadeira pe- ripneumonia fe cura com vomirtorios dados no pri? meiro dia.O Dontor Lormes (11.) dava aos peripneu- monicos , & pleuriticos os pôs de quintilio, & livra» va com efta purga a muitos , eftando jáfem efperança de vida. Sponio diz que elle ufa nas peripneumonias de vomitorios, & que nunca fe achou enganado com o tal remedio ; antes tem por muito covardes aos Me- dicos que temem ufar delle. : . 8. Sejamelicitoadvertir aos Medicos principian- tes , que o Mediaftino , ou tunica, que divide os lobos do bofe, feinfamma, & incha algumas vezes de tal forte, pela grande quantidade de humor, que nelle VU fe embebe , que riaó fó o faz adquirir nome de perip- — : * neumonia, mas he caufa de que o bofe fe inflamme pe- la vizinhança que com elle tem. Se 9. Tambem advirto aos modernos, que fe alguma dia fucceder que o pleuriz, ou peripneumonia fejaõ taórebeldes que naô obedeçaõ aos remedios fobredi- tos , que nefte cafo dem com toda a confiança aos taes doentes duas vezes no diahum bom copo da fe- guinte amendoada antipleuritica, que fe fara do mo- do feguinte. Tomem de femente de linho huma on- ça , de femente de dormideiras brancas meya onça, pizemfe eftas duas coufas muito bem em hum gral de pedra, & entaô ” efta maíla em meya canada = AS de ,
Observaçao XXXII. 195 que purgavamo por huma, & outra parte com felicissi mo successo, nao lhes dando de comer mais que cal- do de gallinha, & em lugar de agua, leite de amendoas doces, & pevides de melaon desatadas em agua de fare- los, primeiro muito bem lavados, & limpos da fari¬ nha. Gregorio Handskio(7.) nas doëças difficultosissi¬ mas de curar, como saon as peripneumonias, as inflam¬ maçones do coraçaon, & do estomago, dava o antimo¬ nio preparado. Pedro Pacheco (8.) diz que todos os do- entes, que tendo pleuriz vomitàraô no primeiro dia da enfermidade, saràrao, aliviada a pleura da carga, que a opprimia, com o beneficio da purga. Riverio(9., purgou a hum peripneumonico ao quarto dia com feli¬ cissimo successo. Hartmano (10.) diz que a verdadeira pe¬ ripneumonia se cura com vomitorios dados no pri¬ meiro dia. O Doutor Lormes (11.) dava aos peripneu- monicos, & pleuriticos os pòs de quintilio, & livra¬ va com esta purga a muitos, estando jà sem esperança de vida. Sponio diz que elle usa nas peripneumonias de vomitorios, & que nunca se achou enganado com o tal remedio; antes tem por muito covardes aos Me dicos que temem usar delle. 8. Sejame licito advertir aos Medicos principian tes, que o Mediastino , ou tunica, que divide os lobos do bofe, se inflamma, & incha algumas vezes de tal sorte, pela grande quantidade de humor, que nelle se embebe, que nao so o faz adquirir nome de perip¬ neumonia, mas he causa de que o bofe se inflamme pe¬ la vizinhança que com elle tem. Tambem advirto aos modernos, que se algum 9. dia succeder que o pleuriz, ou peripneumonia sejaon taon rebeldes que naon obedeçaon aos remedios sobredi tos, que neste caso dem com toda a confiança aos taes doentes duas vezes no dia hum bom copo da se¬ guinte amendoada antipleuritica, que se fara do mo¬ do seguinte. Tomem de semente de linho huma on- ça, de semente de dormideiras brancas meya onça, pizemse estas duas cousas muito bem em hum gral de pedra, & entaon se desfaça esta massa em meya canada de
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196 Observações Medicas Doutrinaes. de agua da fonte, que primeiro seja cozida com duas oitavas de limadura fina de osso de veado, com huma onça de casca de raiz de bardana, & entaõ lhe ajuntem a esta amendoada duas onças de lambedor de flores de papoulas, duas oitavas de coral bem preparado, & duas de pò subtilissimo de dente de porco montez; porque não he dizivel a estupenda virtude, que estas amendoadas tem para os pleurizes, & peripneumonias , que não querem obdedecer a remedio algum. 10. Disse acima que as sangrias grandes, & repetidas era hum dos remedios mais proveitosos para as peripneumonias; mas isto se deve entender, se a doença começou logo por peripneumonia, & quando o doente estava com todas as suas forças; mas se a peripneumonia sobreveyo depois de outra qualquer doença , estando jà o corpo fraco, & falto de forças, neste caso naõ louvo as sangrias, senaõ poucas, & pequenas ; porque como toda a esperança de escapar do perigo depende do escarrar bem, saõ necessarias forças para cozer os humores, & para os expectorar. Rogo muito aos Leitores, que vejaõ Baronio. (12.) 11. Advirto ultimamente que se nem os vomitorios de agua benedicta dados no primeiro dia, nem as repetidas sangrias fizeram o proveito desejado, que em taõ apertado lance fomentem a pontada com o oleo de Contraveleni do graõ Duque de Florença, que se for verdadeiro, observaráõ hum effeito taõ prodigioso , que fiquem admirados: digo isto, porque o tenho experimentado muitas vezes com successos quasi milagrosos. 12. Mas porque nem em todas as terras se achará o oleo sobredito, ou poderá ser falsificado, como hoje ha muito, podem usar do oleo da abobora, que he o mais grande, & admiravel remedio que ha para as pontadas de pleurizes; os que o experimentarem, conheceráõ o grande beneficio que fiz ao mundo em lhes descubrir hum taõ grande thesouro, & se faz do modo seguinte. No
196 Obfervações Medicas Doutrinaes. - de agua da fonte, que primeiro feja cozida com duas oitavas de limadura fina de offo de veado, com huma onça de cafca de raiz de bardana, & entao lhe ajun- tem a efta amendoada duas onças de lambedor de flo- res de papoulas, duas oitavas de coral bem prepara- do , & duas de pò fubtiliffimo de dente de porco mon- tez ; porque não he dizivel a eftupenda virtude, que eftas amendoadas tem para os pleurizes , & perip- neumonias, que não querem obedecer a remedio al- gum. 10. Diffe acima que as fangrias grandes, & repe- tidas era hum dos remedios mais proveitofos para as peripneumonias; mas ifto fe deve entender, fe a doen- ça começou logo por peripneumonia , & quando o doente eftava com todas as fuas forças; mas fe a pe- ripneumonia fobreveyo depois de outra qualquer do- ença, eftando jà o corpo fraco, & falto de forças, nef- te cafo naõ louvo as fangrias, fenaõ poucas, & peque- nas ; porque como toda a efperança de efcapar do pe- rigo depende do efcarrar bem, faõ neceffarias forças para cozer os humores, & para os expectorar. Rogo muito aos Leitores, que vejaõ a Baronio.(12.) II. Advirto ultimamente que fe nem os vomito- rios de agua benedicta dados no primeiro dia, nem as repetidas fangrias fizerem o proveito defejado, que em taõ apertado lance fomentem a pontada com: o oleo de Contraveleni do grao Duque de Florença, que fe for verdadeiro, obfervarao hum effeito tao prodi- giofo, que fiquem admirados : digo ifto, porque o te- nho experimentado muitas vezes com fucceffos quafi milagrofos. 12. Mas porque nem em todas as terras fe achará o. oleo fobredito, ou poderá fer falfificado , como hoje. ha muito, podem ufar do oleo da abobora, que he o mais grande , & admiravel remedio que ha para as pontadas de pleurizes; os que o experimentarem, co- nheceráõ o grande beneficio que fiz ao mundo em lhes defcubrir hum tao grande thefouro, & fe faz do mo- do feguinte. No
196 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. deagua dafonte, que primeiro feja cozida com duas oitavas de limadura fina de-offo de veado, com huma .onca de cafca de raiz de bardana, & entalhe ajun- tem a efta amendoada duas oncas delambedor de flo- resde papoulas, duas oitavas de:coral bem prepara- do,& duas de po fubtiliffimode denté de porco imon- tez ; porque nao he dizivel a eftupenda virtude, que eftas amendoadas tem para os pleurizes , & perip- neumonias, que nao querem obedecer a remedio al. gum. 10. Diffe acima que as fangrias grandes , & repe- tidas era hum dos remedios mais proveitofos para as peripneumonias; mas ifto fe deve entender, fe a doen- ca comecou logo por peripneumonia, & quando o doente eftava com todas as fuas forcas; mas fe a pe- ripneumonia fobreveyo depois de outra qualquer do- enca, eftando ja o corpofraco, & falto de forεas; nef- te cafo na louvo as fangrias, fena poucas , & peque- nas ; porque como toda a efperanca de efcapar dope- rigo depende do efcarrar bem, fa neceffarias forcas para cozer os humores, & para os expectorar. Rogo muito aos Leitores, que veja a Baronio.(12.) 11. Advirto ultimamente que fe nem os vomito- rios de agua benedicta dados no primeiro dia , nem as repetidas fangrias fizerem o proveito defejado, que em taö apertado lance fomentem a pontada com: o oleo de Contraveleni do gra Duquede Florenca,que fe for verdadeiro., obfervará hum effeito ta prodi- giofo , que fiquem admirados : digo ifto, porque o te- nhoexperimentadomuitas vezes com fucceffos quafi inilagrofos. 12. Mas porque nem em todas as terras feachara 'oleo fobredito, ou poderafer falfificado,.como hoje. ha muito , podem ufar..do oleo da abobora, que he o mais grande , & admiravel remedio. que ha para as pontadas de pleurizes; os que o experimentarem , co- nhecerá o grande beneficioque fiz ao mundo en lhes defcubrir hum ta grande thefouro, & fe faz do mo- do feguinte. No
196 Obflervações Medicas Dohtrinaes. deagua da fonte , que primeiro feja cozida com duas oitavas de limadura fina de.oflo de veado, com huma onça de cafca de raiz de bardana, & entaô lhe ajun- tem a efta amendoada duas onças de lambedor de flo- resde papoulas , duas oitavas de-coral bem prepara- do , & duas de pô fubrilifimo de dente de porco nmon- tez ; porque não he dizivel a eftupenda virtude, que eftas amendoadas tem para os pleurizes , & perip- neumonias, que não querem obedecer a remedio al- gum. : 10. Diffeacimaque as fangrias grandes , & repe- tidas era hum dos remedios mais proveitofos para as peripneumonias; mas ifto fe deve entender, fe a doen- ça começou logo por peripneumonia , & quando o doente eftava com todas as fuas forças ; mas feape- ripneumonia fobreveyo depois de outra qualquer do- ença , eftando jà o corpo fraco, & falto de forças, nef- te cafo naô louvo as fangrias , fenaô poucas , & peque- nas ; porque como toda a efperança de elcapardope- rigo depende do efcarrar bem, faô neceflarias forças para cozer os humores, & para os expectorar. Rogo muito aos Leitores, que veja6 a Baronio.(12.) : 11. Advirtoultimamente que fe nem os vomito- tios de agua benedidta dados no primeiro dia, nemas repetidas fangrias fizerem o proveito defejado, que em taô apertado lance fomentem a pontada com: o oleo de Contraveleni do graô Duque de Florença,que fe for verdadeiro , obfervarão hum effeito taô prodi- giofo , que fiquem admirados : digo ilto , parque o tem nho. experimentado muitas vezes com fucceflos quafi milagrofos. ' 12. Mas porque nem em todas as terras fe acharã o. oleo fobredito, ou poderá fer fallificado, como hoje. ha muito, podem ufar do oleo da abobora, que he o mais grande , & admiravel remedio. que ha para as pontadas de pleurizes; os que o experimentarem, co- nheceráõ o grande beneficio que fizao mundo em lhes * defeubrir hum taô grande thefouro, & fe faz do mo- do feguinte. No
196 Observaçones Medicas Doutrinaes. de agua da fonte, que primeiro seja cozida com duas oitavas de limadura fina de osso de veado , com huma onça de casca de raiz de bardana, & entao lhe ajun- tem a esta amendoada duas onças de lambedor de flo- res de papoulas, duas oitavas de coral bem prepara- do , & duas de pò subtilissimo de dente de porco mon- tez; porque náo he dizivel a estupenda virtude, que estas amendoadas tem para os pleurizes, & perip¬ neumonias, que nano querem obedecer a remedio al¬ gum. 10. Disse acima que as sangrias grandes, & repe¬ tidas era hum dos remedios mais proveitosos para as peripneumonias; mas isto se deve entender, se a doen- ça começou logo por peripneumonia, & quando o doente estava com todas as suas forças; mas se a pe¬ ripneumonia sobreveyo depois de outra qualquer do¬ ença, estando jà o corpo fraco , & falto de forças, nes- te caso naon louvo as sangrias, senaon poucas, & peque¬ nas; porque como toda a esperança de escapar do pe- rigo depende do escarrar bem, sao necessarias forças para cozer os humores, & para os expectorar. Rogo muito aos Leitores, que vejaon a Baronio. (12. 11. Advirto ultimamente que se nem os vomito¬ rios de agua benedicta dados no primeiro dia, nem as repetidas sangrias fizerem o proveito desejado, que em tao apertado lance fomentem a pontada com o oleo de Contraveleni do graon Duque de Florença, que se for verdadeiro, observaráon hum effeito tao prodi¬ gioso, que fiquem admirados : digo isto , porque o te- nho experimentado muitas vezes com successos quasi milagrosos. 12. Mas porque nem em todas as terras se achará o oleo sobredito , ou poderá ser falsificado , como hoje ha muito, podem usar do oleo da abobora, que he o mais grande, & admiravel remedio que ha para as pontadas de pleurizes; os que o experimentarem , co- nheceráon o grande beneficio que fiz ao mundo em lhes descubrir hum taon grande thesouro, & se faz do mo¬ do seguinte. No
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Observaçaõ XXXII. 197 13. No mez de Agosto tomem quatro aboboras brancas, & saõ aquellas que os doentes comem, & raspandoas muito subtilmente, lhe tirem a pellinha exterior de sorte, que fiquem na casca verde, & então se fação em tiras compridas, & estreitas, & com a mesma faca se lhe tire tudo o que for miolo, & carne branca de tal sorte, que naõ fique pegada nas ditas tiras cousa alguma do branco, mas só fique o que he verde; estas tiras se pezem em huma balança com outro tanto azeite velho, o melhor que se puder achar, & metendo tudo em huma tigela de fogo vidrada, que naõ tenha servido de outra cousa, se ponha sobre fogo sem fumo, & se ferva tanto tempo, atè que as sobreditas tiras se torrem quasi como carvão, tiremse de dentro as taes tiras, & esta tigela com o azeite, se leva a casa de hum ferreiro, & com tres pedaços de ferro virgem, (quero dizer, que naõ aja servido ,) se ferre tres vezes o dito oleo, cobrindo a tigela com testo quando se ferrar, para que se apague muito depressa a lavareda; & este he o admiravel segredo dos segredos, com que se curaõ os pleurizes por modo de milagre. 14. O modo com que se usa deste remedio, he na fórma seguinte. Aquentaráõ duas colheres de oleo, & com a maõ quente molhada nelle esfregaràõ o lugar da pontada com tal brandura, que se naõ escandalize a parte, mas durarà a esfregaçaõ tempo, que se rezem oito Ave Marias, para que a virtude do oleo penetre dentro, & logo cobriràõ o lugar com humas estopas quente, & enfaixaràõ com hua toalha de linho quente ; & não serà necessario repetir estas fomentações mais que dous, ou, quando muito, tres dias, porque nelles observaráõ huma melhoria quasi milagrosa. OBSER
Obfervação XXXII. 197. 13. No meż de Agofto tomem quatro aboboras. brancas, & fao aquellas que os doentes comem, &. rafpandoas muito fubtilmente, lhe tirem a pellinha exterior de forte, que fiquem na cafca verde, & en- tão fe fação em tiras compridas, & eftreitas, & com a mefma faca fe lhe tire tudo o que for miolo, & car- ne branca de tal forte , que naõ fique pegada nas ditas tiras coufa alguma do branco, mas fó fique o que he verde; eftas tiras fe pezem em huma balança com ou- tro tanto azeite velho, o melhor que fe puder achar, & metendo tudo em huma tigela de fogo vidrada, que nao tenha fervido de outra coufa, fe ponha fobre fo- go fem fumo, & fe ferva tanto tempo, atè que as fo- breditas tiras fe torrem quafi como carvão, tiremfe de dentro as taes tiras, & efta tigela com o azeite, fe leve a cafa de hum ferreiro , & com tres pedaços de ferro virgem , ( quero dizer, que nao aja fervi- do, ) fe ferre tres vezes o dito oleo, cobrindo a tigela com tefto quando fe ferrar , para que fe apague mui- to depreffa a lavareda ; & efte heo admiravel fegredo dos fegredos, com que fe curaõ os pleurizes por mo- do de milagre. 14. O modo com que fe ufa defte remedio, he na forma feguinte. Aquentarao duas colheres de oleo, & com a maõ quente molhada nelle esfregaràõ o lugar da pontada com tal brandura, que fe naõ efcandalize . a parte, mas durarà a esfregaçaõ tempo, que fe rezem oito Ave Marias , para que a virtude do oleo penetre dentro, & logo cobriràõ o lugar com humas eftopas quentes, & enfaixardo com hua toalha de linho quen te ; & nãoferà neceffario repetir eftas fomentações mais que dous, ou , quando muito , tres dias , porque nelles obfervarao huma melhoria quafi milagrofa. -1 OBSER- .
Obfervacao XXXII 197. 1 3.. No mez de Agofto tomem quatroaboboras brancas, & fao aquellas que os doentes comem, &. rafpandoas muitofubtilmente, Ihe tirem a pellinha exterior de forte, que fiquem nacafca verde, & en- tao fe facao em tiras cqmpridas, & eftreitas, & εom a mefma faca fe lhe tire tudoo que for miolo, & car- ne branca de tal forte , que na fique pegada nas ditas tiras coufa alguma dobranco, mas f6 fque o que he verde ; eftas tiras fe pezem em huma balanca com ou- tro tanto azeite velho, o melhor que fe puder achar, & metendo tudoem huma tigela de fogo vidrada,que na tenha fervido de'outra coufa, fe ponhafobrefo- go fem fumo, & fe ferva tanto tempo, até que as fo- breditas tiras fe torrem quafi como carvao, tiremfe de dentro as taes tiras, &.efta tigela com oazeite, fe leve a cafa de hum ferreiro , & com tres pedacos de.ferro.virgem , ( quero dizer, que nao aja fervi- do, ) fe ferre'tres vezesoditooleo, cobrindoa tigela com tefto quandofeferrar , para que fe apague mui- to depreffa a lavareda ; & efte heo admiravel feg'redo dos fegredos, com que fe cura os pleurizes. por mo- do de milagre. 14. . Omodo com quefe ufa defteremedio, he na f6rmafeguinte. Aquentara duas colheres de oleo, & coma ma quente molhada nelle esfregaraö o lugar da pontada Com tal brandura, que fe naö efcandalize . a parte, mas durara a esfregaca tempo, que fe rezem oito Ave Marias , para que a virtude dooleo penetre dentro, & logocobriraöolugar com humas eftopas quentes, & enfaixaraö com hua toalha de linhoquen te. ; & näofera neceffario repetir eftas.fomentacöes mais que dous, ou, quando muito, tres dias, porque nelles obfervará huma melhoria quafi milagrofa. OBSER
º Obfervação XXXIL 197. 13. No mez de Agofto tomem quatro aboBoras brancas, & faó aquellas que os doentes comem, & rafpandoas muito fubrilmente , lhe tirem a pellinha exterior de forte, que iquem na cafca verde, & en“ tão fe fação em tiras compridas, & eftreitas, & éom a mefma faca felhetite tudo o que for miolo, & car« ne branca de ral forte, que naô fique pegada nas ditas | tiras coufa alguma do branco, mas fó fique o que he : ; verde ; eftastiras fe pezem em huma balança comou- ' tro tanto azeite velho, o melhor que fe puder achar, ! & metendo tudo em huma tigela de fogo vidrada,que naõ tenha fervido de'outra coufa, fe ponha fobrefo- * go fem fumo , & fe ferva tanto tempo, até que as fo- Dbreditas tiras fetorrem quafi como carvão, tiremfe de dentro as taes tiras , & efta tigela como azeite, fe leve a cafa de hum ferreiro , & com tres pedaços — de ferro virgem , ( quero dizer, que naõ aja fervi- do , ) fe ferre tres vezes o dito oleo, cobrindoa tigela com têfto quando fe ferrar , para que fe apague mui . to deprefla a lavareda ; & efte heo admiravel fegredo dos fegredos, com que fe curaô os pleurizes gor mo- do demilagre. o 14. O modo com quefe ufa deíte remedio , he na fórma feguinte. Aquentarãõ duas colheres de oleo , & . : coma maô quente molhada nelle esfregarãõo o lugar . da pontada comtal brandura, que fe nao efcandalize : a parte, mas durarà a esfregação tempo quefeiezem oito Ave Marias , para que a virftide do oleo penetre + > dentro, & logo cóbrirão o lugar com humas eftopas quentes, & enfaixarãoô com hãa toalha de linhoquen+ te ; & nãoferà neceffario repetir eftas fomentações mais que dous, ou, quando muitó, tres dias , porque - nelles obfervarão huma melhoria quafi milagrofa. - 2) ES " *
Observaçao XXXII. 197. 13. No mez de Agosto tomem quatro aboboras brancas, & sao aquellas que os doentes comem, & raspandoas muito subtilmente, lhe tirem a pellinha exterior de sorte, que fiquem na casca verde, & en- tamo se façamo em tiras compridas, & estreitas, & com a mesma faca se lhe tire tudo o que for miolo, & car¬ ne branca de tal sorte, que naon fique pegada nas ditas tiras cousa alguma dobranco, mas so fique o que he verde; estas tiras se pezem em huma balança com ou tro tanto azeite velho, o melhor que se puder achar, & metendo tudo em huma tigela de fogo vidrada, que nao tenha servido de'outra cousa , se ponha sobre fo- go sem fumo , & se ferva tanto tempo, atè que as so- breditas tiras se torrem quasi como carvamo, tiremse de dentro as taes tiras, & esta tigesa com o azeite, se leve a casa de hum ferreiro, & com tres pedaços de ferro virgem, (quero dizer, que nao aja servi¬ do, ) se ferre tres vezes o dito oleo , cobrindo a tigela com testo quando se ferrar, para que se apague mui- to depressa a lavareda; & este he o admiravel segredo dos segredos, com que se curao os pleurizes por mo- do de milagre. 14. O modo com que se usa deste remedio , he na forma seguinte. Aquentaraon duas colheres de oleo , & com a maô quente molhada nelle esfregaràon o lugar da pontada com tal brandura, que se naon escandalize a parte, mas durarà a esfregaçaon tempo, que se rezem oito Ave Marias, para que a virtude do oleo penetre dentro, & logo cobrirào o lugar com humas estopas quentes, & enfaixaràon com hua toalha de linho quen¬ te; & namo serà necessariò repetir estas fomentaçones mais que dous, ou, quando muitò, tres dias, porque nelles observaraon huma melhoria quasi milagrosa. OBSER-¬ 4
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198 Observações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XXXIII . De huns accidentes uterinos , que Dona Maria Fuzarte padeceo quatro annos , & estando já deixada ao arbitrio da natureza , me chamàraõ , para que a curasse ; & sem embargo que pudera acovardarme , o saber que alguns Medicos da mayor opiniaõ tinhaõ largado o leme em taõ grande tormenta , fiz quanto pude por livralla ; & faraõ as minhas diligencias tao bem succedidas , que no discurso de dous meses teve saude taõ perfeita , que gérou dous filhos , & viveo dezoito annos por beneficio da cura que lhe fiz . 1. Dona Maria Juzarte , mulher de Nicolao Pedro , morando à Boa vista , padeceo quatro annos huma enfermidade rebeldissima , acompanhada de symptomas taõ formidaveis , que atè os Medicos mais doutos , & experimentados a tiveraõ por diabolica , & tanto mais crescia esta suspeita , quanto menos alivio colhiaõ dos remedios , que em taõ largos tempos lhe applicàraõ , porque em todo o ventre , & estomago sentia grandes dores , às quaes se ajuntavão palpitações do coraçaõ , dores de cabeça , inchaçaõ de ventre , tremores de membros , laxidões de todo o corpo , arrotos taõ grandes , & continuos , que lhe duravaõ horas successivas : vacillavalhe o juizo de sorte, que humas vezes entendia que a despenhavão de huma torre , & por isso resistia , & fazia grandes forças contra os imaginados empuxões ; outras vezes estava taõ calada , que nem huma palavra dizia ; outras vezes tinha a respiraçaõ taõ presa , & apertada , que presumia a affogavão com huma corda ; outras vezes estava taõ triste , que sendo levada a hum campo , nem o brando sussurro das aguas de hua fresca ribeira , nem o verdor das ervas de hum valle ameno , nem a viraçaõ suave das arvores sombrias , nem a doce melodia das canoras aves , podiaõ divertir sua tris
. 19.8 Obfervações Medicas Doutrinats. OBSERVAÇAM XXXIII. De buns . accidentes uterinos, que Dona Maria Juzarte padeceo quatro annos, & eftando ja deixada ao arbi- trio da natureza,me chamar ao, para que a curafe; & fem embargo que pudera acovardarme, o faber que alguns Medicos da mayor opiniao tinhao largado o le- me em tao grande tormenta, fiz quanto pude por li- vralla ; & forao as minhas diligencias tao bem fucce- didas, que no difcurfo de dous mefes teve faude tao perfeita, que gérou dous filhos, & viveo dezoito an- nos por beneficio da cura que lhe fiz. 1 I. D Ona Maria Juzarte, mulher de Nicolao Pedro, morando à Boa vifta, padeceo quatro annos huma enfermidade rebeldiffima , acom- panhada de fymptomas tao formidaveis, que atè os Medicos mais doutos, & experimentados a tiverao por diabolica , & tanto mais crefcia efta fufpeita, quanto menos alivio colhia dos remedios, que em tao largos tempos lhe applicàrao, porque em todo o ventre, & eftomago fentia grandes dores , às quaes fe ajuntavão palpitações do coraçaõ, dores de cabeça, . inchaçaõ de ventre, tremores de membros, laxidões de todo o corpo, arrotos tao grandes, & continuos, que lhe duravão horas fucceffivas: vacillavalhe o jui- zo de forte, que humas vezes entendia que a defpe- nhavão de huma torre, & por iffo refiftia, & fazia grandes forças contra os imaginados empuxões; ou- tras vezes eftava tão calada, que nem huma palavra dizia; outras vezes tinha a refpiracao tao prefa, & apertada, que prelumia a affogavão com huma corda; outras vezes eftava tao trifte , que fendo levada a hum campo, nem o brando fuffurro das aguas de hua fref- ca ribeira, nem o verdor das ervas de hum valle ame- no, nem a viraçaõ fuave das arvores fombrias , nem a doce melodia das canoras aves, podiao divertir fua trif- --- .
Obfervacoes Medicas Doutrinats. 19:8 O B S E R V A C A.M. XXXIII. De buns atcidentes uterinos, que Dona Mcria Fuzarte padeceo quatro annos, s eftandojá deixada ao arbi- trio da natureza,me chamarao,para que a curaffe; s Jein embargo que pudera acovardarme, faber que alguns Medicos da mayor opinia tinba largado o le- me en ta grande tormenta, fizquanto pude por li- vralla ; fora as minbas diligencias ta bem fucce- didas, que no difturf6 de. dous mefes tevefaude ta perfeita, que gérou dous filbos, viveo dezoito an- nos por. beneficio da cura que lbe fiz. D Ona Maria Juzarte, mulher de Nicolao Pedro, morando a Boa vifta, padeceo panhada de fymptomas taformidaveis, que até os Medicos mais doutos, & experimentados a tivera por diabolica , & tanto mais crefcia efta fufpeita , quanto menos alivio colhia dos remedios, que em talargos tempos lhe applicara, porque em todo o ventre, & eftomagofentia grandes dores , as quaes fe ajuntaváo palpitagöes docoraca, dores de cabeca: .. inchašao de ventre, tremores de membros, laxidöes de todoocorpo, arrotos ta grandes, & continuos, . que lhe duravao horas fucceffivas : vacillavalhe o jui- zo de forte, que humas vezes enténdia quea defpe- nhavao de huma torre, & por iffo refiftia, & fazia grandes forgas contra os imaginados empuxöes ; ou tras vezes eftava ta calada, que nem huma palavra dizia; outras vezes tinha arefpirasa ta prefa, & apertada , que prefumia a affogavao com huma corda; outras vezes.eftava tatrifte , que fendo levada a hum campo, nem o brandofuffurro das aguas de hua fref- ca ribeira, nem o verdor das ervas de hum valle ame- no, nem a viraca fuave das arvores fombrias , nem a docemelodia das canoras aves, podiao divertir fua trif-
- docemelodia das canoras aves, podia divertir fua + 198 Obfervações Medicas Doutrinats. OBSERVAÇGAM XXXIII. De buns “accidentes uterinos , que Dona Meia Tuzarte padeceo quatro annos, & eftando já deixada no arbi- * trio da natureza,me chamãàrao,para que a curaffe; & Sem embargo que pudera acovardarme, o faber que alguns Medicos da mayor opiniao tinha6o largado o le- me em tao grande tormenta , fiz quanto pude por li- vralla ; & fora as minhas diligencias tao bem fucce- didas, que nodifeurfo de dous mefes teve faude tao perfeita, que gérou dous filhos, & viveo dezoito an- 105 por beneficio da cura que lhe fiz. : 1. D Ona Maria Juzarte, mulher de Nicolao Pedro, morando à Boa vifta, padeceo * guatro annos huma enfermidade rebeldiffima , acom- . Panhada de fymptomas taô formidaveis, que até os Medicos mais doutos, & experimentados: a tiveraõ por diabolica , & tanto mais crefcia efta fufpeita, quanto menos alivio colhiaô dos remedios, que em taó largos tempos lhe applicàâraõ, porque em todo o ventre, & eftomago fentia gtandes dores, às quaes fe ajunrtavão palpitações do coraçaô, dores de cabeça, * « inchaçaô de ventre , tremores de membros, laxidões- * de todo o corpo, arrotos taô grandes, & continuos, « que lhe duravão horas fncéeflivas: vacillavalhe o jui- zo de forte, que humas vezes entêndia quê a defpe- phavão de huma torre, & por iflo refiftia, & fazia grandes forças contra os imaginados empuxões ; ou- tras vezes eltava tao calada, quenem huma palavra dizia; outras vezes tinha a telpiraças taô prefa, & abertada, queprelumia a affogavão com huma corda; outras vezes eltava taótrifte , que fendo levada a hum campo, nem o brando fuflurro das aguas de hãa fref. ca ribeira, nera o verdor das ervas de hum valle ame. no,nemaviraçaô fuave das arvores fombrias 'nema » j trife
198 Observaçones Medicas Doutrinaes. o Joe OBSERVAQAM XXXIII. De huns accidentes uterinos, que Dona Maria Juzarte padeceo quatro annos, & estando jâ deixada ao arbi¬ trio da natureza, me chamaraò, para que a curasse; & sem embargo que pudera acovardarme, o saber que alguns Medicos da mayor opiniaon tinhaon largado o le¬ me em taon grande tormenta, siz quanto pude por li¬ vralla; & foraon as minhas diligencias tao bem succe¬ didas, que no discurso de dous meses teve saude tao perfeita, que gérou dous filhos, & viveo dezoito an¬ nos por beneficio da cura que lhe siz. Ona Maria Juzarte, mulher de Nicolao Pedro, morando à Boa viſta, padeceo quatrò annos huma enfermidade rebeldissima, acom¬ panhada de symptomas tao formidaveis, que atè os Medicos mais doutos, & experimentados a tiveraon por diabolica, & tanto mais crescia esta suspeita, quanto menos alivio colhiaon dos remedios, que em tao largos tempos lhe applicàraon, porque em todo o ventre , & estomago sentia grandes dores , às quaes se ajuntavamo palpitaçones do coraçao, dores de cabeça, inchaçaon de ventre, tremores de membros, laxidoes de todo o corpo, arrotos tao grandes , & continuos, que lhe duravao horas successivas: vacillavalhe o jui- zo de sorte, que humas vezes entendia que a despe- nhavamo de huma torre, & por isso resistia, & fazia grandes forças contra os imaginados empuxones; ou¬ tras vezes estava tao calada, que nem huma palavra dizia; outras vezes tinha a respiraçao tao presa, & apertada, que presumia a affogavao com huma corda; outras vezes estava taon triste , que sendo levada a hum campo, nem o brando sussurro das aguas de huma fres- ca ribeira, nem o verdor das ervas de hum valle ame¬ no, nem a viraçaon suave das arvores sombrias, nem a doce melodia das canoras aves, podiaò divertir sua tris¬
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Observaçaõ XXXIII. 199 tristeza , nem moderar os seus cuidados . Seria impossivel referir aqui a multidaõ de achaques , que atormentavaõ a esta enferma , digna de melhor fortuna ; nem encarecer os grandes apertos , em que se viraõ os mais engenhosos Medicos para a tirarem de taõ profundo mar de tormentos . Imaginavaõ huns q a doença era hypocondriaca , & por isso ( depois de varias sangrias , sanguisugas , xaropes , purgas , & apozemas ) appellàrão para os banhos de agua doce , como remedio muito proprio da hypocondriaca ; porèm foi o successo taõ contrario ao que se esperava , que obrigou aos assistentes a suspendellos . Imaginavão outros que a tragedia de taõ exquisita doença procedia de obstrucções profundissimas , occasionadas pela vida sedentaria , & falta de exercicio que sempre tivera , ou pelo barro que tinha comido , & por isso ( depois de applicados os remedios universaes ) chegàraõ ao uso do aço ; mas com taõ infeliz sorte , que lhe faltou pouco para morrer com elle . Consideravaõ outros que huma hydra de tantas cabeças tinha a sua origem na qualidade gallica , & que para a render , era necessario lançar maõ da poderosa espada do mercurio , ou da salsa parrilha ; & estando os Medicos por este parecer , entrou a tomar suores com grande esperança de que com elles avia de achar remedio ao seu mal ; mas em lugar da saude desejada , se tornou a doença mais ferina . 2 . Neste enleyo , & confusaõ de Medicos taõ doutos se chamàraõ outros , & fazendose huma consulta, se propoz nella se seria acertado mandalla às Caldas, visto as grandes eructações , & rugidos de ventre , & estomago que tinha , o que tudo denotava fraqueza das entranhas , & acidos errantes , que ellas geravaõ : concordàraõ todos que sim , & logo sem demora partio para ellas , & entrou nos banhos com huma certeza moral de conseguir com elles a saude pertendida ; mas não succedeo como desejavaõ , antes se fez a doença muito mais obstinada . Admiráraõse os Medicos , & confessaraõ q se tinhaõ enganado , quando
! Obfervaçao XXXIII. 199 trifteza, nem moderar os feus cuidados. Seria impof- fivel referir aqui a multidao de achaques, que ator- mentavao a efta enferma, digna de melhor fortuna; · nem encarecer os grandes apertos , em que fe viraõ os mais engenhofos Medicos para a tirarem de taõ pro- fundo mar de tormentos. Imaginavaõ huns q a doença era hypocondriaca , & por iffo ( depois de varias fan- grias, fanguifugas, xaropes, purgas, & apozemas, ) ap- pellàrão para os banhos de agua doce, como remedio muito proprio da hypocondriaca ; porèm foi o fuccef- fo tao contrario ao que fe efperava, que obrigou aos affiftentes a fufpendellos. Imaginavão outros que a tragedia de tao exquifita doença procedia de obf- trucções profundiffimas , occafionadas pela vida fe- dentaria, & falta de exercicio que fempre tivera, ou pelo barro que tinha comido , & por iffo ( depois de applicados os remedios univerfaes ) chegarao ao ufo do aço; mas com taõ infeliz forte, que lhe faltou pou- co para morrer com elle. Confideravao outros que huma hydra de tantas cabeças tinha a Tua origem na qualidade gallica , & que para a render , era neceffa- rio lançar mao da poderofa efpada do mercurio , ou da falfa parrilha; & eftando os Medicos por efte parecer, entrou a tomar fuores com grande efperança de que com elles avia de achar remedio ao feu mal ; mas em lugar da fande defejada, fe tornou a doença mais feri- na. 2. Nefte enteyo , & confufao de Medicos tao doutos fe chamarao outros, & fazendofe huma con- fulta, fe propoz nella fe feria acertado mandalla às Caldas, vifto as grandes eructações, & rugidos de ventre , & eftomago que tinha, o que tudo denotava fraqueza das entranhas , & acidos errantes , que ellas geravao : concordarao todos que fim; & logo fem de- mora partio para ellas , & entrou nos banhos com hu- ma certeza moral de confeguir com elles a faude per- tendida ; mas não fuccedeo como defejavaõ, antes fe fez a doença muito mais obftinada. Admiráraõfe os Medicos , & confeffarao q fe tinhao enganado, quan- do is ៛ . 5 1 0 . C :
Obfervacao XXXlIf. 199 trifteza , nem moderar os feus cuidados. Seria impof- fivel referir aqui a multida de achaques, que ator-- mentava a eftagiferma, digna de melhor fortunaš : nem encarecer os grandes apertos , em que fe virao os mais engenhofos Medicos para a tirarem de ta pro- fundo mar de tormentos.Imaginava huns a doenga era hypocondriaca, & por iffo ( depois de varias fan- grias , fanguifugas, xaropes, purgas,& apozeinas,) ap- pellarao para os banhos de agua.doce , como remedio muito praprio da hypocondriaca , porem foi o fuccef- fo ta contrario ao.que fe efperava, que obrigou aos affiftentes a fufpendellos. Imaginavao .outros que a tragedia de taš exquifita docnca procedia de obf- truccoes profundiffimas , occafionadas pela vida fe- dentaria, & falta de excrcicio quefempretivera, ou pelo barro que tinha comido , & por iffo ( depois de applicadós os remedios univerfaes ) chegara aoufo do aco ; mas com ta infeliz forte, que lhe faltou pou- co para morrer com elle. Confiderava outros que huma hydra de tantas cabecas tinha aluaorigem na qualidade gallica, &que para a render, era neceffa* rio lancar ma da poderofa efpada do mercurio , ou da falfa parrilha; & eftando os Medicospar efte parecer, entrou a tomar fuores com grande efperanca dc quc com ellesavia deachar remedio.ao feu mal ; mas em lugar da faude defejada., fe tornou a doenga mais feri- na. Nefte enteyo , & confufao de Medicos tao 2. t: doutosfe.chamarao:outros, &.fazcndofe huma con- fulta, fe propoz nella fe feria acertado mandalla as Caldas, vifto as grandes eructacoes, & rugidos de ventre ,&:eftomagoquc tinha, que tudo.denotava fraquezadas entranhas , & acidos errantes , que ellas geravaö: concordara todos que fimi; & logofem de- mora partio para ellas , & entrou nos banhos com hu- ma certeza moral de confeguir com elles a faude per- tendida ; mas nao fuccedeo comp defejava , antes fe fez a doenca muit:mais obftinada. Admiráraöfe os Afedicas ,&.confeffarao q fe tinhao enganado, quan- do
Obfervação XXXII. | 198 triflteza , nem moderar os feus cuidados. Seria impof= fivel referir aqui a multidaô de achaques , que ator+' mentavaô a efta gpferma , digna de melhor fortuna; nem encarêcer os grandes apertos , em que fe viraô os mais engenhofos Medicos para a tirarem de taô pros fundo mar de tormentos. maginavaô huns q a doença era hypocondriaca, & por iflo (depois de varias fan- grias , languifugas, xaropes, purgas,& apozemas, ) ap pellãrão vara os banhos de agua doce, como remedio muito praprio da hypocondrfiaça ; porêm foi o fuccef= fotaô contrario ao que fe efperava, que obrigou aos aflitentes a fulpendellós. Imaginavão outros que a tragedia de tao exquifita docnça procedia de obf= trucções profundiflimas , occafionadas pela vida fez dentaria, & falta de exercicio que fempretivera, ou pelo barro que tinha comido , & poriflo ( depois de applicados os remedios univerfaes ) chegàraô aoufo do aço; mas com taô infeliz forte, que lhe faltou pou- co para morrer com elle. Confideravaõ outros que * huma hydra de tantas cabeças tinha aluá origem na qualidáde gallica, & que para a render, eranecelTas . rio lançar maô da poderofa efpada do mercurio ,ouda - ' falfaparrilha; & eftando os Medicos'par efte parecer, entrou a tomar fuores com grande efferança de que ki . “com ellesavia deachar remedio ao feu mal; mas em lugar da fande defejada , fe tornou a doença mais feri- - 2. Nefteenteyo,& confufaô de Medicos taõ doutos fe chamàraó:vutros , & fazendofe huma con- fulta , fe propoz nella fe feria aterrado mandalla às Caldas, vifto as grandes eru&tações ; & Tugidos de ventre , & eftomago que tinha, oque tudo denotava fraqueza das entranhas , & acidos errantes , que eltas geravaõô: concordàraó todos que fim; & logo fem de- mora partio para ellas , & entrou nos banhos com hu- ma certeza moral -de confeguir com elles a faude per- tendida ; mas não fuccedeo como defejavaô, antes fe fez a doença muitô-mais obítinada. Admiráraófe os Medicos ,& confeflaraô q fe tinhaô enganado, quan: 1%: 1 e
Observaçao XXXIII. 199 tristeza, nem moderar os seus cuidados. Seria impos¬ sivel referir aqui a multidaô de achaques, que ator¬ mentavaon a esta anferma, digna de melhor fortuna;¬ nem encarècer os grandes apertos, em que se viraô os mais engenhosos Medicos para a tirarem de tao pro¬ fundo mar de tormentos. Imaginavaon huns quae a doença era hypocondriaca , & por isso (depois de varias san- grias, sanguisugas, xaropes, purgas, & apozemas,) ap¬ pellàramo para os banhos de agua doce , como remedic muito proprio da hypocondriaca ; porèm foi o succes- so taon contrario ao que se esperava, que obrigou aos assistentes a suspendellos. Imaginavamo outros que a tragedia de tao exquisita doença procedia de obs- trucçoes profundissimas, occasionadas pela vida se¬ dentaria, & falta de exercicio que sempre tivera , ou pelo barro que tinha comido , & por isso (depois de applicados os remedios universaes) chegârao ao uso do aço ; mas com tao infeliz sorte, que lhe faltou pou- co para morrer com elle. Consideravao outros que huma hydra de tantas cabeças tinha a luâ origem na qualidade gallica, & que para a render, era necessa- rio lançar maon da poderosa espada do mercurio , ou da salsa parrilha; & estando os Medicos por este parecer, entrou à tomar suores com grande esperança de que com elles avia de achar remedio ao seu mal; mas em lugar da faude desejada, se tornou a doença mais feri- na. Neste enleyo, & confusao de Medicos taon 2. doutos se chamàrao outros, & fazendose huma con- sulta, se propoz nella se seria acertado mandalla às Caldas, visto as grandes eructaçones, & rugidos de ventre, & estomago que tinha, o que tudo denotava fraqueza das entranhas, & acidos errantes, que ellas geravaon: concordàraon todos que sim, & logo sem de¬ mora partio para ellas, & entron nos banhos com hu¬ ma certeza moral de conseguir com elles a saude per¬ tendida; mas namo succedeo como desejavaon, antes se fez a doença muitô mais obstinada. Admiraraonse os Medicos, & confessaraon quae se tinhaon enganado, quan¬ do
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200 Observações Medicas Doutrinaes. do entendèraõ que semelhantes rugidos , flatos , inchações , & dores de ventre tinhaõ por causa a debilidade do calor natural suffocado com a copia dos humores crus , & que fundandose nestas conjecturas , lhe aconselháraõ as Caldas ; porèm como vissem que depois delas peyoràra com excesso , accusáraõ a grande de quentura do figado , & para o refrescar lhe deraõ muitos dias caldos de frangãos recheados com ervas refrigerantes ; porèm tudo sem utilidade : appellàraõ para os soros de leite , dando-os largo tempo , & em grande quantidade , como aconselhaõ graves Authores ( 1 . ) porque de outra sorte sendo poucos , ou pequenos , nada aproveitariaõ , porque naõ chegariaõ às partes mais distantes : naõ se esquecéraõ das tisanas , dos epithemas , das ajudas , dos julepos , das ventosas , das ligaduras , esfregações , fontes , & outros medicamentos capazes de temperar os incendios , em que entendiaõ se abrazava . Mas porque a doença desprezou a todos os remedios , chamàraõ a conselho a outros Medicos , que uniformemente disseraõ com Domingos Duclos , ( 2 . ) que a causa de taõ grandes males , & sua resistencia davão a entender que tudo procedia de obstrucções das veas lacteas , lymphaticas , & mesaraicas , porque naõ podendo passar por ellas , a parte mais grossa do chylo se requeimava , & esturrava , & fazia varios damnos a todos os membros do corpo ; & porque as doenças , ou por muito antigas , ou por muito centraes se não rendem às medicinas ordinarias , resolveraõ que se lhe desse a agua de Aspar , por ser mais subtil , & penetrativa que outros remedios ; & tomandoa cinco , ou seis dias , se achou a doente muito peyor ; ou porque o mesmo remedio naõ serve para todos ; ( 3 . ) ou porque o corpo não estava taõ evacuado como era necessario : & todo o fundamento que tiveraõ para o entender assim , foi o ver que ourinava muito menos quantidade do que bebia ; & naõ succederia assim , se a agua passasse bem , porque ourinaria muito mais , & faria grande proveito ; mas como o naõ fizesse , tornàraõ a purgar , & repetiraõ a agua
200 , Obfervações Medicas Doutrinaes. do entenderao que femelhantes rugidos, flatos, in- 'chações, & dores de ventre tinhao por caufa a debi- · lidade do calor natural fuffocado com a copia dos hu- mores crus , & que fundandofe neftas conjecturas, · lhe aconfelháraõ as Caldas ; porem como viffem que . depois dellas peyoràra com exceffo, accufarao a gran+ de quentura do figado , & para o refrefcar lhe derao muitos dias caldos de frangãos recheados com ervas refrigerantes ; porèm tudo fem utilidade : appellàraõ para os foros de leite, dando-os largo tempo, & em grande quantidade ,. como aconfelhao graves Autho- res; (1.) porque de outra forte fendo poucos, ou pe- quenos , nada aproveitariaõ, porque nao chegariaõ às partes mais diftantes : não fe efquecerao das tifanas, dos epithemas , das ajudas, dos julepos, das vento- fas , das ligaduras , esfregações , fontes , & outros medicamentos capazes de temperar os incendios , em que entendião fe abrazava. Mas porque a doença def- prezou a todos os remedios, chamàraõ a confelho a outros Medicos , que uniformemente differao com Domingos Duclos, (2.) que a caufa de tão grandes males, & fua refiftencia davão a entender que tudo procedia de obftrucções das veas lacteas, lymphati- cas , & mefaraicas , porque nao podendo paffar por el- las, a parte mais groffa do chylo fe requeimava, & ef; turrava, & fazia varios damnos a todos os membros do corpo; & porque as doenças, ou por muito anti- gas, ou por muito centraes fe não rendem às medici- nas ordinarias, refolveraõ que fe lhe deffe a agua de Afpar , por fer mais fubtil, & penetrativa que outros remedios ; & tomandoa cinco, ou feis dias , fe achou a doente muito peyor; ou porque o mefmo remedio naő ferve para todos ; (3.) ou porque o corpo não eftava tão evacuado como era neceffario: & todo o funda- mento que tiveraõ para o entender affim, foi o ver que ourinava muito menos quantidade do que bebia ; & nao fuccederia affim, fe a agua paffaffebem, porque ourinaria muito mais , & faria grande proveito; mas como o nao fizeffe, tornarao a purgar, & repetirao a agua +
200 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. do entendéra que femelhantes rugidos ,: flatos, in- chacöes,& dores de ventre tinha por caufa a debi- - lidade do calor natural fuffocado com a copia dos hu- mores crus , & que fundandofe neftas conjecturas 1he aconfelhara as Caldas ; porem como viffem que . depois dellas peyorara com exceffo, accufaraö a gran de quentura do figado , & para o refrefcar lhe dera muitos dias caldos de frangaos recheados com ervas refrigerantes ; porem tudo fem utilidade : appellara para os foros de leite , dando-os largo tempo, & em grande quantidade , como aconfelha graves Autho- res ; (1.).porque de outra.fortefendo poucos, ou pe- quenos , nada aproveitaria, porque na chegaria as partes mais diftantes : nao fe efquecéraö das tifanas, dos epithemas, das ajudas, dos julepos, das vento- fas, das ligaduras ,esfregacöes , fontes , & outros medicamentos capazes de temperar os incendios , em que entendiao fe abrazava. Mas porque a doenca def- prezou atodos os remedios, chamara aconfelho a outros Medicos , que uniformemente differa com Domingos Duclos, (.) que a caufa detao grandes males ; & fua refiftencia davao a entender que tudo procedia de obftruccöes das veas lacteas, lymphati- cas , & mefaraicas , porque na podendo paffar por el- las, a parte mais groffa do chylofe requeimava, & ef. turrava, & fazia varios damnos a todos os membros do corpo; & porque as doencas, ou por muito anti- gas, ou por muitocentraes fe nao rendem as medici- nas ordinarias, refolvera que felhedeffe .aagua de Afpar, por fer mais fubtil , & penetrativa que outros remedios; & tomandoa cinco, ou feis dias , feachou a doente muito peyor; ou porqueomefmo.remedio na ferve para tedos; (3.) ou porque ocorponao eftava tao evacuado como era neceffario: & todo ofunda- mento que tivera para o entender affim., foi o vér que ourinava muito menos quantidade doque bebia ; & na fuccederia affim, fe a agua paffaffebem, porque ourinaria muito mais , & faria grahde proveit; mas comoo na fizeffe, tornaraa purgar, & repetira a agua
.* 200, Oblfetvações Medicas Doutrinaes. - do entendêraô que femelhantes rugidos , flatos, in- *« chações, & doresde ventre tinhaô por caufa a debi- lidade do calor natural faffocado cêgm a copia dos hu- ' mores crus , & que fundandofe neftas conjecturas, * lheaconfelháraõas Caldas ; porém como viflfem que . depois dellas peyoràra com exceflo, accufáraô a gran“ de quentura do figado , & para o refrefcar lhe dera muitos dias caldos de frangãos recheados com ervas *e refrigerantes ; porêm tudo fem utilidade: appellãraõ para os foros de leite , dando-os largo tempo, & em grande quantidade ,-como aconfelha6o graves Autho- res; (1.) porque de outra forte fendo poucos, ou pe- quenos , nada aproveitariaó, porque naó chegariao às partes mais diftarites : não fe elquecéraõ das tifanas, dos epithemas , das ajudas, dos julepos, das vento- fas , das ligaduras , esfregações , fontes , & outros medicamentos capazes de temperar os incendios, em que entendião fe abrazava. Mas porque a doença def-, prezou atodos os remedios, chamàraô a confelho a outros Medicos , que uniformemente difleraó com Domingos Duclos , (2.) que a caufa detão grandes males , & fua refiftencia davão a entender que tudo procedia de obfttucções das veas la&teas, lymphati- cas, & mefaraicas , porque naô podendo paflar por el- las, a parte mais grofla do chylo fe requeimava, & ef. turrava , & fazia varios damnos a todos os membros do corpo; & porque as doenças , ou por muito anti- gas, ou por muito centraes fe não rendem às medici- nas ordinarias, refolveraõô que felhe defle a agua de Afpar, por fer mais fubtil, & penetrativa que ougros remedios; & tomandoa cinco , óu feis dias , feachou a doente muito peyor; ou porque o mefmo remedio naõ ferve para tedos; (3.) ou porque ocorponão eftava tão evacuado como era neceflario: & todo o funda- mento que tiveraô para o entender aflim,, foi o ver que ourinava «muito menos quantidade do qe bebia ; & — naõ fuccederia aflim, fe a agua paffaflebem, porque ourinaria muito mais , & faria grahde proveito; mas comoo naô fizefle, tornàraõ a purgar, & repetiraô a : r agua » . ] + [DS
200 Observaçones Medicas Doutrinaes. do entendèrao que semelhantes rugidos, flatos, in- chaçoes, & dores de ventre tinhaó por causa a debi- « lidade do calor natural suffocado cam a copia dos hu- mores crus, & que fundandose nestas conjecturas, lhe aconselháraon as Caldas; porèm como vissem que depois dellas peyoràra com excesso, accusaraon a gran- de quentura do figado , & para o refrèscar lhe derao muitos dias caldos de frangamos recheados com ervas refrigerantes; porèm tudo sem utilidade : appellàraon para os soros de leite, dando-os largo tempo, & em grande quantidade, como aconselhaon graves Autho- res; (1.) porque de outra sorte sendo poucos , ou pe- quenos, nada aproveitariaon, porque naon chegariaon às partes mais distantes. namo se esquecéraon das tisanas, dos epithemas, das ajudas, dos julepos, das vento- sas, das ligaduras, esfregaçoes, fontes, & outros medicamentos capazes de temperar os incendios, em que entendiano se abrazava. Mas porque a doença des- prezou a todos os remedios, chamàrao a conselho a outros Medicos, que uniformemente disseraon com Domingos Duclos, (2.) que a causa de tao grandes males, & sua resistencia davamo a entender que tudo procedia de obstrucçoes das veas lacteas, lymphati- cas, & mesaraicas, porque naon podendo perassar por el¬ las, a parte mais grossa do chylo se requeimava , & es- turrava, & fazia varios damnos a todos os membros do corpo; & porque as doenças, ou por muito anti- gas, ou por muitò centraes se nao rendem às medici¬ nas ordinarias, resolveraon que se lhe desse a agua de Aspar, por ser mais subtil, & penetrativa que outros remedios; & tomandoa cinco , ou seis dias , se achou a doente muito peyor; ou porque o mesmo remedio naon serve para todos; (3.) ou porque o corpo namo estava tamo evacuado como era necessario: & todo o funda¬ mento que tiveraon para o entender assim, foi o ver que ourinava muito menos quantidade do que bebia; & naon succederia assim, se a agua passasse bem, porque ourinaria muito mais, & faria grande proveito; mas como o naon fizesse, tornàraon a purgar, & repetiraon a agua
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Observaçaõ XXXIII. 201 agua em quantidade de huma canada , cada manhãa em jejum , porque sendo pouca , dizem muitos Authores ( 4 . ) que nada aproveita ; porèm teve o mesmo mào successo que da primeira vez . 3. Neste aperto presumiraõ os Medicos , que a doença era escorbutica , porque ainda que na enferma se não achavaõ pintas vermelhas , roxas , ou negras , nem bafo fedorento , nem gingivas inchadas , ou sanguinolentas , nem dentes aballados ; que todos estes sinaes , ou algum delles saõ inseparaveis dos que padecem o tal affecto , por causa do sangue adulto , salgado , lixivioso , & corrosivo ; comtudo para se poder dizer que era affecçaõ escorbutica , bastava que a doença resistisse a todos os remedios , & que a phlegma , a lympha , ou o chylo , não pudesse entrar nas veas mesaraicas , ou nas glandulas do mesenterio , mais que com a parte tenue , & serosa , & ficando fóra a parte mais crassa , ficava como estagnada , & por isso mais corruptivel , mais acida , & mais austera , & como tal offendia todas as partes , & fazia romper nos sobreditos symptomas . Resoluto pois que a enfermidade era escorbutica , começàraõ a curar , mandando que a doente fosse para sitio de ar puro , & inclinante a calido , fugindo de ares grossos , nebulosos , maritimos , ou paludosos , por quanto as partes salsuginosas , & acidas do ar exhalante fixão , & engrossaõ o sangue , & o capacitão para se contrahir o escorbuto . Alem disto proseguirão a cura com alimentos de boa substancia , & facil digestaõ; com os quaes misturàrão algũs especificos antiscorbuticos , como saõ os agrioẽs , a alfacinha do rio, a coclearia , a erva ferro , o trifolio acetoso , a erva vermicular , fervidas todas , ou algumas dellas a fogo brando em caldo de frangão ; porque que todos os remedios antiscorbuticos , & quaesquer outros , que tem as suas virtudes na parte superficial , ou volatil , naõ sofrem cozimento largo , sem perder a virtude . O cozimento pois da erva vermicular costuma aproveitar maravilhosamente , assim bebido , como applicado por fóra , nas dores contracturas , & cha
:201 Obfervaçaõ XXXIII." agua em quantidade de huma canada, cada manhãa 'em jejum, porque fendo pouca, dizem muitos Autho -- res (4. ) que nada aproveita; porem teve o mefmo mao fucceffo que da primeira vez. 3. Nefte aperto prefumiraõ os Medicos , que à doença era efcorbutica, porque ainda que na enfer- ma fe não achavaõ pintas vermelhas, roxas , ou ne- gras, nem bafo fedorento, nem gingivas inchadas, ou fanguinolentas, nem dentes aballados ; que todos eftes finaes, ou algum delles fao infeparaveis dos que padecem o tal affecto, por caufa do fangue adufto, falgado, lixiviofo, & corrofivo; comtudo para fe po- der dizer que era affecçaõ efcorbutica, baftava que à doença refiftiffe a todos os remedios , & que a phleg- ma, a lympha, ou o chylo, não pudeffe entrar nas veas mefaraicas, ou nas glandulas do mefenterio, mais que com a parte tenue, & ferofa , & ficando fora a parte mais craffa, ficava como eftagnada , & por iffo mais corruptivel , mais acida, & mais auftera', & co- mo tal offendia todas as partes, & fazia romper nos fobreditos fymptomas. Refoluto pois que a enfermi- dade era efcorbutica, começàraõ a curar, mandando que a doente foffe para fitio de ar puro, & inclinante a calido, fugindo de ares groffos, nebulofos, mariti- mos , ou paludofos , por quanto as partes falfuginofas, & acidas do ar exhalante fixão, & engroffao o fangue, & o capacitão para fe contrahir o efcorbuto. Alem difto profeguirao a cura com alimentos de boa fubf- tancia,& facil digeftaõ;com os quaes mifturàrão algus especificos antifcorbuticos, como faõ os agrioés , a al- facinha do rio , a coclearia, a erva ferro, o trifolio acetofo, a erva vermicular, fervidas todas, ou algu+ mas dellas a fogo brando em caldo de frangão; por- que todos os remedios antifcorbuticos, & quaefquer outros, que tem as fuas virtudes na parte fuperficial, ou volatil, nao fofrem cozimento largo, fem perder a virtude. O cozimento pois da erva vermicular coftu- ma aproveitar maravilhofamente, affim bebido, co- mo applicado por fóra , nas dores contracturas , & cha- . : . 11 1 :
Obfervacao XXXIII. :201 aguaem quantidade de huma canada,'cada manhaa 'em jejum, porque fendo pouca, dizem muitos Autho- .res (4..) que nada aproveita; porem teve oinefmo mao fucceflo que da primeira vez. Nefte aperto prefumiraos Medicos , que a 3. doenca eraefcorbutica, porque ainda que na enfer- ma fe nao achava pintas vermelhas, roxas , ou nc- ou fanguinolentas, nem dentes aballados ;, qüc todos eftes finaes, ou algum delles fa infeparaveis dos que padecem o tal affeto , por caufa do fangue adufto, ialgado, lixiviofo,& corrofivo; comtudopara fe po- der dizer que era affecca efcorbutica, baftava que: a doenca refiftiffe a todos os remedios , & que a phleg- ma, a lympha, ou o chylo, nao pudeffe entrar nas veas'mefaraicas, ou nas glandulas do mefenterio,mais que com a parre tenue, & ferofa , & ficando fóraa parte mais craffa, ficava comoeftagnada, & por iffo mais corruptivel , mais acida, & mais auftera, & co- mo tal offendia todas as partes, & fazia romper nos fobreditos fymptomas. Refoluto pois que a enfermi- dadeera efcorbutica, comecara a curar , mandando quea doente foffe para fitio de ar puro,,& inclinante a calido, fugindo de ares groffos, nebulofos, mariti- fnos , ou paludofos , por quanto as partes falfuginofas, & acidas do ar exhalante fxao, & engroffa fangue, & capacitao para fe contrahir o efcorbuto. Alem difto profeguirao acura com alimentos de boa fubf- tancia,& facil digefta;com os quaes mifturarao algús efpecificos antifcorbuticos, como fa os agriots , a al-- facinha do rio , a coclearia, aerva ferro, o trifolio acetofo, a erva vermicular , fervidas todas, ou algu- mas dellas a fogo brando em caldo de frangao ; por- outros, que tem as fuas virtudes na parte fuperficial, Qu volatil, na fofrem cozimentolargo , fem perder a virtude. O cozimento pois da erva vermicular coftu- na aproveitar maravilliofamente, affim bebido, co- mo applicado por fóra , nas dores contracturas , & cla-
Obfervação XXXIII. 201 aguaem quantidade de huma canada, cada manhãa em jejum, porque fendo pouca, dizem muitos Autho-- , res (4. ) que nada aproveita; porêm teve o mefmo mão fucceflo que da primeira vez. 3. —“Nefte aperto prefumiraõos Medicos , que à doença era efcorbutica, porque ainda que na enfer- ma fe não achavaó pintas vermelhas ,-roxas , ou ne- gras, nem bafo fedorênto, nem 'gingivas inchadas, ou fanguinolentas, nem dentes aballados ; que todos eftes finaes, ou algum delles faó infeparaveis dos que padecem o tal afecto , por canfa do fangue adufto, falgado , lixiviofo, & corrofivo; comtudo para fe po- der dizer que era affecçaô efcorbutica, baftava que à doença refiftifle a todos os remedios , & que a phleg- ma, a Iympha, ou o chylo, não pudefle entrar nas veas mefaraicas, ou nas glandulas do mefenterio,mais que com a parte tenue, & ferofa', & ficando fóraa * parte mais crafla , ficava como eftagnada , & por iflo mais corruptivel, mais acida, & mais auftera”, -& co- mo tal offendia todas às partes , & fazia romper nos fobreditos fympromas. Refoluto pois que a enfermi- dade era efcorbutica, começãraô à curar, mandando quea doente fofle para fitio de ar puro, & inclinante a calido , fugindo de ares groffos, nebulefos, mariti- nos , ou paludofos , por quanto as partes falfuginofas, & acidas do ar exhalante fixão , & engroflaô o fangue, 8 o capacitão para fe contrahir o efcorbuto. Alem difto profeguirão a cura com alimentos de boa fubf tancia,& facil digeftaó;com os quaes mifturàrão algãs . efpecificos anti corbuticos, como faõ os agrioês, a al- . “facinha do rio , a coclearia, a erva ferro, o trifolio | 'acetofo, a erva vermicular , fervidas todas, ou algu+. * mas dellas a fogo brando em caldo de frangão ; por» que todos os remedios antifcorbuticos, & quaefíquer Qurros, quetem as fuas virtudes na parte fuperficial, qu volatil, naõ fofrem cozimento largo, fem perder a virtude. O cozimento pois da erva vermicular cofti ma aproveitar maravilhofamente , aflim bebido, co- mo applicado por fóra , nas dores contra&turas & : : has CA - .
XXXIII. 201 Observaçaon agua em quantidade de huma canada, cada manhana em jejum, porque sendo pouca, dizem muitos Autho¬ res (4.) que nada aproveita; porèm teve o mesmo mào successo que da primeira vez. Neste aperto presumiraon os Medicos, que a doença era escorbutica, porque ainda que na enfer¬ ma se nao achavao pintas vermelhas, roxas, ou ne¬ gras, nem bafo fedorento, nem gingivas inchadas, ou sanguinolentas, nem dentes aballados; que todos estes sinaes, ou algum delles saon inseparaveis dos que padecem o tal affecto, por causa do sangue adusto, salgado , lixivioso , & corrosivo ; comtudo para se po- der dizer que era affecçaon escorbutica , bastava que a doença resistisse a todos os remedios , & que a phleg- ma, a lympha, ou o chylo, nao pudesse entrar nas veas mesaraicas, ou nas glandulas do mesenterio, mais que com a parte tenue, & serosa, & ficando fóra a parte mais crassa, ficava como estagnada, & por isso mais corruptivel, mais acida, & mais austera, & co¬ mo tal offendia todas as partes, & fazia romper nos sobreditos symptomas. Resoluto pois que a enfermi¬ dade era escorbutica, começàraon a curar, mandando que a doente fosse para sitio de ar puro , & inclinante a calido, fugindo de ares grossos, nebulosos, mariti¬ mos, ou paludosos, por quanto as partes salsuginosas, & acidas do ar exhalante fixamo, & engrossaon o sangue, & o capacitamo para se contrahir o escorbuto. Alem disto proseguiramo a cura com alimentos de boa subs¬ tancia, & facil digestaon; com os quaes misturàramo alguns especificos antiscorbuticos, como saon os agrioes, a al¬ facinha do rio, a coclearia, a erva ferro, o trifolio acetoso, a erva vermicular, fervidas todas, ou algu¬ mas dellas a fogo brando em caldo de frangâo; por¬ que todos os remedios antiscorbuticos, & quaesquer outros, que tem as suas virtudes na parte superficial, ou volatil, naon sofrem cozimento largo, sem perder a virtude. O cozimento pois da erva vermicular costu¬ ma aproveitar maravilhosamente, assim bebido, co¬ mo applicado por fora, nas dores contracturas, & cha¬ *-
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202 Observações Medicas Doutrinaes. chagas nascidas de qualidade escorbutica . Mas como destes remedios se naõ colhesse utilidade alguma , recorrèrão para os saes volateis do corno de veado , do alambre , do sal armoniaco , & para outros de igual efficacia ; porque ainda aos pouco exercitados na Medicina consta , que naõ ha enfermidade alguma , que taõ promptamente obedeça aos remedios volateis , do que o escorbuto . Porèm como nem destes remedios taõ decantados colhessem alivio , se derão os Medicos por rendidos , & se despedirão , dizendo que elles tinhão feito por sua saude quanto cabia na esfera do poder humano , & que de boa vontade darião a palma a quem a curasse . 4 . Neste aperto appellou a miseravel doente para as velhas benzedeiras , consultou os barbeiros ignorantes , & entregouse a alguns estrangeiros saltimbancos , & o que peyor he , não temeo fiarse de feiticeiras ; mas de todos estes mesinheiros se experimentàrão baldados os remedios , & os conselhos . 5 . Em taõ desesperado conflicto me chamou Nicolao Pedro , marido desta affligida enferma , & dandome , conta dos remedios applicados , & dos symptomas referidos , vim a conhecer q a enfermidade toda era uterina ; porque àlem de que estou certo que o utero he capaz de fazer accidentes mui semelhantes aos , escorbuticos , & ainda mais horriveis , tinha ouvido dizer a huma mulher mui fidedigna , que esta enferma sentira a primeira invasaõ da doença no mesmo dia , em que certa senhora lhe foi dar os parabens do nascimento de hum filho ; & como os vestidos , que levava , fossem muito cheirosos , de tal sorte se alterou , & enfureceo a madre , que estando ainda presente a visita delirou , & ficou fóra do seu juizo , & desde aquella hora naõ passou dia algum sem padecer esta , ou aquella queixa ; por tanto fui de opiniaõ , que as dores , & inchações do ventre , & do estomago , os rugidos das entranhas , as palpitações do coraçaõ , os pesos da cabeça , & costas , os tremores de membros , as laxidões do corpo , as alheações do entendimento , o fas
202 Observações Medicas Doutrinaes. chagas nafcidas de qualidade efcorbutica. Mas co- mo deftes remedios fe nao colheffe utilidade alguma, recorrerao para os faes volateis do corno de veado, do alambre , do fal armoniaco , & para outros de igual. efficacia ; porque ainda aos pouco exercitados na Me- dicina confta, que naõ ha enfermidade alguma, que tão promptamente obedeça aos remedios volateis, do que o efcorbuto. Porem como nem deftes remedios tao decantados colheffem alivio, fe derão os Medicos por rendidos, & fe defpedirão, dizendo que elles ti- nhão feito por fua faude quanto cabia na esfera do po- der humano; & que de boa vontade darião a palma a quem a curaffe. 4. Nefte aperto appellou a miferavel doente pa- ra as velhas benzedeiras, confultou os barbeiros igno- rantes , & entregoufe a alguns eftrangeiros faltimban+ cos, & o que peyor he, não temeo fiarfe de feiticeiras; mas de todos eftes mefinheiros fe experimentarao baldados os remedios , & os confelhos. 5. Em tao deferperado conflicto me chamou Ni- colao Pedro, marido defta affligida enferma, & dan- dome conta dos remedios applicados, & dos fympto- mas referidos , vim a conhecer q a enfermidade toda era uterina; porque àlem de que eftou certo que o ute- ro he capaz de fazer accidentes mui femelhantes aos efcorbuticos, & ainda mais horriveis, tinha ouvido dizer a huma mulher mui fidedigna, que efta enfer- ma fentira a primeira invafao da doença no mefmo dia, em que certa fenhora lhe foi dar os parabens do nafcimento de hum filho; & como os veftidos, que levava, foffem muito cheirofos, de tal forte fe alte- rou , & enfureceo a madre, que eftando ainda prefen- te a vifita delirou, & ficou fora do feu juizo, & def -. de aquella hora naõ paffou dia algum fem padecer ef- ta, ou aquella queixa; por tanto fui de opiniaõ, que as dores, & inchações do ventre , & do eftomago, og fugidos das entranhas , as palpitações do coração, os pefos da cabeça', & coftas, os tremores de membros, as laxidões do corpo , asalheações do entendimento, o fat-
202 Obfervacöes Medicas Doutrinaes. chagas nafcidas de qualidade efcorbutica. Mas co- mo deftes remedios fe na colheffe utilidade alguma, recorrera para os faes volateis do corno de veado, do alambre , do fal armoniaco , & para outros de igual efficacia ; porque ainda aos pouco exercitados na Me- dicina confta , que na ha cnfermidade alguma, que tao promptamente obedesa aos remedios volateis, do que oefcorbuto. Porém como nem deftes remedios ta decantados colheffem alivio, fe derao os Medicos por rendidos, & fe defpedirao, dizendo que elles ti. nhao feito por fua faude quanto cabia na esfera do po- der humano; & que de boa vontade dariao a palma a quem a curaffe. 4. Nefte aperto appellou a miferavel doente pa- ra as velhas benzedeiras,confultou os barbeiros igno- .rantes , & entregoufe a alguns eftrangeiros faltimban- cos,& oque peyor he, nao temeo fiarfe de feiticeiras3 mas de todos eftes mefinheiros fe éxperimentara baldados os remedios , & os confelhos. s: Em ta defefperadoconflictomechamou Ni colao Pedro, marido defta affigida enferma, & dan- dome conta dos remedios applicados, & dos fympto- mas referidos , vim a conhecer q a enfermidade toda era uterina; porque alem de que eftou certoque o ute-- ro he capaz de fazer accidentes mui femelhantes aos efcorbuticos, & ainda mais horriveis, tinha ouvida dizer a huma mulher mui fidedigna, queeftaenfer ma fentira a primeira invafao da doenca no mefmo dia, em que certa fenhora lhe foi dar os parabens do nafcimento de hum filho, & como os veftidos, quc levava, foffem muito cheirofos , de tal forte fealte- . rou, & enfureceo a madre , que eftando ainda prefen-. te a vifita delirou, & ficou fora do feu juizo, & def- de aquella hora na paffou dia algum fem padecer ef- ta,. ou aquella queixa; por tantofui de opinia,que as dores, & inchacöes do ventre , & do eftomago, o? rugidos das entranhas , as palpitaces docoraca, .s pefos da.cabeca', & coftas, os tremores de membros, as laxides.do corpo as alheacöes do entendimento, ofal-
202 Obfervações Medicas Doutrinaes. chagas nafcidas de qualidade efcorbutica. Mas co- mo deftes remedios fe naô colheffe utilidade alguma, recorrêraô para os faes volateis do corno de veado, do alambre , do fal armoniaco , & para outros de igual efficacia ; porque ainda aos pouco exercitados na Me- dicina confta , que naó ha enfermidade alguma , que tão prompramente obedeça aos remedios volateis, do que o eflcorbuto. Porêm conto nem deftes remedios taó decantados colheffem alivio, fe derão os Medicos por rendidos , & fe defpedirão, dizendo que elles ti. nhão feito por fua faude quanto cabia na esfera do po- der humano ; & que de boa vontade darião a palma a quema curafífe. . : 4. Nefteapertoappellou a miferavel doente pa- raas velhas benzedeiras,confultou os barbeiros igno+ rantes , & entregoufe a alguns eftrangeiros faltimbans ' cos, & o que peyor he; não temeo fiarfe de feiticeiras; mas de todos eftes mefinheiros fe experimentàraõ baldados os remedios , & os confelhos. | s- Em taódefefperadoconflito me chamou Ni. “colao Pedro, marido defta affligida enferma, & dan- dome conta dos remedios applicados , & dos fympto- mas referidos , vima conhecer dg a enfermidade toda era uterina; porque àlem de que eftou certo que o ute- ro he capaz de fazer accidentes mui femelhantes aos efcorbuticos, & ainda mais horriveis, tinha ouvida dizer a huma mulher mui fidedigna , que efta enfer- ma fentira a primeira invafaô da doença no mefino. dia, em que certa fenhora lhe foi dar os parabens do nafcimento de hum filho; & como os veítidos, que levava, foflem muito cheirofos , de tal forte fealte- .rou, & enfureceo a madre , que eftando ainda prefen- teavifita delirou, & ficou ra do feu juizo, & def de aquella hora naõ paflou dia algum fem padecer ef. . ta, ouaquella queixa; por tanto fui de opiniaô, que as dores , & inchações do ventre , & do eftomago., os mMpgidos das entranhas , as palpitações do coraçaõ , os pelos da cabeça, & coftas , os tremores de membros, as laxidões do corpo ,asalheações do entendimento, | a “ofal.
202 Observaçones Medicas Doutrinaes. chagas nascidas de qualidade escorbutica. Mas co- mo destes remedios se nao colhesse utilidade alguma, recorrerao para os saes volateis do corno de veado, do alambre , do sal armoniaco , & para outros de igual efficacia; porque ainda aos pouco exercitados na Me¬ dicina consta, que naon ha enfermidade alguma , que tamo promptamente obedeça aos remedios volateis, do que o escorbuto. Porèm como nem destes remedios taon decantados colhessem alivio, se derano os Medicos por rendidos, & se despedirao, dizendo que elles ti- nhamo feito por sua saude quanto cabia na esfera do po¬ der humano, & que de boa vontade dariano a palma a quem a curasse. Neste aperto appellou a miseravel doente pa¬ 4. ra as velhas benzedeiras, consultou os barbeiros igno¬ rantes, & entregouse a alguns estrangeiros saltimban- cos, & o que peyor he, namo temeo fiarse de feiticeiras; mas de todos estes mesinheiros se experimentàraon baldados os remedios, & os conselhos. Em taon desesperado conflicto me chamou Ni¬ colao Pedro, marido desta affligida enferma, & dan- dome conta dos remedios applicados, & dos sympto- mas referidos, vim a conhecer que a enfermidade toda era uterina; porque àlem de que estou certo que o ute¬ ro he capaz de fazer accidentes mui semelhantes aos escorbuticos, & ainda mais horriveis, tinha ouvido dizer a huma mulher mui fidedigna, que esta enfer¬ ma sentira a primeira invasaon da doença no mesmo dia, em que certa senhora lhe foi dar os parabens do nascimento de hum filho; & como os vestidos, que levava, fossem muito cheirosos, de tal sorte se alte¬ rou, & enfureceo a madre, que estando ainda presen- te a visita delirou, & ficou fora do seu juizo, & des- de aquella hora naon passou dia algum sem padecer es¬ ta, ou aquella queixa; por tanto fui de opiniaon, que as dores, & inchaçones do ventre, & do estomago, os rugidos das entranhas, as palpitaçones do coraçaon, os pesos da cabeça, & costas, os tremores de membros, as laxidones do corpo, as alheaçones do entendimento, o fas¬
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Observaçaõ XXXIII. 203 o fastio , a tristeza , os soluços , & , todos os accidentes referidos se deviaõ reputar como uterinos , & por isso se avia de curar com remedios antistericos , & que tanto mais confiadamente avia de seguir aquelle methodo de curar , quanto mais desenganado estava do pouco fruto , que os remedios antecedentes tinhão feito , & ainda que pela multidão dos symptomas , & grande duraçaõ da enfermidade , estivessem as forças taõ prostradas , que o Medico de mayor valor teria medo de entrar na cura ; comtudo , porque me pareceo cousa indigna de Medico Catholico desemparar a hum doente , por mais perigoso que esteja , me resolvi a aceitar a empreza , mayormente quando me consta que escapáraõ da morte alguns doentes , de que já não avia esperança , & que morrèraõ muitos , de q nenhũa desconfiança avia ; ( 5 . ) por tanto tenho por bom conselho , que o Medico faça da sua parte quanto puder , por soccorrer ao doente , porque ainda que a Medicina naõ possa livrar da morte a todos , sempre se deve applicar ( como diz Seneca) ( 6 . ) a huns para remedio , a outros por consolaçaõ ; obrigado da necessidade tratei de evacuar brandamente a causa da doença com a purga seguinte , que he admiravel , & tirada do escritorio dos meus segredos .Tomem de massa de hiera de Pachio huma onça , de mechoacão polvorizado grossamente tres oitavas , de zedoaria huma oitava & meya , de castoreo meya oitava , de diagridio sulphurado dous escropulos , tudo se misture com o que bastar de xarope de artemija , & se façaõ pilulas ; destas dei oitava & meya por cada vez , de tres em tres dias , & deste modo as tomou doze vezes : porque as enfermidades muito antigas , ou que estaõ em partes mui distantes , nem se podem curar com remedios leves , nem poucas vezes repetidos . Encomendo muito aos senhores Medicos modernos , que observem pontualmente este conselho ; que he fundado em muitas experiencias minhas , & na doutrina de Galeno , ( 7 . ) & de outros gravissimos Authores , que já se queixavaõ de que nestes tempos se tinhaõ por incura
203 Obfervaçao XXXIII. o faftio, a trifteza, .os foluços, & todos os acciden- tes referidos fe deviao reputar como uterinos, & por iffo fe avia de curar com remedios antiftericos , & que tanto mais confiadamente avia de feguir aquel- de methodo de curar, quanto mais defenganado ef- tava do pouco fruto , que os remedios anteceden- tes tinhão feito, & ainda que pela multidão dos fymp- tomas, & grande duração da enfermidade, eftivef- fem-as forças tão proftradas , que o Medico de ma- yor valor teria medo de entrar na cura ; comtudo, porque me pareceo coufa indigna de Medico Catho- lico defemparar a hum doente, por mais perigofo que efteja, merefolvi a aceitar a empreza, mayormente quando me confta que efcaparao da morte alguns do- entes, de que já não avia efperança, & que morreraõ muitos, de q nenhua defconfiança avia; (5.) por tanto tenho por bom confelho, que o Medico faça da fua parte quanto puder , por foccorrer ao doente , porque ainda que a Medicina nao poffa livrar da morte a to- dos , fempre fe deve applicar (como diz Seneca) (6.) a huns para remedio, a outros por confolação; obriga- do da neceffidade tratei de evacuar brandamente a caufa da doença com a purga feguinte, que he admira- vel, & tirada do efcritorio dos meus fegredos. Tomem de maffa de hiera de Pachio huma onça , de mechoa- cão polvorizado groffamente tres oitavas, de zedoa+ ria liuma oitava & meya, de caftoreo meya oitava, de, diagridio fulphurado dous efcropulos, tudo fe miftu- re com o que baftar de xarope de artemija, & fe façao ‘pilulas ; deftas dei oitava & meya por cada vez, de tres em tres dias , & defte modo as tomou doze vezes; porque as enfermidades muito antigas, ou que eftağ em partes mui diftantes , nem fe podem curar com re- medios leves , nem poucas vezes repetidos. Encomen- do muito aos fenhores Medicos modernos, que ob- fervem pontualmente efte confelho , que he fundado em muitas experiencias minhas , & na doutrina de Galeno, (7.) & de outros gravifimos Authores, que já fe queixavao de que neftes tempos fe tinhaõ por in- cura- . 0 “ 1 -
Obfervaca...XXXIII...203 ofaftio, a trifteza,os folucos, & todos os acciden- tes referidos fe deviareputar como uterinos, & por iffo fe avia de curar com remedios antiftericos , & que tanto mais confiadamente.avia de feguir aquel- tava do pouco fruto , que os remedios anteceden- tes tinhao feito, & ainda que pela multidao dos fymp- tomas, &grande. duraca da enfermidade, eftivef- fem-as forcas tao proftradas , quc o Medico de ma- yor valor teria medo de entrar na cura ; comtudo, porque me pareceocoufa indigna de Medico.Catho- lico defemparar'a hum doente, por.mais perigofoque efteja, merefolvi a aceitar a empreza, mayormente quando me confta que efcapära da morte alguns do- entes., de que janao aviaefperanga, &que morrerao muitos, de nenhúa defconfanca avia; (s.) por tanto tenho por bom confelho, que o Medico fasa da fua parte quanto puder , por foccorrer ao doente , porque ainda que a Medicina na poffa livrar da morte a to- dos , fempre fe deveapplicar (como diz Seneca) (6.) a huns para remedio , a outros por confolaca ; obriga- do da neceffidade: tratei de evacuar brandamente a caufa da doenca cöm a purga feguinte,que he admira- vel, & tirada doefcritoriodos meus.fegredos.Tomeim 0s de maffa de hiera de Pachio huma onca, de mechoa- cao polvorizado groffamente tres oitavas , de zedoa ria luma oitava & meya, de caftqreo meya oitava , de. diagridio fulphurado dous efcropulos , tudo fé miftu- re com oque baftar de xarope de artemija, & fe faga pilulas ; deftas dei oitava & meya por cada vez, de tres em tres dias , & defte modo.as tomou.doze vezes; porque as enfermidades muitoantigas, ou que efta em partes mui diftantes , nem.fe podem curar com re- medios leves , nem poucas vezes repetidos. Encomen- do muito aosfenhores Medicos modernos, que ob- fervem pontualmerte efte confelho, que he fundado em muitas experiencias minhas , & na doutrina de Galeno, (7.) & deoutros graviffimos Authores, que já fe queixava de que neftes tempos fe tinha por in cura-
'tava do pouco fruto , que os remedios anteceden= -— aindaque a Medicina naô pofíla livrar da morte a to“ “cão polvorizado groffamente tres oitavas, de zedoa* Obfervaçãôó XXXIIL. ão, ' Oofaítio, a trifteza , os foluços , & todos os acciden- tes referidos fe deviaô reputar como uterinos, & por | iflo fe avia de curar com remedios antiftericos ,'& que tanto mais confiadamente avia de feguir aquel- de merthodo de curar, quanto mais delenganado ef- tes tinhão feito , & ainda que pela multidão dos (ymp- tomas, & grande duraçaõ da enfermidade, eftivef- fem-as forças tão proftradas , que o Medico de ma- yor válor teria medo de entrar na cura ; comtudo, porque me pareceo coufa indigna de Medico Catho- dico defemparar a hum doente, por. mais perigofo que efteja, merefolvi a aceitar a empreza, mayormente quando me confta que efcapáraô da morte alguns do- entes, de que jánão avia elperança, & que morrêraô muitos, de 4 nenhãa defconffança avia; (5.) por tanto tenho por bom confelho, quê o Medico faça da fua parte quanto puder , por foccorrer ao doente, pórque dos , fempre fe deve applicar (como diz Seneca) (6.) a huns para remedio, a outros por confolaçaô ; obriga do da neceflidade: tratei de evacuar brandamente a! caufa da doença com a purga feguinte;que he admira- vel, & tirada do eferitoriodos meus fegredos. Tomem .de maíla de hiera de Pachio huma onça , de mechoa- ria huma oitava & meya, de caftareo meya oitava, de. diagridio fulphurado dous efcropulos , tudo fé miftu- re com o que baftar de xarope de artemija, & fe façaô' pilulas ; deftas dei oitava & meya por cada vez , de tres em tres dias , & defte modo as tomou doze vezes; porque as enfermidades muito antigas, ou que eftaã em partes mui diftantes , nem/fe podem curar com re. medios leves , nem poucas vezes repetidos. Encomens do muito aos fenhores Medicos modernos , que ob-' fervem pontualmente efte confelho, que he fundado Em muitas experiencias minhas , & na doutrina de Galeno, (7.) & de outros gravifimos Authores, que ja fe queixavaó de que neftes tempos fe tinhãõ por tn-
Observaçaon XXXIII. 203 ofastio, a tristeza, os soluços, & todos os acciden¬ tes referidos se deviaon reputar como uterinos, & por isso se avia de curar com remedios antistericos, & que tanto mais confiadamente avia de seguir aquel¬ le methodo de curar, quanto mais desenganado es- tava do pouco fruto, que os remedios anteceden¬ tes tinhamo feito, & ainda què pela multidamo dos symp¬ tomas, & grande duraçao da enfermidade, estives- sem as forças tamo prostradas, que o Medico de ma¬ yor valor teria medo de entrar na cura; comtudo, porque me pareceo cousa indigna de Medico Catho- lico desemparar à hum doente, por mais perigoso que esteja, me resolvi a aceitar a empreza, mayormente quando me consta que escaparaon da morte alguns do- entes, de que ja nano avia esperança , & que morrèraon muitos, de que nenhuma desconfiança avia; (5.) por tanto tenho por bom conselho, que o Medico faça da sua parte quanto puder, por soccorrer ao doente , porque ainda que a Medicina naô possa livrar da morte a to¬ dos , sempre se deve applicar (como diz Seneca) (6.) a huns para remedio, a outros por consolaçaon; obriga¬ do da necessidade tratei de evacuar brandamente causa da doença com a purga seguinte, que he admira- vel, & tirada do escritorio dos meus segredos. Tomem de massa de hiera de Pachio huma onça, de mechoa- camo polvorizado grossamente tres oitavas, de zedoa¬ ria liuma oitava & meya, de castoreo meya oitava, de diagridio sulphurado dous escropulos, tudo se mistu¬ re com o que bastar de xarope de artemija , & se façaon pilulas; destas dei oitava & meya por cada vez, de tres em tres dias, & deste modo as tomou doze vezes: porque as enfermidades muito antigas, ou que estaque em partes mui distantes, nem se podem curar com re¬ medios leves, nem poucas vezes repetidos. Encomen- do muito aos senhores Medicos modernos, que ob¬ servem pontualmente este conselho, que he fundado em muitas experiencias minhas, & na doutrina de Galeno, (7.) & de outros gravissimos Authores, que jà se queixavaon de que nestes tempos se tinhao por in¬ .. cura¬
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204 Observações Medicas Doutrinaes. curaveis muitas doenças , só porque os Medicos naõ se atrevião a usar dos remedios efficazes , & repetidos . 6 . Depois que a minha nobre enferma usou destas pilulas , se rebatéraõ , & diminuiraõ de sorte os accidentes hystericos , q foraõ menores , & vieraõ mais retardados , & em gratificação da melhoria q experimentou com os meus remedios , prometteo ser muito obediente ao q lhe mandasse . Para que pois naõ tornassem a brotar algumas raizes da enfermidade , & fizessem novos accidentes , lhe dei outras pilulas , cuja preparaçaõ tive muitos annos em segredo , porque não quiz envilecer hum taõ grande remedio com a publicidade ; porèm agora o quero fazer publico para utilidade de todos . Tomai de assafetida , de semente de bisnaga , de agno casto , de raiz de pionia macho , & de alambre preparado , de cada cousa destas duas oitavas & meya , de cravo da India meyo escropulo , de zedoaria huma oitava , tudo se incorpore muito bem com o que bastar de terebinthina em ponto , & se formem pilulas ; destas dei cada vez dous escropulos em dias alternados , atè se acabarem . E para coroar esta obra , & confortar a madre , fomentei muitos dias todo o ventre com o seguinte lenimento . Tomem de banha de flor duas onças , deitese dentro de huma tigela de fogo vidrada com huma mão cheya de folhas de gallacrista , & ferva até que as folhas se torrem , & depois que este licor estiver quasi frio , se deitem fóra as ditas folhas , & lhe ajuntem tres oitavas de tacamaca , meya oitava de oleo de alambre , & meyo escropulo de espirito de alfazema , & misturandose estas cousas muito bem , ficou hum lenimento maravilhoso , com que se fomentou o ventre todos os dias . Faltaõme palavras para explicar a alegria , que os parentes , & toda a familia tiveraõ , vendo escapar a esta senhora de hum perigo taõ grande , depois de desemparada dos Medicos mais famigerados . 7 . Muitas mulheres pudera nomear , que por beneficio dos referidos remedios se livràraõ de taõ penosa
204 Obfervações Medicas Doutrinaes. curaveis muitas doenças , fó porque os Medicos nao fe atrevião a ufar dos remedios efficazes , & repeti- dos. 6. Depois que a minha nobre enferma ufou def- tas pilulas, fe rebaterao, & diminuirao de forte os acci- dentes hyftericos, q foraõ menores, & vieraõ mais re- tardados, & em gratificação da melhoria q experimé- tou com os meus remedios, prometteo fer muito obe- diente ao q lhe mandaffe. Para que pois naõ tornaffem a brotar algumas raizes da enfermidade, & fizeffem novos accidentes, lhe dei outras pilulas , cuja prepa- raçaõ tive muitos annos em fegredo, porque não quiz envilecer hum tao grande remedio com a publicida- de ; porèm agora o quero fazer publico para utilidade de todos. Tomai de affafetida, de femente de bifna- ga, de agno cafto, de raiz de pionia macho, & de alambre preparado , de cada coufa deftas duas oitavas & meya, de cravo da India meyo efcropulo, de zedoa- ria huma oitava , tudo fe incorpore muito bem com o que baftar de terebinthina em ponto , & fe formem pilulas ; deftas dei cada vez dous efcropulos em dias alternados, atè fe acabarem. E para coroar efta obra, & confortar a madre, fomentei muitos dias todo o ventre com o feguinte lenimento. Tomem de banha de flor duas onças, deitefe dentro de huma tigela de fogo vidrada com huma mão cheya de folhas de galla- crifta, & ferva ate que as folhas fe torrem, & depois que efte licor eftiver quafi frio, fe deitem fóra as di- tas folhas, & lhe ajuntem tres oitavas de tacamaca, meya oitava de oleo de alambre, & meyo efcropulo de efpirito de alfazema, & mifturandofe eftas coufas muito bem, ficou hum lenimento maravilhofo, com que fe fomentou o ventre todos os dias. Faltaõme pa- lavras para explicar a alegria, que os parentes, & to- da a familia tiverao, vendo efcapar a efta fenhora de hum perigo tão grande, depois de defemparada dos Medicos mais famigerados. 7. Muitas mulheres pudera nomear , que por be- neficio dos referidos remedios fe livraraõ de taõ pe- nofa . -
204 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. curaveis muitas doencas, f6 porque os Medicos naδ fe atreviao a ufar dos remedios efficazes , & repeti- dos. Depois que a minha nobre enferma ufou def- tas pilulas,fe rebatéra,& diminuira de forte os acci- dentes hyftericos, fora menores, & viera imais re- tardados, & em gratificacao da melhoria experime- tou com os meus remedios, prometteo fer muito obe-. diente ao ö lhe mandaffe.Para que pois nao torraffem a brotar: algumas raizes daenfermidade, & fzeffem novos accidentes, lhe dei outras pilulas, cuja prepa- raga tive muitos annos em fegredo, porque nao quiz envilecer hum ta grande remedio com a publicida- de ; porém agora o quero fazer publico para utilidade de todos. Tomai de affafetida , de femente de bifna- ga, de agno cafto, de raiz de pionia macho, & de alambre preparado , de cada coufa deftas duas oitavas & meya, de cravo da India meyo efcropulo, de zedoa- ria huma oitava, tudo fe incorpore muito bem com o que baftar de terebinthina cm ponto,& fe formem pilulas , deftas dei cada vez dous efcropulos em dias alternados, até fe acabarem. E para coroar efta obra, & confortar a madre, fomentei muitos dias todo o ventre com o feguinte lenimento. Tomem de banha de flor duas oncas, deitefe dentro de huma tigela de fogo vidrada com huma mao cheya de folhas de galla . crifta,& ferva até que as folhas fe torrem, & depois. que efte licor eftiver quafi frio, fe, deitem fóra as di- tas folhas, & lhe ajuntem tres oitavas detacamaca, meyaoitava de oleode alambre, & meyo efcropulo. de efpiritode alfazema, & mifturandofe eftas coufas muito bem, ficou hum lenimento maravilhofo, com qúe fe fomentou o ventre todos os dias. Faltame pa- lavras para explicar a alegria, que os parentes, & to- da afamilia tivera, vendo efcapar aefta fenhora de hum perigo tao grande, depois de defemparada dos Medicos mais famigerados. 7. Muitas imulheres pudera nomear, que por be- neficio dos referidos rémedios felivrara de taö pe- noia
204 Obfervações Medicas Doutrinaes. curaveis muitas doenças , fó porque os Medicos naó fe atrevião a ufar dos remedios efficazes , & repeti- dos. 6. Depoisqueaminha nobre enferma ufou def tas pilulas,(e rebaréraó,& diminuiraó de forte os acci- dentes hyítericos, 4 foraô menores, & vieraô mais re- tardados, & em gratificação da melhoria dj experimê- tou com os meus remedios, prometteo fer muito obe-- diente ao 4 lhe mandafle. Para que pois naó rornaffem a brotar algumas raizes da enférmidade, & fizeffem novos accidentes , lhe dei outras pilulas, cuja prepa- raçaô tive muitos annos em fegredo, porque não quiz envilecer hum taô grande remedio coma publicida- de ; porêm agora o quero fazer. publico para utilidade de todos. Tomai de affafetida , de femente de bifna- . ga, de agno caíto, de raiz de pionia macho, & de Ds alambre preparado , de cada coufa deftas duas oitavas | & meya, de cravo da India meyo efcropulo, de zedoa- | ria huma oitava , tudo fe incorpore muito bem com o co que baítar de terebinthina em ponto , & fe formem” : pilulas ; deftas dei cada vez dous eferopulos em dias alternados , até fe acabarem. E para coroar efta obra, " & confortar a madre, fomentei muitos dias todo a ventre com o feguinte lenimento. Tomem de banha de flor duas onças, deitefe dentro de huma tigela de fogo vidrada com huma mão cheya de folhas de galla- .crifta, & ferva até que as folhas fe torrem , & depois : que efte licor eftiver quafi frio, fe deitern fóra as di- so. o tas folhas, & lhe ajuntem tres oitavas de tacamaca, meyaoitava de oleode alambre, & meyo efcropulo, . deefpiritode alfazema, & mifturandofe eftas coufas guito bem , ficou hum lenimento maravilhofo, com que fe fomentou o ventre todos os dias. Faltaóme pa- lavras para explicar a alegria , que os parentes, & to- “da afamiliativeraó, vendo efcapar a efta fenhora de hum perigo tão grande , depois de defemparada dos Medicos mais famigerados. : | 7. Muitas mulberes pudera nomear , que por be- RN neficio dos referidos remedios fe livrãraô de taó pe- ' | “nola
204 Observaçones Medicas Doutrinaes. curaveis muitas doenças, só porque os Medicos naon se atreviano a usar dos remedios efficazes, & repeti¬ dos. 6. Depois que a minha nobre enferma usou des- tas pilulas, se rebatéraon, & diminuiraon de sorte os acci- dentes hystericos, que foraon menores, & vieraon mais re- tardados, & em gratificaçamo da melhoria quae experimen¬ tou com os meus remedios, prometteo ser muito obe¬ diente ao quae lhe mandasse. Para que pois naon tornassem a brotar algumas raizes da enfermidade, & fizessem novos accidentes, lhe des outras pilulas , cuja prepa raçaon tive muitos annos em segredo, porque namo quiz envilecer hum tao grande remedio com a publicida¬ de; porèm agora o quero fazer publico para utilidade de todos. Tomai de assafetida, de semente de bisna- ga, de agno casto, de raiz de pionia macho, & de alambre preparado, de cada cousa destas duas oitavas & meya, de cravo da India meyo escropulo, de zedoa- ria huma oitava, tudo se incorpore muito bem com o que bastar de terebinthina em ponto, & se formem pilulas; destas dei cada vez dous escropulos em dias alternados, atè se acabarem. E para coroar esta obra, & confortar a madre, fomentei muitos dias todo o ventre com o seguinte lenimento. Tomem de banha de flor duas onças, deitese dentro de huma tigela de fogo vidrada com huma mano cheya de folhas de galla¬ crista, & ferva até que as folhas se torrem, & depois que este licor estiver quasi frio, se deitem fóra as di- tas folhas, & lhe ajuntem tres oitavas de tacamaca, meya oitava de oleo de alambre, & meyo escropulo de espirito de alfazema, & misturandose estas cousas muito bem, ficou hum lenimento maravilhoso, com que se fomentou o ventre todos os dias. Faltaome pa- lavras para explicar a alegria, que os parentes, & to¬ da a familia tiveraon, vendo escapar a esta senhora de hum perigo tamo grande, depois de desemparada dos Medicos mais famigerados. Muitas mulheres pudera nomear, que por be neficio dos referidos remedios se livràraon de taon pe¬ nosa
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Observaçaõ XXXIII. 205 nosa enfermidade ; mas porque tive entre mãos algumas donzellas , & outras casadas , cujos accidentes uterinos zombàraõ de todos os remedios antistericos interior , & exteriormente applicados , me resolvi a entender que semelhantes accidentes naõ traziaõ os seus principios de copia de sangue , nem de semente reteùda , nem podre , como muitas vezes succede , & algumas pessoas cuidão ; porque se procedessem destas causas , nem as casadas , que usaõ largamente dos actos conjugaes , nem as donzellas , que pagaõ com pontualidade , & abundancia os tributos lunares , teriaõ taes accidentes . Avemos pois de entender que os assaltos uterinos , q nem com o uso do matrimonio se vencem , nem com a copia das purgações mensaes se tiraõ , nem com os remedios mais decantados se domão , procedem indubitavelmente de alguma qualidade occulta , & imperceptivel ao nosso juizo , que a modo de aura , ou vapor venenoso sobe da madre , & irritandoa , ou enfurecendoa , deita de si huma tal qualidade , ou vapor , que offendé o septo transverso , o bofe , & os orgãos da respiraçaõ , convellindo-os , ou espasmando-os , & deste modo causaõ a suffocaçaõ uterina ; & nesta supposiçaõ se o accidente proceder de aura , vapor , ou qualidade occulta , naõ avemos de porfiar com purgas , nem com sangrias , nem com fumaças fedorentas ; porque estes remedios taõ fóra estaõ de aproveitar , que antes tenho visto fazerem grande damno a alguas mulheres , porque não tinhaõ proporçaõ com a causa occasional do accidente uterino : mas o que observei ser remedio quasi divino para discutir o vapor venefico , & fixar a causa convulsiva , ou aura espasmodica , he o seguinte . Tomem de raizes de pionia macho meya onça , de zedoaria tres oitavas , de alambre preparado tres oitavas & meya , de contrahierva huma onça , de unha da graõ besta tres oitavas , de visco quercino outras tres , de almiscar duas oitavas & meya , de canela finissima tres oitavas , tudo se polvorize subtilmente , com agua de alquitira se formem pastilhas , & depois de bem seccas se guar
: Obfervaçaõ XXXIII. nofa enfermidade ; mas porque tive entre mãos algu- .. mas donzellas, & outras cafadas , cujos accidentes uterinos zombarao de todos os remedios antiftericos interior, & exteriormente applicados, me refolvi a entender que femelhantes accidentes naõ traziaõ os feus principios de copia de fangue, nem de femente reteùda, nem podre, como muitas vezes fuceede, & algumas peffoas cuidão; porque fe procedeffem def- tas caufas, nem as cafadas, queufao largamente dos actos conjugaes, nem as donzellas, que pagaõ com pontualidade , & abundancia os tributos lunares, te- riaõ taes accidentes. Avemos pois de entender que os affaltos uterinos, q nem com o ufo do matrimonio fe vencem, nem com a copia das purgações menlaes fe tiraõ, nem com os remedios mais'decantados fe do- mão, procedem indubitavelmente de alguma quali- dade occulta, & imperceptivel ao noffo juizo, que a modo de aura, ou vapor venenofo fobe da madre, & irritandoa, ou enfurecendoa, deita de fi huma tal qua- lidade, ou, vapor, que offendé o fepto tranfverfo, o bofe , & os orgãos da refpiracao, convellindo-os, ou efpafmando-os , & defte modo caufao a fuffocacao uterina ; & nefta fuppofiçao fe o accidente proceder de aura , vapor, ou qualidade occulta, nao avemos de .porfiar com purgas, nem com fangrias, nem com fu- maças fedorentās ; porque eftes remedios taõ fóra ef- tao de aproveitar, que antes tenho vifto fazerem gran- de damno a algúas mulheres, porque não tinhaõ pro- porçaõ com a caufa occafional do accidente uterino: mas o que obfervei fer remedio quafi divino para dif- cutir o vapor venefico , & fixar a caufa convulfiva, ou aura efpafmodica, he o feguinte. Tomem de rai- zes de pionia macho meya onça, de zedoaria tres oi- tavas , de alambre preparado tres oitavas & meya, de contrahierva huma onça, de unha da graõ befta tres oitavas , de vifco quercino outras tres, de almifcar duas oitavas & meya, de canela finiffima tres oitavas, tudo fe polvorize fubtilmente, & com agua de alqui- tira fe formem pastilhas, & depois de bem feccas fe guar- 1 ) 1 0 2. 1. 1 $ . :
Obfervacao XXXIII. 2o$ nofa enfermidade; mas porque tive entre maos algu- .. mas donzellas, & outras cafadas., cujos accidentes uterinos zombára de todos os remedios antiftericos interior, & exteriormente applicados, me refolvi a entender que femelhantes accidentes natrazia os feus principios de copia de fangue, nem de femente reteuda, nem podre, como muitas vezes fuccede,& algumas peffoas cuidao; porque fe procedeffem def- tas caufas, nem as cafadas, queufaö largamente dos actos conjugaes, nem as donzellas, que paga com pontualidade , & abundancia os tributos lunares, té- ria taes accidentés. Avemos pois deentender que os affaltos uterinos, nem com o ufo do matrimonio fe vencem, nem coma copia das purgasoes menfaes fe tira, nem com os remedios mais decantados fe do- mao , procedem indubitavelmente de alguma quali- dade occulta,& imperceptivel ao noffo juizo,que a modo deaura, ou vapor venenofo fobe da madre, & irritandoa, ou enfurecendoa, deita de fi huma tal qua- lidade, ou.vapor, queoffendé ofepto tranfverfo, bofe , & os orgaos da refpiraca, convellindo-os, ou efpafinando-os & defte mödo caufa a fuffocaca uterina ; & nefta fuppofica fe o accidente proceder de aura , vapor , ou qualidade occulta , na avemos-de .-porfiar com purgas, nem com fangrias, nein com fu- macas fedorentas ; porque eftes remedios ta fóra ef- .taö de aproveitar,que antes tenho vifto fazerem gran- de damno a alguas mutheres , porque nao tinha pro- porcaö com a caufa occafional doaccidente uterino:: mas o que obfervei fer remedio quafi divino para dif- cutir o vapor. venefico:, & fixar acaufa convulfiva, ou aura efpafimodica, lie ofeguinte. Tomem de rai- zesde pionia macho meya onca, de zedoaria tres ói- tavas , de alambre preparado tres oitavas & meya, de contrahierva huma onca., de unha dagraö beftatres oitavas , de vifco quercino outras. tres, de almifcar duas oitavas & meya , de canela finiffima tres oitavas, tudo fe polvorize fubtilmente, & com agua de alqui- tira fe formem paftilhas, & depöis debem feccas fe guar-
Oblfervação XXXIIf. aos O nofa enfermidade; mas porque tive entre mãos algu- - mas donzellas, & outras cafadas , cujos accidentes uterinos zombiraô de todos os remedios antiftericos. interior, & exteriormente applicados, me refolvi à » — entender que femelhantes accidentes naó tráziaõ os feus principios de copiá de fangue, nem de femente reteúda, nem podre, como muitas vezes fuceede, & algumas peffoas cuidão ; porque fe procedefflem def- “tas caufas, nem as cafadas, queufaô largamente dos : — actos conjugaes, nem as donzellas, que pagaó com ' pontualidade , & abundancia os tributos lunares, tê-. riaô taes accidentés. Avemos pois de entender que . os afflaltos uterinos, q nem com o ufo do matrimonio fe vencem, nem coma copia das púrgações mentaes fe tiraó, nem com os remedios mais'decantados fe do- mão , procedem indubitavelmente de algama qualiz =, =» dade occulta, & imperceptivel ao noffo juizo, que a . j —“mododeaura, ouvapor venenofo fobe da madre, & irritandoa, ou enfurecendoa, deita de fi huma tal qua- lidade, ou.vapor, que offendé o fepto tranfverfo, o bofe ; & os orgãos da refpiraçaô , convellindo-os, ou . efpafmando-os É & defte modo caufaõó a fuffocaçaõ | uterina ; & nefta fuppofiçaô fe o accidente proceder de aura , vapor, ou qualidade occulta , naô avemos de .Porfiar com purgas, nem com fangrias, nem com fu- maças fedorentas ; porque eítes remedios taô fóra ef: > taô de aproveitar,que antes tenho vifto fazerem grans — —dedamnoaalgõasmulheres,porquenãotinhaõ pro- — —porçaócomacanfa occafional do accidente uterino: ", masoqueobfervei fer remedio quafi divino paradif. cutir o vapor venefico , & fixar acaufa convulfiva, ou aura elpalmodica,, he ofeguinte. Tomem de rai- zesde pionia macho meya onça, de zedoariatres 01- ++ tavas , de alambre preparado tres oitavas & meya, de contrahierva huma onça, de unha da graó beltatres oitavas , de vifco quercino outras tres, de almiícar duas oitavas & meya , de canela finiflima tres oitávas; tudo fe polvorize fubtilmente, & com agua de alqui- | tira fe Lrmem paftilhas, & depois debem feccas fe —. o A guar= - O
Observaçao XXXIII. 205 nosa enfermidade; mas porque tive entre maos algu¬ mas donzellas, & outras casadas, cujos accidentes uterinos zombàraon de todos os remedios antistericos interior, & exteriormente applicados, me resolvi a entender que semelhantes accidentes naon traziaon os seus principios de copiâ de sangue, nem de semente reteûda, nem podre, como muitas vezes succede, & algumas pessoas cuidamo; porque se procedessem des¬ tas causas, nem as casadas, que usao largamente dos actos conjugaes, nem as donzellas, que pagaô com pontualidade, & abundancia os tributos lunares, te¬ riaô taes accidentes. Avemos pois de entender que os assaltos uterinos, que nem com o uso do matrimonio se vencem, nem coma copia das purgaçones mensaes se tiraon, nem com os remedios mais' decantados se do¬ mano, procedem indubitavelmente de alguma quali¬ dade occulta, & imperceptivel ao nosso juizo, que a modo de aura, ou vapor venenoso sobe da madre, & irritandoa, ou enfurecendoa, deita de si huma tal qua¬ lidade, ou vapor, que offendé o septo transverso, o bofe, & os orgamos da respiraçaon, convellindo-os, ou espasmando-os, & deste modo causaon a suffocaçaon uterina; & nesta supposiçaon se o accidente proceder de aura, vapor, ou qualidade occulta, naon avemos de porfiar com purgas, nem com sangrias, nem com fu¬ maças fedorentâs; porque estes remedios taon fora es¬ taon de aproveitar, que antes tenho visto fazerem gran¬ de damno a algumas mulheres, porque namo tinhaon pro¬ porçaon com a causa occasional do accidente uterino: mas o que observei ser remedio quasi divino para dis¬ cutir o vapor venefico, & fixar a causa convulsiva, ou aura espasmodica, he o seguinte. Tomem de rai zes de pionia macho meya onça, de zedoaria tres oi- tavas, de alambre preparado tres oitavas & meva, de contrahierva huma onça, de unha da graon besta tres oitavas, de visco quercino outras tres, de almiscar duas oitavas & meya, de canela finissima tres oitavas, tudo se polvorize subtilmente , & com agua de alqui- tira se formem pastilhas, & depois de bem seccas se guar¬ -
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206 Observações Medicas Doutrinaes guardem ; & deste remedio lhe dei por cada vez huma oitava desfeita em tres onças de agua de erva cidreira , & outras tres de agua de cereijas negras ; ou em onça & meya de rosa-solis, ou de agua de porco Espim ; porque naõ ha remedio que taõ promptamente dissine a aura maligna , & occulta , que da madre se levanta , como a agua de porco Espim , ou a rosa-solis , com tal condiçaõ , que lhe misturem os pòs sobreditos . 8 . Ultimamente , se este remedio , sendo hum dos mais celebrados , que no discurso de muitos annos tenho achado , naõ bastar para rebater , & fixar os furiosos movimentos convulsivos da madre , recorraõ a minha casa , que eu tenho hũ segredo , chamado , Confeiçaõ contra os accidentes uterinos , o qual dado em quantidade, de huma oitava , misturado com huma onça de arrobe das bagas de sabugueiro , ou com duas onças de agua de porco Espim , obra effeitos taõ maravilhosos , que parecem milagrosos : tomase duas vezes no dia , & rara vez foi necessario repetilo dous dias . 9 . Advirto não só aos Medicos modernos , mas a toda a gente do mundo , que naõ confirmão que as mulheres , que morrerem de accidentes uterinos , como tambem nem os homens , que morrerem de apoplexias , ou de outro qualquer accidente repentino , se enterrem , sem que passem quarenta & duas horas , porque se tem visto que algumas mulheres , & homens tiveraõ accidentes suffocativos taõ apertados , que não se distinguiaõ dos que verdadeiramente estavão mortos ; comtudo passadas quarenta & duas horas , tornàraõ em si , fallàraõ , & viveraõ depois disso muitos annos ; & se os tiveram enterrado antes de passarem as sobreditas horas , infallivelmente morreriaõ , como já tem acontecido ; porque abrindose huma sepultura para enterrar a hum defunto , achàraõ na escada do cemeterio o cadaver de huma mulher ; donde certissimamante conhecèrão que fora sepultada intempestivamente , porque ainda que tinha sinaes de morta , na realidade estava viva , pois subio a escada . OBSER-
206 Obfervações Medicas Doutrinaes. guardem ; & defte remedio lhe dei por cada vez huma oitava desfeita em tres onças de agua de erva cidreira, & outras tres de agua de cereijas negras; ou em onça & meya de rofa-folis, ou de agua de porco Efpim; por- que nao ha remedio que taõ promptamente diffipe a aura maligna, & occulta, que da madre fe levanta, como a agua de porco Efpim, ou a rofa-folis, com tal condiçao, que lhe mifturem os pos fobreditos .. 8. Ultimamente, fe efte remedio, fendo hum dos mais celebrados, que no difcurfo de muitos annos te- nho achado, nao baftar para rebater , & fixar os furio- fos movimentos convulfivos da madre , recorrao a minha cafa, que eu tenho hű fegredo, chamado, Con- feiçaõ contra os accidentes uterinos, o qual dado em quantidade de huma oitava, mifturado com huma on- . ça de arrobe das bagas de fabugueiro, ou com duas onças de agua de porco Efpim, obra effeitos taõ ma- ravilhofos , que parecem milagrofos : tomafe duas vezes no dia, & rara vez foi neceffario repetilo dous dias: 9. Advirto não fó aos Medicos modernos, mas a toda a gente do mundo, que nao conimtão que as mu- lheres, que morrerem de accidentes uterinos , como tambem nem os homens, que morrerem de apople- xias, ou de outro qualquer accidente repentino, fe. enterrem,fem que paffem quarenta & duas horas, por- que fe tem vifto que algumas mulheres, & homens ti- veraõ accidentes fuffocativos tão apertados, que não fe diftinguiao dos que verdadeiramente eftavão mor- tos; comtudo paffadas quarenta & duas horas, tor- nàrao em fi, fallàraõ, &.viveraõ depois diffo muitos annos ; & fe os tiveram enterrado antes de paffarem as fobreditas horas, infallivelmente morreriao, como já tem acontecido; porque abrindofe huma fepultu- ra para enterrar a hum defunto, acharao na efcada do cemeterio o cadaver de huma mulher ; donde certifi- mamente conhecerão que fora fepultada intempefti vamente, porque ainda que tinha finaes de morta, na realidade eftava viva , pois fubio a efcada. OBSER- --
206 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. & outrastresde agua decereijas negras; ou em onca & meya de rofa-folis,ou de agua de porco Efpim; por- que na ha remedioque taö proinptamente diffipe a como a agua de porco Efpim, ou a rofa-folis, com tai condicaö, que lhe mifturem os pos fobreditos. 8. - Uitimamente, fe efte reinedio,fendo humdos mais celebrados , que no difcurfo de muitos annos te- nho achado, na baftar para rebater , & fxar os furio- fos.movimentos convulfivos da madre , recorra a minha cafa, que eu tenho hu fegredo, chamado, Con- feicacontraos accidentes uterinos, oqual dado em quantidade de huma oitava, mifturado com huma on- ga de arrobe das bagas de fabugueiro, ou com duas oncas de agua de porcoEfpim, obra effeitos ta ma- ravilhofos , que parecem milagrofos : tomafe duas vezes nodia, & rara vez foi neceffariorepetilo dous dias: 9.. Advirtonaof6aos Medicos modernos, mas a toda a gente do mundo , que na conffntao que as mu-- tambem nem os homens, que morrerem de apople- xias, ou de outro qualquer accidente repentino, fe . enterrem,fem que paffem quarenta & duas horas,por- que fe tem vifto que alguma's mulheres, & horfens ti- vera accidentes fuffocativos tao apertados, gue nao fe diftinguia'dos que verdadeiramente eftaváo mor- tos; comtudo paffadas quarenta & duas horas , tor-. nara em fi, fallara,&.vivera depois diffo muitos annos.;, & fe os tiveram enterrado antes de paffarem as. fobreditas horas, infallivelmente morreria, como jä tem acontecido; porque abrindofe huma fepultu- ra paraenterrar a hum defunto, acharaö na efcada do cemeterio o cadaver de huma mulher ; donde certiffi. mamente conhecérao que fora fepultada intempefti* vamente, porque aindaque tinha.finaes de morta, na realidade eftava viva, pois fubio a efcaxia. . OBSER
206 Obfervações Medicas Doutrinaes. guardem ; & defte remedio lhe dei por cada vez huma oitava desfeita em tres onças de agua de erva cidreira, & outrastres de agua de cereijas negràs; ou em onça & meya de rofa-folis,ou de agua de porco Efpim; por- que naô ha remedio que taó promptamente diflipe a aura maligna, & occulta, que da madre ie levanta, como 1 agua de porco Efpim, ou a rofa-folis, comtal - condiçaõô, que lhe mifturem os pôs fobreditos.. 8. — Ultimamente, fe efte remedio,fendo hum dos “mais celebrados , que no difeurfo de muitos annos te- nho achado, naõ baftar para rebater , & fixar os furio- fos movimentos convulfivos da madre , recorraó a minha cafa, que eu tenho hã fegredo, chamado, Con- feiçaô contra os accidentes uterinos , o qual dado em. quantidade de huma oitava, mifturado com huma on- . ça de arrobe das bagas de fabugueiro, ou com duas onças de agua de porco Efpim , obra effeitos taô ma*- ravilhofos , que parecem milagrofos : tomaíe duas vezes nodia, & rara vez foi neceffario repetilo dous dias. : e... 9. Advirtonãofóaos Medicos modernos, mas a todaa gente do mundo, que naô conffhtão que as mu- | ' lheres, que morrerem de ateidentes uterinos, como tambem nem os homens, que morrerem de apople- xias, ou de outro qualquer accidente repentino, fe, enterrem,fem que paílem quarenta & duas horas,por- que fe tem vifto que algumas mulheres, & horfens ti“ veraô accidentes fuffocativos tão apertados, que não fe diftinguiaó' dos que verdadeiramente eftavão mor- tos; comtudo paífadas quarenta & duas horas, tor= nàraô em fi, fallãraô, &.viveraô depois diflo muitos annos ; & fe os tiveram enterrado antes de páflaremas c fobreditas horas, infallivelmente morreriao, como já tem acontecido; porque abrindofe huma fepultu- ra para enterrar a hum defunto, achàraó na efcada do cemeterio o cadaver de huma mulher ; donde cerriffi- mamente conhecêrão que fora fepultada intempeítis vamente, porque ainda que tinha finaes de morta, na realidade eftava viva , pois fubio a efcada. | « OBSER- e | | ' 1
206 Observaçones Medicas Doutrinaes. guardem ; & deste remedio lhe dei por cada vez huma oitava desfeita em tres onças de agua de erva cidreira, & outras tres de agua de cereijas negràs; ou em onca & meya de rosa-solis, ou de agua de porco Espim; por- que naon ha remedio que taon promptamente dissipe a aura maligna, & occulta, que da madre se levanta, como a agua de porco Espim , ou a rosa-solis, com tal condiçao , que lhe misturem os pòs sobreditos. 8. Ultimamente , se este remedio,sendo hum dos mais celebrados, que no discurso de muitos annos te¬ nho achado, naon bastar para rebater, & fixar os furio¬ sos movimentos convulsivos da madre, recorraon a minha casa, que eu tenho hum segredo, chamado, Con- feiçaon contra os accidentes uterinos, o qual dado em quantidade de huma oitava, misturado com huma on¬ ça de arrobe das bagas de sabugueiro, ou com duas onças de agua de porco Espim, obra effeitos tao ma- ravilhosos, que parecem milagrosos: tomase duas vezes no dia, & rara vez foi necessario repetilo dous dias. Advirto namo só aos Medicos modernos, mas a toda a gente do mundo, que naon consintamo que as mu¬ Iheres, que morrerem de accidentes uterinos, como tambem nem os homens, que morrerem de apople¬ xias, ou de outro qualquer accidente repentino, se. enterrem, sem que passem quarenta & duas horas, por¬ que se tem visto que algumas mulheres, & homens ti- veraon accidentes suffocativos tano apertados, que namo se distinguiaon dos que verdadeiramente estavao mor- tos; comtudo passadas quarenta & duas horas, tor¬ nàraon em si, fallàraon, & viveraon depois disso muitos annos; & se os tiveram enterrado antes de passarem as sobreditas horas, infallivelmente morreriao, como jà tem acontecido; porque abrindose huma sepultu¬ ra para enterrar a hum defunto, achàraon na escada do cemeterio o cadaver de huma mulher; donde certissi¬ mamente conhecèramo que fora sepultada intempesti¬ vamente, porque ainda que tinha sinaes de morta, na realidade estava viva, pois subio a escada. OBSER¬
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Observaçaõ XXXIV. 207 OBSERVAÇAM XXXIV . De huma enferma , que parindo dous meninos de hum parto , deitou huma só parea , de que se seguio morrer a tal parida no espaço de onze dias 1 . Assim como sempre me pareceo justo obedecer à razão , me pareceo sempre temerario contradizer a experiencia ; pois no sentir de Galeno , ( 1 . ) a razaõ , & a experiencia são as duas columnas , em que se sustenta a Medicina : comtudo como sejaõ maravilhosas , & estupendas as obras que a natureza faz por caminhos occultos , ( 2 . ) sem que a razaõ , nem o entendimento as alcancem ; daqui procede que mayor fé se deve dar à experiencia ; que à razaõ . Infinitos exemplos pudera referir em confirmação desta verdade ; apontarei só quatro , por naõ ser enfadoso aos Leitores : 2. Quem averà que naõ se admire , vendo sarar feridas horriveis , & fluxos de sangue implacavéis , sem se applicar remedio algum sobre as taes feridas , mas deitando sómente os pós da sympathia sobre o sangue , ou sobre o instrumento que ferio , com tal condiçaõ , que o sangue esteja ainda fresco ? Quem naõ ficarà admirado , vendo que huma velha de oitenta annos creou com o leite de seus peitos a huma sua neta , que por ficar sem mãy , & taõ pobre , que naõ tinha dinheiro para pagar a quem a creasse , estava disposta a morrer ? A quem naõ parecerà fabuloso o dizer que o panno Amianto ( quando está çujo ) se lava , metendose no fogo , sem se queimar ? A quantas pessoas parecerà engano o dizerse que os membros abrazados com o incendio de huma erysipela , se curaõ applicandolhe pannos molhados em agua ardente ? Quem averá que naõ tenha por mentira dizerse , que muitas tosses se curaõ com laranjas azedas ? Se ouvessemos de dar mais credito à razaõ , que à experiencia , mais razaõ
Obfervaçao XXXIV. 207. OBSERVAÇAM XXXIV. De buma enferma , que parindo dous meninos de bum parto , deitou huma fi parea , de que fe feguio mor- rer atal parida no espaço de onze dias. . .I. A Sfim como fempre me pareceo jufto obe- decer à razão , me pareceo fempre temes rario contradizer a experiencia ; pois no fentir de Ga+ .Jeno; (1.) a razão, & a experiencia fao as duas colum- nas, em que fe fuftenta a Medicina : comtudo So- mo fejao maravilhofas , & eftupendas as obras que a natureza faz por caminhos occultos , (2.) fém que a razaõ, nem o entendimento as alcancem; daqui pro- cede que mayor fé fe deve dar à experiencia ; que à ra- zao. Infinitos exemplos pudera referir em confirma- ção defta verdade; apontarei fó quatro, por naõ fer enfadofo aos Leitores: 2. Quem averà que nao feadmire, vendo farar feridas horriveis , & fluxos de fangue implacaveis , fem fe applicar. remedio algum fobre as taes feridas, mas deitando fomente os pós da fympathia fobre o fangue,ou fobre o inftrumento que ferio, com tal con- diçaõ, que o fangue efteja ainda frefco ? Quem nao ficarà admirado, vendo que huma velha de oitenta annos creou com o leite de feus peitos a huma fua ne- ta , que por ficar fem may , & tao pobre, que nao ți- nha dinheiro para pagar a quem a creaffe, eftava dif- pofta a morrer? A quem nao parecerà fabulofo o dizer que o panno Amianto (quando efta çujo) fe lava , me- tendofe no fogo, fem fe queimar ? A quantas peffoas parecerà engano o dizerfe que os membros abrazados com o incendio de huma eryfipela, fe curao applican- dolhe pannos molhados em agua ardente? Quem ave- rá que naõ tenha por mentira dizerfe, que muitas tof- fes fe curaõ com laranjas azedas ? Se ouveffemos de dar mais credito à razao, que à experiencia, mais ra- · zač
Obfervaca. XXXIV. 207. O B S E R V A C A M.XXXIV. De buma enferna , que parindo dous meninos de bun parto , deitou buma fδ parea, de que fefeguio inor- rer a tal parida no cfpaco de onze dias: : Sfim como fempre me parece juftoobe- decer a razao, me pareceo fempre teme- rario contradizer a experiencia ; pois no fentir de Ga- leno, (1.) a razao, & a experiencia fa as duas colum- nas, em que fe fuftenta a Medicina : comtidoxo- mo feja maravilhofas , & eftupendas as oßias que a natureza faz por caminhos occultos, (2.) fém que a raza , nem o entendimento as alcancem ;. dakui pro- cede que mayor fé fe devé dar a experiencia ; que a ra- zaö. Infinitos-exemplos pudera referir em confirma- sao defta verdade; apontareif6 quatro, por nafer enfadofo aos Leitores: 2. Quem avera que nao feadmire, véndo farar feridas horriveis , & fluxos de fangue implacavéis, fem fe applicar. remedio algum fobre as taes feridas, mas deitando fomente:os p6s da fympathia fobre o fangue,ou fobre o inftrumento que ferio,com tal con- dica, que ofangue efteja aindafrefco? Quem na ficara admirado, vendo que huma velha de oitenra annos creou coin o leite defeus peitos ahuma fua ne- ta , que por ficar fem may , &'ta pobre , que na ti- pofta a morrcr? Aquem na parecera fabulofo o dizer que o panno Amianto (quando efta cujo) fe lava , me- teridofenofogo, fem fe queimar? A quantas peffoas parecera engano o dizerfe que os membros abrazados com o incendio de huma eryfipela , fe cura applican dolhe pannos inolhados em agua ardente? Qucm ave- ra que na tenha por mentira dizerfe, que muitas tof- .fes fe cura com laranjas azedas? Se ouveffeinos dc dar mais Credito a raza, que a experiencia, mais ra- za0
Obferviçãó XXXIV. az “imastOatimatior asim innSao caido adido cof 50>ca5h0o anâbo ensãoo | a OBSERVAÇAM XXXIV. ' * De buma enferma , que parindo dous meninos de bum parto , deitou buma fó parea , de que fe feguio mor- rer atal parida no elbaço de onze dias. + Dr. A Sfim como fempre me pareczo juíto obe: o decer à razão, me pareceo fempre teme: 'rario contradizer a experiencia; pois no fentir de Ga* +. leno;(1.)arazão, & a experiencia faõas duas colum- . . nas, em que fe fuftenta a Medicina : comendo «o- mo fejaô maravilhofas , & eltupendas as otras que a natureza faz por caminhos occultos, (2.) fém quea FTaza6, nem o entendimento as alcancem; dátfui pro- cede que mayor fé fe deve dar à experiencia ; que à ra- zaô. Infinitos exemplos pudera referir em confirma- ção defta verdade; apontareifó quatro, por naó fer enfadofo aos Leitores: | 2. Quem averà que naô feadmire, vendo farar feridas horriveis , & fluxos de fangue implacavéis, fem feapplicar. remedio algum fobre às taes feridas, mas deitando fómente os pós da fympathia fobre o fangue,ou fobre o inftrumento que ferto,com talton- diçaô, que ofangue elteja ainda frefco? Quem naõ ficarà admirado, vendo que huma velha de oitenta | annos creou com o leite de-feus peitos a huma fua ne- tá , que por ficar fem mãy , & taõô pobre ; que naô ri- nha dinheiro para pagar ag quem a creafle, eftava dif.« poíta a morrer? A quem naô parecerà fabulofo o dizer Que o panno Amianto (quando eftá cujo) fe lava , me- tendole nofogo, fem fe queimar? A quantos pefífoas arecerà engano o dizerte que os membros abrazados com oincendio de huma eryfipela, fe curaô applican- dolhe pannos molhados em agua ardente? Quem ave- rá que naô tenha por mentira dizerfe, que muitas tof- des fe curaô com laranjas azedas ? Se ouvéflemos de dar mais Credito à razaó , que à experiencia , maisra- : ' e zaõ
Observaçaö XXXIV. 207 0 OBSERVAQAM XXXIV. De huma enferma, que parindo dous meninos de hum parto, deitou huma so parea, de que se seguio mor- rer a tal parida no espaço de onze dias. Ssim como sempre me pareceo justo obe¬ A decer à razimo, me pareceo sempre teme- rario contradizer a experiencia; pois no sentir de Ga¬ leno, (1.) a razamo, & a experiencia saon as duas colum- nas, em que se sustenta a Medicina. comtudo co¬ mo sejaon maravilhosas, & estupendas as obras que a natureza faz por caminhos occultos, (2.) sem que a razaô, nem o entendimento as alcancem; daqui pro¬ cede que mayor fé se devè dar à experiencia, que à ra- zao. Infinitos exemplos pudera referir em confirma¬ çamo desta verdade; apontarei só quatro, por naon ser enfadoso aos Leitores. 2. Quem averà que nao se admire, vendo sarar feridas horriveis, & fluxos de sangue implacavéis, sem se applicar remedio algum sobre as taes feridas, mas deitando somente os pós da sympathia sobre o sangue, ou sobre o instrumento que ferio, com tal con- diçaon, que o sangue esteja ainda fresco? Quem naon ficarà admirado, vendo que huma velha de oitenta annos creou com o leite de seus peitos a huma sua ne ta, que por ficar sem many, & taon pobre , que naon ti- nha dinheiro para pagar a quem a creasse , estava dis- posta a morrer? A quem nao parecerà fabuloso o dizer que o panno Amianto (quando està çujo) se lava , me- tendose no fogo , sem se queimar? A quantas pessoas parecerà engano o dizerse que os membros abrazados com o incendio de huma erysipela , se curaon applican- dolhe pannos molhados em agua ardente? Quem ave- rà que nao tenha por mentira dizerse , que muitas tos- ses se curaon com laranjas azedas? Se ouvessemos de dar mais credito à razaô, que à experiencia, mais ra- zao
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208 Observações Medicas Doutrinaes. zão era que os pós sympathicos se deitassem sobre a ferida , que sobre o sangue , ou instrumento que ferio . Se ouvessemos de dar mais credito à razão , que à experiencia , pareceria impossivel que huma velha de oitenta annos tivesse leite para crear hua neta. Se ouvessemos de dar mais credito à razão , que à experiencia , mais conforme à razão era que o panno Amianto se lavasse com agua , & sabão , que com o fogo . Se ouvessemos de dar mais credito à razaõ, que à experiencia , mais conforme à razão era, que a tosse se curasse com lambedores , & cousas doces , que com laranjas azedas : comtudo ainda que todas estas cousas parecem incriveis , & contra a razão , a experiencia mostra que todas saõ verdadeiras ; pois vemos que com os pòs sympathicos , deitados sobre o sangue , ou sobre o pãno molhado nelle fresco , se curaõ as feridas: & tambem consta de muitas pessoas fidedignas que huma velha de oitenta annos creou com o seu leite a huma neta sua : & tambem vemos que o panno Amianto se naõ queima , ainda que esteja metido em o fogo muitas horas : vemos finalmente que muitas tosses ( principalmente as seccas ) se curaõ com laranjas azedas , peyorando com os lambedores , & cousas doces : assim o observei em huma tosse , que padeceo o Padre Fr . Manoel de Brito , Religioso do Carmo , com quem (no discurso de quatro meses) se esgotàraõ quantos lambedores avia nas boticas : outra tosse secca , e rebeldissima curei com laranjas bicaes no Padre Frey Manoel de Santa Ursula , Religioso Agostinho Descalço : da mesma tosse secca curei a huma mulher , moradora ao poço das taboas , seis mezes avia que a sobredita mulher padecia huma tosse taõ secca, & rebelde , que tinha zombado de quantos remedios inventou o engenho dos homens , & como eu fosse chamado , & entendesse que semelhantes tosses seccas procedem de soros colericos , & pungitivos , que se exasperaõ mais com doces , lhe dei laranjas bicaes , & lhe mandei cozer com a gallinha hum molhinho de folhas de azedas , & deste modo a livrei da tosse . De todos
208 Obfervações Medicas Doutrinaes. zao era que os pós fympathicos fe deitaffem fobre à ferida, que fobre o fangue, ou inftrumento que fe- rio. Se puveffemos de dar mais credito à razão, que à experiencia, pareceria impoffivel que huma velha de oitenta annos tiveffe leite para crear hűa neta. Se ot- veffemos de dar mais credito à razão , que à expe- riencia , mais conforme à razão era que o panno Amianto fe lavaffe com agua, & fabao, que com o fogo. Se ouveffemos de dar mais credito à razao, que à experiencia, mais conforme à razão era, que a toffe 'fe curaffe com lambedores, & coufas doces, que com laranjas azedas: comtudo ainda que todas eftas cou- fas parecem incriveis , & contra a razão, a experien- cia moftra que todas faõ verdadeiras ; pois vemos que com os pos fympathicos , deitados fobre o fangue, cu Sobre o pano molhado nelle frefco, fe curao as feridas: & tambem confta de muitas peffoas fidedignas que huma velha de oitenta annos creou com o feu leite a huma neta fua : & tambem vemos que o panno Ami- anto fe nao queima, ainda que efteja metido em o fogo muitas horas : vemos finalmente que muitas toffes (principalmente as feccas ) fe curaó com laranjas aze- das, peyorando com os lambedores , & coufas doces: affim o obfervei em huma toffe, que padeceo o Padre Fr.Manoel de Brito, Religiofo do Carmo, com quem (no difcurfo de quatro mefes ) fe efgotàraõ quantos; lambedures avia nas.boticas : outra toffe fecca, & re- beldiffima curei com laranjas bicaes no Padre Frey Manoel de Santa Urfula, Religiofo Agostinho Def- calço: da mefma toffe fecca curei a huma mulher, mo- radora ao poço das taboas ; feis mezes avia que a fo- bredita mulher padecia huma toffe tao fecca, & re- belde, que tinha zombado de quantos remedios in- ventou o engenho dos homens, & como eu fofe cha- mado , & entendeffe que femelhantes toffes feccas procedem de foros colericos, & pungitivos, que fe exafperao mais com doces , lhe dei laranjas bicaes , & lhe mandei cozer com a gallinha hum molhinho de folhas de azedas, & deffe modo a livrei da toffe. De to- dos
2o* Obfervacoes Mcdicas Doutrinacs. za cra quc ós pös fympathicos fe deitaffem fobrea ferida, que fobre o fangue, ou inftrumento que fe- rio. Se ouveffemos de dar mais credito a razao, que a experiencia, pareceria impoffivel que huma velha de oitenta annos tiveffe leite para crear hua neta. Se ot- veffemos de dar mais credito a razao , que a expe- riencia, mais conforme a razao era que o panno Amianto fe lavaffe com agua, & fabao, que con o. fogo. Se ouveffemos de dar mais credito a raza, que a exptriencia, mais conforme a razaoera , que a toffe fe curaffe com lambedores, & coufas doces, que com laranjas azedas : comtudo ainda quetodas eftas cqu- fas parecem incriveis , & contra a razao, a experien- ciamoftra que todas fa verdadeiras ; pois venos que com os.pos fympathicos , deitados fobre o fangue., cu fobre o pano molhado nelle frefco, fe cura as feridass :& tambem confta de muitas pefloas fidedignas qus huma velha de oitenta annos creou com ofeu leite a huma neta fua : & tambem vemos que o panno Ami- anto fe na queima,ainda queefteja metido em ofogo niuitas horas : vemos finalmente que muitas toffes (principalmente as feccas ) fe curaö com laranjas aze- das., peyorando com os lambedores , & coufas doces: affim o obfervei em humatoffe, que padeceo Padre Fr Manoel de Brito, Religiofo do Carmo, com quem (no difcurfo de quatro. mefes ) feefgotara quantos: lanbedoresavianasboticas: outra toffe fecca, & re- beldiffima curei com laranjas bicaes no Padre Frey Manoel de Santa Urfula, Religiofo Agoftinho Def- calco: da mefma toffefecca curei a huma mulher, mo- radora aopoco das taboas; feis imezes avia que afo- bredita mulher padecia huma toffe ta fecca, &re- belde, que tinha zombado de quantos remedios in- ventou o engenho dos homens, & como eu foffe cha- mado , & entendeffe que femelhantes toffes feccas procedem de foros colericos, & pungitivos, que fe exafpera mais com doces , lhe dei laranjas bicaes , & The mandei cozer com a gallinha hum molhinho de : folhas de azedas, & defte modo a livrei da toffe.De to- doa
sos Obfervações Medicas Doutrinaes. 2aõ erá que os pós fympathicos fe deitaflem fobrea ferida, que fobre o fangue, ou inftramento que fe- rio. Se puveflemos de dar mais credito à tazão, que à. experiencia, pareceria impoílivel que huma velha de oitenta annos tivefle leite para crear hãa neta. Se ou- velfemos de dar mais credito à razão , que à expe- riencia , mais conforme à razão era que o panno Amianto fe lavafle com agua, & fabão, que com o. . fogo. Se ouveflemos de dar mais credito à razaó, que: | à experiencia, mais conforme à razão era, queatofle , Te curafífe com lambedores , & confas doces , que com laranjas azedas: comtudo ainda que todas eftas cqou- fas parecem incriveis , & contra a razão, a experieri= . tiamoftra que todas faô verdadeiras ; pois vemos que com os pôs fympathicos , deitados fobre o fangue, cu fobre apãno molhado nelle frefco, fe curaô as feridas: «& tambem confta de muitas pefloas fidedignas que huma velha de oitenta annos creou com o feu leite a huma neta fua : & tambem vemos que o panno Ami- anto fe naó queima, ainda que efteja metido em o fogao níuitas horas : vemos finalmente que muitas tofles (principalmente as feccas ) fe curaô com laranjas aze- das , peyorando com os lambedores , & coufas doces: afhm o obfervei em huma tofle, que padeceo o Padre Fr.Manoel de Brito, Religiofo do Carmo, com quem (no difcurfo de quatro mefes ) fe efgotàãraó quantos: lambedvures avia nas boticas : outra toffe fecca, & re. beldiffima curei com laranjas bicaes no Padre Frey Manoel de Santa Uríula, Religiofo Agoftinho Del . calço: da melma toffe feccacurei a huma mulher, mo radora ao poço das taboas ; feis mezes avia que a fo- bredita mulher padecia huma toffetaô fecca, &re- belde, que tinha zombado de quantos remedios in- ventou o engenho dos homens , & como eu foffe cha» mado , & entendefle que femelhantes toffes feccas procedem de foros colericos, & pungitivos, que fe exalperaô mais com doces , lhe dei laranjas bicaes , & - lhe mandei cozer com a gallinha hum molhinho de - folhas de azedas,& defte modo a livrei da toífe. De to- à E o : dos
208 Observaçones Medicas Doutrinaes. zaon erâ que os pos sympathicos se deitassem sobre a ferida, que sobre o sangue, ou instrumentò que fe- rio. Se puvessemos de dar mais credito à razano, quę à experiencia, pareceria impossivel que huma velha de oitenta annos tivesse leite para crear huma neta. Se ou¬ vessemos de dar mais credito à razao, que à expe- riencia, mais conforme à razao era que o panno Amianto se lavasse com agua, & sabao, que com o fogo. Se ouvessemos de dar mais credito à razaon, que à experiencia, mais conforme à razano era, que a tosse se curasse com lambedores, & cousas doces, que com laranjas azedas: comtudo ainda que todas estas cou¬ sas parecem incriveis, & contra a razamo, a experien¬ cia mostra que todas saon verdadeiras; pois vemos que com os pòs sympathicos, deitados sobre o sangue, ou sobre o panno molhado nelle fresco, se curaon as feridas: & tambem consta de muitas pessoas fidedignas que huma velha de oitenta annos creou com o seu leite a huma neta sua: & tambem vemos que o panno Ami¬ anto se naon queima, ainda que esteja metidò em o fogo muitas horas: vemos finalmente que muitas tosses (principalmente as seccas) se curaon com laranjas aze¬ das, peyorando com os lambedores, & cousas doces: assim o observei em huma tosse, que padeceo o Padre Fr. Manoel de Brito, Religioso do Carmo, com quem (no discurso de quatro meses) se esgotàraon quantos lambedores avia nas boticas: outra tosse secca, & re¬ beldissima curei com laranjas bicaes no Padre Frey Manoel de Santa Ursula, Religioso Agostinho Des¬ calço: da mesma tosse secca curei a huma mulher, mo¬ radora ao poço das taboas; seis mezes avia que a so¬ bredita mulher padecia huma tosse tao secca, & re¬ belde, que tinha zombado de quantos remedios in¬ ventou o engenho dos homens, & como eu fosse cha- mado, & entendesse que semelhantes tosses seccas procedem de soros colericos, & pungitivos, que se exasperaon mais com doces, lhe dei laranjas bicaes, & lhe mandei cozer com a gallinha hum molhinho de folhas de azedas, & deste modo a livrei da tosse. De to¬ dos
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Observaçaõ XXXIV. 209 dos estes exemplos se deixa conhecer , que a experiencia he mais poderosa que a razão , & em confirmaçaõ desta verdade me seja concedida licença para referir o seguinte caso , que observei com grande sentimento meu . 3 . Em dezaseis de Novembro de 1664 . pario minha primeira mulher dous filhos de hum parto , & ainda que com elles deitou hũa grande parea , naõ deixei de ficar mui cuidadoso , porque pedia a razão fossem duas , pois eraõ duas as crianças ; mas os Medicos a quem dei conta do grande cuidado com que estava , por naõ ver mais que huma só parea , me alentàraõ dizendo , que naõ era precisamente necessario se multiplicassem as pareas , quando avia deitado huma taõ grande , que podia valer por duas ; àlem de que se as duas crianças fossem geradas em hum só acto , huma só parea bastava . Comtudo vendo eu que a enferma tinha mayores ancias de dia em dia , & que da boca lhe sahia hum fedor horrivel , & cadaveroso , suspeitei que aquelles symptomas naõ procediaõ de outra causa mais , que da parea reteùda , & por consequencia que era necessario deitalla fóra com toda a brevidade , porque se se retivesse dentro muitos dias , communicaria grandes damnos ao coraçaõ , ao estomago & à cabeça , & pela corrupçaõ mataria a doente ; e supposto que para fazer esta obra tinha a Medicina muitos remedios , me pareceo acertado chegar logo aos mais efficazes ; porque ( como dizem Hippocrates , ( 3 . ) Galeno , ( 4 . ) & outros Doutores , ) ( 5 . ) Quando o perigo he grande , são escusados remedios pequenos. Deilhe pois vinte gottas de oleo de alambre misturadas com duas onças de vinho branco ; do qual remedio naõ conheci alivio : appellei para huma oitava de pò de parea do primeiro parto , misturada com huma chicara de caldo de gallinha bem açafroado ; mas naõ aproveitou : neste aperto me ocorrèraõ varios remedios de mui relevantes virtudes , como são o figado , & fel da enguia , ( 6 . ) os pós dos testiculos do cavallo , que não morresse de doença , o sal volatil oleo
209 Obfervaçao XXXIV. dos eftes exemplos fe deixa conhecer, que a experi- encia he mais poderofa que a razão, & em confirma- çaõ defta verdade me feja concedida licença para re- ferir o feguinte cafo, que obfervei com grande fenti- mento meu. - 1 3. Em dezafeis de Novembro de 1664. pario mi- nha primeira mulher dous filhos de hum parto, & ain- da que com elles deitou hűa grande parea, naõ deixei de ficar mui cuidadofo, porque pedia a razão foffem duas, pois eraõ duas as crianças; mas os Medicos à quem dei conta do grande cuidado com que eftava, por naõ ver mais que huma fó parea, me alentàraõ dizendo, que nao era precifamente neceffario fe mul- tiplicaffem as pareas ; quando avia deitado huma taõ grande, que podia valer por duas ; àlem de que fe as duas crianças foffem geradas em hum fó acto, huma fó parea baftava. Comtudo vendo eu que a enfer- ma tinha mayores ancias de dia em dia , & que da boca lhe fahia hum fedor horrivel , & cadaverofo, fufpeitei que aquelles fymptomas nao procediaõ de outra caufa mais, que da parea reteùda , & por con- fequencia que era neceffario deitalla fóra com toda a brevidade, porque fe fe retiveffe dentro muitos dias, communicaria grandes damnos ao coraçaõ, ao efto- mago, & à cabeça , & pela corrupção mataria a doen- te ; & fuppofto que para fazer efta obra tinha a Me- dicina muitos remedios , me pareceo acertado chegar logo aos mais efficazes ; porque ( como dizem Hippo- crates, (3.) Galeno , (4.) & outros Doutores, ) (5.) Quando o perigo he grande, fao efcufados remedios pe- quenos. Deilhe pois vinte gottas de oleo de alambre mifturadas com duas onças de vinho branco; do qual remedio naõ conheci alivio : appellei para huma oita- va de pò de parea do primeiro parto, mifturada com huma chicara de caldo de gallinha bem açafroado ; mas naő aproveitou : nefte aperto me occorrèrao va- rios remedios de mui relevantes virtudes, como faã o figado, & fel da enguia, (6.) os pós dos tefticulos do cavallo , que não morreffe de doença, o fal volatil. oleo-
:Obfervaca XXXIV: 209 .dos eftes exemplos fe deixa conhecer, que aexperi- encia he mais poderofa quea razao, & em confrma- a defta verdade me feja concedida licenca para re- ferir ofeguinte cafo , que obfervei com grande fenti- mento meu. 3.Em dezafeis de Novembro de 1664. pariomi- nha primeira mulher dous filhos de hum parto,& ain- da que com elles deitou hua grande parea, na deixei de ficar mui cuidadofo, porque pedia a razao foffem duas, pois era duas as criancas; mas os Medicos a quem dei conta do grande cuidado com queeftava, por na ver mais que huma f6 parea, me alentara dizendo, que na era precifamente neceffario fe mul- tiplicaffem as pareas , quando avia deitado huma ta grande, que.podia valer por duas, alem deque fe as duas criansas foffem geradas em hum f6acto, huma fo parea baftava. Comtudo vendo eu que a enfer- ma tinha mayores ancias de dia em dia , & que da boca lhe fahia hum fedor horrivel , & cadaverofo; fufpeitei que aquelles fymptomas na procediade outra caufa mais,que da parea reteuda, & por con- fequencia que era neceffario deitalla föracom toda a brevidade, porque fe fe retiveffe dentro muitos dias, communicaria grandes damnos ao. corasa, ao efto- mago, & a cabeca , & pela corrupcaö mataria a doen- te; & fuppofto que para fazer efta obra.tinha a Me- dicina muitos remedios , me pareceo acertado chegar logo aos mais efficazes ; porque ( como dizem Hippo-- crates, (3.) Galeno , (4.) & outros Doutores,.)(5.) Quando operigobe grande, Ja efcufados remedios pe- quenos. Deilhe pois vinte gottas de oleo de alambre mifturadas com duas oncas de vinho branco ; do qual remedio na conheci alivio : appellei para huma oita- va de po de parea do primeiro parto, mifturada com huma chicara de caldo de gallinha bem acafroado ; mas naoaproveitou : nefte aperto me occorrera va-: rios remedios de mui relevantes virtudes , como fa o figado,& fel da enguia, (6.) os pós dos tefticulos do cavallo , que.nao morreffe de doenga, o fal 'volatil oleo-
r . Obfervaçãoó XXXIV. — aos dos eftes exemplos fe deixa conhecer, que a experi- encia he mais “poderofa quea razão, & em confirma- çaô defta verdade me feja concedida licença “para re- ferir ofeguinte cafo , que obfervei com grande fenti- mento meu. QL 2 ' 3. Emdezafeisde Novembro de 1664. pario mi- nha primeira mulher dous filhos de hum parto,& ain= da que com elles deitou hãa grande parea , naó deixei de ficar mui cuidadofo, porque pedia à razão foflem duas , pois eraó duas as crianças; mas os Medicos à quem dei conta do grande cuidado com que eftava, Por naô ver mais que huma fó parea, me alentàraõ dizendo, que naõ era precifamente neceffario fe râul- tiplicaflem as pareas , quando avia deitado huma taõ grande, que podia valer por duas; àlem de que fe as duas crianças foflem geradas em hum fóa&o, huma fó parea baftava. Comtudo vendo eu que a enfer- ma tinha mayores âncias de dia em dia , & que da boca lhe fahia hum fedor horrivel , & cadaverofo, fuípeitei que aquelles fymptomas naó procediaõ de outra caufa mais, que da parea reteida, & por con- fequencia que era neceflario deitalla fóra com toda a brevidade, porque fe fe retiveíle dentro muitos dias, communicaria grandes damnos ao coraçaõ,ao efto- mago, & à cabeça , & pela corrupçaô mataria a doen- te; & fuppolto que para fazer efta obra tinha a Me- dicina muitos remedios , me pareceo acertado chegar Jogo aos mais efficazes ; porque ( como dizem Hippo. | crates , (3.) Galeno , (4.) & outros Doutores, ) (5.) Quando o perigo be grande , fao efesfados remedios pe quenos. Deilhe pois vinte gottas de oleo de alambre miíturadas com duas onças de vinho branco; do qual remedio naóô conhecialivio : appellei para huma oita- va de pô de parea do primeiro parto, mifturada com huma chicara de caldo de gallinha bem açafroado; mas naõ aproveitou : nefte aperto me occorrêraõ va- rios remedios de mui relevantes virtudes , como faô o figado, & fel da enguia , (6.) os pós dos tefticulos do cavallo , que não morrefle de doença, o fal volatil. ! oleo- 7 ' 7 AO E ART. O OO 100
Observaçaon XXXIV. 209 dos estes exemplos se deixa conhecer, que a experi¬ encia he mais poderosa que a razamo, & em confirma¬ çaon desta verdade me seja concedida licença para re- ferir o seguinte caso, que observei com grande senti- mento meu. Em dezaseis de Novembro de 1664. pario mi¬ nha primeira mulher dous filhos de hum parto, & ain¬ da que com elles deitou huma grande parea , naon deixei de ficar mui cuidadoso, porque pedia à razamo fossem duas, pois erao duas as crianças; mas os Medicos a quem dei conta do grande cuidado com que estava, por naô ver mais que huma só parea, me alentàraon dizendo, que naon era precisamente necessario se mul tiplicassem as pareas, quando avia deitado huma taon grande, que podia valer por duas; àlem de que se as duas crianças fossem geradas em hum só acto, huma só parea bastava. Comtudo vendo eu que a enfer¬ ma tinha mayores ancias de dia em dia, & que da boca lhe sahia hum fedor horrivel, & cadaveroso, suspeitei que aquelles symptomas naon procediaon de outra causa mais, que da parea reteûda, & por con- sequencia que era necessario deitalla fora com toda a brevidade, porque se se retivesse dentro muitos dias, communicaria grandes damnos ao coraçaon, ao esto¬ mago, & à cabeça , & pela corrupçaon mataria a doen- te ; & supposto que para fazer esta obra tinha a Me- dicina muitos remedios, me pareceo acertado chegar logo aos mais efficazes; porque (como dizem Hippo¬ crates, (3.) Galeno , (4.) & outros Doutores,) (5., Quando o perigo he grande, sao escusados remedios pe quenos. Deilhe pois vinte gottas de oleo de alambre misturadas com duas onças de vinho branco; do qual remedio nao conheci alivio : appellei para huma oita¬ va de pò de parea do primeiro parto , misturada com huma chicara de caldo de gallinha bem açafroado; mas naon aproveitou: neste aperto me occorrèraôn va¬ rios remedios de mui relevantes virtudes, como saó o figado, & fel da enguia , (6.) os pós dos testiculos do cavallo, que nao morresse de doença, o sal volatil oleo¬
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210 Observações Medicas Doutrinaes. oleoso de Silvio , a pelle de cobra applicada sobre o pentem , a agua da infusaõ da pedra Candar , a que vulgarmente chamaõ pedra Quadrada , já bebida , & já atada a mesma pedra na perna direita pela parte de dentro : mas como nenhum destes remedios se achasse nas boticas , nem o aperto da doença desse lugar a que se buscasse por algumas casas particulares , me vali de dar quatro onças de vinho branco , em que estivessem de infusaõ , por tempo de seis horas , sabina , canela , & açafraõ ; & vendo eu , que nem este remedio , sendo excellentissimo , sortia effeito , appellei , como para ultima ancora em taõ desfeita tempestade , para o seguinte remedio , no qual se tem huma quasi milagrosa confiança para semelhante aperto . Tomai de canela finissima , de folhas de artemija , de raizes de genciana , de aspargo , & de rubea tinctorum , de cada cousa destas meya onça , de bagas de louro descascadas , de atincar Veneziano , & de myrrha , de cada cousa destas duas oitavas , de centaurea menor , de neveda , & de poejos , de cada cousa destas duas oitavas , de cabeças de macella huma oitava , de açafraõ , & de flor de noz noscada , de cada cousa destas meya oitava , tudo se pize grossamente , & se infunda em huma canada de vinho branco generoso , por espaço de doze horas , & passadas ellas , se coem as ervas bem espremidas , & deste licor lhe dei duas vezes no dia quatro onças , misturandolhe de xarope de artemija huma onça , porque por repetidas experiencias consta que o tal cozimento provoca maravilhosamente a purgaçaõ lochial , & faz deitar as pareas por mais arreigadas que estejaõ , com tal condiçaõ , que se repita muitos dias : assim se fez , & com taõ feliz sucesso , que antes de passar huma hora deitou a parea , que tinha dentro , mas já taõ corrupta , que não só inficionou a madre , mas matou a enferma . E porque póde acontecer que no campo , ou aldea se ache alguma parida , que naõ possa deitar as pareas , nem possa fazer qualquer dos remedios sobreditos , aconselho que use do seguinte , que he excellentissimo , & muito facil . Tomai
210 Obfervações Medicas Doutrinaes. oleofo de Silvio, a pelle de cobra applicada fobre o. pentem , a agua da infufaõ da pedra Candar, a que vulgarmente chamao pedra Quadrada, ja bebida, & já atada a mefma pedra na perna direita pela parte de dentro : mas como nenhum deftes remedios fe achaf -. fe nas boticas, nem o aperto da doença deffe lugar a que fe bufcaffe por algumas cafas particulares, me va- li de dar quatro onças de vinho branco, em que eftig. veffem de infufao, por tempo de feis horas , fabina, ca- nela, & açafrão; & vendo eu , que nem efte remedio, fendo excellentiffimo, fortia efeito, appellei ; como para ultima ancora em taõ desfeita tempeftade, pa- ra o feguinte remedio, no qual fe tem huma quafi mi- lagrofa confiança para femelhante aperto. Tomai de canela finifima, de folhas de artemija, de raizes de genciana , de afpargo, & de rubea tinctorum , de ca- da coufa deftas meya onça, de bagas de louro defcaf- cadas, de arincar Veneziano, & de myrrha , de cada coufa deftas duas oitavas , de centaurea menor , de ne -. veda , & de poejos , de cada coufa deftas duas oitavas, de cabeças de macella huma oitava, de açafraõ, & des flor de noz nofcada, de cada coufa deftas meya oita- va, tudo fe pize groffamente , & fe infunda em huma canada de vinho branco generofo , por efpaço de. doze horas, & paffadas ellas , fe coem as ervas bem efpremidas, & defte licor lhe dei duas vezes no dia quatro onças, mifturandolhe de xarope de artemija huma onça, porque por repetidas experiencias conf- ta que o tal cozimento provoca maravilhofamente a purgaçaõ lochial , & faz deitar as pareas por mais ar- reigadas que eftejao , com tal condição, que fe repita. muitos dias: affim fe fez, & com tao feliz fucceffo, que antes de paffar huma hora deitou a parea, que tinha dentro, mas já tao corrupta, que não fó inficionou a madre, mas matou a enferma. E porque póde acon- tecer que no campo, ou aldea fe ache alguma parida, que nao poffa deitar as pareas, nem poffa fazer qual- quer dos remedios fobreditos, aconfelho que ufe do feguinte, que he excellentifimo, & muito facil. To- mai.
210 Obfervacoes MedicasDoutrinaes. oleofo de Silvio, a pelle de cöbra applicada fobre o pentem , a agua da infufa da pedra Candar,aque vulgarmente chama pedra Quadrada, jabebida, & jä atada a mefma pedra na perna direita pela parte de dentro : mas como nenhum deftes remedios fe achaf-. fe nas boticas, nem o aperto da doenca deffe lugar a que fe bufcaffe por algumas cafas particulares, me va- Ii de dar quatro oncas de vinho branco, em que efti.. veffem de infufa,por tempo de feis horas , fabina, ca--. nela, & acafra ; & vendoeu , que nem efte remedio, fendo excellentiffimo, fortia effeito, appellei ; como paraúltima ancora em ta desfeita tempeftade, pa- ra ofeguinte remedio, no qual fe tem huma quafrmi- lagrofa confianca para femelhante aperto. Tomai de canela finiffima, de folhas de artemija, de raizes.de. genciana,de afpargo, & de rubea tinctorum, de ca-- dacoufa deftas meyaonca, de bagas de louro defcaf- cadas, deatincar Veneziano, & demyrrha,de cada coufa deftas duas oitavas, de centaurea menor , de ne-- de cabecas de macella huma oitava , de acafra , & des flor de noz nofcada, de cada coufa deftas meya oita- va, tudo fe pize groffamente, & fe infunda em huma canada de vinho branco generofo , por efpaco de. doze horas, & paffadas ellas, fe coem as ervas bem efpremidas, & defte licor lhe dei duas vezes no diaj quatro ongas, mifturandolhe de xarope de arteimija. huma onca, porque por repetidas experiencias conf- : ta que o tal cozimento provoca maravilhofamente a purgaca lochial ,& faz deitar as pareas por mais ar- reigadas que efteja , com tal condica, que fe repita muitos dias: affim fe fez, & com ta feliz fucceffo,que antes de paffar huma hora deitou a parea, que tinha dentro, mas jata corrupta, que nao fó inficionou a. madre, mas matou a enferma. E porque póde acon- tecer que no campo, ou aldea fe ache alguma parida, que naö poffa deitar as pareas, nem poffafazer qual- quer dos reimedios fobreditos, aconfelho que ufe do feguinte, que he excellentiffimo, & muitofacil. To- mai
210 Obfervações Medicas Doutrinaes. oleofo de Silvio, a pelle de cobra applicada fobre o. pentem , a agua da infufaô da pedra Candar, a que vulgarmente chamaõ pedra Quadrada , já bebida, & já atada a melma pedra na perna direita pela parte de dentro : mas como nenhum deftes remedios fe achaf-- fe nas boticas, nem oapertoda doença defle lugara que fe bufcafle por algumas cafas particulares, me va- . lidedar quatro onças de vinho branco, em que efti, veífem de infufaó,por tempo de feis horas , fabina, ca-: nela, & açafraô ; & vendo eu , que nem efte remedio, fendo excellentiflimo , fortia effeito, appellei ;s como para ultima ancora em taô desfeita tempeítade, pa- ra oleguinte remedio, no qual fe tem huma quafi-mi-. lagrofá confiança para femelhante aperto. Tomai de canela finifima, de folhas deartemija, deraizes de. genciana , de afpargo, & de rubea tin&torum , de ca-"* dacoufadeftas meya onça, de bagas de louro defcaf-: cadas, de atincar Veneziano, & demyrrha, de cada coufa deftas duas oitávas , de centaurea menor , de ne-. veda , & de poejos , de cada coufa deftas duas oitavas, de cabeças de macella huma oitava, de açafraó, & des flor de noz nofcada , de cada coufa deftas meya oita- va , tudo fe pize groflamente , & fe infunda em huma canada de vinho branco generofo , por eípaço de- doze horas, & paíladas ellas , fe coem as ervas bem efpremidas , & defte licor lhe dei duas vezes nodia, quatro onças , mifturandolhe de xarope de artemija' huma onça, porque por repetidas experiencias conf- . ta que o tal cozimento provoca maravilhofamente a: . purgaçaô lochial ,-& faz deitar as pareas pof mais ar-- reigadas que eftejaô, com tal condiçaõ, que ferepita. muitos dias: aflim fe fez, & com taô feliz fucceflo, que antes de paflár huma hora deitou a parea , que tinha dentro, mas já taó corrupta, que não fó inficionou a madre, mas matou a enferma. E porque póde acon- tecer que no campo, ou aldea fe ache alguma parida, que naô poífa deitar as pareas, nem poíla fazer qual- quer dos remedios fobreditos , aconfelho que ufe do - feguinte, que he excellentiffimo , & muito facil. To-- ; ' mas.
210 Observaçones Medicas Doutrinaes. oleoso de Silvio, a pelle de cobra applicada sobre o. pentem, a agua da infusaô da pedra Candar, a que vulgarmente chamaon pedra Quadrada, já bebida , & jà atada a mesma pedra na perna direita pela parte de dentro: mas como nenhum destes remedios se achas¬ se nas boticas, nem o aperto da doença desse lugar a que se buscasse por algumas casas particulares, me va li de dar quatro onças de vinho branco , em que esti- vessem de infusaon, por tempo de seis horas , sabina, ca- nela, & açafraon; & vendo eu, que nem este remedio, sendo excellentissimo , sortia effeito , appellei , como para ultima ancora em taon desfeita tempestade, pa¬ ra o seguinte remedio , no qual se tem huma quasi mi¬ lagrosa confiança para semelhante aperto. Tomai de canela finissima, de folhas de artemija, de raizes de genciana, de aspargo , & de rubea tinctorum, de ca- da cousa destas meya onça, de bagas de louro descas- cadas, de atincar Veneziano, & de myrrha, de cada cousa destas duas oitavas, de centaurea menor , de ne- veda, & de poejos, de cada cousa destas duas oitavas, de cabeças de macella huma oitava, de açafraon, & de- flor de noz noscada, de cada cousa destas meya oita- va , tudo se pize grossamente , & se infunda em huma canada de vinho branco generoso, por espaço de¬ doze horas, & passadas ellas, se coem as ervas bem espremidas, & deste licor lhe dei duas vezes no dia, quatro onças, misturandolhe de xarope de artemija huma onça, porque por repetidas experiencias cons¬ ta que o tal cozimento provoca maravilhosamente a purgaçao lochial, & faz deitar as pareas por mais ar¬ reigadas que estejaon , com tal condiçaon , que se repita muitos dias: assim se fez, & com taon feliz successo, que antes de passar huma hora deitou a parea, que tinha dentro, mas ja taon corrupta, que nao só inficionou a madre, mas matou a enferma. E porque pode acon- tecer que nò campo , ou aldea se ache alguma parida, que nao possa deitar as pareas, nem possa fazer qual¬ quer dos remedios sobreditos, aconselho que use do seguinte, que he excellentissimo , & muito facil. To- mai
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Observaçaõ XXXIV. 211 mai de azeite commum seis onças , misturailhe meya oitava de açafraõ feito em pò , & de-se a beber , que infallivelmente deitarà as pareas . E se a parida naõ quizer tomar este remedio , por temer que se enjoe o estomago com o azeite , pòde tomar huma oitava dos pós da tunica da muela da gallinha , misturados com huma tigela de caldo de perdiz , & hum escropulo de açafraõ . E se nem deste remedio quizer usar , pòde tomar , como remedio mui experimentado , duas onças de vinho branco misturado com outras duas de çumo de angelica , chamada canabràs . 4 . Desta Observaçaõ aprendaõ os Medicos modernos duas cousas : a primeira , que ainda que a razaõ diga que basta huma só parea para duas crianças , dem mais credito à experiencia , pela qual consta que haõ de ser duas , & todas as vezes que virem só huma , sendo as crianças duas , tratem de applicar logo os remedios acima apontados , porque infallivelmente deitarà com elles a parea que faltar , como observei na sobredita doente . A segunda cousa que os Medicos modernos haõ de observar he , que nos grandes perigos usem logo dos remedios mais efficazes que souberem , porque algumas doenças correm taõ apressadamente para a morte , que naõ daõ lugar a tentar primeiro os mais brandos : assim o vi em a sobredita enferma , que por eu querer tentar primeiro os mais benignos , naõ lhe aproveitàraõ os mais efficazes . ( 7 . ) OBSER
bfervação XXXIV. 211 mai de azeite commum feis onças, mifturailhe meya oitava de açafrão feito em pò, & de-fe a beber, que infallivelmente deitarà as pareas. E fe a parida naõ quizer tomar efte remedio, por temer que fe enjoe o eftomago com o azeite, pode tomar huma oitava dos pós da tunica da muela dagallinha , mifturados com huma tigela de caldo de perdiz , & hum efcropulo de açafraõ. E fe nem defte remedio quizer ufar , pòde to- mar, como remedio mui experimentado , duas onças de vinho branco mifturado com outras duas de çumo de angelica , chamada canabràs. 1 4. Defta Obfervaçao aprendao os Medicos mo- dernos duas coufas : a primeira, que ainda que a razaõ diga que bafta huma fó parea para duas crianças , dem mais credito à experiencia , pela qual confta qne haõ de fer duas , & todas as vezes que virem fó huma, fen- do as crianças duas , tratem de applicar logo os reme- dios acima apontados , porque infallivelmente deita- rà com elles a parea que faltar, como obfervei na fo- bredita doente. A fegunda coufa que os Medicos mo- dernos hao de obfervar he, que nos grandes perigos ufem logo dos remedios mais efficazes que fouberem, porque algumas doenças correm taõ apreffadamen- te para a morte, que nao dao lugar a tentar primeiro os mais brandos : affim o vi em a fobredita enferma, que por eu querer tentar primeiro os mais benignos, naõ The aproveitarao os mais efficazes.(7.) OBSER- $ .
Obfervacao : XXXIy. 211 mai de azeité commum feis ongas, mifturailhe meya oitava de agafraö feitoem p, & de-fe a beber, que infallivelmente deitara as pareas. E fe a parida na quizer tomar efte remedio, por temer que fe enjoe eftomago.com o azeite , pode tomar huma oitava dos pós da tunica da muela dagallinha , mifturados com huma tigela decaldo deperdiz,& hum efcropulo de acafra. E fe nem defte remedio quizer.ufar , pde to- mar, como remedio mui experimentado , duas ongas te vinhobranco mifturado.com.outras duas de cumo de angelica , chamada canabras. Defta Ob(ervaca aprenda os Medicos mo- 4. dernos duas coufas : a primeira, que aindaque a raza diga que bafta huma f6 parea para duas criancas , dem mais credito a experiencia , pela qual confta qne ha de fer duas, & todas as vezes que virem f6 huma, fen- do as criancas duas, tratem de applicar logo os reme- dios acima apontados , porque infallivelmente deita- racom elles a parea que faltar, como obfervei na fo- bredita doente. A fegunda coufa que os Medicos mo- dernos ha de obfervar he, que nos grandes perigos ufem logo dos remedios mais efficazes que fouberem, porque algumas doencas correm ta apreffadamen- te paraa morte,que na da lugar a tentar primeiro os por eu querer tentar primeiro os mais benignos, na ihe aproveitaraos mais efficazes.(7.) . QBSER
Obfervaçio XXXIV. air mai de azeite commum feis onças , mifturailhe meya oitava de açafraõ feito em pô, & de-fe a beber, que infallivelmente deitarà as pareas. E fe a parida naõ quizer tomar efte remedio, por temer que fe enjoe o ' eftomagocomoazeite, pôde tomar huma oitava dos pós da tunica da muela dagallinha , mifturados com huma tigela de caldo de perdiz , & hum efcropulo de açafraõô. E fe nem defte remedio quizer ufar , pôdeto- mar, como remedio mui experimentado , duas onças devinho branco mifturado com outras duas de çumo de angelica, chamada canabrãs. t ! 4. Defta Obfervaçaõ aprepdaô os Medicos mo- dernos duas coufas: a primeira, que ainda que a razaô diga que bafta huma fó parea para duas crianças, dem mais credito à experiencia , pela qual confta que haô de fer duas , & todas as vezes que virem fó huma, fen- do as crianças duas , tratem de applicar logo os reme- dios acima apontados , porque infallivelmente deita- ràcomelles a parea que faltar, como obfervei na fo- bredita doente. A fegunda coufa que os Medicos mo- dernos haô de obfervar he, que nos grandes perigos . ufem logo dos remedios mais effhicazes que fouberém, porque algumas doenças correm taó apreffadamen- te para a morte,que naó daô lugar a tentar primeiro os mais brandos : aflimo vi em a fobredita enferma, que Or eu querer tentar primeiro os mais benignos, naõ lhe aproveitàraõô os mais efficazes.(7.) : “ .
Observaçao XXXIV. 211 mai de azeite commum seis onças, misturailhe meya oitava de açafrao feito em pò, & de-se a beber, que infallivelmente deitarà as pareas. E se a parida naon quizer tomar este remedio, por temer que se enjoe o estomago com o azeite, pòde tomar huma oitava dos pós da tunica da muela da gallinha, misturados com huma tigela de caldo de perdiz , & hum escropulo de açafrao. E se nem deste remedio quizer usar , pòde to- mar, como remedio mui experimentado, duas onças de vinho branco misturado com outras duas de çumo de angelica, chamada canabràs. 4. Desta Observaçaon aprendaon os Medicos mo¬ dernos duas cousas: a primeira, que ainda que a razad diga que basta huma só parea para duas crianças, dem mais credito à experiencia , pela qual consta que hao de ser duas, & todas as vezes que virem só huma, sen- do as crianças duas, tratem de applicar logo os reme- dios acima apontados, porque infallivelmente deita¬ rà com elles a parea que faltar, como observei na so¬ bredita doente. A segunda cousa que os Medicos mo¬ dernos hao de observar he, que nos grandes perigos usem logo dos remedios mais efficazes que souberem, porque algumas doenças correm tao apressadamen¬ te para a morte, que naon daon lugar a tentar primeiro os mais brandos: assim o vi em a sobredita enferma, que por eu querer tentar primeiro os mais benignos, naon Ihe aproveitàraon os mais efficazes.(7.) OBSER¬
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212 Observações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XXXV . De hum menino , que no instante , em que nasceo , se resfriou com taõ grande excesso , como se estivesse morto ; & a este sinal tanto para temido , se ajuntou outro mais formidavel de naõ querer mamar por tempo de quinze horas : neste grande perigo , & desconfiança da vida , recorrèraõ ao meu conselho , o qual foi que abrissem hum carneiro pela barriga , & que tirandolhe as entranhas ; metessem ao dito menino dentro naquelle vaõ , para que com o calor natural do carneiro se espertasse o calor amortecido do menino ; & que pela boca dessem ao moribundo innocente huma papinha , feita de huma gema de ovo cru , assucar , vinho , ambar , & canela , esperando que reparadas as forças por dentro com este grande , & espirituoso restaurativo , & esforçandose por fóra com o calor do animal , escaparia da morte : & succedeo assim ; porque dentro de meya hora cobrou quentura , começou de mamar , & viveo muitos annos . 1 . TInha determinado passar em silencio hum caso que observei taõ raro , que temi me naõ dessem credito os que o lessem ; comtudo para utilidade commua , & abono da verdade me pareceo razaõ escrevello , assim por ser hum caso que atè este dia se naõ veria outro semelhante , como por mostrar aos homens o quanto se enganaõ , os que cuidaõ que os Medicos naõ podem saber cousa alguma fóra do que está escrito nos livros , ou do que os antigos ensinàraõ nas cadeiras , porque só em caso que sempre fossemos meninos , só entaõ seria impossivel esperar de nós alguma cousa digna de applauso : & posto que nem a todos seja facil curar huma doença cheya de embaraços , & contradições , sem mestre que ensine , ou author que encaminhe ; comtudo naõ he para admirar que o entendimento humano guiado pelo lume da razaõ faça
212 Obfervações Medicas Doutrinaes.' OBSERVAÇAM XXXV. De hum menino, que no inftante, em que nafceo, fe ref -. friou com tao grande excefo, como fe eftiveffe morto; & a efte final tanto para temido , fe ajuntou outro mais formidavel de nao querer mamar por tempo de quinze hor as : nefte grande perigo, & defconfiança da vida, recorrerao ao meu confelho, o qual foi que abrif- Jem hum carneiro pela barriga, & que tirandolhe ar entranhas; meteffemao dito menino dentro naquelle vao , para que com o calor natural do carneiro fe ef- pertaffe o calor amortecido do menino ; do que pela bo- ca de fem ao moribundo innocente huma papinha , fei-x- ta de huma gema de ovo cru , affucar , vinho, ambar, & canela , esperando que reparadas as forças por dentro com efte grande, & efpirituofo restaurativo, & esforçandofe por fóra com o calor' do animal, efca- paria da morte: d fuccedeo afim; porque dentro de, meya hora cobrou quentura, começou de mamar , & viveo muitos annos. 1 1. T Inha determinado paffar em filencio hum cafo que obfervei taõ raro, que temi me naõ deffem credito os que o leffem ; comtudo para, utilidade commua, & abono da verdade me pareceo. razao efcrevello, affim por fer hum cafo que atè efter dia fe nao veria outro femelhante, como por moftrar .. aos homens o quanto fe enganaõ,os que cuidaõ que os Medicos nao podem faber coufa alguma fóra do que efta efcrito nos livros, ou do que os antigos enfinàraõ nas cadeiras , porque fó em cafo que fempre foffemos meninos, fó entao feria impoffivel efperar de nós al- guma coufa digna de applaufo : & pofto que nem a to- dos feja facil curar huma doença cheya de embaraços, & contradições, fem meftre que enfine, ou author que encaminhe ; comtudo nao he para admirar que o entendimento humano guiado pelo lume da razão fa- . .
212 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. OBSE RV ACAM XXXV. De hurn menino, que no inftante, em que nafteo, fe ref- friou com ta grande excefJo, comofe eftiveffe morto; a efte final tanto para tenido : Je ajuntou outro mais formidavel de na querer mamarpor tempo de quinze boras : nefte grande perigo, defconfianca da vida,recorrera ao meu confelbo, o qualfoi que abrif fem bumcarneiro pela barriga, que tirandolbe as entranbas, metellemao dito menino dentro naguelle va, para que com o calor natural do carneiro feef pertafJe o calor amortecido do menino; que pela bo- ca deffem ao moribundo innocente buma papinba , fei-- ta de buma gema de ovo cru, affucar , vinho, ambar, canela , e/perando que reparadas as forsas por dentro com efte grande, efpirituof6reftaurativo, s esforgandofepor fóra com o calor'do animal, efca- paria da morte: &fuccedeo afim; porque dentro de meya hora cobrou quentura, comegou de mamar, & viveo muitos annos. Inha determinado paffar em filencio hum cafo que obfervei ta raro, que temi me na deffem credito os que o leffem ; comtudo para utilidade commua, & abono da verdade me pareceo: razao efcrevello, affim por fer hum cafoque atéefte: dia fe nas veria outro femelhante,, como por moftrar. aos.homens o quanto fe engana,os que cuida que os Medicos na podem faber coufa alguma f6ra do que eftaefcrito.nos livros, ou doque os antigos enfinara : nas cadeiras , porque f6em cafo que fempre foffemos imeninos, f6 entaö feria impoffivel efperar de nós al- guma coufa digna de applaufo : & pofto que nerm a to- dos feja facil curar huma doenca cheya de embaracos, & contradices, fem meftre que enfine, ou author queencaminhe; comtudona he para adinirar que entendimento humano guiado pelo lume da razaö fa ta
212 Obfervações Medicas Doutrinaes. O OBSERVAÇAM XXXV. " x De hum menino , que no inftante , em que nafico, fevef.. Ffriou com tao grande exceffo , como fé eflivelle morto; & a efte final tanto para temido , fé ajuntou outro maú formidavel de nao querer mamar por tempo de quinze horas: nefte grande perigo, & defeonhança da wida,recorrerão ao meu confelho, o qual foi que abrif= Jem bum carneiro pela barriga, & que tirandolhe as vao , para que como calor natural do carneiro fêef- pertalfe o calor amortecido do menino; & que pela bo- ca deffem ao moribundo innocente buma papinha , fei=x- ta de buma gema de ovo cru , alfucar , vinho, ambar, dentro com eftle grande , & efbirituo/o re/ftaurativo, & esforçandofé por fóra com o calor do animal , efca- parta da morte: & fuccedeo afim; porque dentro de, “meya hora cobrou quentura, começou de mamar , & Viveo muitos amos. =. 0. & canela , fe grand que reparadas as forças por - a Inha determinado paílar em filencio hum T cafo que obfervei taó raro, quetemi me naõ deflem credito os que o leflfem ; comtudo para, utilidade comriua, & abono da verdade me pareceo. razaõ efcrevello, aflim por fer hum cafo quetatê efte- dia fe naãô veria outro femelhante, como por moítrar. aos homens o quanto fe enganaõ,os que cuidaó que os Medicos naô podem faber coufa alguma fóra do que eítá efcrito nos livros , ou do que os antigos enfinàraó : nascadeiras, porque fó em cafo que fempre foflemos meninos, fó entaô feria impoílivel efperar de nós al- ” guma coufa digna de applauto : & poão que nen a to- - dos feja facil curar huma doença cheya de embaraços, & contradições, fem meítte que enfine, ou author que encaminhe ; comtudo naõ he para admirar que o entendimento humano guiado pelo lume da razaõ fa- > ça entranhas”, mete/femao dito menino dentro naquelle -
212 Observaçones Medicas Doutrinaes. aoasaseaseaßarßen aaae ae aden OBSERVAQAM XXXV De hum menino, que no instante, em que nasceo, se res¬ friou com taon grande excesso, como se estivesse morto; & a este sinal tanto para temido, se ajuntou outro mais formidavel de nao querer mamar por tempo de quinze horas: neste grande perigo , & desconfiança da vida, recorrerao ao meu conselho, o qual foi que abris¬ sem hum carneiro pela barriga, & que tirandolhe as entranhas, metessem ao dito menino dentro naquelle vaon, para que com o calor natural do carneiro se es¬ pertasse o calor amortecido do menino ; & que pela bo¬ ca dessem ao moribundo innocente huma padinha, fei¬ ta de huma gema de ovo cru, assucar, vinho, ambar, & canela, esperando que reparadas as forças por dentro com este grande, & espirituoso restaurativo, & esforçandose por fora com o calor do animal, esca¬ paria da morte: & succedeo assim; porque dentro de meya hora cobrou quentura, começou de mamar, & viveo muitos annos. Inha determinado passar em silencio hum caso que observei tao raro, que temi me naon dessem credito os que o lessem; comtudo para, utilidade commua, & abono da verdade me pareceo razaon escrevello, assim por ser hum caso que atè este dia se nao veria outro semelhante, como por mostrar aos homens o quanto se enganaon,os que cuidaon que os Medicos naon podem saber cousa alguma fora do que está escrito nos livros, ou do que os antigos enfinàraon nas cadeiras, porque so em caso que sempre fossemos meninos, só entao seria impossivel esperar de nós al¬ guma cousa digna de applauso : & posto que nem a to- dos seja facil curar huma doença cheya de embaraços, & contradiçones, sem mestre que ensine, ou author que encaminhe; comtudo naon he para admirar que o entendimento humano guiado pelo lume da razao fa¬ ga
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Observaçaõ XXXV. 213 ça algũas curas dignas de nome , sem que preceda liçaõ dos Authores , ou conselho dos mestres , como pela seguinte Observaçaõ farei manifesto . 2 . Em quatro de Fevereiro de 1675 . ( estando os frios do inverno no seu mayor rigor ) nasceo hum menino , filho de Francisco Lubeche , & de sua honestissima consorte Paula Maria Rufina , & como pela excessiva frialdade do tempo , ou pela tenrissima idade do menino se extinguisse o calor natural com tanto excesso , que todos entendéraõ que a dita criança sahiria do mundo no mesmo dia , que tinha entrado nelle , pois nem podia mamar , nem engulir o leite , que lhe deitavaõ por colheres . Nesta affliçaõ dos pays se naõ ouviaõ em toda a sua casa mais que desconsolações , tristezas , & sentimento , porque era este jà o terceiro filho , ou , para melhor dizer , a terceira flor cortada em botaõ , & colhida antes de tempo . Naõ sabiaõ os pays que fizessem , vendo o seu amado filho em tanto perigo ; porque em idade taõ delicada , & aonde o calor natural estava taõ amortecido , naõ era conveniente sangrallo , nem purgallo , porque naõ avia forças capazes para sofrer estes remedios ; nem era necessario darlhe medicinas bezoarticas , nem cardiacas , porque naõ avia indicio algum de veneno dado por erro , ou malicia : fazerlhe esfregações com pannos asperos , ou deitarlhe ventosas , eraõ remedios infructuosos , por serem mayores do que a idade poderia sofrer : envolvello em pannos de baeta quentes , era só o que convinha , & o que se fazia ; mas nem por isso a criança cobrava quentura , porque a frialdade excessiva do ar nevado , & a repentina mudança que a creaturinha fizera sahindo das entranhas de sua mãy em hum dia , em que reynava hum Nordeste taõ desabrido ; & cruel , foraõ os poderosos combatentes , que o chegaraõ às portas da morte ; & porque entre a minha casa , & a de seus pays avia muitas razões de parentesco , & amizade , me avisaraõ do grande perigo ; em que estava o menino ; & commovido eu da piedade , & amor , me deliberei a dar o meu conselho , dizen-
Obfervação XXXV. 213 iça alguas curas dignas de nome, fem que preceda li- ção dos Authores, ou confelho dos meftres, como per la feguinte Obfervaçao farei manifesto. 2. Em quatro de Fevereiro de 1675. ( eftando os frios do inverno no feu mayor rigor ) nafceo hum me- nino, filho de Francifco Lubeche, & de fua honeftif- fima conforte Paula Maria Rufina, & como pela ex- ceffiva frialdade do tempo, ou pela tenriffima idade do menino fe extinguiffe o calor natural com tanto exceffo, que todos entenderao que a dita criança La. hiria do mundo no mefmo dia , que tinha entrado nelle, pois nem podia mamar, nem engulir o leite, que lhe deitavao por colheres. Nefta aflição dos pays Je nao ouvisoem toda afua cafa mais que defconfol- ções, triftezas, & fentimento, porque era efte jà o terceiro filho, ou, para melhor dizer, a terceira flor cortada em bordo , & colhida antes de tempo. Nao fabiao os pays que fizeffem, vendo o feu amado filho em tanto perigo ; porque em idade tao delicada, & aonde o calor natural eftava taõ amortecido, naõ era . conveniente fangrallo , nem purgallo , porque nao avia forças capazes para fofrer eftes remedios ; nem era neceffario darlhe medicinas bezoarticas, nem car- diacas ; porque nao avia indicio algum de veneno da+ do por erro, ou malicia : fazerthe esfregações com pannos afperos, ou deitarlhe ventofas, erao remedios infruQuofos, por ferem mayores do que a idade po- deria fofrer : envolvello em pannos de bacta quentes, era fó o que convinha, & o que Te fazia ; mas nem por iffo a criança cobrava quentura, porque a frialdade excelliva do ar nevado, & a repentina mudança que a creaturinha fizera fahindo das entranhas defua mãy em hum dia, em que reynava hum Nordefte tao defa- brido; & cruel, forao os poderofos combatentes, que o chegarao as portas da morte ; & porque entre a mi- nha cala, & a de feus pays avia muitas razões de pas rentefco, & amizade, me avifarao do grande perigo; em que eftava o menino; & commovido en da pieda- de , & amor, me deliberei a dar o meu confetho, di-,. zen- : 3
Obfervacao XXXV... 213 caalguas curas dignas de nome, fem que precedali- aö dos Authores,ou confelho dos meftres,comopes la feguinte Obfervaca farei manifefto. 2. Em quatrode Fevereirode 167s. (eftando os frios do inverno no fcu mayor rigor nafceo hum me- nino, flho de Francifco Lubeche, & de fua honeftif- fimaconforte Pauia MatiaRufina, & como pela ex- ceffiva friaidade do temo, ou pela tenriffima idade do menino fe extinguiffe o calor.natural com tanto exceffo, que todosentend'ra que a dita crianca fa. hiria do mundo no nefmo dia , que tinha entrado nelle, pois nem podia mamar, nem engulir o leite, Jue lhe deitavaö por cotheres. Nefti afica dos pays fe naouviaem to:la a fua cafa mais que defconfom- terceiro flho, ou , para melhor dizer, a terceira for cortada em bota , & cofhida antes derempo. Na fabiaos pay's que fizeffem, vendöo feu amadofilh em tanto perigo ; porque em idadeta delicada, & aonde ocalor natural eftava ta amortecido, na era conveniente fangrallo , nem purgallo , porque na avia forcas.capazes para fofrer eftes remedios ; nem era neceffario darlhe medicinas bezoarticas, nem car- diacas; porque na avia indicio algum de veneno da- do por erro, ou malicia : fazerlhe esfregacöes com pannos afperos, ou deitarlhe ventofas , eraremédios infru&uofos, por ferem mayores doque a idade po+ deria fofrer : envolvello en pannos de bacta quentes, eraf6 o queconvinha, & o quc Tefazia, mas nem por iffo a crianca cobrava quentura, porque a friaidade excefliva do ar nevado, & a repentina inudanca que a cieaturinhafizera fahindo dasentranhas defua may em hum dia, em qut reynava hura Nordeiteta& defa- brido, & cruel,fora os poderofoscombaténtes,que chegara as portas da morte ; & porquc :entre a mi- nha cafa, & a defeus pays avia muitas razes de pa- rentefco, & amizade, me avifarao do grande perigo, em qae eftava omenino, & commovido ea da picda- de, &amor, me deliberei adar omeuconfeiho, di-,. zen-
PRP Obfervação XXXV. aa çaalgõãas curas dignas de nome , fem que preceda li ça dos Authores,ou confelho dos meítres,como pes da feguinte Obfervaçaõ farei manifefto. í1.º 2. Emquartrode Fevereirode 1675. ( éftando os . friosdoinverno no feu mayor rigor )nafceo hum me nino, filho de Francifco Lubeche, & de fua honeftif- fima conforte Paula Maria Rufina , & como pela ex-. .. -— cefliva frialdade do temo, ou pela. renriffima idade do menino fe extinguifle o calor natural com tanto exceflo, que todos enten-Liraõ que a dita criança fas hiria do mundo no memo dia , que tinha entrado dh nelle pois nem podia mamar, nem engulir o leite, | que lhe deitavaõ porcolheres. Nefta afBliçaó dos pays + fenaõouvinõemtoda afua cafa mais que defconfolt- i 'ções, triftezas, & fentimencto, porque era eftejà o * terceiro filho, ou, para melhor dizer , a terceirá flor a cortada em botdô , & colhida antes derempo. Naô | fabiaô os pays que fizelem , vendo o feu amado filho ; em tanto perigo ; porque emidade taô delicada, & || aondeocalornatural eftava ta6 amortecido, naõ era . conveniente fangrallo , nem purgallo , porque naõ avia forças capazes para fofrer elites remedios ; nem era neceffario darlhe medicinas bezoarticas, nem cara diacas, porque naô aviaindicio algum de veneno da+* . do por erro, ou malicia : fazerlhe esfregações com ] os aíperos , ou deitarlhe ventofas , eraóremedios Pa . infrnu&uolos, por ferem mayores doque a idade po+ | : deria fofrer: envolvello em pannos de baera quentes, era 1ó o que convinha , & o que Te fazia; masnempot + o iffo a criança cobrava quentura, porque a frialdade AA: excefliva do ar nevado , & a repentina mudança que à creaturinha fizera fahindo das entranhas defua mãy em hum dia, em que reynava hum Nordelte-taô defa- brido; & cruel foraô os poderofos combaréntes que o * chegaáraô às portas da morte ; & porque entre a mis . nha cafa, & a defeus pays avia muitas razões de pas rentelco, & amizade, meavifaraô do grande perigo, em que eftava omenino; & commovido eu da piceda- "de , &camor, me deliberei a dar omeuconfeiho, dis... VA: i | “ een : x
Observaç ao XXXV. 213 ça algumas curas dignas de nome, sem que preceda li- çaon dos Authores, où conselho dos mestres, como per la seguinte Observaçaon farei manifesto. 2. Em quatro de Fevereiro de 1675. (estando os frios do inverno no seu mayor rigor) nasceo hum me¬ nino, filho de Francisco Lubeche, & de sua honestis- sima consorte Paula Matia Rufina, & como pela ex¬ cessiva frialdade do tempo, ou pela tenrissima idade do menino se extinguisse o calor natural com tanto excesso, que todos enten diraon que a dita criança sa- hiria do mundo no mesmo dia, que tinha entrado nelle, pois nem podia mamar, nem engulir o leite, que lhe deitavaon por colheres. Nesta affliçaon dos pays se naon ouvihon em toda a sua casa mais que desconsola¬ çones, tristezas, & sentimento, porque era este jà o terceiro filho, ou, para melhor dizer, a terceirâ flor cortada em botao, & colhida antes de tempo. Naon sabiaon os pays que fizessem, vendo o seu amado filhò em tanto perigo; porque em idade tao delicada, & aonde o calor natural estava tao amortecido, naon era conveniente sangrallo, nem purgallo, porque naon avia forças capazes para sofrer estes remedios; nem era necessario darlhe medicinas bezoarticas, nem car¬ diacas, porquę naon avia indicio algum de veneno da¬ do por erro, ou malicia: fazerlhe esfregaçones com pannos asperos, ou deitarlhe ventosas, eraon remedios infructuosos, por serem mayores do que a idade po¬ deria sofrer: envolvello em pannos de baeta quentes, era só o que convinha, & o que se fazia; mas nem por isso a criança cobrava quentura, porque a frialdade excessiva do ar nevado, & a repentina mudança que a creaturinha fizera sahindo das entranhas de sua many em hum dia, em que reynava hum Nordeste taon desa¬ brido, & cruel, foraon os poderosos combatentes, que o chegaraon às portas da morte; & porque entre a mi¬ nha cala, & a de seus pays avia muitas razones de pa¬ rentesco, & amizade, me avisaraon do grande perigo, em que estava o menino; & commovido eu da pieda¬ de, & amor, me deliberei a dar o meu conselho, di¬ zen¬
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214 Observações Medicas Doutrinaes zendo q eu entendia certamente que todas as diligencias eraõ baldadas , & todas as esperanças seriaõ infructuosas , & nullas , se o calor natural naõ tornasse a sahir para as partes exteriores , & suscitasse os espiritos vitaes ; porque se ( como he proloquio ( 1 . ) commum ) pelas mesmas causas por onde huma cousa nasce , pelas mesmas se dissolve ; como a causa de estar o corpo refrigerado fosse o retrocesso do calor para as partes interiores , & a extinçaõ dos espiritos vitaes , que influem para as partes exteriores , tudo o que revocasse o tal calor , & promovesse o influxo dos espiritos para o ambito do corpo , tiraria ao menino da garganta da morte : & como para fazer estes effeitos nenhum remedio era mais proprio que o calor das entranhas da mesma mãy , nellas devia ser reposto ; & metido ; mas como isto fosse impossivel , quiz o que pude , se naõ pude o que quiz ; ( 2 . ) por isso em lugar do calor natural do ventre da mãy , me vali de mandar abrir o ventre de hum carneiro vivo , & que com grande pressa lhe tirassem as entranhas , & metessem ao menino dentro naquelle vaõ , & o deixassem estar em quanto a quentura do carneiro perseverasse , porque era mui conforme à razaõ , que o calor , & espiritos amortecidos do menino resuscitassem , & esforçassem com o calor do carneiro , que era natural , & semelhante ao da criança , & hum semelhante junto com outro semelhante cobra forças , & vigor , como he proloquio dos Filosofos . ( 3 . ) 3 . Feita esta diligencia exterior , tratei de confortar interiormente os espiritos vitaes da criança , porque desta sorte sahiria logo o calor , que estava escondido nas entranhas , para a superficie do corpo , & para este fim ordenei o seguinte restaurativo , para cujos louvores saõ pequenos os mayores encarecimentos . Mandei bater duas gemas de ovos frescos com duas onças de vinho branco muito excellente , ajuntandolhe quatro grãos de ambar polvorizado , & vinte grãos de pó de canela finissima , & meya onça de assucar branco , ordenando que desta mistura lhe fossem
214 Observações Medicas Doutrinaes. zendo q eu entendia certamente que todas as diligen- .cias erao baldadas , & todas as efperancas feriao infru- ctuofas, & nullas, fe o calor natural nao tornaffe a fahir para as partes exteriores, & fufcitaffe os efpi -. ritos vitaes ; porque fe (como he proloquio (1. ) com- mum ) pelas mefmas caufas por onde buma coufa nafce, pelas mefmas fe difolve ; como a caufa de eftar o corpo refrigerado foffe.o retroceffo do calor para as partes interiores , & a extinção dos efpiritos vitaes, que in- fluem para as partes exteriores , tudo o que revocaf- fe o tal calor, & promovefre o influxo dos efpiritos pa- ra o ambito do corpo, tiraria ao menino da garganta da morte : & como para fazer eftes effeitos nenhum remedio era mais proprio que o calor das entranhas da mefma may, nellas devia fer repofto; & metido;' mas como ifto foffe impoffivel, quiz o que pude , fe nao pude o que quiz ; (2.) por iffo em lugar do calor natural do ventre da may , me vali de mandar abrir o. ventre de hum carneiro vivo, & que com grande pref- fa lhe tiraffem as entranhas , & meteffem ao menino dentro naquelle vao, & o deixaffem efter em quanto . a quentura do carneiro perfeveraffe, porque era mui conforme à razao, que o calor , & efpiritos amorteci- dos do menino refufcitaffem ;. & esforçaffem com o calor do carneiro, que era natural, & Semelhante ao da criança, & hum femelhante junto com outro fer melhante cobra forças , & vigor , como he proloquio dos Filofofos. (3.) : 3. Feita efta diligencia exterior, tratei de cong; fortar interiormente os efpiritos vitaes da criança; porque defta forte fahiria logo o calor, que eftava ef- condido nas entranhas , para a fuperficie do corpo, & para efte fim ordenei o feguinte reftaurativo, para cujos louvores fao pequenos os mayores encareci- mentos. Mandei bater duas gemas de ovos frefcos com duas onças de vinho branco muito excellente, ajuntandolhe quatro graos de ambar polvorizado, & · vinte grãos de po de canela finiffima , & meya onça de . affucar branco, ordenando que defta miftura lhe fof- fen . . 1
214 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. zendo ö eu entendia certamenteque todas as diligen. .cias era baldadas , & todas as efperancas feria infru- Ctuofas, & nullas, fe o calor natural natornaffe a fahir para as partes exteriores, & fufcitaffe os cfpi- -ritos vitaes ; porque fe (como he proloquio(1.) com- .mum ) pelas inefmas caufas. por onde buma coufa nafce, pelas ine/mas fe difolve ; como a caufa de eftar o corpo refrigerado foffe.oretroceffo do calor para as partes interiores , & a extinca dos efpiritos vitaes, que in- Aluem paraas partes exteriöres, tudo o que revocaf- fe o tal calor,& prömovefre o influxo dos efpiritos pa- ra o ambito do corpo, tiraria ao menino da garganta da morte : & como para fazer eftes effeitos nenhum ramedio era mais proprio que o calor das entranhas da mefma may, nellas devia fer repofto; & metido mas como ifto foffe impoffivel, quizo que pude , fe na pude oque quiz ; (2.)por iffo emlugar docalor natural doventre da may , me vali de mandar abrir o. yentre de hum carneiro vivo, & que comgrande.pref- falhe tiraffem as entranlias , & meteffem ao menino dentro naquelle va, & o deixaffem eftar em quant a quentura do carneiro perfeveraffe, porque era mui conforme. a raza, que o calor, & efpiritos amorteci- dos do menino. refüfcitaffem & esforsaffem com. calor docarneiro, que era natural, & femelhanteao: da crianca, & hum femelhante junto com outro fe* 1nelhante cobra forcas ; & vigor , como he proloquio dos Filofofos.(3.) 3.. Feita efta diligencia exterior, tratei de con: fortar interiormente os efpiritos : vitaes da crianca porque defta.forte fahiria logo o calor , que eftavaef- condido nas entranhas , para a fuperficie do corpo, & para efte fim ordenei o feguinte reftaurativo, para: cujos louvores faö pequenos os mayores encareci- mentos. Mandei bater duas gemas de ovos .frefcos com duas oncas de vinho.branco muito excellente, ajuntandolhe quatrograos de ambar polvorizado,& . vinte graos.de p6 de canela finiffima , & meya onca.de . aflucar branco, ordenando que..defta miftura lhe fof- fenr
214 Oblervações Medicas Doutrinaes. zendo d eu entendia certamente que todas as diligen- cias eraô baldadas , & todas as efperanças feriaô infru- &uofas, & nullas , fe o calor natural naótornafle a fahir para as partes exteriores, & fufcitafle os eípi-. Titos vitaes ; porque fe (como he proloquio (1. ) com- mam ) pelas mefinas caufas por onde huma coufa nafce, pelas mefmas fe diffolve ; como a caufa de eftar o corpo refriperado fofle.o retroceflo do calor para as partes — interiores , & a extinçaô dos efpiritos vitaes, que in- fluem para as partes exterfares , tudo o que revocaf. fe otal calor,& prómoveffEt o influxo dos efpiritos pa- ra o ambito do corpo, tiraria ao menino da garganta 'damorte : & como para fazer eftes effeitos nenhum rêtmedio era mais proprio que o calor das entranhãs da meíma mãy, nellas devia fer repofto; & metido; mas como ifto fofle impoílivel, quiz o que pude , fe naó pude o que quiz ; (2.) por imo emlugar do calor natural do ventre da mãy , me vali de mándar abrir o ventre de hum carneiro vivo, & que comgrande pref. falhe tiraflem as entranhas , & meteílem ao menino dentro naquelle vaô, & o deixaflem eftar em quanto a quentura do carneiro perfeverafle, porque era mui conforme à razaô, que o calor , & efpiritos amorteci- dos do menino refufcitaflem ;. & esfor afléem com o& calor do carneiro, que era natural, & lemelhante.ao- da criança, & hum femelhante junto com outro fez DE « —melhante cobra forças , & vigor, como he proloquio dos Filofofos. (3.) = “or , A 3. Feita elta diligência exterior, tratei de cons : fortar interiormente os efpiritos vitaes da criança; | porque defta forte fahiria logo o calor , que eftava'el= condido nas entranhas , para a fuperficie do corpo, “& para efte fim ordenei o feguinte reftaurativo, para: cujos louvores faô pequenos os mayores encareci- mentos. Mandei bater duas gemas de ovos frefcos. com duas onças de vinho branco muito excellente, ajuntandolhe quatro grãos de ambar polvorizado, &. vinte grãos-de pó de canela finiflima , & meya onça de « aflncar brânco, ordenando que defta miítuía lhe fof-
214 Observaçones Medicas Doutrinaes. zendo quae eu entendia certamente que todas as diligen- cias eraon baldadas, & todas as esperanças seriaon infru¬ ctuosas, & nullas, se o calor natural nao tornasse a sahir para as partes exteriores, & suscitasse os espi¬ ritos vitaes; porque se (como he proloquio (1.) com- mum) pelas mesmas causas por onde huma cousa nasce, pelas mesmas se dissolve; como a causa de estar o corpo refrigerado fosse. o retrocesso do calor para as partes interiores, & a extinçaon dos espiritos vitaes, que in¬ fluem para as partes exteriòres, tudo o que revocas¬ se o tal calor, & promovessem o influxo dos espiritos pa¬ ra o ambito do corpo, tiraria ao menino da garganta da morte : & como para fazer estes effeitos nenhum remedio era mais proprio que o calor das entranhas da mesma may, nellas devia ser reposto, & metido; mas como isto fosse impossivel, quiz o que pude, se naon pude o que quiz; (2.) por isso em lugar do calor natural do ventre da may, me vali de mandar abrir o ventre de hum carneiro vivo, & que com grande pres- sa lhe tirassem as entranhas, & metessem ao menino dentro naquelle vaon, & o deixassem estar em quanto. a quentura do carneiro perseverasse, porque era mui conforme à razaon, que o calor , & espiritos amorteci- dos do menino resuscitassem, & esforçassem com o calor do carneiro, que era natural, & semelhante ao da criança, & hum semelhante junto com outro ser melhante cobra forças , & vigor , como he proloquio dos Filosofos. (3. Feita esta diligencia exterior, tratei de con¬ 3. fortar interiormente os espiritos vitaes da criança; porque desta sorte sahiria logo o calor, que estava es- condido nas entranhas, para a superficie do corpo, & para este fim ordenei o seguinte restaurativo, para cujos louvores saô pequenos os mayores encareci¬ mentos. Mandei bater duas gemas de ovos frescos com duas onças de vinho branco muito excellente, ajuntandolhe quatro granos de ambar polvorizado , & vinte granos de pó de canela finissima , & meya onça de assucar branco, ordenando que desta mistura lhe fos¬ sen¬
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Observaçaõ XXXV. 215 sem dando duas colheres de hora em hora ; & de tal modo aproveitàraõ estes remedios , ( inventados pela minha industria ) que o mesmo que estava espirando , recobrou forças , & calor , & começou logo a mamar ; & deste modo o livrei da morte , nam sem grande credito da Arte , & gosto meu . 4 . Esta Observaçaõ quiz escrever para mostrar q ainda que as doenças sejaõ mui perigosas , & cheyas de embaraços , ou taõ novas , que nunca as tenhamos visto , que nem por isso deixemos de applicarlhes alguns remedios , ainda que naõ tenhamos Author , a que nos encostemos , ou sigamos ; porque se os Mestres , & os Oraculos da Medicina , que florecèraõ antes de nòs , naõ obrassem algumas cousas discursadas com os seus entendimentos , & naõ descubrissem algũs remedios melhores que aquelles , que os antigos descubriraõ , escusado seria desvelaremse com taõ continuo estudo , & trabalho , ( 4 . ) & estaria ainda a Medicina muito rude , muito diminuta , & em mantilhas , com grande perda dos enfermos ; por isso devemos fazer quanto for possivel por soccorrellos conforme a razão , & regras do discurso , ainda que naõ tenhamos exemplar a que seguir : & se estes conselhos parecerem mal a alguns Aristarcos , que sendo inimigos das letras , querem competir com Minerva , & sendo roucas gralhas , cantar com os cisnes ; dissera eu que se desvelassem, mais em saber remedios efficazes para curar aos seus doentes , que em estudar especulações taõ delicadas como arestas , & de taõ pouca substancia como o fumo ; pois os enfermos naõ se curaõ com eloquencia , nem palavras campanudas , mas com medicinas experimentadas , & efficazes : assim o diz Celso , ( 5 . ) & a razaõ natural o diz tambem assim . 5 . Como estes casos das crianças , que acabadas de nascer se esfriaõ , naõ mamaõ , & tem accidentes de gotta coral , succedaõ poucas vezes , & por essa razaõ se poderáõ achar muito embaraçados os Medicos principiantes , sem saber como lhes haõ de acudir , lhes quero dizer , que isto procede humas vezes de naõ
Obfervaçaõ XXXV. 215 fem dando duas colheres de hora em hora ; & de tal modo aproveitarao eftes remedios , (inventados pe- la minha induftria ) que o mefmo que eftava efpiran- do, recobrou forças , & calor , & começou logo a mamar ; & defte modo o livrei da morte, nam fem grande creditp da Arte, & gofto meu. 4. Efta Obfervacao quiz efcrever para moftrar q ainda que as doenças fejao mui perigofas, & cheyas de embaraços, ou taõ novas , que nunca as tenha* mos vifto., que nem por iffo deixemos de applicarlhes alguns remedios, ainda que nao tenhamos Author, a que nos encoftemos , ou figamos ; porque fe os Mef- . tres, & os Oraculos da Medicina, que florecerao an- tes de nos, nao obraffem algumas coufas difcurfadas com os feus entendimentos, & nao defcubriffem algus remedios melhores que aquelles, que os antigos def- cubrirao , efcufado feria defvelaremfe com taocon- tinuo eftudo, & trabalho, (4.) & eftaria ainda a Me- dicina muito rude, muito diminuta, & em mantilhas, com grande perda dos enfermos ; por iffo devemos fa- zer quanto for poffivel por foccorrellos conforme a razão, & regras do difcurfo, ainda que nao tenhamos exemplar a que feguir: & fe eftes confelhos parecerem mal a alguns Ariftarcos, que fendo inimigos das le- tras , querem competir com Minerva, & fendo roucas gralhas, cantar com os cifnes ; differa eu que fe def- velaffem mais em faber remedios efficazes para curar aos feus doentes, queem eftudar efpeculações tao de- licadas como areftas , & de tab pouca fubftancia co- mo o fumo; pois os enfermos naõ fe curaõ com elo- quencia , nem palavras campanudas , mas com me- dicinas experimentadas , & efficazes : affim o diz Cel- fo, (5.) & a razao natural o diz tambem affim. 5. Como eftes cafos das crianças , que acabadas de nafcer fe esfriaõ, naõ mamaő, & tem accidentes de gotta coral , fuccedaõ poucas vezes , & por effa ra- zaõ fe poderáõ achar muito embaraçados os Medicos principiantes , fem faber como lhes hao de acudir, Thes quero dizer , que ifto procede humas vezes de na6 0 ... - :
Obfervacao XXXV. .215 m dando duas colheres de hora em hora : & de tal modoaproveitara eftes remedios , (inventados pe- Ia minha induftria ) que o mefmo queeftava efpiran- do, recobrou forcas , & calor , & comecou logo a mamar ; & defte modo o livrei da morte , nam fem grande creditp da Arte, & gofto meu. Efta Obfervaca quizefcrever,para moftrar q 4.1 ainda que as doensas feja mui perigofas, & cheyas mos vifto., que nem por iffo deixemos de applicarlhes alguns remedios, ainda que na tenhamos Author, . tres, & os Oraculos da Medicina , que fforecerao an- tes de nös, na obraffem algumas coufas difcurfadas com os feus entendimentos,& na defcubriffem algús reinedios melhores que aquelles, que os antigos def- cubriraö , efcufado feria defvelaremfe com tacon- tinuo eftudo, & trabalho, (4.)& eftaria ainda a Me- dicina muito rude, muito diminuta, & em rhantilhas, com grande perda dos enfermos ; poriffo dšvemos fa- zer quanto for poffivel. por foccorrellos conforme a razao, & regras do difcurfo, ainda que na tenhamos exemplar a que feguir:& fe eftes confelhos parecerem mal aalguns Ariftarcos, que fendo inimigos das le- tras , queremcompétir com Minerva, & fendo roucas gralhas , cantar con os cifnes ; differa eu que fe def- velaffem mais em faber remedios efficazes para curar .: aos feus doentes, qusém eftudar efpeculacöes ta de- licadas como areftas; & de ta5 pouca fubftancia co- móofum; pois os: enfermos nafe cura com elö- quencia , nem palavras campanudas , mas com me- dicinas experimentadas , & efficazes : affim o diz Cel- fo , (5.) & a raza natural o diz tambem affim. 5. . Como eftes cafos das criansas , que atabadas de nafcer fe ésfria, na mama, & tem accidentes de gotta coral , fucceda poucas vezes ,& por effa ra- za fe poderao achar muito embaracados os Medicos principiantes , fem faber como lhes haö de acudir , -hes quero dizer , que ifto procede humas vezes de na6
Obfervação XXXV. an : fm dando duas colheres de hora em hora ; & de tal imodo aproveiràraõ eftes remedios , (inventados pe- la minha indufítria ) que o mefmo que eftava efpiran- do , recebrou forças , & calor , & começou logo a mamar ; & defte modo olivrei da morte , nam fem grande creditpda Arte, & gofto meu. — 4 EftaObfervaçaóquizelerevergpara moltrar 4 . ainda que as doenças *fejaôó mui perigofas, & cheyas — de embaraços, ou raõô novas , que nunca as tenha“ e. mos vifto , que nem por iflo deixemos de applicarlhes : alguns remedios , ainda que naõ tenhamos Author; a que nos encoftemos , ou figamos ; porque fe os Mef- + tres, & os Oraculos da Medicina, que forecêraô an. tes de nôs , naó obraffem algumas coufas difeurfadas | com os feus entendimentos,& naó defeubriflem algús A remedios melhores que aquelles, que os antigos def- | cubriraó , efeufado feria defvelaremfe com taócon- tinuo eftudo , & trabalho, (4.) & eltaria ainda a Me- dicina muito rude, muito diminuta , & em rmantilhas, com grande perda dos enfermos ; poriflo dêvemos fa- zer quanto for polílivel por foccorrellos conforme a razão, & regras do difceurfo , ainda que naó tenhamos exemplar a que feguir:& fe eftes confelhos parecerem mala alguns Ariftarcos, que fendo inimigos das le- tras , queremcompétir com Minerva, & fendo roucas gralhas, cantar comos cifnes ; differa eu que fe def. velaffem mais em faber remedios efficazes para curat - aos feus doentes, queem eftudar efpeculações taô de- licadas como areítás ; & de tab pouca fubítancia cos mo o fumo; pois os enfermos naô fe euraô com elo- quençia ,-nem palavras campanudas , mas com me* dicinas experimentadas , & efficazes: aflim 6 diz Cel fo, (5.) & a razaô hatural odiz tambem aflim. ' 5: "Comoeftes cafos das crianças , que acabadas de nafeer feesfriaô, nao mamaõô, & tem aáccidentes de gotta coral , fuccedaõô poucas vezes , & por efla ra- za6 fe poderão achar muito embaraçados os Medicos (principiantes ; fem faber como lhes haóô de acudir, Thes quero dizer , que ifto procede humas vezes de
Observaçao XXXV. 215 sem dando duas colheres de hora em hora; & de tal modo aproveitàraon estes remedios, (inventados pe¬ la minha industria) que o mesmo que estava espiran¬ do, recobrou forças, & calor, & começou logo a mamar; & deste modo o livrei da morte, nam sem grande credito da Arte, & gosto meu. 4. Esta Observaçaon quiz escrever, para mostrar quae ainda que as doenças sejaon mui perigosas, & cheyas de embaraços, ou taô novas, que nunca as tenha¬ mos visto, que nem por isso deixemos de applicarlhes alguns remedios, ainda que nao tenhamos Author, a que nos encostemos, ou sigamos; porque se os Mes- tres, & os Oraculos da Medicina, que florecèrao an- tes de nòs, naon obrassem algumas cousas discursadas com os seus entendimentos, & naon descubrissem algums remedios melhores que aquelles, que os antigos des¬ cubriraon, escusado seria desvelaremse com taon con¬ tinuo estudo , & trabalho, (4.) & estaria ainda a Me dicina muito rude, muito diminuta, & em mantilhas, com grande perda dos enfermos; por isso devemos fa zer quanto for possivel por soccorrellos conforme a razamo, & regras do discurso, ainda que naon tenhamos exemplar a que seguir: & se estes conselhos parecerem mal a alguns Aristarcos, que sendo inimigos das le¬ tras, querem competir com Minerva, & sendo roucas gralhas, cantar com os cisnes; dissera eu que se des¬ velassem mais em saber remedios efficazes para curar aos seus doentes, que em estudar especulaçoes taon de¬ licadas como arestas, & de taó pouca substancia co¬ mo o fumo; pois os enfermos naon se curaon com elo¬ quencia, nem palavras campanudas, mas com me¬ dicinas experimentadas, & efficazes: assim o diz Cel¬ so, (5.) & a razaon natural o diz tambem assim. Como estes casos das crianças, que acabadas de nascer se esfriaô, naon mamaon, & tem accidente de gotta coral, succedaon poucas vezes, & por essa, ra¬ zao se poderáon achar muito embaraçados os Medicos (principiantes, sem saber como lhes hao de acudir lhes quero dizer, que isto procede humas vezes de nao
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216 Observações Medicas Doutrinaes. naõ deitarem logo o ferrado , ou de deitarem quasi nada delle , como vi em hum filhinho de Pedro Longo , que por naõ se advertir que naõ tinha deitado o ferrado , se esfriou , & lhe derão tantos accidentes de gotta coral , que morreo no mesmo dia de nascido . 6 . Outras vezes daõ accidentes às crianças recem nascidas , porque mamão em secco , porque as amas q os criaõ naõ tem leyte , como vi em huma filhinha do Doutor Joaõ Bernardes de Moraes . 7 . Outras vezes daõ accidentes às crianças acabadas de nascer , porque o leyte que mamaõ he taõ grosso , & taõ cheyo de queijo , que nem ourinaõ , nem cursaõ , & daqui lhes sobrevem os accidentes , como observei em hum filhinho de Tristaõ de Mendonça , & em outro de Joaõ Tavares Moniz . 8 . O remedio dos que se esfriaõ & tem accidentes por ferrado reteudo , he fazerlhes deitar o ferrado com mecha de sabaõ , & metelos no vaõ de hum carneiro acabado de matar , ou penna molhada em azeite . 9 . O remedio dos que tem accidentes por falta de leite , he darlhes ama que tenhaõ abundancia delle . 10 . O remedio dos que tem accidentes pelo leite ser muito grosso , & cheyo de queijo , he darlhes ama de leite seroso , & delgado ; deste modo lhes acudiráõ , como eu acudi a muitos que naõ nomeyo , porque naõ pareça jactançia , o que só faço por advertencia para os Medicos modernos . 11 . Tres grãos de ouro fulminante , misturados com doze grãos de arcanum duplicatum , dados em huma colher de agua de cereijas negras , saõ divino remedio para as crianças , que tem accidentes de gotta coral . OBSER-
216 Obfervações Medicas Doutrinaes. naõ deitarem logo o ferrado, ou de deitarem quafi nada delle, como vi em hum filhinho de Pedro Lon- go, que por nao fe advertir que nao tinha deitado o ferrado, fe esfriou, & lhe derão tantos accidentes de gotta coral,que morreo no mefmo dia de nafcido. 6. Outras vezes daõ accidentes às crianças recem nafcidas, porque mamão em fecco, porque as amas q os criaõ naõ tem leyte, como viem huma filhinha do Doutor Joao Bernardes de Moraes. 7. Outras vezes dao accidentes às crianças aca- badas de nafcer , porque o leyte que mamaō he ta groffo, & tao cheyo de queijo, que nem ourinaõ, nem curfao, & daqui lhes fobrevem os accidentes, como. obfervei em hum filhinho de Triftaõ de Mendonça, & em outro de Joao Tavares Moniz. 8. O remedio dos que fe esfriaõ, & tem accidentes por ferrado reteudo,he fazerlhes deitar o ferrado com mecha de fabao , & metelos no vao de hum carneiro acabado de.matar, ou penna molhada em azeite. 9. O remedio dos que tem accidentes por falta de leite, he darlhes ama que tenhao abundancia delle. 10. O remedio dos que tem accidentes pelo leite fer muito groffo, & cheyo de queijo, he darlhes ama · de leite ferofo, & delgado ; defte modo lhes acudi- ráõ, como eu acudi a muitos que nao nomeyo, por- que nao pareça jactancia, o que fó faço por adverten- Cia para os Medicos modernos. II. Tres grãos de ouro fulminante, mifturados com doze grãos de arcanum duplicatum , dados em huma colher de agua de cereijas negras, fao divino re- medio paraas crianças, que tem accidentes de gotta coral. OBSER-
216 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. na deitarem logo o ferrado, ou de deitarem guafi nada delle, como vi em hum fthinho de PedroLon- go, que por na fe advertir que na tinha deitado o ferrado, fe esfriou , & lhe derao tantos accidentes de gotta coral,que morreo no mefmo dia de nafcido. 6. Outras vezes daaccidentes as criancas recem nafcidas , porque mamao em fecco, porque as amas os cria na tem leyte, como viem humafilhinha d Doutor Joao Bernardes de Moraés. 7.- Outras vezes da accidentes as criangas aca badas de nafcer , porque o-leyte que mamahe ta groffo, & ta cheyo dequeijo, que nem ourina, nem curfa, & daqui ihes fobreveimn os accidentes, como. bfervei em hum filhinho de Trifta de Mendonga, & em outro de Joa Tavares Moniz. 8. O remedio dos que fe esfria,& tem accidentes por ferrado reteudo,he fazerlhes deitar ferrado'com mecha defaba,& metelos no vade hum carneiro acabadode.matar, ou penna molhada em'azeite. 9.. O remedio dos que tem accidentes por falta de leite, he darlhes ama que tenha abundancia delle. 10: O rémedio dos que tem accidentes pelo leite fer muitogroffo, & cheyode queijo, he darlhesama . de leite ferofo, & delgado; defte modolhes acudi- ra, como eu acudi a muitos que na nomeyo , por- que naö pareca jactancia, o que f6 faco por adverten- Cia para os Medicos modernos. 11.. Tres graos de ouro fulminante, mifturados comdoze graos de arcanum duplicatum , dados em huma colher de agua de cereijas negras, fao divino re medioparaas criangas., que tem accidentes de gotta coral. OBSER
216 Obfervações Medicas Doutrinaes. naó deitarem logo o ferrado, ou de deitarem gquafi nada delle , como vi em hum filhinho de PedroLon- go , que por naô fe advertir que naô tinha deitado o ferrado, Ê esfriou, & lhe derão tantos accidentes de gotta coral,que morreo no mefmo dia de nafeido. - 6. Outras vezes daô accidentes às crianças recem nafcidas , porque mamão em fecco, porque as ámas q os criaô naó tem leyte, como vrem huma filhinha do Doutor Joaô Bernardes de Moraês. 7.º Outras vezes daó accidentes às crianças aca- badas de nafcer , porque o 'leyte que mamaõ he táõ groflo, & taô cheyo de queijo, que nem ourinaó, nem curfaõ, & daqui lhes fobrevem Os accidentes, como. obfervei em hum filhinho de Triftaô de Mendonça, — &emoutro degoaô Tavares Moniz. 8. O remedio dos que fe esfriaõ, & tem accidentes por ferrado reteudo,he fazerlhes deitar o ferrado com mecha de fabaõ, & metelas no vaô de hum carneiro acabado de.matar, ou penna molhada em'azeite. 9. O remedio dos que tem accidentes por falta de leite, he darlhes ama que tenhaó abundancia delle. 10. Orêmediodos que tem accidentes pelo leite fer muito groflo, & cheyo de queijo, he darlhesama * de leite ferofo, & delgado; defte modo lhes acudi- rãô, como eu acudi a muitos que naóô nomeyo, por- que naô pareça ja&tançia , o que fó faço por adverten= . *Cia para os Medicos modernos. & -“ 11. “Tres grãos deouro fulminante, mifturados comdoze grãos de arcanum duplicatum , dados em huma colher de agua de cereijas negras, faô divino re- medio Paraas crianças, que tem accidentes de gotta, coral, : : a
216 Observaçones Medicas Doutrinaes. naon deitarem logo o ferrado, ou de deitarem quasi nada delle, como vi em hum filhinho de Pedro Lon- go, que por nao se advertir que naon tinha deitado o rrado, se esfriou , & lhe derao tantos accidentes de gotta coral, que morreo no mesmo dia dę nascido. 6. Outras vezes dao accidentes às crianças recem nascidas, porque mamamo em secco, porque as amas que os criaon naon tem leyte , como viem huma filhinha do Doutor Joao Bernardes de Moraës. 7. Outras vezes dao accidentes às crianças aca- badas de nascer, porque o leyte que mamaon he taon grosso, & taon cheyo de queijo, que nem ourinao , nem cursaon, & daqui lhes sobrevem os accidentes, como¬ observei em hum filhinho de Tristaon de Mendonça, & em outro de Joao Tavares Moniz. 8. O remedio dos que se esfriaon, & tem accidentes por ferrado reteudo, he fazerlhes deitar o ferrado com mecha de sabaon, & metelos no vaon de hum carneiro acabado de matar, ou penna molhada em azeite. 9. O remedio dos que tem accidentes por falta de leite, he darlhes ama que tenhao abundancia dellé. 10. O rémedio dos que tem accidentes pelo leite ser muito grosso, & cheyo de queijo, he darlhes ama de leite seroso, & delgado; deste modo lhes acudi- raô, como eu acudi a muitos que naô nomeyo, por¬ que naon pareça jactançia, o que só faço por adverten- cia para os Medicos modernos. 11. Tres gramos de ouro fulminante, misturados com doze granos de arcanum duplicatum, dados em huma colher de agua de cereijas negras, sao divino re¬ medio paraas crianças, que tem accidentes de gotta coral. OBSER¬
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Observarçaõ XXXVI 217 OBSERVAÇAM XXXVI . De hum menino quebrado de ambas as verilhas , e tendo ʃeu pay noticia que eu preparava por minhas mãos alguns remedios eƒƒicazes para eʃta doença , me chamou , pedindome lhe deʃʃe o tal remedio , & tomando-o o dito menino , ʃarou taõ ʃingularmente , como ʃe ƒoʃʃe obra de milagre . 1 . Como foi ſempre grande o deſejo que tive de valer aos doentes nos ſeus perigos , trabalhei incanſavelmente por ſaber alguns remedios efficazes , com que pudeſſe rebater as armas da morte , & naõ baldei a diligencia ; porque por mercê de Deos , & diſvelos do meu eſtudo alcancei alguns ſegredos , com que tenho curado doenças tidas , & avidas por mortaes. E ſe as ditas curas naõ deraõ taõ grande brado , como ſe podia eſperar dellas , he porque a mayor parte fiz em peſſoas humildes ; ( ſendo que nas grandes fariaõ os meſmos bons effeitos) mas como os Titulares , & Senhores illuſtres ſe naõ curaõ com hũ ſó Medico , muito menos ſe quereriaõ curar comigo , ſabendo que nos grandes perigos , & doenças rebeldes , ( quando os remedios ordinarios naõ aproveitão ) curo com ſegredos meus , que naõ quero revelar a outrem , naõ por ambição da fama , mas porque as experiencias me tem moſtrado que depois de revelados ſem agradecimento , ficaõ reprovados com injuria ; daqui procede que curas grandes as fiz aonde curei ſó , & naquellas peſſoas que confiaõ tanto em mim , que me não obrigão a que declare os meus ſegredos , para que os approve , & os julgue quem os não conhece , eſta ſem-razão ſe uſou ſó comigo , não ufando com qualquer eſtrangeiro ſaltimbanco ; porque deſtes , ſem lhes fazerem exames , nem perguntas ſe tomaõ os remedios que applicaõ a olhos fechados , eſta tem ſido a cauſa , porque as minhas curas não fazem
Obiervação: XXXVI. 217% OBSERVAÇAM XXXVI. De bum menino quebrado de ambas as verilhas, & tendo feu pay noticia que eu preparava por minhas mãos alguns remedios eficazes para efta doença,me chamou, pedindome lhe deffe o tal remedio, & tomando-o o dito menino , farou tao Singularmente, como fe fofe obra de milagre. I. C Omo foi fempre grande o defejo que ti- ve de valer aos doentes nos feus peri- gos, trabalhei incanfavelmente por faber alguns re- medios efficazes, com que pudeffe rebater as armas da morte , & nao baldei a diligencia ; porque por mercè de Deos, & difvelos do meu eftudo alcancei alguns fegredos, com que tenho curado doenças ti- das , & avidas por mortaes. E fe as ditas Giras nao.des rao tao grande brado, como fe podia efperar dellas, he porque a mayor parte fiz em peffoas humildes ; (fen! do que nas grandes fariaõ os melmos bons effeitos) mas como os Titulares, & Senhores illuftres fe nao cu- rao com hű fó Medico, muito menos fe quereria.cu) rar comigo, fabendo que nos grandes perigos;, & don enças rebeldes , ( quando os remedios ordinarios não aproveitao ) curo com fegredos meus, que nao quero revelar a outrem , nao por ambição da-farha , mas porque as experiencias me tem mostrado que depois de revelados fem agradecimento ; ficao reprovados com injuria; daqui procede que: curas grandes as.fra aonde curei fo, & naquellas peffoas que confião tan to em mim, que me não obrigao a que declase os meas fegredos, para que os approves & os julgue quem os não conhece, efta fem-razão fe ufou fo comigo , não fs ufando com qualquerseftrangeiro faltimbanco; port que deftes, fem lhes fazerem exames, nam perguntas fe tomão os remedios que applicão a olhos fechados efta tem fido a caufas: porque as minhas suras nagifå, „-alos zem
Obfervaca: :XXXVI. : : 21 O B.S E;R,V A C A M XXXVI Debum menino quebrado de ambas as verilbas'; tendo feu pay noticia que eu preparava por minbas nzos alguns reinedios efficazes para efta doensa,me chamou, pedindome lhe deffe otal remedio, tomando-o o dito menino,Jarou ta fingularmente, como fe foffe obra . de milagre. Omo foi fempre grande o defejoque ti-. ve de valer aos doentes nos feus peri- gos, trabalhei incanfavelmente por faber alguns re- medios efficazes, com que pudeffe rebater as armas. da morte , &. na baldei a diligencia; porque por mercé de Deos, & difvelos do meu :eftudo alcancei alguns fegredos, com que tenh.curado doencas: ti- das , &avidas por mortaes: E.feas ditasxurasr:na.dos ra ta grande brado;comofe podiaefperar dellas, lhæ porque a mayor parte fiz.em peffoas hurnildes ; (feni do que nas grandes faria os. mefmos:bans effeitos mas comoosTitulares,& Senhöres illuftrcs fa na cu ra com hu f6 Medico, muitomenosfe:quereriaacu rar comigo, fabenda que nos grandes perigos:s : & dor encas. rebeldes ,:( quando os remedios ordinarios na aproveitao ) curo.comfegredosmeus:,que:na quera revelar a outrem , nao por ambicao.daafatha , mas porque asexperienciaametemmoftradorque depois de revelados: fem agradecimenro ficao:reprovadas*: com injuria ; daqui :proceda: que: curas: granded,as rf aonde:curci f6 : &c:naquellas peffoas: que cnfao tann to emmim,que.me:naoobrigaparque declasaos mcus fegredos, paraque: os approve s & 0s julgn:guer.o nao conheceseftafem-razaofaufou.f: songo snaofs úfando Com qualsuerseftrangeiro: faltimbaneoi porr que deftes, femlhes fazeremexames, ha parguntast fe.tomaoos.remedios:que.applicao a.olhgs.fechade$ efta temfidoa.caufa : porqueas.minhastutstnaaif zem 1.10J
EA | nm ACTO 00 1 Obfervação! XXXVI aco É ataca ass asdaaçãos SOTO SS OCS NAÇÃO. OBSERVAÇAM XXXVI, De baum menino quebrado de ambas as verilhas , & tendo Seu pay noticia que eu preparava por minhas mãos alguns remedios eficazes para efta doença me chamou, pedindome lhe deffe o tal remedio, & tomando-o o dita mentno , [avou tao fingularmente , como fé foffe obra demilagre. = ss "oo DOS 1. Omo foi fempre grande o defejo que tiz— : | Gr de valer aos doentes nos feus peri- gos, trabalhei incanfavelmente por faber alguns res medios efficazes, com que pudefle rebater as armas da morte , & naõ baldei a diligencia ; porque por mercê de Deos, & difvelos do meu eftudo alcancei: alguns fegredos, com que tenhocurado doenças: ti- das , & avidas por mortaes. E feas ditas cilrhsnaó.des raótaõ grande brado; como fe podia efperar dellas, ho. porque a mayor parte fizem pelloas humildes ; (feni do que nas grandes fariaô os melmos bons effeitos) mas comoos T'itulares,& Senhõres illuftres fe naô cus raô com hã fó Medico, muito menos fé.queveriaG cu. rar comigo» fabenda que nos grandes perigoas:;. & dob enças rebeldes , ( quando os temedios ordáparios não aproveitão ) cnro com fegredosmens ,quenao quera revelar a outrem , naô por ambição: dasfama ; mas porque as experiencias metên maoftrado que: depois * de revelados fem agradecimento; ficaió;.ráprovadas*- comiinjuria ; daqui procede: quê: curas; gramies as fiz aonde curei (ó ; &naquellas peflgas que obafão tan to emmim,que,me não obrigãeb,que deslast os ricns fegreédos, para que os approve s & os julgné:quêm; os não canhece; cliafam-sazão fa nlon(ósomigo snãofis úfandocom qualquer*e(trahgeiso faltimilaneo; pbsr ue deftes, fem lhes -fazerêm exhmes, pao? perguneas e tomão os renisdios;que aphlição 4 olhas fechadots efta rerafido a caufa,s: porque-as minhas ensas nánifas: 1uios . sem LISA O CA DOEICCAA TS ua Ao AV uma do Dre Roo o ao
Observaçaon XXXVI. 217 a OBSERVAQAM XXXVI. De hum meninò quebrado de ambas as verilhas, & tendo seu pay noticia que eu preparava por minhas manos alguns remedios efficazes para esta doença, me chamou, pedindome lhe desse o tal remedio, & tomando-oo dito menino, sarou taon singularmente, como se fosse obra de milagre. 1. COmo foi sempre grande o desejo que ti¬ ve de valer aos doentes nos seus peri- gos, trabalhei incansavelmente por saber alguns re¬ medios efficazes, com que pudesse rebater as armas da morte, & naon baldei a diligencia; porque por mercè de Deos, & disvelos do meu estudo alcancei alguns segredos, com que tenho curado doenças ti¬ das, & avidas por mortaes. E se as ditas curas naon des raon taon grande brado, como se podia esperar dellas, he porque a mayor parte fiz em pessoas humildes; (sen¬ do que nas grandes fariaon os mesmos bons effeitos; mas como os Titulares, & Senhores illustres se naon cu¬ raon com hum so Medico, muito menos se quereriaon cu¬ rar comigo, sabendo que nos grandes perigos, & dor enças rebeldes, (quando os remedios ordinarios namo aproveitamo) curo com segrędos meus, que naon querd revelar a outrem, naon por ambiçamo da sama, mas porque as experiencias me tem mostrado que depois de revelados sem agradecimento, sicaon reprovados com injuria; daqui procede què curas granles as fio aonde curei so, & naquellas pessoas que consiamo tana to em mim, que me namo obrigane a que declaraos meus segredos, para que os approve, & os julguè quèm ob namo conhece; esta sem razumo se usou so comigo, nano ii usando com qualquersestrangeiro saltimlianco, por¬ que destes, sem lhes fazerem exames, nomi perguntas se tomano os remedios que applicamo a olhos techados, esta tem sido a causa, porque as minhas curas namo fa, zem alo
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218 Observações Medicas Doutrinaes. zem eſtrondo nos palacios dos Soberanos , ( 1 . ) nem elles tem noticia dos muitos , & bons effeitos , que os meus ſegredos obraõ nas peſſoas commuas , porque os canos por onde lhes avião de chegar eſtas noticias , os fechou a deſaffeição , que como he enferma dos olhos não póde ver a luz . 2 . Hoje porém que eſtou quaſi entrado na ultima velhice , quero ( pois o bem do proximo he o motivo que tive para fazer eſtas obſervaçoes ) manifeſtar ao mundo alguns dos meus ſegredos , para que os doentes , que ſe aproveitarem delles , depois da minha morte lhes dem applauſos , que lhes não quizerão dar em quanto sou vivo; do que não me queixo, nem admiro, conhecendo a minha pequenhez , quando nem ao Gigante ſe lhe ſoube a medida , nem grandeza que tinha , ſenaõ depois de morte . Vamos ao caſo da quebradura . 3 . Manoel Barboſa , morador ao poço da Foteya , teve hum filho , que naſceo quebrado de ambas as verilhas , & vendo o pobre pay tão laſtimoſo eſpectaculo , não ſoſſegava de dia , nem de noite , vendo padecer ao inocente filhinho tão cruel achaque ; derãolhe noticia que eu ſabia alguns remedios ſecretos , com que fazia curas mui ſingulares , buſcoume logo , & me pedio ( com lagrimas nos olhos ) lhe deſſe algum remedio , com que ſeu filho tiveſſe ſaude ; porque menos lhe cuſtaria vello morrer , que velho padecer tão penoſa enfermidade . 4 . Animei muito ao dito homem , dizendo lhe que eu lhe enſinaria os mayores três remedios , que avia alcançado com a experiencia de muitos annos ; que o mais proprio para tão tenra idade era o ſeguinte , que eu lhe oferecia , porſer ſegredo meu , & eraõ pòs das lebrezinhas tiradas das entranhas da mãy , eſtando viva , & metidos no meſmo inſtante em huma panela barrada com ſeu teſto , & mandados ſecar ao forno , de ſorte que ſe poſſaõ pizar , & peneirar , & deſtes pós mandei dar ao menino cada dia por tempo de huma ſomana huma oitava , miſturada com huma colher
218 Observações Medicas Doutrinaes. zem eftrondo hos palacios dos Soberanos, (1. )nemer les tem noticia dos muitos, & bons efeitos, que os. meus fegredos obrao nas ptffoas commuas, porque os canos por onde lhes avião de chegar eftas noticias, os fechou a defaffeição ; que como he enferma dos olhos não pode ver a luz. -2. Hoje porem que eftou quafi entrado na ulti- ma velhice, quero (pois o bem do proximo he o moti- ra que tive para fazer eftas Obfervaçoes ) manifeftar ao mundo alguns dos meus fegredos, para queos do- entes, que fe aproveitarem delles, depois da minha morte lhes dem os applaufos, que lhes não quizerão dar em quanto fou, vivo ; do que não me queixo, nem admiro, conhecendo a minha pequenhez, quan; do nem ao Gigante fe lhe foube a medida, nem gran- deza que tinha, fenao depois de morto. Vamosao can fo da quebradura -i3. Manoel Barbofa; morador ao poço da Foteyay teve hum filho , que nafoto quebrado de ambasas ve, rilhas, & vendo o pobre pay cao latimofo efpecacu+ lo, não foffegava de dia, nem de noise , vendopadecex to innocente ifilhinho tão cruel achaque ; deraplho noticia que eufabia alguns remedios fecretos, com que fazia curas mui fingulares; bufomime logo, & me pe dio (com lagrimas nos olhos ) the deffe algum reme. dio, com ate feu filtro riveffe faude); poripae menos lhe cuftaria vello morrer, que vetto padecer cão penofa enfermidadech algida a lo oma , mario s mal ?i 4.' Animeimitorodito honiem, dizendo the que *en the enfinaria d's mayores tres remedios; quelavia aln cançado coma experiencia demuitos anos que o adais proprio para cão tenra idade ent o fequince y que ett lhe oferecia , porfer fegredo meu; & erna ospor das lebrezinhas tiradas das entranhap da may , bitant do viva, & metidos nomnelmo infante cm huma på" nela barrada com feu tento , & mandados fecar do forno, de forte que fepoffao pizar! & pereirair; & deftes pós mandei dat apo' menino cada dia portempo de huma formana hufha orava , misturado com huma colher 1
2r* Obfervacoes MedicasDoutrinaés zem eftrondo nos palacios dos soberanos,f1 nemer les tem noticia dos muitos, & bans effeitos, que os. meus fegredos obra rias ptffoastommuas, poreue os canos por onde lhes aviao de chegar eftas noticias, s fechou a defaffeicao , que como:hc énferma. d6$ olhos nao p6de ver:a luz. . 2..Hoje porem que.eftou quafi éntrada naulti- ma velhice; quero. (pois o bem do proximohe o'moti- vaquétive para fazer. eftas Obfervacoa) manifeftar aomundo alguns dos meus fegredos, para queos do- entes, que fe aproveitarem delles, depois da minha morte lhes. dem osapplaufos , que lhes na quizorao dar em quanto. fou, vivo, do gue..nao m@queixo, nem admiro,:conhocendo aminhapequenhez,quant donem ao Gigante fe1he foubea medida, nem gran- dezaque:tinha, fena depois de orto.:Yamosaa can fo da quebraditra : : .:.0%: -:3': -. Manocl Barbofa; morador aopocodaFoteya tete hum fthoy.quenafcao qucbrado.de ambasas va rilhas , & vendo pobre pay tao iaftirhofo sfpe&acu+ 1o , nao.faffegava de dia,ncmdt noixe ; vendopadecer o innocentsifthinho:tao crueli achaque s:deraplhe noticia:queeufabiaalgunsreniezliosfecretos;onan qu fazia curasmuifingulares; bufaaiine logo& me pe dio ( conr agrimasnosolhos ) dhe:deffealgurrenre: di., com qae feur filra riveffe .fade!;: poriaiomna* lhecuftaria vello momtriqae vettopadecer caoipuaafa nfermidadech n.s 1...an ro s mlt ! :4, Animeimitoraodito honiem; dizeadolhr qua *eu lhe enfnafiaos mayoxstrestrrrnadse qatavia aln cahcadoiooma exptriencia demrinqsr:annos qun:o ndais prpri paipa tao tenra idad:erato frginintexpoe eu lhe offerecia ,prfafegredo mea, &ertarosps dastlebrezinhhs: tiradas das entronhap daamay ,kftan dbviva & meridos nomnefm infaate ca rnna pa nela barratla coin: feu tefto: &aahdadoscfecar ao fomno, de furtequt fepoffao pizall.& peirar, & deftes pós mandei dat'ao memrotada dia postormpo da huna fomana huinaörtava mdfturadakm hama colher :1193
—:srt Obfervações Medicas Dodtrinacs. : zém'eltrondo fios patácios dos Seberanos, f1 Jaén es les tem noticia dos muitos , & bons effeitos, que os. meus fégredos obraó riàs ptiloasComamuas, pofque os canos por onde lhes avião de chegar eftas noticias , ai fechou'a defaffeição ; que como: he ênferma dós alhos não póde vera luz. coiso 1 2. Hoje porém que eftou quafi êntrada na ulti- ma velhice; quero (pois o bem do proximohe o mari- voqueétive para fazer. eftas Obfervaçoês ) manifeítar aomundo alguns dos meus fegredos, para x san do- entes, que fe aproveitarem delles , depois da minha nmiorte lhes dem osapplanfos , que lhes não quizerão dar em quanto. fou, vivo.; do que não me queixo, nem adniiro., conbecendo a minha pequenhez, quânv do ném ao Gigante'fe lhe foube a medida, nero: gran= dezaque:tinha;, fenaó depois de morro. Vamosso cam foda quebradíiaras bos Cu, Cactos og cin o Manoél Barbofa; morador ao poça da Foteyá; teve humfilho ; que nafcéo quebrado: de atibasas vez trilhas , -& vendo o pobre pay tão láftimoto cefpe&acus lo ,não foffegava de dia; nom de noára ;vêndopadecex 4o innocente 'filhinho:tão cruel: achaque x:deráplha noticia queentabia alguds remedios locretos,oom que fazia curas mui fingulares;: bufamiíne logo, & me per dio (com lágrimas nos olhos ) ibhe-deflealgam remo» dios, cons aube Seu Rilhro rivelfe ltude'; porque menos lhe cuftariavetlo moumerique veto padecer câsipenofa Eúifermidadesn idas ro eg IO E IEL ia, Animehamdicoaodito homem; dizendolhe que “enlhe enfinatiaos mayores tres remedios; quelavia alo cíbeado coma experiencia. dempins santos q 04ue:0 ntuis próprio papa-tão tenra idade-enb o fepicinces! eroe eir lhe offerecia ,porferfepredo mem, So erióros pos dastebrezinhhs! tiradas das ectenhap damãso bitans dbvivasS metidos motefaso-málanbé en itivma pas viela baivada cóia: few tefto: |: :8o amaleludos fecar ao - fomio, de fone.quefepolfa6 pisar, & posdvir, & deftes pós irbindei dart ais mentireo cada dia postempo di lina toraana HuMaróiava mélturada com huma DX o colher
218 Observaçones Medicas Doutrinaes. zem estrondo nos palacios dos Soberanos, (1.) nem el¬ les tem noticia dos muitos, & bons effeitos, que os. meus segredos obraon nas pessoas commuas, porque os canos por onde lhes aviao de chegar estas noticias. dè fechou a desaffeiçamo, que como he enferma dos olhos namo pode ver a luz. 2. Hoje porém que estou quasi entrado na ulti¬ ma velhice, querò (pois o bem do proximo he o moti¬ ro que tive para fazer estas Observaçoes) manifestar ao mundo alguns dos meus segredos, para queos do¬ entes, que se aproveitarem delles, depois da minha morte lhes dem os applausos, que lhes namo quizeramo dar em quanto sou vivo; do que namo me queixo. nem admiro, conhecendo a minha pequenhez, quàn¬ do nem ao Gigante se lhe soube a medida, nem gran¬ deza que tinha, senaon depois de morto. Vamos ao ca¬ 9 so da quebradura. 3. Manoel Barbosa, morador ao poço da Foteya, teve hum filho; que nasceo quebrado de ambasas ve¬ rishas, & vendo o pobre pay tamo lastimoso espectacu¬ lo, namo sossegava de dia, nem de noire, vendopadecer to innocente filhinho tamo cruel achaque; deramplhe noticia quę eu sabia alguns remedios secretos, com qua fazia curas mui singulares; buscoime logo, & me pe¬ dio (com lagrimas nos olhos) ihe desse algum reme¬ dio, com que seu sillio rivesse saude; porque menos le custaria vello motrer, que vello padeuer onmo penosa enfermidade. 4. Animei uuitonaodito homem, dizendolhie que en lhe ensinaria os mayores tres remedios; que avia al¬ cançado com a experiencia de muiqe annos iique o muis proprio para tamo tenra idade ero o seguinte, que eu lhe offerecia, porser segredo meui, & ernom os pos das lebrezinhas tiradas das entranbap da mamy, bstan¬ do viva, & metidos no mesmo instande em humma pa¬ nela barrada com seu testo, & mahdudos secar ao forno, de forte que se possao pizu, & percirur; & destes pos mandei dat ao menino vada dia por tempo de huma somana huma ortava, misturado com huma 12 colher
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Observarçaõ XXXVI. 219 colher de vinho bem tinto , ou com duas colheres de agua cozida com a raiz de pe de Leaõ : aſſim ſe deu , & ſuccedeo taõ felizmente como o pay deſejava , & por incultas deſte ſucceſſo tão excellente ſe deu a outros , & todos ſararão . 5 . O ſegundo remedio que lhe enſinei , & agora o quero fazer publico a todo o mundo , tem igual , ou ſuperior virtude , & ſe faz do modo ſeguinte . Tomem ſeis quartilhos de vinagre forte , deitemſe dentro de huma panela vidrada , com vinte & quatro maçans de acipreſte verdes , com as caſcas de duas romans azedas , tudo ſe machuque , & ſe ponha a cozer até que eſtejaõ capazes de ſe poderem pizar em hum almofariz , & ſe irão tirando os paos , ou teagens que as maçans tem dentro em si, & estes paos, ou teagens ſe tornaraõ a deitar dentro na meſma panela , com as calcas que ſe não puderão pizar bem , & lhe ajuntaraõ tres onças de incenſo macho muito bem moido , & mexendo-o muito bem , ſe tornará a dita panela a pôr ao fogo , eſtando bem tapado com ſeu teſto , & de quando em quando ſe irá mexendo , até ſe gaſtar o dito vinagre , & então ſe tomará huma quarta de cera bella , & ſe deitará dentro , & com huma colher de pao se irá mexendo, atè que se veja huma maſſa groſſa , & então ſe tirará do fogo , & continuaraõ mexendo até que ſe esfrie , & então ſe tomará aquella maſſa nas mãos , & ſe formaraõ huns paos como de chocolate , & eſta maſſa aſſim preparada ſe guardará como huma joya de grande preço , porque naõ ſe póde explicar com palavras as admiraveis curas , que com eſte remedio ſe tem feito taes caſos. 6 . O modo de uſar deſte maravilhoſo unguento he o ſeguinte. Eſtenderaõ junto ao lume hum pequeno deſte unguento ſobre hum pedaço de panno de linho novo bem tapado do tamanho da quebradura , & recolhendo as tripas dentro , poreis ſobre a tal quebradura o dito empraſto com aquella quentura , que o doente poſſa ſofrer , ſem lhe cauſar moleſtia , & ſobre o tal empraſto ſe applicará a funda , & ſe deixará o doen-
- cochinoEllervação! XXXVI. : 219 colher de vinho bem tinto, ou com duas colheres de, agua cozida d'omaraiz de perde Leao : afim fo deu , de, fuccedeo tao felizmente como o pay delejava, & por inculcas defte; fnoceffo tão excellente fe den a outros & todos fararão. b att ac ! : : SO fegundo remedio que lhe enfinei, & agora a quero fazer publicbla todo omundo, tem igual, ou fu- perior virtude il &.fe faz. do modo feguinte. Tomem. feis quartithos desvinagre forte, deitemfe demro de huma panela vidrada , comvinte & quatro maçans de aciprefte verdes, com as cafcas de duas romans zże- das , tudo fe machuque, & fe ponha a cozer ate que eftejao capazes de fepoderem pizar em hum almofa- riz, & feirão tirando os paos, ou reagens que as ma- şans tem dentroem fi , & eftes paos, ou teagens fe tor- naráo a deitar dentro: nà mefma panela; com as cal -. cas que fe não puderão pizar bem , & lhe ajuntamo tres onças de incenfo macho muito bem moido, & mexendo-o muito bem , fe tornará a dita panela a por ao fogo, eftando bem tapada com feu tefto, & de quando em quando fe irá mexendo, até fe gaftar o dito vinagre, & então fe tomará huma quarta de cera bella, & fedeitara dentro, & com huma colher de pao fe irá mexendo , atè que fe veja huma maffa groffa, & então fe tirará do fogo, & continuarão mexendo até que fe esfrie, & então fe tomara aquella maffa na's mãos , & fe formarão huns páos como de choco late .; & efta maffa affim preparada fe guardara como huma joya de grande preço, porque nao fe pode ex- plicar com palavras as admiraveis curas , que com efte remedio fe tem feito em taes cafos. 6. O modo de ufar defter maravilhofo unguento he o feguinte. Eftenderao junto ao lume hum peque- no defte unguento fobre hum pedaço de panno de li- nho novo bem tapado do tamanho da quebradura, & recolhendo as tripas dentro , poreis fobre a tal que- bradura o dito emprafto com aquella quentura, que o doente poffa fofrer, fem lhe caufar moleftia , & fo- bre o tal emprafto fe applicará a funda, & fe deixará o doen- - : : 11 : 1 1
.:EforvacaXXXVI. 219 colher xevinhobemm sinto, ou cóm duas cdlheres de aguagozidadomagaiz de pade Leao:: affua fadeu &. fuccxdao ra feliznuntecomo pay delejava,& por inculcas defte: fnoceffo taoéxcellente ft deu.a outros : &.todosfararao.! .?.. : : : : s. :.: :Qfegundortnedioqua.the cafinei,& agataa quero fazpr pablicbla todo:onundo, tém igual, ou fu perior virtude,&fefaz. domodofeguinte. Tomem. feis : quartithos donyipagre forte : deitemfe dentro de: huma panela vidraday.comvinte & quarromacans d aciprcfte verdes, com as cafcas de duas: romans aze- aas , tudo fe machuque, & ft:ponha a:cozer até.quc eftejacapazesdefepoderem pizar ein hun amofa riz, & fe irao:tirandn os paos, ou teagens.queas.ma- $ans tendentroem fr, &eftesipaos, ou teagens fe tor- naraadeitar dentro: na mefma panela ; com as caf- cas que fe naopuderao pizar bem ; & .lhe ajunta t tres oncas de incenfo macho muito bem moido, & mexehdo-o muito:bem , fe tornara a.dira panela a por ao fogo,:eftando .bem tapada com feu tefto, & de quando.em quando fe iramexendo,. até fe gaftar: :dito vinagre , & entao fe tomarä hnma @uarta de.cera bella, & fedeitara dentro, & com huma colher de pao fe ira mexendo , ate que.fe veja huma maffa groffa & cntao fe. tirara do. fogo s.& :continuara mcxendd atéque feesfrie, &.entao fe:tomara aquclla maffa na s maos , & fe. formara huns päos..coma de. choco- . ate:; & efta maffa affun preparada fe guardara como humajoya degrande prego, porque našfe póde.ex- plicar com palavras.as admiraveis curas , que com efte remedio fe tem taito em taes cafos. .! 6. O modo de ufar defte:maravilhofoungutnto he ofeguinte. Efteriderá juntoao lume hum peque- no defteunguentofobre hum pedaco de panno de li- nhonovobem tapado do tamanho da quebradura, & recolhendo as tripas dentro, poreis fobre a tal que- bradura o dito emprafto com aquella quentura, que o doente. poffa fofrer ,. fem lhe caufar moleftia, & fo- breo tal cinprafto fe applicara a funda, & fe deixara doen-
colher de vinho beta sinto, 6h com duds edlheres dé 1.0 apuaçozida comuciizide paide Leao: aflioalodeu;ãe == | fuccedao tao felizmente cômo a pay. delejava, & por | inculcas defte; [nocello tão exésliente fe deu a outros ; & todos fararão. bs elo Lea gi O fegundo vsêntedio que the enfisies, & ágata a queio fazet' ublicbla todo-o-mimundo, têm igual, ou fu | rior virtude o fe faz. domodo feguinte. Tomem ' feis quarálhos deu icagre forte, deitemfe dentroade : huma panelá vidrada: com vinte & quarto maçans de aciprefíte verdes , com as cafeas de duas romans .a2es das ; tudo fé machuqie, & feponha a:cozer até que €ftejaó capazes de fe poderem pizat eim hum almota- riz, & feirão tiránda os paos, ou reagens queasma-s çans remdentraem fi, & eftes:paos, ou teagens fe tor- naráõa deitar dentro: na melma panela; com as calo. cas que fe não puderão pizar bem , & lhe ajuntago tres onças de incenfo macho muito bem moido, & mexehdo-o muiço-bem , fe tornará a dita panela a pôr ao fogo, eftando bem rapada com feu tefto, & de quando.em quando fe irá meêxendo,, até fe gaítar a «dito vinagre , &então fe tomará huma Quarta de cera "bella, & fedeitará dentro, & com huma colher de 1 . —páofeitâmexendo, até que fe veja huma maífá groffa, : —& enptão'fe tirará do fogo, & continuarão mexenda : —atéqueleesfrie, & então fetomará aquella maffa nas mãos , & le formarãôó huns pãos .como de choco+ tate; & efta mala affim preparada fe guardará coma huma joya de grande preço, porque naófe póde ex“ pPlicar com palavras as admiraveis curas ; que com efte — remediofetemteitoemtaescatos. 2 ns 6. O modo de nfar defte: maravilhofo ungaurento he o feguinte. Eftenderãó junto ao lume hum peque- no defte unguento fobre hum pedaço de panno de li- nho novo bem tapado do tamanho da uebradura, & -— — +ecolhendo astripas dentro, poreis fobre a tal que bradura o dito emprafto com aquella quentsura, que. o doente poífa fofrer , fem lhe caufar moleftia , & fo- bre o ral empraíto fe applicará a funda , & fe deixará o RNA NA: doent
7.- Observaçao XXXVI. 219 colhier de vinho bem tinto, où com duas colheres de agua gozida comagaiz de pè de Leaon: assimi se deu, & succedeo taon selizmunte commo o pay desejava, & por inculcas deste suocesso tano excellente se den a outros, () & todos sararamo. 5. O segundo remedio que lhe enfinei, & agota a quero fazer publiebla todoo mundo, tem igual, ou su¬ perior virtude, & se faz do modo seguinte. Tomem seis quartilhos de vinagre forte, deitemse dentro de huma panela vidrada; com vinte & quatro maçans de acipreste verdes, com as cascas de duas romans aze¬ das, tudo se machuque, & se ponha a cozer até que estejaon capazes de se poderem pizar em hum almofa¬ riz, & se iramo tirando os paos, ou teagens que as ma¬ çans tem dentro em si, & estes paos, ou teagens se tor¬ naraon a deitar dentro na mesma panela, com as cas¬ cas que se namo puderamo pizar bem, & lhe ajuntanon tres onças de incenso macho muito bem moido, & mexendo-o muito bem, se tornará a dita panela a pôr ao fogo, estando bem tapada com seu testo, & de quando em quando se irá mexendo, até se gastar o dito vinagre, & entamo se tomarà huma quarta de cera bella, & se deitará dentro, & com huma colher de pao se irá mexendo, atè que se veja huma massa grossa, & entamo se tirarà do fogo, & continuarao mexendo até que se esfrie, & entao se tomará aquella massa nas mamos, & se formaraô huns paos como de choco¬ late, & esta massa assim preparada se guardara como huma joya de grande prego, porque nao se pode ex¬ plicar com palavras as admiraveis curas, que com este remedio se tem feito em taes casos. 6. O modo de usar deste maravilhoso unguento he o seguinte. Estenderao junto ao lume hum peque¬ no deste unguento sobre hum pedaço de panno de li¬ nho novo bem tapado do tamanho da quebradura, & recolhendo as tripas dentro, poreis sobre a tal que¬ bradura o dito emprasto com aquella quentura, que o doente possa sotrer, sem lhe causar molestia , & so- bre o tal emprasto se applicará a funda , & se deixará o doen¬
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220 Observações Medicas Doutrinaes. doente eſtar ( ſe puder ſer ) de coſtas ao menos dous dias , & quinze dias na cama , farão melhor negocio , para que as tripas não tornem a deſcer , & para mayor ſegurança tomará o quebrado , tres , ou quatro manhãs a fio eſtando em jejum , huma gema de ovo mal aſſado , deitandolhe dentro , quanto pode levar hum toſtão , de pò de huma raiz que chamão ſolda , ou o empraſto póde eſtar dez , ou doze dias , & então ſe alimpe , & ſe ponha outra parte , que he maravilhoſo , & dentro de hum mês , o mais tardar , ſe achará o doente bom . 7 . O comer de hum mes ſerá de pão duro, ou biſcouto , carne aſſada , & nada cozido , & bem póde paſſar com pouquiſſima agua , ou com hũa gotta de vinho . 8 . O terceiro remedio , que lhe enſinarei , he o ſeguinte . Tomarſeha hum quartilho de vinho branco bom em hũa panela nova , & poſto a ferver ſe lhe botará huma maõ cheya de poejos picados em sellada , & depois de cozido ſe lhe botará huma onça de farelos , & ſe apertará muito bem com a funda , & eſtará com eſte empraſto vinte & quatro horas , ſem fazer movimento com o corpo . 9 . E paſſadas as vinte & quatro horas , tomará hum quartilho de melaço , & poſto a ferver , depois de bem groſſo ſe eſtenderá em huma paſta de algodaõ bem aberto , & ſe polvilhará por cima com huma oitava de incenſo , & outra de breu , & outra de pòs de ſolda , & ſe porá na parte até cahir ; & depois trará o tempo que quizer o empraſto contra rotura . 10 . O Regimento ſerá naõ comer verdura , azeite , & toucinho , & o mais tudo pòde comer . OBSER-
120 Observações Medicas Doutrinaes. doente eftar ( fe puderder. ) de costas cab michos dous dias ; & quinze dias na cama , faraosmelhor inegocios para que as tripas não tornem a defceil; & paramayor fegurança tomará o quebrado, tres, ou quatroananbas a fio eftando em jejum, huma gema de ovo malaffado, deitandolhe dentro, quanto pode devanham toftao, de poi de huma raiz que chamão foldailcon pantablamp o emprafto pode eftar dez , ou dozesdias , dientao fe alimpe, & fe ponha outra parte , quelhemaravilhofo, & dentro de hum mesyo mais tardar, feiachara o doen- te bom. : 7: O comer de hum mes fera pão durol, ou bifs couto, carne affada, & nada cozido, & bem pode paf- far com pouquiffima agua, ou com hua gotta de vinho. 8. O terceiro remedio, que lheenfinei, he orfeguin- te. Tomarfeha hum quartilho de vinho branco bom en hua panela nova, & pofto a ferver fe lhe botara hu- ma mão cheya de poejos picados em fellada, & depois de cozido felhe botara huma onça defarelos, & fei- to em papas groffas, fe porana quebradura, & feaper- tara muito bem com afunda, & 'entam .com este em- prafto vinte & quatro horas, fem fazer movimento com o corpo. . .. 9. E paffadas as vinte & quatro horas , tomara hum quartilho de melaço, & pofto aferver, depois debem groffo fe eftenderá em huma pafta de algodao. bemaberto, & fe polvilhará por cima com huma oi- tavade incenfo , & outra de breu; & outra de pos de folda, & fe pora na parte ate cahir; & depois trava o tempo que quizer o emprafto contra rotura. : 10. O Regimento fera nao comer verdura , azci- ce, & toucinho , & o mais tudo pode comer. () OBSER- i
20: Obfervaces Medicusnutrinaes. doente eftar ( fe puderfer.)cde coftasca reos doug dias ; & quinzt dias na cam , : faraormelhob inogocit s para que as tripas naotornemaaefceil;& paramayont fsgurancatomara o qúxtradö, trés,ouquatioananbas a fioeftando em jejum,huma gema deovomataffado, deitandolhödentro,uanto pódnduvdrhm toftag, de pö: de huma raiz que chamaofaldaitbu: panta6iam o.emprafta póde cftar dez ou:dozexdias., :&aianta fa alimpe, &fe ponhaoatraparte:queihemamvilhofo, & dentro de hum mesyo mais tardar,fe:acharaq doen- tebom: : : 7:: : O comer de hum mes ferapao:duroi'oubif. couto, carne affada , & nada cozido, & bemp6de paf- far com pouquiffima agua;ou.com húagotta de vinho. 8. O terceiro remedio,que lheenfinci,he ofegain- te: Tomarfeha ham quartilho de'vinho.brancabom em hüa pancla nova,& pofto afervér felliebotarahu? ma maocheyade poejos picadosemfellada, & depoia decozidofelhe botarahuina onca dcfarelos, &.fei- : roem papasgroffas,feporana qudbradura, &feaper : ara.muito bem comafanda, &:afara comefta:em- prafto vinte &:qaatro?horas', fem:fazer movimento com o corpo. . ..1.. 9::. E paffadas. as vinte:& quatro horas:,:tomara hum quartilho de.:melaco, & pofto aferver, depois debem groffo.fe eftendera em hama pafta de algoda bemaberto,& fe polyilhara por cimacom humaoir. tavade incenfo, &outradebreu; &outra: depas.dd folda, & fepora.naparte att'cahir& depois trara a tempo que quizer o:eimprafto contra rotura. O Regimento fera na comer verdura azci 10. x,&toucinha,& omaistudo podecomer. . T: OBSER-
220 Oblertações Medicus!DGutrinaes. doente eftar (fe paderfer )cde colbal cab meios dóus dias ; & quinze dias na cama , : farãosmelhobinegocios, para que as tripas nántornêm adtefceil; 8 paramayon fogurançartontará o quebrado; três;ouquitinananhãs a fio eftando em jejum, huma gema de ovo mataflada, deitandolhê dentro, duanto pode jevdnrhom toftão, de poide huma raiz qbe ohamão'falda:ijdm.: penca 6 lâànoo o.empraíto póde eftat dez',! on'dotediad , dientao fa alimpe, & le ponha ontraparte, quelhearlâravilhofo, & dentro de hum mesyo mais tardar, feiachará q doen+ tebom. AVARIA me aguada o. : 7: O comer de hum>tnes ferá pão-duroi, ou.bif , couto, carne affada , & nada cozido, & bem póde paf.. far com pouquiffima agua;ou com ha gotta de vinho, 8. O terceiro remedio,que lheenfinei;he oleguin- te. Tomarfeha hum quarmiho devinho branco bom enphãa panela nova,& poftoa fervés (e llieborará hus ma mãocheya de poejos picados em fellada; & depois de cozido felhe botará huma onça defarelos; & feis “ toem papas'groflas, fe porána québradura, & (e apor+ ; tara. muito bem coma banda , &o'eltarm com'elia.em- prafto vinte & quatro horas, femfazer movimento COM OCOorpo. 1... 1: Face ani A AS . 9: E paíladas.as vinte.& quatro horas: tómará * hum quartilho de melaço, & poíto aferver, depois de-bem groffo fe eftenderá em huma paíta de algodaã bemaberto, & fe polvilhará por cima comhuma-oir: tavadeincenfo , & outra de breu ; & outra: de pôs dei folda, & feporá na parte até cahir;& depois: trará o téimpo que quizer o-empraíto contrarotura. 11 > 10. ORegimento feránaô comer verdura azeis ee, So tonciniho 7, & o maistudo pôde. comer. e
120 Observaçones Medicus Doutrinaes. doente estar (se puderser) de costas cao menos dous dias, & quinze dias na cama, faramo melhor inegocio, para que as tripas namo tornem a desceil; & para mayon segurança tomara o quebrado, tres, ou quatio manbans a fio estando em jejum, huma gema de ovo malassado, deitandolhe dentro, quanto pode se vanhum tostamque de pò de huma raiz que chamamo soldaiscou pentablam, o emprasto pode estar dez, ou doze dias, & entaon se alimpe, & se ponha outra parte, que lhemaravilhoso, & dentro de hum mes, o mais tardar, se achara q doen¬ te bom. 7. O comer de hum mes sera pamo durol, ou bis¬ couto, carne assada, & nada cozido, & bem pode pas¬ sar com pouquissima agua, ou com huma gotta de vinho. 8. O terceiro remedio, que lhe ensinei, he oseguin¬ te. Tomarseha hum quartilho de vinho branco bom em huma panela nova, & posto a ferver se lhe botara hu¬ ma mano cheya de poejos picados em sellada, & depois de cozido se lhe botara huma onça de farelos, & fei¬ to em papas grossas, se porá na quebradura, & se aper¬ tara muito bem com a funda, & estari com este em¬ prasto vinte & quatro horas, sem fazer movimento ... com o corpo. 9. E passadas as vinte & quatrò horas, tomará hum quartilho de melaço, & posto a ferver, depois de bem grosso se estenderá em huma pasta de algodaqum bem aberto, & se polvilhara por cima com huma oi¬ tava de incenso, & outra de breu; & outra de pos de solda, & se porá na parte até cahir; & depois trará o tempo que quizer o emprasto contra rotura. 10. O Regimento serà naon comer verdura, azci¬ ce, & toucinho, & o mais tudo pòde comer. . 10 c. . * OBSER
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Observaçaõ XXXVII. 221 OBSERVAÇAM XXXVII . De huma grande hernia humoral muito inflammada , acompanhada com huma febre ardente , & huma gonorrhea parulenta , & com hum fluxo de almorreimas . 1 . EM nenhuma couʃa ʃe conhece melhor a ciencia , & engenho dos Medicos , como em ʃaber curar doençãs complicadas ; pois no commum ʃentir dos que exercitão a Medicina , he couʃa mui difficultoʃa remediar no meʃmo tempo , & no meʃmo ʃujeito enfermidades mui differentes , & contrarias ; mas porque os Medicos não eʃcolhem os caʃos leves para os curar , nem rejeitaõ os perigoʃos , & complicados , para lhes fugir ; devem acudir a todos com igual caridade , porque ʃe eʃta lhes faltar , diz Vanelmonte , ( 1 . ) lhes negarà Deos o dom de curar : por eʃta razaõ imitando eu a Hippocrates , ( 2 . ) nunca me eʃcuʃei de acudir a quaeʃquer doentes , por mais perigoʃos que eʃtiveʃʃem ; & ainda que por eʃʃa cauʃa puzeʃʃe muitas vezes o meu credito em grande riʃco . Comtudo Deos , que he o valentaõ , que toma por ʃua conta defender , & deʃaggravar a innocencia , me alumiou de ʃorte na eʃcuridade de muitas doenças complicadas , que as curei , eʃtando ja deixadas dos Medicos por incuraveis , como pelo ʃeguinte caʃo farei manifeʃto . 2 . Em dezaʃeis de Janeiro de 1699 . me buʃcou certo homem nobre , para que o curaʃʃe , dizendo que elle ʃe achava cercado em hum labyrintho de achaques : porque padecia huma inflammaçaõ horrenda nos teʃticulos , hum copioʃo fluxo de almorreimas , huma febre ardentiʃʃima , & huma gonorrhea purulenta . 3 . Varias forão as indicações , & muito poderoʃas as duvidas , que ʃe me offerecèrão para curar a eʃte doen-
1. Obfervaçao XXXVII. ? 221 OBSERVACAM XXXVII. De bama grande hernia humoral unuito inflammnada, ~ acompanhada com buma febre ardente , & buma gonorrhea pavillenta , d vom bum fluxo the praha y almorreimas .. 0 ì. - M nenhuma could fe conhece melhor a y ciencia; &engenho dos Medicos y como em faber curar doenças complicadas; pois no com- mum fentir dos que exercitaon Medicina, he coufa mui difficultofa remediar no mefino tempo, & no mel- mo fujeito enfermidades mui differentes, & contra- rias ; mas porque os Médicos não efcolhem os cafos leves para os curar, nem rejeitado os perigofos, & com- plicados; para lhes fugit ; devemacudir atodos com igual caridade , porque fe efta thes faltar , diz Va- nelmonte , ( 1.) lhes negarà Deos o dom de curar: por efta razad imitando en a Hippocrates, (2) nunca me efcufci deacudir a quaefquer doentes, por mais peri- gofos que eftiveffem , & ainda que por effa caufa pu- zeffe muitas vezes o meu credito em grande rifco .. Comtudo Deos, que he o valentão, que toma por fua conta defender, & defaggravar a innocencia, me alu- miou de forte na efcuridade de muitas doenças com- plicadas, que as curei, eftando ja deixadas dos Medi- dos porincuraveis , como pelo feguinte cafo farei ma- nifefto. Em dezafeis de Janeiro de 1699. me bufcou certo homem nobre , para que o curaffe , dizendo que elle fe achava cercado em hum labyrintho de acha- ques : porque padecia huma inflammaçao horrenda nos tefticulos, hum copiofo fluxo de almorreimas, huma febre ardentifima , & huma gonorrhea puru- lenta. - 3. Varias forão asindicações, & muito podero- fas as duvidas, que fe me oferecerão para curar a efter doen- 5.5 1 : . · : : 1 :
.:Obfcrvaca0 XXXVII.: 221 .OB$ERYAC AM.XXXYI. -1... De bsnia prandeberaia:bumorab inuito anpaminada ; -acompanbada tomumafebre ardente,huma gonoorhea parnlenta ; 5 com bum fuxo te:: : U.. ++ : .. s+ ... . almorreimas.. :..:: : -. t... rtM nenhuma coufa fe tonhece nelhor a @ citncia; &engenho dos Medicos, como em taber curar doercasromphicadas, pois no com- num.featin dos öue exercitaoaMedicina, he coufa muidifficulrofa remediar no mefino temp,& no mef- mo fujeito vnfermikabes. nui dufferentes , & contra- rias ; mas parque s Medicos nao efcolhen os cafos Teves para os curar, neni.rejeitaosperigofos, & com- plicados3 para lhes.fugir; devem'acudir atdos com igual caridade porque fe efta Thes faltar , diz Va- nelinonte , ( 1.) lhes negara Deos odom'de curar: por 4fta razainitanddeu a.Hippocrates , (2) nunca me efcufei dedcudir aquaefquer doenres , por 'mais peri- gofos que eftiveffem ;, & aindat que por effa caufa pu- xeffe muitas vezes o meu creditel em grande rifco. Cointudo Deos , que he o valenta, que toma por fua conta defender , &defaggravar a innocencia, me alu- miou defortena efcuridade demuitas doencas com- plicadas , que as curei, eftandša deixadas dos Medi. cosporincuraveis , como pelo'feguinte cafo farei ma. nifefto. .--: 2.: Em dezafeisde faneiro de 1699. me' bufcou 'certo homem nobre para que ocuraffe, dizendo que elle fe achava cercado:em hurh labyrintho deacha- qúes: porque padetia huma infammasa horrenda nos tefticalos, hur copioforflüxo de almorreimas, uma: febre ardentiffma , &htna gonorrhea puru- lenta.: fas as duvidas, que fe ntofferecerao para curar a efte doen-
“conta defender, &defággtavar a innocencia , me alu- cr Obfetvação XXXVI. + 221 o OBSERNAÇAM XXXI ete ce SEtv SS ; Po TRIOS í E De bama. grandeclhertsia: humoral draito iriflammada acempanhada comebuma febre ardente &- bina * cc. gomveebra paralenta, E vom bum fexonte, ; : 4ooammebo o co; almerteimado co 100 | o oh iai a agp (O ip DO, E AS: CNES A NC 2 4 NM nenhdma iCoufa fe tohhece melhora OO 6 ciência; Socugenho dos Melicós; como — em faber carar doenças complicadas”, pois: AO conta mum feúcir dos que ekercitáioa Medicina, he coufaà nmuidifficultofa remediar-no méfino tempa,& no meil* . mo fujeito enfermidades, mui differentes ,'& contras rias ; mas parque"os Medicos: não efcolhem os cafos teves para os curar; nem rejeita6 is perigolos,& com: plicados; para. Ihesfogit; deverm:acudir 4tõdos com igual caridade, porane fe efta lhes faltar , diz Va- nelinonte , ( 1.) lhes negarà Deos odom de curar: por ófta raradimicandõ eu a Hippocrates, (2) úunca me efeufei deácudir a quaeíquer doentes , pot mais peri- gofos que eftivéllem ; & ainda que por ela cauta pus *efle muitas vezes à ineu credito em grande rifco.. €omtrudo Deos , que Re o valeneãõô, que torna por fua DT O ps 1miou de forte na efcuridade de muirds doenças com- glicadas que as curéis eftando jadeixadas dos Medi- ; dos porincuraveis, córtio pelo feguinte cafofareima* nifeito. & eo ese gate asa =x, Envdezafeéisnde Janeiro-de 1699. me buícou - certo homem nobre s para que o curafle, dizendo que elle fe achava cercadó:em hum tabyrintho de acha- est porque padetia huma inflarhmaçaõô horrenda nos tefticulos, huma copiofoflúxo de almoireimas; kuma: febre ardentiffima ,:& huma gonorrheá puru« : tenta.- - DR AH UE GÇÃ Y nem. o Vatiasforão asindicáções, & muito podero- fas as duvidas, que fé ne offerecêrão para curar a efte doen*
Observaçao XXXVII. 221 g ae aae a * OBSERVACAM XXXVII. De bunia grande hernea humoral inuito instammada acompanbada com huma febre ardente, & huma gonoprheu puinilenta, & vom hum fluxo de ulmorreimas. 7 1.M nenhuma cousa se conhece melhor à Ei ciencio, & engenho dos Medicos, como em saber curar doenças complicadas; pols no com¬ mum seutiv dos que exercitao a Medicina, he cousa mui difficultosa remediar no melmo tempo, & no mes¬ mo sujeito enfermidaues mui differentes, & contra¬ rias; mas porque os Medicos namo escolhem os casos leves para os curar, nem rejeitaon os perigosos, & com¬ plicados, para lhes fugit; devem acudir a todos com igual caridade, porque se esta lhes faltar, diz Va¬ nelmonte, (1.) lhes negarà Deos o dom de curar: por esta razao imitandò eu a Hippocrates, (2.) nunca me escusei deacudir a quaesquer doenres, por mais peri¬ gosos que estivessem; & ainda que por essa causa pu¬ zesse muitas vezes o meu credito em grande risco. Comtudo Deos, que he o valentaon, que toma por sua conta defender, & desaggravar a innocencia, me alu¬ miou de forte na escuridade de muitas doenças com¬ plicadas, que as curei, estando jà deixadas dos Medi¬ dos porincuraveis, como pelo seguinte caso farei ma¬ nifesto. Em dezaseis de Janeiro de 1699. me buscou -2. certo homem nobre, para que o curasse, dizendo que elle se achava cercado em hum labyrintho de acha¬ ques: porque padecia huma inflammaçaon horrenda nos testiculos, hum copioso fluxo de almorreimas, huma febre ardentissima, & huma gonorrhea puru¬ ). fenta. Varias foramo as indicaçones, & muito podero¬ sas as duvidas, que sè lue offerecèramo para curar a este doen¬ ..
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222 Observações Medicas Doutrinaes. doente : nem forão menos poderoʃos , & varios os prohibentes , que ʃe me repreʃentàraõ para fazer a dita cura, & neʃte enleyo , & perplexidade eʃtive muito tempo duvidoʃo do caminho que avia de ʃeguir : porque ʃe punha os olhos na hernia taõ grande , & taõ inflammada , eraõ neceʃʃarias as ʃangrias no braço , para divertir o fluxo , que impetuoʃamente corria para o eʃcroto ; porque ʃe ʃagraʃʃe no pé , poderia acudir tanto humor ao lugar queixoʃo , que ʃe mortificaʃʃe o calor natural , & degeneraʃʃe a hernia em huma gangrena mortal : ʃe olhava para o eʃquentamento novo , & fluxo das almorreimas , eraõ neceʃʃarias as ʃangrias dos pès , & muito para temidas , & arriʃcadas as dos braços ; porque divertirião os humores para cima no meʃmo tempo , em que a natureza os eʃtava deitando para baixo , & ʃeria taõ grande erro ʃangrar nos braços a quem eʃtava com fluxo de almorreimas , & com huma gonorrhea nova , como ʃeria ʃangrar nos braços a huma mulher eʃtando recem parida , ou com a purgaçaõ menʃal de poucos dias . 4 . Neʃte aperto uʃei do conʃelho de Galeno , ( 3 .) em que nos manda acudir primeiro àquella doença , de que ʃe pòde ʃeguir mayor perigo ; & vendo eu que da hernia ʃe podia ʃeguir mayor riʃco com as ʃangrias dos pès , que da gonorrhea , & almorreimas com as ʃangrias do braço , por eʃte reʃpeito tomando a indicaçaõ da inflammação hernioʃa , como achaque mais perigoʃo , mandei ʃangrar no braço correʃpondente à parte tomoroʃa , ʃem fazer caʃo da gonorrhea , nem das almorreimas . 5 . Pontualmente obʃervou o enfermo eʃte preceito , & ʃangrandoʃe ʃeis vezes na vea d’Arca do braço direito , ceʃʃou o deʃpenhado fluxo de humor , & viʃivelmente ʃe foi desfazendo a hernia ; & porque avia ainda alguma inflammaçaõ , & dor na parte , appliquei ʃobre ella o ʃeguinte remedio , que he ʃegredo , que atè hoje não quiz revelar a alguem ; mas agora o quero enʃinar para utilidade dos que tiverem ʃemelhante achaque , com ʃeja novo , & de pouco tẽpo . To –
222 Obfervações Medicas Doutrinaes. doente : nem forao menos poderofos, & varios os pro- hibentes , que fe me reprefentàraõ para fazer a dita cura; & nefte enleyo, & perplexidade eftive muito tempo duvidofo do caminho que avia de feguir : por- que fe punha os olhos na hernia taogrande , & tao i flammada, erao neceffarias as fangrias no braço., pa- ra divettir o fluxo, que impetuofamente corria para o efcroto ; porque fe fangraffe. no pé, poderia acudir tanto humor ao lugar queixofo, que fe mortificaffe o calor natural, & degeneraffe ahernia en hyma gan- grena mortal : fe olhava para o efquentamento novo, & fluxo das almorreimas, erao neceffarias as fangrias dos pès, & muito para temidas , & artifcadas as dos braços ; porque divertirião os humores para cima no mefmo tempo, em que a natureza os eftava deitando para baixo, & feria taograndeerro fangrar nos bra- ços a quem eftava com fluxo dealmorreimas; & com huma gonorrhea nova, como feria fangrar nos braços a huma mulher eftando recem parida, ou com a pur- gação menfal de poucosdias. 12 4. Nefte aperto ufei do confello de Galeno, (3.) em que nos manda acudir primeiro àquella doença, de que fe pode feguir mayor perigo ; & vendo eu que; da hernia fe podia fegair mayor rafco com as fangrias dos pes, que da gonorrhea, & almorreimas com as fangrias do braço, por efte refpeito tomando a indis caçaõ da inflammação herniofa , como achaque mais. perigofo, mandei fangrar no braço correfpondente àj parte tumorofa, fem, fazer cafo, da gonorrhea, nem das almorreimas. 5. ¿ Pontualmente observou o enfermo efte pre- ceito , & fangrandofe feis vezes na vea d' Arca do bra-, ço direito,,iceffou o defpenhado fluxo de humor, &, vifivelmente fe foi desfazendo a hernia ; & porque avia ainda alguma inflammacao, & dor na parte, ap- pliquei fobre ella ofeguinteremedio, que he fegre- do, que atè hoje não quiz revelar a alguem ; mas ago- rao quero enfinar para, utilidade dos que tiverem fe- melhante achaque, como feja novo, & de pouco tepo .. To-
222 Obfcrvacoes Medicas Doutrinaes. doente : nem forao menos poderofos, & varios os pro- hibentes , que fe me reprefentara para fazer a dita cura; & nefteenleyo, & perplexidade eftive muito tempo duvidofo do caminho que avia de feguir : por- que fe puhha os olhos na hérnia tabgrande , &taöit- flammada, era neceffarias cas fangrias. no braco,pa- ra divettir fluxo, que impetufamente aarria:para o efcroto ; porque fe fangraffe:na pé, poderia acudir tanto humor ao lugar queixofo, que fe mortifcaffe o calor natural, &.degeneraffe a hernia amhama gan grena mortal : fe olhava para oefquentamerto novo, & fluxo das almorreimas, era neceffarias as fangrias dos pes', & muito:para: temidas., & arrifcadasas dos bracos ; porque divertiriao as.humores para.cima na mefmo tempo, em quea:natutazaroseftava deitanda para baixg,&:feria tagrandtrro fangrar nos bra cos a queni eftavacom fuxo daalmorreimas ; & com huma gonorrhea nova, como.fertafangrar nos bracos a huma,mulher eftando: recem parida, ouxom a pur 4..Nefte apertoufei doronfelho.de:Galena,(3:) em que nos manda acudir, primeiro aquella.doenga, de que fe podefeguir mayor.perigo; & vendo euque: da hcrnia fepodia fsguir:nayor rafco com as fangrias: dos pes , que da gonorrhea, &: almorreimas: com as fangrias..do braco, por:efte refpeito tomando a indi cacao da inflammacao herniofa,como achague mais: perigofo, mandei fangrar no braco.correfpondente aj parte tumorofa, fem, fazer cafo.dagonorrhea nem das almorreimas. :: .: : 5. : Pontualmente'obfervou ..enfermo.efte pre- ceito., & fangrandofefeis:vezes na vea d' Arca do brar. co direito,iceffou defpenhado fluxo de.humor, &. vifivelmente fe foi desfazendo a hernia ;..& porque. avia aindaalguma inflammaca, & dor na:parte, ap: pliquei fobre ella:ofeguintereredio,. que he fegre- do, que até hoje nao quiz revelar a alguem ;, mas.ago-- ra.o quéro enfinar para; utilidade dös que tiverem fe- inelhante achaquescómo feja novo, & de pouco tepö. 1o-
222 Oblervações Medicas Dobtrinaes. doente: nem forãô menos poderofos, & farfos os pro” hibentes , que fe me reprefentàraó para fazer a dita cura; & nefteenleyo, & perplexidade elfive muito tempo duvidofo de camiriho que avia de feguir: por- que fe pnhha os olhbs na hérnia taó grande ; Se rab-ide flammaáda,, eraô neceflarias «as fangrias nobraço.;pa- ra divettir-o fluxo, que imperuôfamente sarna-para O . ' efcerofto ; porque fe fangrafle.na pé, poderia acudir tanto humor ao lugar queixofo , que fe mortificafle o calor natural, & degeneráfle ahernia enrligma gan- grena mortal : fe olhava para oefquentamérto novo, & fluxo das almorreimas, eraó pecellarias as fangrias dos pês, & muitó para temidas ,;.& artifecadas as dos braços ; porque diveitirião as Hnmores para cima .na metfmo tempao, em que a-natutada os eftava deiranda para baixo ,& feria taó-grandê erro fangrar nas bras ços a queni eftava com fluxo dealmorreimas ;-& comi huma gonorrhea nova, comoiferta faligrar nos braços a huma, mulher eftando': recem parida, ou-com a pur- ; gaçao menfal.de poneosdias. ig ão co. 9tme oa 4. “Nefteapercoufei do ronfellio dealeno. (3:) em que nos manda açudir, primeiro àquella, doença, de que fe pôde feguir mayor perigo; & vendo: eu que; da hernia ferpodia feguirmayos rico com-as fangrias: dos pês , que da gonorrhea , & almorreimas com as fangrias do braço, por.efte refpeito tomando a indis caçaô da inflammação herniofa como achaque mais. perigofo! mandei fangrár no braço. correfpondente à; parte tumorofa, fem, fazer cafo. da gonorrhea, nem das almorreimas. a ..5. ;Pontualmente-obfervou o. enferma. efte pre ceito , & fangrandofe,feis vezês na vea d Arca do brar, ço direiro.sicellou o defpenhado fluxo de,.humor, &. : vifivelmente fe foi desfazendo a hérnia ; .& porque: nes avia ainda alguma infldmmaçaóõ , 8 dor na parte, ap-: ' pliquei fobre ella -ofegixinte remedio, que he fegre- ' do, que atê hoje não quiz revelar a alguem ; mas ago= ra.o quêro enfinar pará, utilidade dos que tiverem fe- melhante achaque; como feja novo, & de pouco po: ! a. o
222 Observaçones Medicas Doutri naes. doente: nem foramò menos poderosos, & varsos os pro¬ hibentes, que se me representàraó para fazer a dita cura; & neste enleyo, & perplexidade estivé muito tempo duvidoso do caminho que avia de seguir : por- que se puhha os olhos na hernia taon grande, & tao in¬ flammada, eraon necessarias as sangrias no braço, pa¬ ra divertir o fluxo, que impetuòsamente corma para o escroko; porque se sangrasse no pé, poderia acudir tanto humor ao lugar queixoso, que se mortificasse o calor natural, & degenerâsse a hernia emhima gan¬ grena mortal: se olhava para o esquentamento novo, & fluxo das almorreimas, eraon necessarias as sangrias dos pès, & muitò para temidas, & arriscadas as dos braços; porque divertiriamo os humores para cima no mesmo tempo, em que a natureza os estava deitande parà baixo, & seria taon grandè erro sangrar nos bra¬ ços à quem estava com fluxo de almorreimas, & com huma gonorrhea nova, como seria sangrar nos braços a huma mulher estando recem parida, ou com a pur¬ gaçaon mensal de poucosdias. 4. Neste aperto usei do consellio de Galeno, (3.) em que nos manda acudir primeiro àquella doença, de que se pòdę seguir mayor perigo; & vendo eu que da hernia se podia seguir mayor risco com as sangrias dos pes, que da gonorrhea, & almorreimas com as sangrias do braço, por este respeito tomando a indi¬ caçaon da inflammaçamo herniosa, como achaque mais. perigoso, mandei sangrar no braço correspondente à parte tumorosa, sem, fazer caso da gonorrhea, nem das almorreimas. 5. Pontualmente observou o enfermo este pre¬ ceito, & sangrandose seis vezes na vea d'Arca do bra¬ ço direito, cessou o despenhado fluxo de humor, & visivelmente se foi desfazendo a hernia; & porque avia ainda alguma inslammaçaon, & dor na parte, ap¬ pliquei sobre ella o seguinte remedio, que he segre¬ do, que atè hoje nao quiz revelar a alguem; mas ago- ra, o quero ensinar para. utilidade dos que tiverem se¬ melhante achaque, como seja novo, & de pouco tempo. To
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Observaçaõ XXXVII 223 6 . Tomem folhas de arruda , & de meimendro verdes , de cada couʃa deʃtas hum punhado , pizemʃe muito bem em hum gral de pedra , & com humas gottas de vinagre roʃado ʃe formem humas papinhas de mediana groʃʃura , para ʃe eʃtenderem em panno de linho delgado , & ʃe applicaraõ ʃobre a hernia nove , ou dez dias , & não fôʃe desfara a inchaçaõ , mas ʃe tirarà a dor , & ʃe deʃinflammara a parte com grande felicidade ; & ʃe ʃucceder que algum dos teʃticulos , ou ambos , ou o eʃcroto todo , fiquem ainda inchados , ou mais duros do que devem ʃer , em tal caʃo podem fazer o ʃeguinte remedio , que tambem he efficacissimo , & ʃe faz do modo ʃeguinte . 7 . Tomai daquelle ʃebo , que eʃta pegado aos rins do carneiro , duas onças , pizeʃe muito bem com duas gemas de ovo cruas , & tudo ʃe miʃture com onça & meya de farinha de favas , & duas onças de oxicrato , & ʃobre hum panno de linho brando ʃe eʃtenda huma pouca deʃta maʃʃa morna , & ʃobre a parte enferma ʃe applique cada vinte & quatro horas , & dentro de oito dias fará hum effeito taõ maravilhoʃo , que ʃerá o melhor abonador da ʃua grande virtude ; & ʃe ʃucceder que algum deʃtes remedios obre menos bem do que eu tenho viʃto , aʃʃim neʃte doente ; como em outros muitos , aqui revelo outro , que o não quiz manifeʃtar até o dia de hoje , ʃó a fim de que naõ perdeʃʃe a eʃtimaçaõ com a publicidade . O remedio he fomentar a hernia , trinta dias continuos , com oleo de canela ; & podem eʃtar certos que ʃe o tal oleo for verdadeiro , fará hum proveito tão admiravel , qual ʃe não achará em outro remedio humano . Muitos exemplos pudera referir de peʃʃoas , que depois de eʃgotarem a Medicina , os cabedaes , & a paciencia ʃem proveito , ʃó com o dito oleo melhoraraõ , com admiraçaõ dos que os tinhaõ deixado por incuraveis . Eʃta he a primeira vez , que por meyo da eʃtampa deixo ʃair ao theatro do mundo hum ʃegredo taõ prodigioʃo ; mas porque he muito caro , & naõ poderaõ os pobres uʃar delle , lhes quero deʃcubrir dous remedios , que tendo igual virtude ,
- Obfervaçao XXX VII .: , 223 6., Tomem folhas de atruda, & de meimendro verdose de cadáicouta deltas hum punhado, pizemfe muito bem em hum gral de pedra, & com humas got- tas de vinagre rofado: feformem. humas papinhas de mediana groffusa , para fereftonderem em panno de li+ nho delgado, & feaplicarao dobre a hernia nove, ou dez dias., & não falle desfard ainchacao , imas fe tira- ra a dor , & fe defindammarita parte comgrande feli-t cidade; & fe fucceder que algum dos testiculos, ou ambos, ou o efcroto todo; fiquem ainda inchados, ou mais dunos doxque devem.fer, em taltafo podem fa- zer o feguinte remedio, que tambem he'efficacithimo, & fe faz do modo Seguinte. [ . .. "> 7. - Tomai daquelle febo, que efta pegado aos fins do carneiro , duas onças, pinefe muito bem com duas gemas de, ovo cruas, & tudo;fe mifture com onça & meya de farinha delfavas, & dnas onças de oxicrato,. & fobre hum panno de linho brando fe oftenda huma pouca delta maffa morna , & fobre a parte enferma fe appliquecada vinte & quatro horas, & dentro de oi- to dias fara hum cffeito tao maravilhofo, que fera a melhor abonados daifuagrande virtude ; & fe fucce- der que algum deltes remedios obre: menos bem do: que eu tenho vifto, affim nefte doente ; como em ou- tros, muitos, aqui revelo outro, que o não quiz mani-) feltar ate o dia de hoje, fora for de que nao perdeffe a eftimaçao com a publicidade. O remédio he.fomentar a hernia „ trinta dias continuos com oled de canelay & podem eftar certos que fe otaboleo for verdadeiro, fará hum proveito tão admiravel, qual fenão achará em outro remedio humano, Muitos exemplos pudera referir de peffoas, que depoisde efgotarem a Medi- cina, os cabedaes; & a paciencia fem proveito, fó: com o dito oleomelhorárao, com admiraçaõ. dos que os tinha6 deixado por incuraveis. Efta: he a primeira vez, que por meyo da eftampa deixo fair ao theatro do mundo, hum Segredo tao prodigiofo ; mas porque he muito caro , & nao poderao os pobres ufar delle , lhes quero descubrir dous remedios, que tendo igual viry. tude, C 0 : 3, a . ·
Obfervaca XXXVH. 223 6.. Tomem folias de arruda,: &;deimeimendro verdaso te aada:coufa deftashium punhado, pizemfe muito.bem em hum grar de:poura:, & com.humas got- tasde.vinagre rofado: féformem hunas. papialias de 1. medianagroffara, parafaeftonderem ein panno de li- nhodalgado,&faapplicaraodobre'a hernia.nove,ou dez dias&nao fa destard ainchaca ,masfe tira raa dor &fe ddfinalammaraa parte comgrandereli- cidade; & fe.fuccedur que,æigum:dostufticulos, ou amboss ou.oefcriototodö; fiqusm aindainchados, ou: mais.dunos doxque: devem.fer: , ém tal;tafo.podem fa- zer ofegintorcinedi ,que tambem he affcacifhmo &fefazsdomodofeguinte..! : : 7. - Tomai daquelle feho, queefa:pegadoaos rins do carneirb ,duasongas, : pinefermuitobeni coin duas: gema: de,avo:cruas, &: rudo:fe.mifture.com onca& meya te farinha: de!favas , &dnas ancas:de oxicrato, & fobre: hum panno: delinho brando.fe oftenda huma :poucadefta.maffamoma &fabre a parte:enferma fe appliquecadavinte &quarpa haras:, & dentra de oi to dias fara humxcffeita ta maravillofo, que ferá melhor abonador daifuagandd yintudt;& fe:fucce der:que: algumsdeltes: remedi@s cobre: menosbem do: que eu.senhq vifta, affim neftedoente.; cono enau-. eftimaca comapublicidadeQremédio he.fomentar: a hernia trinta dias:contifiuos comöleo de canela & podem eftar certosgue foonaloleo: for. verdadeiro fara hun proveito:tho admiravell,: qual fepaathara em outro.remedio humanoMuitos exemplospudera referir de peffoas!, que:depoisdeefgotarema Medi.. cina, os cabedacsi, i& a pacidncia fem proveito fo: com o:dito oleoimelhorára com admiraca.dos que os tinha deixadopor incuiaveis. Efta:he aprimeira vezsque por meyoda eftampadeixo fair ao theatro:do mundo.hum fegredo taö: prodigiofo ; massporque he müitocaro.,&napoderaospobres ufar delle, lhes queradefcubrir doua remedios, que tendo igual:xirs tude,
W “Obtervaça3 KXXVISOCO 428 - 6, Tomemtfolhas de atruda,. & demeimendro verdas., de cadáicon(a deftas ium punhado, pizemie muiro Heim em hum gral de-poda.s 8 com humas gor: tasde vinagre sofado: fafóormse umas, papiohas de mediana groílusa ; para lereftonderem em panno de li nho delgado 8a feapplicaráodobre a-hermia nove ow der dias.;-Sanão fóle'desfard ainchaçaô ,imas feiras ràa dor y & fe ddfinBammarãa parte comprande felia cidade ; & fe-fucceder que atrum:dostelticulos 7 Ou ambos ; ou o eferaro todo; fiquem aindainchados, om maáis duros dosque' devem fer: ém tal;&tafopodem fa- zer ofeguiinte remedio que tambem he'efficacilhmo, & fe fan domoda fdguinte. lt co: sia SEL - 74 Tomaidaquelle febo; due elta-pegado aos fins do carneiso duas onças: pintbemuíto bem com duas: gemas de, oviaruas, &: tudo:fe. mifture.com onça à& meya le farinha: delfavas , & duas onças-de oxicrato,. & fobre. hum panno de linho brando fe eftenda huma pouca deíta mafla mbrna ; &cfobra a parteenferma fe appliqueicada vihre & quatro luoias:, &dentra de oi= to djas faxá hum-effbiso tab) maravilhofo, que ferá g melhor abonados daifua-grande virtude 5, & feifucões der que algum,deíbes: remedios cobre menos bem do: que eu tenhoivifta,, afhim neftedoente; como em ou= “&ros muitos) aqua rdvelo outro, que o não quiz manto - feltar áté o dia dê bojo, fóa fim de qua nai» perdefle a eftimaçaó com-apwblicidade;O xemêedio-he fomentar" a hernia trinta dids:contitiues com óleo de canela; & podem eftas cartos que faoralaleo for verdadeiro, fará hum proveito-ão admisavels, qual femán achará em outro remedio humano, Muitos exemplos puderá , referir de peíloas, que: depnisilecfgorarenma. Medir. gina, os cabedaes1; id 'a paçidaciá fem proveitos 10: com o dito olcoimelhoráraá.; com admiraçao. dos que os rinha6. deixado-por incutaveis. Efta:he a primeira vez,que por meyo.da eftampa-deixo fair aotheatro.-do munda.hum fegrado taô- prodigiofo ; masporque ne muitoçáro 8 naãó poderão os pobres ufar delle , lhes quere. defcubrir deus remedios. que tendo igual io : 4 *rmde,
Observaçao XXXVII. 223 6. Tomem folhas de atruda, & de meimendro verdes, de cadaicousa destas lium punhado, pizemse muito hem em hum gral de pedra, & com humas got¬ tas de vinagre rosado se formem humas papiulias de mediana grossura, para seestonderem em panno de li¬ nho delgado, & se applicoraondobre a herma nove, ou dez dias, & namo solle desfard a inchaçaon, mas se tira¬ rà a dor, & se definsammara à parte com grandè feli¬ cidade; & se succeder que algum dos testiculos, ou ambos, ou o escioto todo, fiquom ainda inchados, ou mais dunos do que devem ser, em tal caso podem fa¬ zer oleguinte remediò, que tambem he efficacissimo, & se faz dlo modo seguinte. 7. Tomai daquelle sebo, que está pegado aos rins do carneiro, duas onças, pirese muinto bem com duas gemas de, ovo cruas, & tudo se misture com onça & meya de farinha delfavas, & duas onças de oxicrato, & sobre hum panno de linho brando se estenda huma pouca desta massa morna, & sobre a parte enferma se applique cada vinte & quatro horas, & dentro de oi¬ to dias fara hum effeito tao maravilhoso, que serà o melhor abonador dalsua grande virtude; & se succe¬ der que algum destes remedios obre menos bem do¬ que eu tenho visto, assim neste doente; como em ou¬ tros muitos, aqui revelo outro; que o namo quiz mani¬ festar âté o dia de hojo, so a fim de quo naon perdesse a est imaçaon com a publicidade. Oremendio he fomentar a hernia, trinta dias contifuos, com oleò de canela; & podem estar certos que se ocal oleo for verdadeiro, fara hum proveito tamno admiravel, qual se namo achara em outro remedio humano. Muitos exemplos pudera referir de pessoas, que depoisde esgotarem a Medi¬ cina, os cabedaes, & a paçioncia sem proveito, so com o dito oleoimelhoraraon, com admiraçaon. dos que os tinhañ deixado por incuraveis. Esta he a primeira vez, que por meyo da estampa deixo sair ao theatro do mundo hum segredo taon prodigioso; mas porque he mu ito caro, & naon poderaon os pobres usar delle, lhes quero descubrir dous remedios, que tendo igual vir¬ tude,
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224 Observações Medicas Doutrinaes. tude , ʃaõ de pouco cuʃto : o primeiro he feito de pó ʃubtiliʃʃimo das caʃcas das oʃtras , miʃturado com tanta quantidade de vinagre branco , quanta baʃtar para fazer humas papas que poʃtas ʃobre a inchação cinco , ou ʃeis dias ʃucceʃʃivos , a desfara , como tenho obʃervado . O ʃegundo remedio he trazer ʃobre a hernia , por tempo de ʃeis meʃes , humas folhas de figueira baforeira , & certamente ʃe desfará a tal dureza , como me conʃta por algumas experiencias de peʃʃoas , cujos nomes naõ refiro , porque naõ tenho licença para iʃʃo . 8 . Vencidas ja a hernia , & a febre ardente , faltavão por render a gonorrhea , & as almorreimas ; para eʃtas ordenei que ʃe lavaʃʃem duas vezes cada dia com agua cozida com huma maõ cheya de erva congorça , cuja virtude he eʃpecifica para eʃta doença , & que depois de enxugada a parte com muita brandura , a untaʃʃem com o meu admiravel lenimento das almorreimas , o qual para curar a eʃta enfermidade , leva ventagem a quantos remedios inventou o engenho dos homens ; advertindo que ʃe as almorreimas eʃtiverem por dentro , nem por iʃʃo deixem de uʃar do tal remedio metido em huma mecha de fios , porque de todo o modo que o applicarem , obrarà maravilhas , como o poderaõ certificar não ʃó os innumeraveis doentes , que o tem experimentado neʃta Corte , mas todo eʃte Reynò , & até as Nações eʃtranhas , & terras de Europa . Os curioʃos podem ver os preʃtimos deʃte meu lenimento na Polyanthea da ʃegunda impreʃʃaõ no tratado 3 . cap . 4 . fol . 859 . num . 78 . & 79 . 9 . A gonorrhea venci com ʃumma felicidade , ordenando que o doente tomaʃʃe de quatro em quatro dias dous eʃcropulos de terebinthina de beta , a que ajuntava quinze grãos de pó ʃubtiliʃʃimo de alcaçuz , & cinco grãos de mercurio precipitado doce , formando nove pilulas , repetindo eʃte meʃmo remedio doze , ou quinze vezes , de quatro em quatro dias , como fica dito : & porque póde aver algum doente , que naõ tenha geito para tomar pilulas , ou naõ tire com eʃtas a doença , póde tomar quinze , ou vinte amendoadas feitas
224 Obfervações Medicas Doutrinaes. tude, fao de pouco cufto: o primeiro he feito de pó fubtiliffimo das cafcas das oftras., mifturado comitan- ta quantidade de vinagre branco, quanta baftar para fazer humas papas, que poftas fobre a inchação icin- co , ou feis dias fucceffivos ; a desfara, como tenho ob- fervado. O fegundo remedio he trazer Sobre a hernia, por tempo de feis mefes, humas folhas de figueira ba- foreira, & certamente fe desfara atabdureza; como me confta por algumas experiencias de peffoas, enjos nomes nao refiro , porque nao tenholicença paraiffo. 8: Vencidas ja a hernia, & a febre ardente, fala tavao porrender a gonorrhea , & as almorreimas, pa- ra eftas ordenei que fe lavaffem duas vezescada dia com agua cozida com/ huma mao cheya de etva con- gorça , cuja virtude he especifica pararefta doença 3 qac depois de enxugada a parte com muita brandura, a unraffem com o men admiravel-leninsento das at- morreimas , o qual para curar a efta enfermidade, le- và ventagema quantosremedios inventou o engenho dos homens; advertindoque fe ås almorreimas efti- verem por dentro, nempor iffo deixem de ufar dotal remedio metido em huma mechade fios , porque de todo o modo que o applicarem , obrarà maravilhas ; como o poderão. certificar não: fó os innumeraveis doentes, que o tem experimentado nefta Corte, mas todo elte Reyno, & ate as Nações eftranhas, & ter- ras de Europa. Os cufrofos podem ver os preftimos delte meu lenimento na Polyanthea da fegunda im- preffao no tratado 3. capo 4. fol. 859. num. 78. & 79. tip: Agonorrhea venci.com fumma felicidade, or- . denando que o doente tomaffe de quatro em quatro dias douseferopulos de terebinthina de beta , a que ajuntava quinze grãos de po fubtilifimo de alcaçuz, & cinco grãos de mercurio precipitado doce , formando sove pilulas, repetindo ofte mefmp remedio doze, ou quinze vezes , de quatro em quatro dias, como fica di- tol: & porque póde aver algum doente, que naotenha geito para tomar pilulas , ou nao tire com eftas a do- ença, pode tomar quinze, ou vinte amendoadas fei- tas ! ! ! !
224 Obfeivacoes Medicas Döutrinaes. tude, fa de:pouco cufto::o primeiro hefeito de pó fubtiliffimo das cafcas das aftras., : mifturado coratan- ta quantidade de vinagrebranco, quaita baftar para fazer humas papas., que:poftas fobre a inchagao.cin- co ,ou feisdiasfucceffivos,adesfara, como torhoiob- fervado. O fegundo remédio he rrazerfobreahernia, por tempo de ftis mefes, humasfolhasde fguaara ba- foreira, & certamente :fe:desfaraatabaureza Como me conftapor algunias experiencias de:peffaax,bajos aones na refro; porqup na tenholicenga paraiffo: ...8: .Vencidas jaahernia', & tfebpeardente,fal tavao p:orrender a gonorrhea , & as almorreimass pa ra eftas ordenei que fe lavaffem duasvezeaicada dia con agua cozida com: huma mauheya de etva con- gorca, cujavittudehexpecificapararefta doenca3 & qac depaisde enxugada aparte cemmuitabrandura, a untafiem com o meu admiravel leninatnto das at- nrorreimas , o qual pard curar a eftarenferinidade, le- va ventagema quantsrerediosinventou oegenho dos homans, advertindoqte fe as: almorreimasieti verem por denero, ntmipor iffadeixam de-ufardotal remedio metido.em hama nechadefios , porque de toddo o: modo que o applicarem , öbrara maravilhas ; como o poderao. certificar nao: fo os innurmeraveis: doentes, que o: temexperimentado nefta Corte, mas todocftc Reyno, &are as Nacus eftranhas, & ter- ras de: Europa. Os cufiofos'podem ver os preftimos defte meu leaimento maPolyanthea da fegunda im- preffao no tratado3: caps4: fol. 859. num. 78. & 79. :. . 1:y. : Agonorrhea voncicom fummafelicidade ,or- denando que o doente tomaffe: dequatroemquatro dias dousrefcropulos de terebinthina debeta , a que ajuntavaquinze graos de p'fubtiliffmo de alcacuz,& cinco graosdeimercurio precipitado doce , fornando nove pilulas, repetindo@fte mefmp'remediodoze, ou quinze vezes, de quatroem quatrodias, tomo ficadi- tol: & porqae póde aver algum dotnte;que natenha geito paratomar pilulas , ou nao tire com eftas a do- enga,. pode tomar quinze, ou vinte anendoadasfei- tas
224 Obfêtvações Medicas Doutrinaes. mude., faô'de.pouco cufto::o primeiro hefeito de pó fubriliffimo das caftas das oftras.;. mifturado comitan« ta quantidade de vinagre branco, quanta baftar para fázer humas pápas, ue poítas fobre a inchagção cin co ou feis dias fuce divoiva-desfará, tuino teithioiob- fervado. O fegundo rêmedio he rrazerfobre a hérnia, portermpo de feis mefes, humas folhas de figueira ba. foreira , & cercamênte fedesfará âtubâduteza; Como me confta.por algurmas experjencias de:pefl cas; bnjos Wwomes naô refiro ; porque naó.renholicença parasfto: 8: “Vencidasjaahernia, & a febpetardonvé fala tavão r.or render a ponosthea , & as almorreirmass pas ra eftas ordenei que fe lavaflera duas vezesicada dia com agua cozida com: huma maôeheya de etva con- gorça , cujavittude hodfpevificaparae/ta doença; & que depois; de entugada dá parte com muira' brandura,; auntafiem bom o men admiravel-fleninsento dás alt= urorreimas ;'o qual pard eutar'a eftuenferimidade , le- vá ventagenva quantubremedios inventou 'oengenha dos homens; advertindoque fe às ultmoireirmadietis veitem por dehrro, nemporiflo deixem de ufárdoral remedio metido em hbma:nsechká defios , porque de | toilo o: modo «que o applicarem ,"ôbrarà matavilhas ; como o poderão. certificar “não: fó6: 65 innúmáeraveis: doentes, que 0: tem experimentado nefta Corre, mas todo elte Reyno , '& até as Nações eftranhas , &ter- ravde Europa: Os cufiofos'podem ver os preftimos delte men tedimento ma Polyanthea da fegunda im- — prefláónotratado 3. capr4: foi. 859. num. 78. & 79. - sig.” Argonórrhea vencircom fuma felicidade or . denando“que o doente tomafte dé quatro em quatro dias dousteferopulos. de terebinthina de beta , a 'que ajuntava quinze grãosde pó fubrilifimo de alcaçuz, & cinco grãos deimercurio precipitado doce , formando nove pilulas,' repetindo-elte mefmpremediodoze, ou quinze vezes, de quatro em quatro dias, como ficadi- tol: & porque póde aver algum doente; que naôtenha geito para tomar pilulas "ou naó tire com eftásado- : Ença, póde tomar quinze, ou vinte amendoadas fei- N . qc
224 Observaçones Medicas Doutrinaes. tude, saon de pouco custo: o primeiro he feito de pó subtilissimo das cascas das ostras, misturado com tan¬ ta quantidade de vinagre branco, quanta bastar para fazer humas papas, que postas sobre a inchaçamo cin¬ co, ou seis dias successivos, a desfara, como tensio ob¬ servado. O segundo remedio he trazer sobre a hernia, por tempo de seis meses, humas folhas de figueira ba¬ foreira, & certamente se desfara ataldureza, como me consta por algumas experiencias de pessoas, eujos nomes naon refiro, porque naon tenholicença para isso. 8. Vencidas ja a hernia, & a febre ardentè, fal¬ tavamo por render a gonorrhea, & as almorreimas; pa¬ ra estas ordenei que se lavassem duas vezesicada dia com agua cozida com huma maon cheya de erva con¬ goręa, cuja virtude he especifica paraesta doença; & que depois de enxugada à parte com muita brandura, a untassem com o men admiravel lenimento das al¬ morreimas, o qual pard curar a esta enfermidade, le¬ va ventagem a quantos remedios inventou o engenho dos homens; advertindo que se às almorreimas esti¬ verem por dentro, nem por isso deixem de ular do tal remedio metido em huma mechà defios, porque de todo o modo que o applicarem, obrarà maravilhas, como o poderaon certificar namo só os innumeraveis doentes, que o tem experimentado nesta Cortę, mas todo este Reynò, & até as Naçones estranhas, & ter¬ ras de Europa. Os curiosos podem ver os prestimos deste meu lenimento na Polyanthea da segunda im¬ pressaon no tratado 3. cap. 4. fol. 859. num. 78. & 79. 9. Aigonorrhea venci com summa felicidade, or¬ denando que o doente tomasse de quatrò em quatro dias dous escropulos de terebinthina de beta, a que ajuntava quinze granos de po subtilissimo de alcaçuz, & cinco gramos de mercurio precipitado doce, formando nove pilulas, repetindo este mesmpremedio doze, ou¬ quinze vezes, de quatro em quatro dias, como fica di¬ to: & porque pode aver algum doente, que naon tenha geito para tomar pilulas, ou naon tire com estas à do¬ ença, pode tomar quinze, ou vinte amendoadas fei¬ tas
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Observaçaõ XXXVII 225 tas de tres duzias de caroços de ginjas muito bem pizados , & deʃatados em oito onças de agua cozida com duas oitavas de alcaçuz machucado , ajuntando a eʃta amendoada huma onça de lambedor violado magiʃtral , quero dizer , feito do ʃucco da flor da violeta , ajuntandolhe meya oitava de sal das faveiras ; & poʃʃo certificar que eʃtas amendoadas ʃaõ hum dos melhores remedios da Arte para eʃta doença . 10 . Se porèm a gonorrhea for taõ rebelde , & obʃtinada , que ʃe naõ renda a eʃtes dous taõ ʃingulares , & efficazes remedios , ʃaibaõ que eu tenho a lacerta viridis , que tomada de tres em tres dias em quantidade de quatro até cinco grãos , formando huma pilula com huma migalha de terebinthina de beta , fara o que nenhum outro remedio humano póde fazer : & porque conʃte a todos os homens preʃentes , & futuros a vontade que ʃempre tive de preʃtar para a utilidade publica , lhes quero enʃinar aqui o modo com que faço eʃte grande ʃegredo , que he na fórma ʃeguinte . 11 . Em huma garrafa deito tres onças de bom azougue , & ʃobre elle deito ʃeis onças de agua forte , que naõ ʃeja feita com pedra hume ; & em outra garrafa deito duas onças de agua forte com huma onça de limadura finiʃʃima de cobre , & no fim de dous dias ajunto em huma retorta ambas as duas ʃoluções , do mercurio , & do cobre , & ʃobre fogo de area ʃe deʃtillaõ eʃtes dous licores no principio com fogo moderado , acreʃcentando-o pouco a pouco , até chegar a toda a força , para que a mayor parte dos eʃpiritos da agua forte ʃe conʃumaõ , & depois de eʃtar bem ʃecca a materia que reʃtar no fundo da retorta , ʃe tire de dentro , ou ʃe quebre a retorta com tal cautela , que naõ ʃe miʃture couʃa alguma do vidro quebrado com a materia que reʃtou no fundo , & eʃta ʃe moa em huma pedra deʃtas em que os pintores moem as ʃuas tintas , & ʃe meta o tal pò em huma garrafa , deitandolhe em cima ʃeis onças de vinagre bem forte , ʃe ponha a dita garrafa por tempo de ʃeis dias em digeʃtam ʃobre fogo de candea , & no fim dos ditos ʃeis dias ʃe acre-
zenin Obfervacas XXXVIIO 223 tas de tres dúzias de caroços de ginjas muito bem pir Zados, 8defatados emoito ducas deaguacozida com guas bitaxas de alcaçuz machucado, ajuntando aceita einendoada hamasouça de lambedor violado magif- tal, quero dizer, feito do facco da floh da violeta) ejuntandothe meya airava de fad das faveiras ; & poffo certificar que eftas amend cadas fao hum dos melho, res remedios da Ante para efta doença .. 6. 10 ..... Se. poremia gonorrhea for tao rebelde, & obfr tinada, que fe nao renda a eftes dous tao fingulares, & sfficazes remedios, faibao que eu tenho a lacerta vi- ridis quetomada de tres em tres dias em quantidade de quatro até cincogrãos, formando huma pilula com huma migatha de terebinthina de beta , fara o que ne- phum outro remedio humano pode fazer : & porque confte a todos os homens prefentes , & futuros a von- tede que lempre tive de preftar para a utilidade publi- ca, lhes quero enfinar aqui o modo com que faço efte grande fegredo , que he na forma feguinte. .: II., Em huma garrafa deito tres onças de bom azougue , & fobre elle deito feis onças de agua forte, que nao feja feita com pedra hume; & em outra gar- rafa deito duas onças de agua forte com huma onça de limadura finifima de cobre, & no fim de dous dias ajunto em huma retorta ambas as duas foluções, do mercurio, & do cobre, & fobre fogo de area fe def- tillaõ eftes dous licores no principio com fogo mode- rado, acrefcentando-o pouco apouco, até chegar a roda a força, para que a mayor parte dos efriritos da agua forte fe confumao, & depois de eftar bem fecca a materia que reftar, no fundo da retorta, fe tire de dentro, ou fe quebre' a retorta com tal cautela, que. nao fe mifture coufa alguma do vidro quebrado com a materia que reftou no fundo, & efta fe moa em hu- ma pedra deftas em que os pintores moem as fuas tintas, & fe meta o tal pò em huma garrafa, deitan- dolhe emcima feis onças de vinagre bem forte , fe po- nha a dita garrafa por tempo de feis dias em digeftam fobre fogode candea, & no fim dos ditos feis dias fe * 1 . .t. . : acre-
ni@bkwacaXXXNHO 2s tasde:treaduziasdorarocgsdeginjas muitobem pis zadbs &defatadosemoitodngai dleiagurkozida cam uas:bitayas de adcacut machanarlo : asunranao aaita ejnendoada hamasougado haimbedor:vjolado magif. tral. guerosdizet, feito do fucco:da, Aof da violetaj juntandolhemeya airava du fal das faveiras & poffo certificar quceftas amendoadas fa huin dos melho. resremediosda Ante paraeftadoenca.. c: 10. : Sk:poramixgonorrhéa for taö.rebelde,& obf. tinada, guefe naorenda aeftes tous ta fingulares, & sfficazesremedios, faibaö que eu tenha. a lacerta vi.. ridis.:gue:tonada detresem tres dias am:yuantidade @euatio atté.cincograos, formando huma pilula com bumamigatha de terdbinthinade beta, fara o que ne- phum outroremediohumano póde fazer : & porquc confte a todos os homens prefentes, & futuros a von- tadequs fempre tivede preftar paia aurilidade publi- ca, lhes queroenfinaraqui:o modocom que facoefte grande fegredo., que he naforma feguinte. -: 11.. .Em: huma garrafa deito tres oncas de bom azougue & fobre elle deito feis oncas de agua forte, que naö feja'feitacom pedra hume ; & em outra gar- rafadeitoduas oncas.de agua forte con huma onga de limadurafiniffinade cobre., & nofim dedous dias junto em huina retorta ambas as duas folucoes, do mercurio,& docobre,&fobre fogo de area fe def- tilla eftes daus licoras no principio com fogo mode- xado,acrefcentando-o pouco a/pouco, até chegar a toda a forša, para que a.mayor parte dos ef iritos da t.i gua forte fe confuma, & depois de eftar bem fecca t1 a materia que. reftar. no fundo da retorta, fe tire de dentro,ou fe quebre'a retorta com tal cautela, qua. naofemifture coufa algumadtvidro quebrado com amateriaque reftoanofundo, & efta fe moa em hu- ma pedra deftas em que os pintores moem as fuas tintas, & fe meta otal pem huma garrafa, deitan- dolht rmcima feis oncas:de vinagre bem forte , fe po- nha a dita garrafapor tempodefeis dias cm digeftam fobre fogode candea, & nofim dos ditos feis dias fe acre-
tas desresdozias. deraroços dé ginjas Muisa bem pis 'zados, Stdelamados emosto-dugas deiaguaozida com duas-bitavas de atcaçuz machunádo ; ajunitando aceita einondoada humasonça do titobedor: violado magif- tral., querondizes, feito do fuceo dá, flofida violera) gjuntandolhe méya aisava de fai das faveiras ;- & pofto certificar que eftas amendoarlas fa hum .dos melho, 155 remedios da Ante'pata eftadoença.... b & 19. Se.porêmia goneirhea for taó rebelde, & obfz ' tinada, que fe naó renda a eftes dous taú fingulares, & sfficazestemedios, faibaô que eutenha. a lacerta vis ridis «que tbmada de tresem eres dias em quantidade de quanto asé cinco grãos, formando huma pilula com huma migalha de rerebinthina de beta , fara o que nes Rhtm-oatro remedio humano póde fazer: & porque coníte a todos os homens prefentes”, & futuros a von- tade quê fmpre tive de preftar paia à urilidade publi- ca, lhes quero enfinaraqui-o modo com que faço efte grande fegredo , que he na fórma feguinte. . ' -: 11... Em huma garrafa deito tres onças de bom arougue , .& fobre elle deito feis onças de agua forte, que naó féja feita com pedra hume; & em outra gar+ rafa deito duas onças de agua. forte com huma onça de limadura finillima de cobre, & no fim de dous dias ajunto em huma retorta ambas as duas foluções, do ' mercurio , & do cobre ; & fobre fogo de area fe def» tillaó eftes dous licorês no principio com fogo mode- rado ,acrefeentando-6 pouco apouco, até chegar a * tóda à força, para que a mayor parte dos efiiritos da agua forte fe confiimaõ, & depois de eftar bem fecca a. materia que reftar, no fundo da retorta, fetire de dentro ,-on fe quebre' a retorra-com tal cautela , que, - naó femilture coufa alguma do vidro quebrado com a materia-que reftonnofundo, & efta femoa em hu- ma pedra deftas em que os pintores moem as fuas tintas, & fe mera otal pô em huma garrafa, deitan- dolht em.cima feis onças-de vinagre bem forte ,fepo- - nha a dita garrafa pór tempo de feis dias em digeftam fobre fogode candea, & no fim dos ditos feis dias fe *
Obserraças XXXVIIO 22 tas de tres duzias de raroços de ginjas muito bem pi¬ zados, & delatados emoito ducas de agua cozida com suas oitaras de alcaçuz machucado, atuntando a esta ainendoada huma onça de lambedor violado magis¬ tral, quero dizer, feito do succo da flof da violeta, ajuntandolbe meya airava de sal das faveiras; & posso certificar que estas amendoadas sao hum dos melho¬ res remedios da Ante para esta doença. 10. Se poremia gonorrhéa for taon rebelde, & obs¬ tinada, que se naon renda a estes dous tao singulares, & gfficazes remedios, saibaon que eu tenho a lacerta vi¬ ridis, que tomada de tres em tres dias em quantidade de quatro até cinco gramos, formando huma pilula com huma migalha de terebinthina de beta, fara o que ne¬ phum outro remedio humano pode fazer: & porque conste a todos os homens presentes, & futuros a von- tade que sempre tive de prestar para à utilidade publi¬ ca, lhes quero ensinar aqui o modo com que faço este grande segredo, que he na forma seguinte. 11. Em huma garrafa deito tres onças de bom agougue, & sobre elle deito seis onças de agua forte que naon seja feita com pedra hume; & em outra gar¬ rafa deito duas onças de agua forte com huma onça de limadura finissima de cobre , & no fim de dous dias ajunto em huma retorta ambas as duas soluçones, do mercurio, & do cobre, & sobre fogo de area se des¬ tillaon estes dous licores no principio com fogo mode rado, acrescentando-o pouco apouco, até chegar a toda à força, para que a mayor parte dos espiritos da agua forte se consumaon, & depois de estar bem secca a materia que restar no fundo da retorta, se tire de dentro, ou se quebre a retorta com tas cautela, que, naon se misture cousa alguma do vidro quebrado com a materia que reston no fundo, & esta se moa em hu¬ ma pedra destas em que os pintores moem as suas tintas, & se meta otal pò em huma garrafa, deitan¬ dolhe emcima seis onças de vinagre bem forte, se po¬ nha a dita garrafa por tempo de seis dias em digestam sobre fogo de candea, & no fim dos ditos seis dias se acre¬ ** t
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226 Observações Medicas Doutrinaes. acreʃcente o fogo de sorte , que ferva o vinagre , & ʃe emprenhe bem da virtude do mercurio , & do cobre , & depois ʃe vaze o dito vinagre com tal cautela , & reʃguardo , que com elle não paʃʃe couʃa alguma das fezes que eʃtaõ dentro na garrafa , & eʃte tal vinagre ʃe deite dentro de huma tigela da India , ou qualquer outra bem vidrada , & ʃobre fogo de area ʃe evapore o dito vinagre , até que no fundo da tigela fique a materia , ou pòs verdes , & eʃtes ʃe guardem em hum vidro bem fechado : & eʃta he a lacerta viridis , ou o grande ʃegredo das gonorrheas ; advertindo que ainda que eʃte he o mayor remedio que ha para a ʃobredita doença , nem por iʃʃo ʃe dará aos doentes nos primeiros dias das gonorrheas , mas ʃó quando já forem de muitos dias , ou naõ quizerem obedecer aos remedios apontados . 12. Deʃte , & de outros ʃerviços que tenho feito à minha patria , não eʃpero agradecimento em quanto for vivo , porque ʃei muito bem que a deʃaffeiçaõ de alguns homens tem preoccupado os corações de outros de tal ʃorte , que não ʃó os faz ʃurdos para naõ ouvirem as honroʃas acclamações , que o mundo publica dos meus medicamentos ; mas cegos para não verem o que os bem intencionados vem : ( 4 . ) mas ʃaibaõ os taes homens que iʃʃo me naõ afflige , porque a verdade he taõ poderoʃa , que naõ neceʃʃita de armas para defenderʃe ; & quando a malicia porfiadamente queira deʃluzir os maravilhoʃos effeitos deʃte , & de outros remedios meus , me conʃolarei com o que diz o Nazianzeno ; ( 5 .) que por iʃʃo o orgaõ do ouvir he torcido , & fabricado com varios gyros , & anfractos , paraque a mentira naõ entre tam depreʃʃa ao juizo , mas gaʃte mais tempo em penetrar aquellas voltas , & cavidades , & deʃte modo chegue naõ ʃó diminuida , mas de tal modo miʃturada com as fezes da maledicencia , que naõ poʃʃa entrar dentro , mas fique na ʃuperficie , & naõ logre o ʃeu mao intento , por mais que brame a maldade , & o pertenda a malevolencia . OBSER-
226 Obfervações Medicas Doutrinaes. acrescente o fogo de forte, que ferva o vinagre, & fe emprenhe bem da virtude do mercurio, & do cobre; & depois fe vaze o dito vinagre com tal cautela, de refguardo , que com elle não paffe coufa alguma das fezes que eftao dentro na garrafa , & efteral vinagre fe deite dentro de huma tigela da India, ou qualquer outra bem vidrada, & fobre fogo de area fe evaporeo dito vinagre, até que no fundo da tigela fique a mate- ria, ou pos verdes, & eftes fe guardem em hum-vidro bem fechado : & efta he a lacerta viridis, ou o gran+ de fegredo das gonorrheas ; advertindo que ainda que efte he o mayor remedio que ha para a fobredita do- ença, nem por iffo fe dara aos doentes nos primeiros dias das gonorrheas , mas.fó quando já forem de mui- tos dias , ou naõ quizerem obedecer aos remedios apontados. 12 Defte, & de outros ferviços que tenho feito à minha patria , não efpero agradecimento em quan- to for vivo, porque fei muito bem que a defaffeição de alguns homens tem preoccupado os corações de ou- tros de tal forte, que não fó os faz furdos para-nao ou- virem as honrofas acclamações, que o mundo publica dos meus medicamentos ; mas cegos para não verem o que os bem intencionados vem : (4.) mas faibao-os taes homens que iffo me nao afflige, porque a verda .. de he taõ poderofa, que naõ neceffita de armas para defenderfe ; & quando a malicia porfiadamente quei- ra defluzir os maravilhofos efeitos defte, & de outros remedios meus , me confolarei com o que diz o Nazi- anzeno ; (5.) que por iffo o orgaõ do ouvir hetorcido, & fabricado com varios gyros, & anfractos, para- que a mentira nao entre tam depreffa ao juizo, mas gafte mais tempo em penetrar aquellas voltas, & ca? vidades, & defte modo chegue nao fó diminuida, mas de tal modo mifturada com as fezes da maledicencia, que nao poffa entrar dentro, mas fique na fuperficie, & nao logre o feu mao intento, por mais que brame a maldade, & o pertenda a malevolencia. OBSER- - : ..
226 Obfervacoes Medicas Dutrinacs. acrefcente ofogode fortt, queferva o vinagrt, & fe tmprenhe bem da.virtude do mercurio, & d6 cobre; & depois fe vaze o dito vinagre com talcautela, &: refguardo , que comelle nao paffecoufa al@uma da* fezes queefta dentro na garrafa,&: efteral.vinagré fe deite dentro de huma tigela da Indiai, : Ou qualquer. outra bem vidrada, & fobre fogo de area fe evapore dito vinagre, até que no fundo da tigela fique amate- ria, ou pos verdes, & eftes fe guardem emkum.vidro bem fechado: &efta he alacerta viridis, ou 'gran* de fegredo das gonorrheas ; advertindo que ainda que efte he o mayor remedio que ha para a fobredita do- enca , nem por iffo fe dara aos doentes nos primeiros dias das gonorrheas , mas.f6 quando ja forem de mur tos dias , ou na quizerem öbedecer aos remedios apontados. 12 Defte, & de outrosfervicos quc tenhofeito a minha patria, naoefpero agradecimento em quan- to for vivo, porquefei muito bem que a defaffeica de alguns homens tem preoccupado os coracöés de ou- tros de tai forte, que nao f6 os faz furdos parana ou- virem as honrofas acclamacöes, que o mundopublica dos meus medicamentos ; mas cegos para naoverem quc os bem intencionados vem: (4.) mas faibaos taes homens que iffo me na afflige, porque a verda.. de he ta poderofa, que na neceffita dearmas para defenderfe ; & quando a malicia porfadamente quei- ra defluzir os maravilhofos effeitos defte, & de outros remcdios meus , me confolarei com oque diz o Nazi anzeno ; (5.) que por iffooorga doouvir hetorcido; & fabricadó com varios gyros, & anfra&tos, para- gafte mais tempo em penetrar aquellas voltas, & ca? vidades , & defte modo chegue naf6 diminuida, mas de tal modo mifturada com as fezes da maledicencia,; que na poffa entrar dentro, mas fique na fuperficie, & na logre ofeu mao intento , por mais que bramea maldade , & o pertenda a malevolencia. OBSER.
, : 226 Oblotvações Medieas Doutrinaes. acrefcente o fogode forte, que ferva o vinagre ;& fe emprenhe bem da virtude do mercurio, & dó cobre; | & depois fe vaze o dito vinagre com tal cautela, & PAN refguardo , que com elle não paffe confa abéuina das | fezes que eftaó dentro na garrafa ,.& efteral vinagre fe deite dentro de huma tigela da India, ou qualquee outra bem vidrada., & fobre fogo de area fe evaporeo dito vinagre, até que no fundo da tigela fique a mares ria, ou pós verdes, & eftes fe guardem em-hum-vidro bem fechado: & efta he a lacerta viridis, ou ogrant de fegredo das gonorrheas ; ádvertindo que ainda que efte he o mayor remedio que ha para à fobredira o" ença, nem por iflo fe dará aos doentes nos primeiros dias das gonorrheas , mas.fó quando já forem de muis tos dias , ou naó quizerem obedecer aos remedios apontados, | : : 12 Defte, & de outros ferviços que tenho feito à minha patria , nãoefpero agradecimento em quan- to for vivo, porque fei muito bem que a defaffeiçaó de PESA alguns homens tem preoccupado os corações de ou- tros de tal forte, que não fó os faz furdos paraniaô ous viremas honrofas acclamações, que o mundo publica dos meus medicamentos ; mas cegos para não veremi o que os bem intencionados vem: (4.) mas faibaó-os taes homens que iffo me naó aflige , porque a verda-s de he taô poderofa , que naó necelhta de armas para. defenderfe ; & quando a malicia porfiadamente quei- ra defluzir os maravilhofos effeitos defte, & de outros remedios meus , me confolarei com oque diz o Nazis anzeno; (5.) que por iflo o orgaô do ouvir hetorcido, & fabricado com varios gyros, & anfra&os , para» que à mentira naó-entre tam depreíla ao juizo, mas gafíte mais tempo em penetrar aquellas voltas, & ca? vidades , & defte modo chegue naó fó diminuída, mas de tal modo mifturada com as fezes da maledicencia, que naó pofla entrar dentro, mas fique na fuperfície, & naô logre o feu mão intento , por mais que bramea maldade, & o pertenda a malevolencia. — OBSER.
226 Observaçones Medicas Doutrinaes. acrescente o fogo de sorte, que ferva o vinagre, & se emprenhe bem da virtude do mercurio, & dó cobre, & depois se vaze o dito vinagre com tal cautela, & resguardo, que com elle namo passe cousa alguma das fezes que estaon dentro na garrafa, & este tal vinagre se deite dentro de huma tigela da India, ou qualquer outra bem vidrada, & sobre fogo de area se evapore o dito vinagre, até que no fundo da tigela fique a mate- ria, ou pos verdes, & estes se guardem em hum vidro bem fechado: & esta he a lacerta viridis, ou o gran¬ de segredo das gonorrheas; advertindo que ainda que este he o mayor remedio que ha para a sobredita do¬ ença, nem por isso se darà aos doentes nos primeiros dias das gonorrheas, mas só quando já forem de mui- tos dias, ou nao quizerem obedecer aos remedios apontados. 12 Deste, & de outros serviços que tenho feito à minha patria, namo espero agradecimento em quan¬ to for vivo, porque sei muito dem que a desaffeiçaon de alguns homens tem preoccupado os coraçones de ou- tros de tal sorte, que nano so os faz surdos para naon ou- virem as honrosas acclamaçones, que o mundo publica dos meus medicamentos; mas cegos para namo verem o que os bem intencionados vem: (4.) mas saibaon os taes homens que isso me naon afflige, porque a verda- de he tao poderosa, que nao necessita de armas para defenderse; & quando a malicia porfiadamente quei- ra desluzir os maravilhosos effeitos deste, & de outros remedios meus, me consolarei com oque diz o Nazi¬ anzeno ; (5.) que por isso o orgaon do ouvir he torcido, & fabricado com varios gyros, & anfractos, para¬ que a mentira nao entre tam depressa ao juizo, mas gaste mais tempo em penetrar aquellas voltas, & ca¬ vidades, & deste modo chegue naon só diminuida, mas de tal modo misturada com as fezes da maledicencia, que nao possa entrar dentro, mas sique na superficie, & nao logre o seu mao intento, por mais que brame a maldade, & o pertenda a malevolencia. OBSER¬
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Observaçaõ XXXVIII. 227 OBSERVAÇAM XXXVIII . De huma hydropesia Anasarca , que depois de durar sete meses chegou a inchaçaõ de todo o corpo a tanto excesso , que não deixava deitar a doente de nenhum lado , porque de qualquer delles lhe faltava a respiração , e se suffocava ; e vendo os Medicos o excesso , com que a doença crescia , perdéraõ as esperanças , e desemparáraõ ao doente ; neste aperto me chamàraõ , e depois de me informar da doença , e dos remedios , que se tinhaõ feito , lhe manifestei o grande perigo em que estava ; mas que se sem embargo disso queria tentar fortuna , poderia succeder que com alguns remedios , que eu preparo por minhas mãos , escapasse da morte . Aceitou o partido , e foi o successo taõ feliz , que viveo depois desta cura trinta e dous annos . 1. HE a hydropesia huma enfermidade tam grande , como difficultosa de curar principalmente em Lisboa , assim por ser terra de temperamento muito humido ( o que he prejudicialissimo para esta doença ) como pelo excessivo numero de sangrias , q̃ nella se fazem , por cuja causa necessariamene se enfraquece o calor do estomago , e delle enfraquecido se seguem os máos cozimentos , e cruezas , e destas as oppilações , os estupores , as convulsoẽs , as parlesias , as tosses , as fraquezas de nervos , e de vista , as cachexias , hydropesias , e outras mil enfermidades , que muitos padecem , e choraõ sem remedio , mas não ha muito que assim succeda , pois para toda a doença , seja quente , ou fria , seja simples , ou composta , proceda de qualidade manifesta , ou occulta , seja em pessoa fraca , ou robusta , seja criança delicada , ou velho decrepito , se naõ applica outro remedio mais que sangrias , não sem grande afronta da Arte , damno dos enfermos , e sentimento dos Medicos doutos , vendo que degenerou em vicio , o que se inventou para
Obfervaçao XXXVIII .. 227 OBSERVAÇAM XXXVIII. De huma bydropefa Anafarca , que depois de dur ar fete mefes chegou a inchacao de todo o corpo atanto excel- Jo , que nao deixava deitar a doente de nenbum lado, . porque de qualquer delles lhe faltava a respiração, & fe fufocava ; de vendo os Medicos o exceffo, com que a doença crefcia, perderao as esperanças, & defempa- .. raraõ ao doente ; nefte aperto me chamarao, & depois de me informar da doença , & dos remedios, que feti- nhao feito, lhe manifestei o grande perigo em que efta- .. va; mas que fe fem embargo diffo queria tentar fortu- . na , poderia fucceder que com alguns remedios, que eu . preparo por minhas mãos, efcapaffe da morte. Arei- tow opartido, do foi o fucceffo taa feliz, que viveo de- pois. defta cura trinta de dout annos. 7 ...... ] : 209 I. H E a hydropefia huma enfermidade cama grande , como difficultofa de curar. principalmente em Lisboa, affim por fer terra de tem- peramento muito humido (o que he prejudicialiffimo para efta doença) como pelo exceffivo numero de fan- grias, q nella fe fazem, por cuja caufa necefariamente 1 : le enfraquece o calor do eftomago , & delle enfraques cido fe feguem os mãos cozimentos, & cruczas, & del- tas as oppilações, os estupores, as convolfoEs, as parler fias;as toffes, as fraquezas de nervos, & de vifta, as cá- chexias, hydropefas & outras mil enfermidades, que muitos padecem , & choreo fem remedio, mas não l'e muito que affim fucceda , pois para toda a doença, fel ja quente, ou fria, feja fimplez , bu comporta, pro- cada de qualidade manifesta, ou occulta dojem por foa fraca, ou robusta, feja criança delicado , ou vo- Tho decrepito, fe naoapplica outro remedio mais que fangrias , não fem grande afronta da Arte , damho dos enfermos , & fentimento dos Medicos douros, vendo que degenerou am vicio, la que le inventou po- ra
Obfervaca XXXVIII: 22 O B $ E R V A C A M XXXVIII. De buma bydropefa Anafarca, que depöis de:darar fete mefes chegou a inchasat de todo o corpo .atanto excef- . fo,que nadeixava deitax a doente de nenbum lado, porque de qualquer delles lbefaltava a relpirasao, cs JeJuffotava; s vendo os Medicos.o exceffo, com que a doenga crefcia,perdéraö as efperangas, s. defempa- rarao ao doente; nefte aperto me chainara, d depoi de me informar da doenga,. dos remedios, que feti- nbaofeito, lbe manifeftei o grande perigoem que efta- -- . va; masquefefemembargodiffoqueria téntar fortu- .na, poderiafucceder que com alguns remedios, que cu. preparo.por minbas maos, efcapaffe da morte. Atei- tou.opartido, fei o.fucceffo ta feliz, que wiveo. de 1 pois.defta curatrinta de dout annos: TEahydropefia lmatnfermidade cam. .0 principalmente em Lisboa, alfim por fer terrade ten-... .3 para efta doenca) comp: peloéxceffvo numero de fana grias,gnellafefatem,por cujaoaufa neceffariament m : .n ..: :1 feenfraquaseo calor do eftomaga,. & delleenfraqaes i..1j .. cido fe,feguemo$ maos. cozimenuos, & crnczas,& def+ tas.as oppilacöes, s.eftuporess as:convulfoEs,asparle: qXAyxA3 1t c1J8 fas,as toffossas fraquczas de neroqs, & deyifta as ca. chexias, hydropefias,& outras mil enfermtadesj, quf muitos padecem : &:chorasfenrcmedio, masnao h mnitoqueaffim fucesda ; pois para toda a doerica. fet ja quente o fria r feja fimplez sbu coropafta, prir ceda de qualidademanifefta, ou oiculca , dsjanm palf foa frac&, ou robufta,feja srianga delicada:, ou vp- lho decrepit , fe naapplica utræ rcmediamais :q fangtias nao fem grande afronta da Arte. . damho .dos enfetnos..& fentimenta dos Medicos.douros, vendoguedegenerouani vici, laqie feinventau pa ta 4.t..
Í 1 + Obforvaçaõ XXX VIE. 237 | RR TM ARA SS SE SA TOSA OSC SM iÃAS CV OBSERVAÇAM XXVI 00 00 | De huma bydropefia Anafatca , que depois de durar fete : ás . mefeschegou a inchaçao de todo o corpo atanto excef=" | ! . . fosquenao deixavadeitax a doênte de nenhum lado, “ . porquedequalquev deiles!hefaltava avelpiração, & tm « fefafocava; E vendo os Medicos o excelfo, comquea . cos . doença crefeia, perdérao as elperançass & defêmpa-. coeso. ca . Fárao ao doente; nefte apevto me chamarab, & depoe Co A de me informar da doença ,,& dos remedios, que feto Loo o A « nhbabfeito, lhe manifefleio grande perigoemqueefias ES RSESNAANDE - va; mas que fe femembargo diflo queria têntar fortum 1 (oo mA . na, poderia fuccedev que com alguns remedios, que eu sos - pPróparopor minhas maos , “fu a da morte. Açei- : texapariido, & feio fuccello taú feliz, queviveo des x. | - posdeftacura trinta do dous anos. cc. 00 c05 too | x. W FEahydeopela huma enferimidadecama 0 o oo |. ] grande , como difficultofa «de curara principalmente em Lishoa, allim por fer terrade tensa ,.. - peramento muito húmido (o que hé prejudicialifimia + E pará eita doença ) comp pelo éexcelhvo numero de fana “CC grias, à nellafe fagem,por cuja-oaufa necesfariamente << te enfraquege o-calor do eltomaga ;: & della enfraques cido fe feguem os mãos cozinsentos, é crnezas, de deh .. tasas oppilações, os eftupores, assconvalívEs,as pares fias;astoflos,as fraquezas de nervos, & de vilta, as ca» çhexias, h dropefias.ã outras mil enfermedades; que muitos padecem + Se :chorabienmiemedio; mas naõ he muito que afirma leseda ; pois para toda à doença, fel ja quedte-s ou fria, feja, fimplez sou compalta, pro- “Egda de qualidade mpanifeita , ou abculea sáojaom peff foa fraca, ourobuita ,fejta sriança delicadd:; ou vp- lho decrepito, festaõapplica .butro remedig mais: que fangrias s:naãô fent grande afronita da Arte; damitvo dos esfetinos , & Jéncimento-dos Medicos doutos, vendo quesdegeriengu-eni vicio, tque fe inúentou por o . —n a í CALC CO , "
Observaç ao XXXVIII. 227 ahe ae anse asar arsaßer arseai ase aene OBSERVAQAM XXXVIII. De huma bydropesia Anasarca, que depois de durar sete meses chegou a inchagaon de todo o corpo a tanto exces¬ so, que naon deixava deitar a doente de nenbum lado, porque de qualquer delles lhe faltava a respirugaon, & () se suffocava; & vendo os Medicos o excesso, com que a doença crescia, perderaon as esperanças, & desempa¬ raraon ao doente; neste aperto me chamarao, & depou de me informar da doença, & dos remedios, que se ti¬ nhaon feito, lbe manifestei o grande perigo em que esta¬ ..:. .... va; mas que se sem embargo disso queria tentar fortu¬ na, poderia succeder que com alguns remedios, que eu preparo por minbas maos, escapasse da morte. Acei¬ -K. 2 tou opartido, & foi o successo tao feliz, que viveo de¬ .. pou desta cura trinta & dout aunos. a . 1. V TE a hydropesia huma enfermidade tam grande, como difficultosa de curar, principalmente em Lishoa, assim por ser terra de tem¬ * peramento muito humido (o que ne prejudicialissimo para esta doença) comp pelo excestivo numero de san¬ grias, quae nella se fazum, por cuja oausa necessariamente se enfraquece o calor do estomago, & delle enfraque¬ cido se seguem os maos cozimentos, & cruezas, & des¬ tas as oppilaçones, os estupores, as convulsoes, as parle¬ sias, as tosses, as fraquezas de nervos, & de vista, as ca¬ chexias, hydropesias, & outras mil enfermitades, quę muitos padecem, & choraon sem remedio, mas naon he muito que assim succeda, pois para toda à doença, sel ja quente, ou fria, seja simplez, bu composta, pru¬ ceda de qualidade manifesta, ou occulta; sojaom pest¬ soa fraca, ou robusta, seja criança delicada; ou vo¬ lho decrepito, se naon applica outro remedio mais que sangtias, naon sem grande afronta da Arte, damto dos enfermos, & sentimento dos Medicos douros, vendo que degenerouam vicio, o que se in ventou po¬ .
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228 Observações Medicas Doutrinaes. ra remedio : naõ he isto queixa minha , já Cornelio Celso , (1.) Author gravissimo , se queixava do excessivo uso das sangrias dizendo : Naõ he para mim cousa nova o abrir as veas , e sangrar ; mas o que para mim he novo , he que naõ aja doença , seja ella qual for , em que se naõ tire sangue . E supposto que os doentes naõ sentem logo os graves damnos , que as muitas sangrias lhes fazem , passados poucos annos começaõ a sentir as queixas referidas , e observadas de Galeno , (2.) o qual fallando dos grandes damnos que fazem as muitas sangrias , diz as seguintes palavras : Postoque muitos doentes não morrem logo por causa das muitas sangrias , andando os tempos vem a morrer pela fraqueza em que ficàraõ , e naõ morreriaõ , se os tivessem sangrado menos . 2. Para esta queixa de Galeno , e que alguns doentes tambem fazem , deu motivo huma hydropesia universal , que Maria Nunes , moradora na rua da Cruz , padeceo sete meses : enfermou a dita mulher com dores de cabeça , e grande febre ; chamouse logo Medico , o qual a mandou sangrar dezaseis vezes ; melhorou com effeito das queixas referidas ; porèm passados poucos dias , tornou a sentir febre , e chamando outra vez o Medico , a fez sangrar dez vezes , mas antes de passarem vinte dias tornou a sentir febre , e conseguintemente tornou a ser sangrada : o que se seguio de tanto sangue tirado , foi incharlhe o rosto , o ventre , os braços , e todo o corpo com tal disformidade , que já se naõ podia deitar de nenhum dos lados , porque logo lhe faltava a respiraçaõ , e se suffocava , e por esta causa naõ só estava em cama avia sete meses, mas naõ dormia avia dezoito noites , e só tinha algum alivio estando assentada , ou em pè ; e depois q̃ por tãto tempo padeceo hũa doença taõ perigosa , sem que conseguisse alivio com os remedios continuamente applicados por dous Medicos de boa nota , fez chamar os outros dous mais antigos , e experimentados , os quaes por naõ perderem o costume de tirar sangue , ordenaraõ que tomasse sanguessugas ; mas porque applica
228 Observações Medicas Doutrinaes. 'ra remedio: nao he ifto queixa minha , ja Cornelio Celfo, (1.) Author graviffimo, fe queixava do exceffi- vo ufo das fangrias dizendo: Nao be para mim coufa nova o abrir as veas ' & fangrar; mas o que para mim be novo ; he que nao aja doença , feja ella qual for, em que fe nao tire fangue. E fuppofto que os doentes nao fen- tem logo os graves damnos, que as muitas fangrias lhes fazem , paffados poucos annos começaõ a fentir as queixas referidas, & obfervadas de Galeno, (2.) o qual fallando dos grandes damnos que fazem as mui- tas fangrias , diz as feguintes palavras: Poftoque mui- tos doentes não morrem logo por caufa das muitas fan- grias, andando os tempos vem a morrer pela fraqueza em que ficarao, & nao morreriao, fe os tivefem fan- grado menos. 2. Para efta queixa de Galeno, & que alguns do- entes tambem fazem, deu motivo huma hydropefia univerfal , que Maria Nunes , moradora na ruaida Cruz , padeceo fete mefes : enfermou a dita mulher com dores de cabeça, & grande 'febre ; chamoufe lo- go Medico, o qual a mandou fangrar dezafeis vezes; melhorou com effeito das queixas referidas ; porèmi paffados poucos dias, tornou a fentir febre, & cha- mando outra vez o Medico, a fez fangrar dez vezes, mas antes de paffarem vinte dias tornou a fentir febre; & confeguintemente tornou a fer fangrada! o que fe feguio de tanto fangue tirado , foi incharlhe orofto, d' ventre, os braços, & todo o corpo com tal disformi- dade, que jáfe nao podia deitar de nenhum dos lados, porque logo lhe faltava a refpiração, & fe fuffocava?' & por efta caufa nao fó eftava em cama avia fete mel fes, mas nao dormia avia dezoitonoites , & fotinha algumalivio eftando affentada, ou em pey & depois @ por tato tempo padeceo hua doença tao perigofa, fem que confeguiffe alivio com os :remedios continua- mente applicados por dous Medicos de boanota, fez chamar outros dous mais antigos, & experimentados, os quaes por nao perderem o coftume derirar fangue ;. ordenarao que tomaffe fanguesugas; mas porque ap- plica
228 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. ra remedio: na he ifto queixa minha , jáCorneli Celfo, (1.)Author graviffimo, fe queixava do exceffi- vo ufo das fangrias dizendo: Na be para mimcoufa nova o abrir as veas , /angrar; mas o que para mim be novo; heque nao aja docnga, feja ellaqualfor,emque fe na tire /angue. E fuppofto que os doentes na fen- tem logo os graves damnos, que asmuitas fangrias lhesfazem , paffados poucos annos comeaö a fentir :as queixas referidas, &obfervadas de Galeno, (2.) o qual fallando dos grandes damnos que fazem as mui- tas fangrias, diz as feguintes palavras: Poftoque nui- tos doentes nao morrem logo por caufa das muitasfan- grias, andando os tempos vem a inorrer pelafraqueza em que fcara, s na morreria,fe os tiveffem fan- grado.menos. 2. Para efta queixa deGaleno, & que alguns do- entes tambem fazem, deu motivo huma hydropéfa univerfal , que Maria Nunes , moradora na rua:da Cruz , padeceo fete mefes : enfermou a dita mulher com dores.de cabeca, & grande febre ; chamoufelo- go Medico, o qual a mandou fangrar dezaf&is vezes; melhorou c9m effeito das quéixas referidas ; porem paffados poucos dias, tornou afentir febre,: & cha-- mando outra.vez o Medico,afez fangrar dez vezes, mas antes de paffarem vinte dias tinou a fentir febre; & confeguintemente tornou a fer fangrada: o que fe feguio de tanto fangue tirado , foi incharlhe rofto, ventre, os bracos, & todo o corpo tom tal. disformi- dade, que jafe na podia deitar de nenhumdos lados, porquelögolhe faltava a refpirasa, & fe fuffócavaj & por efta caufa nafo. eftavaemcamaavia fete'me fes, masna dormia avia dezóitonoites, & fotinha algumalivioeftando affentada, ouam pe; & depois por tatotempo padeceo húa doenga taö perigofa, fen que conféguiffe alivia:com os:remedios cntinua menteapplicados por dous Medicos de boanota, fez chamar outros dous mais antigos; & experiinentadosj os quaes por na perderem ocofttme detiiarfangue, ordenara que tomaffefanguexugas; nas porgue ap: plica-
ES oo Vea e , 228 Obfervações Medicas Doutrinaes. "ra remedio : naõ he ifto queixa minha , já Cornelio Celfo, (1.) Author graviflimo, fe queixava do exceffi- vo ufo das fanigrias dizendo: Nao be para mim coufa nova o abrir as veas , & fangrar; mas o que para mim he novo; he que nao aja doença , feja ella qual for, emque fénao tire fangue. E fuppofto que os doentes naó fen- tem logo os graves damnos, que asmuitas fangrias lhes fazem, paflados poucos annos começaõ a fentir as queixas referidas, & obfervadas de Galeno, (2.) o qual fallando dos grandes damnos que fazem as mui- tas fangrias, dizas feguintes palavras: Po/toque mui- tos doentes não morrem logo por caufa das muitas fan- grias, andando os tempos vem a morrer pela fraqueza em que ficarão , & nao morreriao , fe os tivelfem fan- grado menos. : E: ERA 2. Paraefta queixa deGaleno, & quealguns do- entes tambem fazem, deu motivo huma hydropefia univerfal , que Maria Nunes , moradora na rua'da Cruz , padeceo fete mefes: enfermou a dita mulher com dores de cabeça , & grande febre; chamoufeTo- go Medico, o qual a mandou fangrar dezaféis vezes; melhorou com effeito das queixas referidas; poreri paílados poucos dias , tornou a fentir febre, & cha“ “mando outra vez o Medico, a fez fangrar dez vezes; mas antes de paffarem vinte dias tofnon a fentir febre, & confeguintemente tornon a fer fangrada! o que fe feguio de tanto fangue tirado , foi incharlhe oroito, o ventre, os braços , & todo o corpo com tal. disformi- dade, que jáfe naõ podia deitar de nenhumdos lados, porque logo lhe faltava a refpitaçaô, & fe fuffocava; & por efta canfa na6fó eftavaemeamaavia fete mes fes , mas naô, dormia qvia dezóitonoites , & fotinha algumalivio eftando aflentada, ou.em pê; & depois 4 por táto tempo padeceo húa doença tao perigola, fem .que confeguifle alivio :com-ios remedios continuas menteapplicados por dous Medicos de bianota, fez chamar outros dous mais antigos; & experimentados) uaes por nao perderem o coftumie detirarfangue;. denárao que tomafie danguengas; mas porque api | | : 7 pucca os
228 Observaçones Medicas Doutrinaes. ra remedio: naon he isto queixa minha, jà Cornelio Celso, (1.) Author gravissimo, se queixava do excessi- vo uso das sangrias dizendo: Nao he para mim cousae nova o abrir as veas, & sangrar; mas o que para mim he novo, he que naoo aja doença, seja ella qual for, em que se naon tire sangue. E supposto que os doentes naon sen¬ tem logo os graves damnos, que as muitas sangrias lhes fazem, passados poucos annos começaon a sentir as queixas referidas, & observadas de Galeno, (2.) o qual fallando dos grandes damnos que fazem as mui- tas sangrias, diz as seguintes palavras: Postoque mui¬ tos doentes nao morrem logo por causa das muitas san¬ grias, andando os tempos vem a morrer pela fraqueza em que ficaraon, & naon morreriaon, se os tivessem fan¬ grado menos. 2. Para esta queixa de Galeno, & que alguns do¬ entes tambem fazem, deu motivo huma hydropesia universal, que Maria Nunes, moradora na rua da Cruz, padeceo sete meses: enfermou a dita mulher com dores de cabeça, & grande febre; chamouse lo¬ go Medico, o qual a mandou sangrar dezaseis vezes; melhorou com effeito das queixas referidas; porèm passados poucos dias, tornou a sentir febre, & cha¬ mando outra vez o Medico, a fez sangrar dez vezes, mas antes de passarem vinte dias tornou a sentir febre, & conseguintemente tornou a ser sangrada: o que se seguio de tanto sangue tirado , foi incharlhe o rosto, o ventre, os braços, & todo o corpo com tal disformi¬ dade, que já se naon podia deitar de nenhum dos lados, porque logo lhe faltava a respiraçaon, & se suffocava, & por esta causa naon so estava emcama avia sete me¬ ses, mas naon dormia avia dezoito noites, & so tinha algum alivio estando assentada, oùem pè; & depois quam por tanto tempo padeceo huma doença tao perigosa, sem que conseguisse alivio com os remedios continua¬ mente applicados por dous Medicos de boa nota, fez chamar outros dous mais antigos, & experimentados, os quaes por naon perderem o costume de tirar sangue, ordenaraon que tomasse sanguerugas; mus porquè ap¬ plica¬
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Observaçaõ XXXVIII. 229 plicadas ellas conheceo a enferma , que a hydropesia , e faltas da respiraçaõ se augmentavão com excesso , appellou para outros Medicos , os quaes como naõ tivessem remedio especifico nem de virtude superior , com que pudessem render a hum inimigo taõ poderoso , naõ quizeraõ pòr mão na miseravel doente ; antes foi taõ grande o medo que tiveraõ pelos máos finaes que viraõ , que na primeira visita a deixaraõ sem lhe fazer remedio algum , jurando , e affirmando que aquella enfermidade era taõ irremediavel , que se o mesmo Hippocrates , e Galeno estivessem presentes , a naõ poderiaõ curar ; e que ainda que se ajuntassem quantos Medicos ouve nos seculos passados , e quantos avia no presente , e quantos Deos avia de crear até o fim do mundo , a naõ poderiaõ tirar da garganta da morte , com a qual entendiaõ estava já lutando . 3. Neste aperto , e ultimo desengano recorreo a desconsolada enferma ao meu conselho , como para huma firme ancora da sua esperança , e entre agonias de moribunda , e afflicções de desemparada me disse as palavras seguintes : Ay de mim desgraçada mulher , que me vejo morrer sem permissaõ , nem vontade da Medicina ! Eu naõ reparei em gastos , nem me escusei de sofrer molestias, tomei os remedios, que me receitàraõ , obedeci a todos os preceitos , que me impuzeraõ , estou sem febre sem dor , e sem fastio , e comtudo vejome desemparada dos Medicos, deixada ao arbitrio da fortuna, & cõdemnada a morrer , se vòs ò Doutor Christaõ compadecido da minha angustia me naõ acudires com alguns remedios mais efficazes da Chymica , em cuja preparaçaõ ( como he notorio ) tendes tanta destreza , que atè os vossos emulos o publicaõ . Confesso ingenuamente que as lagrimas , e enternecidos rogos destas affligida mulher lastimàraõ , e movèraõ o meu coraçaõ de tal modo que me resolvi a condescender com o que me pedia , e comecei a curalla , dandolhe , em dous dias successivos , e tres interpolados , cinco onças da minha agua antidropica , cuja composiçaõ ensinei a fazer ao boticario Joaõ Gomes Silveira , e a tive muitos annos em segre
Obfervaçao XXXVINÍ. 220 plicadas ellas conheceo a enferma, que a hydropefia, & faltas da refpiraçao fe augmentavão com exceffo, appellou para outros Medicos, os quaes como nao ti- veffem remedio efpecifico „nem de virtude fuperior, com que pudeffem render a hum inimigo tao podero- fo, naõ quizeraõ por mão na miferavel doente; antes foi tao grande o medo quetiveraõ pelos máos finaes que virao, que na primeira vifita a deixarao fem lho fazer remedio algum , jurando , & affirmando que aquella enfermidade: era taõ irremediavel, que fe o mefmo Hippocrates, & Galeno eftiveffem prefentes, a nao poderiaõ curar ; & queainda que fe ajuntaffem quantos Medicos ouve nosfeculos paffados, & quan+ tos 'avia no prefente , & quantos Deos avia. de crear até o fim do mundo, a nao poderiaõ tirar da garganta da morte, com a qual entendiaõ eftava já lutando. . - 3. . Nefte aperto , & ultimo defengano recorreo a defconfolada enferma ao meu confelho, como para huma firme ancora da fua efperanca, & entre agonias de moribunda, & aflicções de defemparada me diffe as palavras feguintes : Ay de mim defgraçada mulher, que me vejo morrer fem permifa5 ; nem vontade da Medici- na! Eunao reparei em gaftos, nem me efoufei de fofrer molestias , tomei os remedios , que me receitarad , obedes ci atodos ospreceitos, que me impuzeraö , eftou fem fe- bre, fem dor , & fom fuftio, & comtudo vejome defempa- rada dos Medicos, deixada ao arbitrio da fortuna, & co- demnada a morrer , Je vas o Doutor Chriftao campadeci do da minha angustia me nao acudires com alguns remet dios mais eficazes da Chymica , em cuja preparação ( co- mp be notorio ) tendes tanta defreza , que ate os voffot emulos o publicao. Confeffo ingenuamente que as lat grimas, & enternecidos rogos defta affligida mulher laftimàraõ, & moveraõ o meu coraçaõ de tal modoy que me refolvia condefcender com o que me pedia, &d comecei a curalla, dandolhe, em dous dias fucceffi- vos , & tres interpolados , cinco onças da minha agua antidropica, cuja compofição enfinei a fazer. ao boti+ cario Joaõ Gomes Silveira , & a tive muitos annos em fegre- - ....
Obfervacao XXXVII. 228 plicadas ellas conheceoa enferma, que a hydropefia, & faltas da refpiracao fe augmentavaocom exceffoj appellou para outros Medicos , os quaes con na ti- veffem remedio efpecifico nem de virtude fuperior,; com que pudeffem render a hum inimigo ta podero- fo, na quizera pör máo na miferavel doente; antes foi ta grande o medo quetivera pelos máos finaes que vira, que na primeira vifta a deixaraó fem lh fazer remedio algum , jurando , & affrmando qu aquella cnfermidade: era ta irremediavel, que fe mefmo Hippocrates, & Galeno.eftiveffem prefentes a naö poderiacurar ; & que:ainda que fe ajuntaffem quantos Medicos ouve nosfeculos paffados , & quan- tos 'avia no prefente , & quantos Deos avia.de crear atéo fim do mundo, a na poderia tirar dagarganta da morte,com a qual entendiaeftava jálutando: ..3.: Nefteaperto,& ultimo defengano recorreo a defconfoladaenferma aomeu confelh, com para huma firmé ancora dafua efperanca, & entre agonias demoribunda,& afficcoes de defemparadame diffe as palavras feguintes : Ay de inim defgragada mutbcr, qus me ve1omorrer /empermif/a ; nem vontade da Mcdici- na! Eu nas repareiem gaftos; 1ieim mc.t/cufei de /ofrer. moleftias; tomei os remedios , ue ine receitara., obedex ci atodos öspreteitas; que ine impuzera, eftou fem fe- bre, em dor , s fom faftio, comtud vcjome defeinpa rada dos Medicos,dexada ao arbitrio dafortimia, rax demnadaa morrer;/evas o Doutor Chrifta tampadec:- do da minba anguftia mena acudires rom algins reme dios mais efficazes daChymica, cm cuja preparasa ( co mp be:notorio) tendes. tanta deftreza; qie ute os voffot emulos opublica. Confeffo ingenuamente que as lat grimas.,.& enternecidos rogos defta affligida anulhet laftimara , & movera 0 meu coraca de tal modo comecei a:curalla, dandolhe, em dous : dias fucteffr- vos, & tres interpolados, cincooncas daminha agua antidropica, cuja compofiaenfinei afazer. ao boti cario Joa Gomes Silveira , &a.tive muitos annos em 1egre-
Obfervação XXXVI. ado plicadas ellas conheceoa enferma, quea hydropefia; . & faltas da refpiraçaô fe nugmentavão com exceflo, appellou para outros Medicos , os quaes eomo naó tis - veífem remedio efpecifico .nem de virtude fuperior; com que pudeflem render a hum inimigo tap podero- fo , naó quizeraó pôr mão na miferavel doente; antes foi taó grande o medo quertiveraô pelos mãos finaes que virao, que na primeira vifita a deixàraó fem lhê azer remedio algum , jurando , & afirmando quê aquella enfermidade: era taô irremediavel, que R fo mefmo Hippocrates , & Galeno eftiveflem prefentes; a naó poderiaô curar ; & que:ainda que fe ajuntaflem - - : , quantos Medicos ouve nos feculos paffados , & quans tos 'avia no prefente , & quantos Deos avia. de crear até o fim do mundo, a naô poderiaô tirar da garganta da morte , com a qual entendiaô eftava jálutando. - 3. . Nefteaperto, & ultimo defêngano recorreo: a defconfolada enferma ao meu confelho, como para | — humafirmeancora da fua efperança, & entre agonia&é demoribunda,& afflicções de delemparada me difle as “palavras feguintes: Ay de inim defavaçada mulher, que * me vejo morrer fempermillas ; nem vontade da Medicio na! Eunao repareiem gaflos ; viem me-efeufei de fofrêr. rrolefltias ; tomei os remedios ; que inereceitaral , obedezx ci atodos osprecetios, quê ne impuzerao , eftou fem fe? bre, fem dor , & fem faftio, & comtudo vejome defêempaz o rada dos Medicos,detxada ao arbitrio dá fotéinia, & rx demnada a morrer; fevas à Doutór Chriftao rampadecê+ . do da minha anguflia menão acudires com alguns vemes — diosmau eficazes da Chymica , em cuja preparação ( cos 719 be notorio) tendes tanta deftreza; que ute os volfos emulos o publicas. Confello ingenuamente que as Im timas , & enternecidos rogos defta affligida mulher Laftimâra, & moveéra6 o méu coraçao de tal modos que me refolvia condefcender com o que mé pedia, 8 €omecei a curalla ; dandolhe ; em dous «diás fuiceefhd vos, & tres interpolados, cingo onçás daminha agua antidropica ; cujá compofição enfinei à fazer. ao bori+ “ gario Joao Gomes Silveira ; & ative muitos annos em : o Egre-
Observaçao AXAVIII. 219 plic adas ellas conheceo a enferma, que a hydropesia, & faltas da respiraçaon se augmentavamo com excesso, appellou para outros Medicos, os quaes como naon ti¬ vessem remedio especifico ,nem de virtude superior com que pudessem render a hum inimigo taon podero¬ so, naon quizeraon por mano na miseravel doente; antes foi tao grande o medo que tiveraon pelos máos sinaes que viraon, que na primeira visita a deixàraon sem lhe fazer remedio algum, jurando, & affirmando que aquella enfermidade era tao irremediavel, que se o mesmo Hippocrates, & Galeno estivessem presentes, a naon poderiaon curar; & que ainda que se ajuntassem quantos Medicos ouve nos seculos passados, & quan¬ tos avia no presente, & quantos Deos avia de crear até o fim do mundo, a naon poderiaon tirar da garganta da morte, com a qual entendiaon estava ja lutando. Neste aperto, & ultimo desengano recorreo 3. a desconsolada enferma ao meu conselho, comò para huma firme ancora da sua esperança, & entre agonias de moribunda, & afflicçones de desemparada me disse as palavras seguintes: Ay de mim desgraçuda mulher, que me vejo morrer sem permissao, nem vontade da Medici¬ na. Eu nao reparei em gastos, nem me escusei de sofrer molestias, tomei os remedios, que me receitaraquam, obedes ci a todos os preceitos, què me impuzerao, estou sem fe¬ bre, sem dor , & sem fustio, & comtudo vejomè de sempa¬ rada dos Medicos, dexcada ao arbitrio da fortuna, & con¬ demnada a morrer, se vos ò Doutor Christao compadeci¬ do da minha angustia me naon acudires com alguns reme¬ dios mais efficazes da Chymica, em cuja preparagaon (co¬ mo he notorio) tendes tanta destreza; que utè os vossol emulos o publicao. Confesso ingenuamente que as la¬ grimas, & enternecidos rogos desta affligida mulher lastimàraon, & movèraon o meu coraçaon de tal modo, que me resolvi a condescender com o que me pedia, & comecei a curalla, dandolhe, em dous dias successi¬ vos, & tres interpolados, cinco onças da minha agua antidropica, cuja composiçaon ensinei à fazer ao boti¬ cario Joaon Gomes Silveira, & à tive muitos annos em segre¬ *......
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230 Observações Medicas Doutrinaes. segredo , mas agora a quero fazer publica , para aproveitar a todos . Tomem de trociscos de Alandal subtilissimamente polvorizados duas oitavas , deitemse de infusaõ em cinco quartilhos de agua commua , e passadas quatro horas , se coe a dita agua por hum papel mata-borraõ , ou por hum panno de linho bem tapado , para que naõ passe algum pó dos trociscos com a dita agua , que fará grandes dores no ventre . Esta he a minha agua antidropica , com que tenho curado hydropesias desesperadas , modorras profundissimas , e somnos invenciveis : assim o affirmo , e tomo a Deos por testimunha desta verdade , e em abono della vejaõ na minha Polyanthea nova cap. 24. fol . 474 . do num. 20. até 28. as muitas curas , que com a tal agua tenho feito nas doenças referidas , e acabaráõ de conhecer que as modorras , e somnos invenciveis , que se naõ curarem com a tal agua , saõ incuraveis , porque de muitos annos a esta parte naõ achei ainda remedio, que acertasse com a casa onde moraõ estes hospedes taõ desconhecidos , e peregrinos , como saõ modorra , e hydropesia , e só a dita agua antidropica lhe sabe a morada . E desta agua lhe dei , como tenho dito , cinco onças em quatro dias alternados , com a qual evacuou grande copia de humores serosos , e lymphaticos , e teve notavel melhoria assim na inchaçaõ , como na insoportavel sede ; e porque ainda aviaõ vestigios da hydropesia , usei do seguinte remedio , que costuma obrar mui felizmente , com tanto que se applique por nove dias alternados , depois do corpo bem evacuado , e se prepara do modo seguinte . Tomai de semente de giesta brava meya oitava , de canela fina seis grãos , tudo se faça em pò subtil , e se deite de infusaõ em huma garrafa com quatro onças de bom vinho branco , e passadas doze horas , se coe , e se dé a beber ao hydropico , estando em jejum , e logo fará huma hora , ou duas de exercicio laborioso , até que sue , ou ao menos até que o corpo aqueça bem , e passado o tempo do suor , ou do exercicio , beba duas onças de oleo de amendoas doces tirado sem fogo , com huma
230 Observações Medicas Doutrinaes! fegredo, mas agora a quero fazer publica, para apro-" veitar a todos. Tomem de trocifcos de Alandal fub. tiliffimamente: polvorizados duas oitavas , deitemfe de infufao em cinco quartilhos de agua commua; &. paffadas quatro horas, fe coe a dita agua por hum pa- pel mata-borraõ, ou por hum panno de linho bem ta- pado, para que nao paffe algum pó dos trocifcos com a dita agua , que fará grandes dores no ventre. Efta he a minha agua antidropica, com que tenho curado hy- dropefias defefperadas , modorras profundiffimas , & fomnos invenciveis : affim o affirmo, & tomo a Deos por teftimunha defta verdade, & em abono della ve- jao na minha Polyanthea nova cap. 24. fol. 474. do num. 20. até 28. as muitas curas, que com a tal agua tenho feito nas doenças referidas, & acabaráõ de co- nhecer que as modorras , & fomnos invenciveis, que fe nao curarem com a tal agua, faõ incuraveis, por- que de muitos annos a efta parte naõ achei ainda re- medio, que acertafle com a cafa onde morao eftes hof- pedes tao defconhecidos , & peregrinos , como fao modorra, & hydropefia, & fo a dita agua antidropi- ca lhe fabe a morada. E defta agua lhe dei, comote- nho dito, cinco onças em quatro dias alternados, com a qual evacuou grande copia de humores ferofos, & lymphaticos, & teve notavel melhoria affim na incha- çaõ, como na infoportavel fede; & porque ainda aviaő veftigios da hydropefia, ufei do feguinte remedio, que. coftuma obrar mui felizmente, com tanto que fe ap- plique por nove dias alternados, depois do corpo bem evacuado, & fe preparado modo feguinte. Tomai de femente de giefta brava meya oitava, de canela fina feis grãos ; tudo fe faça em po fubtil;, & fe deite de in- fufao em huma garrafa com quatro onças de bom vi- nho branco, & paffadas doze horas, fe coe ; & fe de a beber ao hydropico, eftando em jejum, & logo fará huma hora, ou duas de exercicio laboriofo, até que fue, ou ao menos até que o corpo aqueça bem, & paf- fado o tempo do fuor , ou do exercicio , beba duas on- ças de oleo de amendoas doces tirado fem fogo , com huma , ----- :
23o Obfervacocs Medicas Doutrinaes. fegredo, mas agora a querofazer publica, para apro- yeitar a todos. Tomem de trocifcos. de Alandal fub- tiliffimamente: polvorizados duas oitavas ., deitemfe de infufao em cinco quartilhos de agua commua ; &. paffadas quatro h'oras, fe coe a dita agua por hum pa- pel mata-borraö , ou por hum panno de linho bem ta- pado , para que na paffe algum p6 dos trocifcos . com a dita agua , que fara grandes dores no ventre. Efta he @ minha agua antidropica , com que tenho curado hy- dropefias defefperadas:, modorras profundiffimas , & fomnos invenciveis : :affim o affirmo, & tomo a Deos por teftimunlia deftaverdade, & em abono della ve- ja na minha Polyanthea nova cap. 24.fol: 474. do num. 2o. até a8. as muitascuras, que.com a tal'agua tenhofeito nas doencas referidas , & acabarao de co- nhecer que as modorras,& fomnos invenciveis, que fe na curarcm com a tal agua, fa incuraveis, por- que de muitos annosa efta parte na achei ainda re- médio,queacertaffe com a cafa onde morao eftes hof- pedes ta defconhecidos , & peregrinos., como fa modorra, & hydropefia, & foa ditaaguaantidropi- ca lhe fabe a morada: E defta agua lhe dei, comote- nho dito, cinco ongas em quatro dias alternados, com a qual evacuou grande copia de humores ferofos, & lymphaticos, & teve notavel melhoria affm na incha- ca, comonainfoportavel fede; & porque ainda avia veftigios da hydropefia, ufei do fegainte remedio, que. coftuma Qbrar mui felizmente , com tanto qucfe ap- plique por nové dias alternados, depis do corpo bem evacuado , & fe preparado modo feguinte. Tomai de femente de giefta brava meya oitava, decanelafina feis graos, tudo fefaca em po fubtil, & fe deitede in- fufaö em huma garrafa com quatro oncas de bom vi nhobranco,& paffadas doze horas, fe coe ; & fe dé a beber ao hydropico, eftandoemjejum, & logofara huma hora, ou duas de exercicio laboriofo, até que fue, ou aomenos até que o torpo aqueca bem, & paf- fado o tempo do fuor , ou do exercicio , beba duas on- gas de oleo de amendoas. doces -tirado fem fogo , com huma.
, 230 Obfervações Medicas Doutrinaes: fegredo, mas agora a quero fazer publica , para apros 'veitar a todos. Tomem de trocifcos. de Alandal fub. . tiliimamente: polvorizados duas oitavas , deiremfe deinfufaó em cinco quargilhos de agua commua ; &. pafladas quatro horas , fe coe a dita agua por hum pa- pel mata:borraó, ou por hum pannode linho bem ta- pado , para que naó paíle algum pó dos trocifcos com 'adita agua , que fara grandes dores no ventre. Efta he a minha agua antidropica, com que tenho curado hy- dropefias defefperadas, modorras profundiffimas , & fomnos invenciveis : aflim o afirmo, & tomo a Deos por teftimunha defta verdade , & em abono della ve- jaô na minha Polyanthea nova cap. 24.fol: 474. do num. 20. até 28. as muitas curas, que coma talagua tenho feito nas doenças referidas, & acabarão de co- nhecer que as modorras , & fomnos invencíveis, que fe naô curarem com aral agua , faôó incuraveis, por. que de muitos annos a efta parte naó achei ainda re- medio,queacertafle com a cafa onde moraõ eftes hof= pedes taô defconhecidos , & peregrinos , como fa modorra, & hydropeéfia, & fó a dita agua antidropi=-- calhe fabe amorada. E defta agua lhe dei, comote- nho dito, cinco onças em quatro dias alternados, com a qual evacuou grande copia de humores ferofos, & Iymphaticos, & teve notavel melhoria afim na incha-. « çaõ, comonainfoportavel fede; & porqueainda aviao - veftigios da hydropefia, ufei do fegninte remedio, que. coftuma obrar mui felizmente, com tanto que fe ap-* plique por nove dias alternados, depois do corpo bem evacuado , & fe preparado modo Feguinte. "Tomgi de femente de giefta Brava meya oitava, decanela fina. feis grãos , tudo fe faça em po fubtil:, & fe deite de in- fufaó em huma garrafa com quatro onças de bom vi- nhobrahco , & pafladas doze horas , fe coe ; & fe déa beber ao hydropico, eftando emjejum , & logo fara huma hora, ou duas de exercicio laboriofo, até que fue, ou ao menos até que o corpo aqueça bem, & paf* fado o tempo do fuor ; ou do exercicio , beba duas on- ças de oleo de amendoas. doces tirado fem fogo, com Na huma
— 230 Observaçones Medicas Doutrinaes. segredo, mas agora a quero fazer publica, para apro¬ veitar a todos. Tomem de trociscos de Alandal sub- tilissimamente polvorizados duas oitavas, deitemse de infusaon em cinco quartilhos de agua commua, & passadas quatro horas, se coe a dita agua por hum pa¬ pel mata-borraon, ou por hum panno de linho bem ta¬ pado, para que naon passe algum pó dos trociscos com a dita agua, que fara grandes dores no ventre. Esta he a minha agua antidropica, com que tenho curado hy¬ dropesias desesperadas, modorras profundissimas, & somnos invenciveis: assim o affirmo, & tomo a Deos por testimunha desta verdade, & em abono della ve- jaon na minha Polyanthea nova cap. 24. fol. 474. do num. 20. até 28. as muitas curas, que com a tal agua tenho feito nas doenças referidas, & acabaráô de co¬ nhecer que as modorras, & somnos invenciveis, que le naon curarem com a tal agua, sao incuraveis, por¬ que de muitos annos a esta parte nao achei ainda re¬ medio, que acertasse com a casa onde moraon estes hos¬ pedes tao desconhecidos, & peregrinos, como saon modorra, & hydropesia , & so à dita agua antidropi- ca lhe sabe a morada. E desta agua lhe dei , como te- nho dito, cinco onças em quatro dias alternados, com a qual evacuou grande copia de humores serosos, & lymphaticos, & teve notavel melhoria assim na incha¬ çaon, como na insoportavel sede; & porque ainda aviaon vestigios da hydropesia, usei do seguinte remedio, que costuma obrar mui felizmente, com tanto que se ap¬ plique por nove dias alternados, depois do corpo bem evacuado , & se prepara do modo seguinte. Tomai de semente de giesta brava meya oitava, de canela fina seis gramos, tudo se faça em po subtil, & se deite de in¬ fusaon em huma garrafa com quatro onças de bom vi¬ nho branco, & passadas doze horas, se coe, & se dé a beber ao hydropico, estando em jejum, & logo fara huma hora, ou duas de exercicio laborioso, até que sue, ou ao menos até que o corpo aqueça bem, & pas- sado o tempo do suor, ou do exercicio, beba duas on- ças de oleo de amendoas doces tirado sem fogo, com huma
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Observaçaõ XXXVIII. 231 huma oitava de assucar cande , e passadas duas horas jante , e ainda que nos primeiros dias naõ sinta alivio , nem por isto deixe de continuar esta cura animosamente sendo por certo , que senaõ for decreto absoluto de Deos , contra o qual naõ valem os embargos dos homens , que ha de sarar , como observei nesta enferma , e em alguns outros ; porque no fim dos nove dias se desvaneceo a inchaçaõ , e se pode deitar sobre ambos os lados , sem ter molestia alguma : e para que as officinas naturaes enfraquecidas com a larga enfermidade naõ tornassem a gerar novo humor , e fizesse outra hydropesia , me empenhei em confortar as faculdades , abrir os póros , e excitar o calor natural , que estava quasi extincto : porque todas estas cousas saõ precisamente necessarias para vencer a hydropesia , e estorvar que se naõ gere outra . E para conseguir este intento , dei a minha hydropica , por tempo de quinze dias, seis grãos de ouro diaphoretico , misturados com vinte grãos de crocus martis adstringente feito por mão de grande artifice , misturando tudo com tres onças de çumo de chicoria bem depurado , & se for tempo em que não aja chicoria, serviraõ tres onças de agua ordinaria cozida com cascas de mirobalanos citrinos , ou duas onças de vinho da verdadeira losna , naõ deixando o uso quotidiano do exercicio , porque conforme diz Hippocrates , (3.) he muito necessario aos hydropicos , porque augmenta o calor , confome as cruezas , abre os póros , facilita a transpiraçaõ , e o suor , resolve os flatos , fortalece os nervos , promove a circulação do sangue , e faz mil proveitos essencialmente necessarios para a cura desta enfermidade . E se os doentes naõ acharem o outro diaphoretico nas boticas, não se admirem ; porque como este remedio he hum grande arcano dos Chymicos , naõ he concedido a todos o sabello fazer com perfeiçaõ ; mas eu sempre o tenho preparado para acudir aos casos de mayor aperto : he bem verdade que he remedio só para a gente rica , porque he taõ caro , como feito de ouro . Em
tecni Oblaradio MXXXVIIICO 23 t homagitaba deafficar candey Be paffadas duas horas jantey & aindaquenosprimeiros dias naolfinta alivio, nem pou igo deixerdercontinuar' efta cure animofax mente| sendo porceroep que fenab fdu.decreto abfolu -; toile Blodsy comra aqual nadivatem os embargos dos homens , que ha de farar, como obfervei nefta enfers maso emalgunsoutros ; porque no fim dosnove dias fe defvameced ainchatiao, & fe pode deitar fobre am- bos oslados, femtobmoleftia alguma : & para que as: oficinas: naturaes enfraquecidas com a larga enfermi+ dade nao bornaffenva gerar novb humor, & fizeffe on- tra hydropelia , me empenhei em conforramas facul dades, dabur bos poros, & excitar o calor natural, que eftaval quafr extincro; porque todas eftas. coufas fao precilamente neceffarias para vencer a hydropefia , & eftorvanque fe nao gere outra. Epara conseguir efta intento , deia minha hydropica, por tempo de quin+ ze dias, feis grãos delouro diaphoretico, mifturados com vintegrãos de crocus martis adftringente feito por mão de grande artifice , mifturando tudo com tres onças de çumo de: chicoria. bom depurado .; & fe fob tempoem que nao aja chicoria, fervirão tres onças de agua ordinaria cozida com cafcas de mirobalanos ci- trioos, on duas onças de vinho da verdadeira lofnay nao deixando o ufo: quotidiano do exercicios porqueé conforme diz Hippocrates, (3.) he muitoi neceffario aos hydropicos , porque augmenta o calor y confome as cruczasy abre os poros, facilita a transpiração, & o fuor , refolve os flatos, fortalece os nervos , promo- . ve a circulação do fangue, & faz mil proveitos effen- cialmente neceffarios para a cura defta enferinidade. E fe os doentes nao acharem o ouro diaphoretico nas boticas, nao fe admirem ; porque como efte remedio he hum grande arcano dos Chymicos , hao he conce- dido a todos o fabello fazer com perfeição; mas eu fempre o tenho preparado para acudir aos cafos de mayor aperto : he bem verdade que he remedio fo pa- ra a gente rica, porque he taõ caro, como feito de ou- 10. Em -
.cniObfarxaoMxxVHcO 23r hamaoitaba aaaffracandy&paffadas duas horas jante,&aindaqsglnossprímeifosdiis nalfihta alivia ntmpoi&deixtrdereontiuar efta cia animofast Bxntajsenda pöricertep qat fana5fdr:daareto abfolu: tailegelaa Contra aqual naavatem os embargos dos homens, que ha de farar, como obfervei neftaenferw maa& saatgu'nsmuthos , poagienofim dosnBve dias iodefvammced a:indatia, & fa pode deitarfobream- bbs oatadus, femtotmoleftiaalguma : & pata:que as: ofhcinas:naturaasenfraquécidas com a largaenfermi dadenaa&ornaffemyagerar novb:humor,& fizeffe ou tra hydropclia., meempenheiremconforranasfacul: dadcs , dabrirbs poras; &extitar o.calor riatwral, que eftava quaff extidcta, porqué todas eftas.coufas fa precilamente neceffarias para vencer a hydropefra , & eftoryarqae fena gere outra E para confaguir efta intento ,nciráminhahydropica, por tempa. de quina ao.dias, ftia graos dalouro .diaphoretico, mifturado9 com: vintegraos: de: crocus : rhartis:adftringente feita por maadegrande artifice ,mifturando tudocom tnas ancasdecuma de:chicoria. beh depurado; & fe fo empoem qúe naaja chicria, fervirátresoncas da ngua.ordinaria cozida'com cafcas:de mirobalanos cis tainos: , :on duas ön'cas devinho da verdadeira lofna, na deixando o ufo:quotidianado cxercicibs porqn& conforine diz Hippacrates, (3:) lie muito: neceffariá aos hydropicos,porque augmenta o calorconfomd as.cruazasy.abre os póros , farilita a tranfpiraca , &t o fuor,refolveos flatos , fortalece os nervos, proino- ve a circulacao do fangue, & faz mil proveitas effen- cialmente neceffarios para a cura defta enferinidade. E feos dotntés na acharem o our diaphorético nas boticas, nafe admirem, porque como afte remedio he hum grandearcan dos Chymicos, ha he conce- dido a todos o fabell@.fazer tm ptrfeica, mas eu fempre o tenho preparado:para acudir aos cafos de mayor aperto : he bem verdade que he remedio fo pa- ra a gente rica, porque he ta caro, como feito de ou- 10 Em
2ocniOblenmis MOXXVILTZO 238: homapitabá deraflacar candê8ofafiadasiduãs horas jante: de aintkuamelnosgirimeitosdiis naolbhraalivíios nemgoniflódeixe dbeontinar efta cio animofas: inente)sendo poricermo, que fanab'fdu;deareto ablolus: tonila Bleua; cbnora aqual na&valem os embargos dos homens , que ha de farar, como obferveineftaenfers ' na 28: emialguásmdthos ; porque no'fim dosúbve dias to defvameçes a:inchatao, «So de pode deivarfolive am, bos ostados', femtotmoletia alguna : & para que as: officinas;naturaes enfraquécidas corna largia enferma» dade nai bornaffenva gerar novb.hhmor, & fizêfle ou- tra hydropelia, me empenheisem«conforrar-as-facul= . dades ,dlabriros púras; &*exitivar o.calor iacoral, que eftava! quafr extidébo; porquê todas eftas .confas faá precilimente neceffarias para vencer a hydropelia , & eftorvarque fe nao gere outra. E para donfbguir efta intento ;ntieicá minha hydropica, por tempa de quina so dias, feis grãos delonro :diaphoretico, milturàdos çom viritegrãos' de:ctocus :tharzis: adftringente feita por mãa de grande aréifice , mifturando tmdo com tres ençásdeçumo de: chicoria. bdmh depurado:; & fe fob -Xempoem que naõaja chicoria; fervitáõtres onças dá agua ordinaria: cozida com cáfcas.-de mirobalanhos cis trinos;, bu duas ónças de vinho da verdadeirá lofnaz - naódeixando o ufo-quotidiana do exeréicios -.porquas conforme diz Hippacrates, (3.) he muicói neceflaçiá aos hydropicos, porque augmenta o calor:;;confomal as crudzas,, abre os póros , facilita a tranípiraçao ; & o fuor , refolve os flatos ; fortalece os nervos, promo- : veacirculaçaó do fangue, &faz mil proveitas eilen- cialmente neceflarios para a cura defta enferinidade. E feos doentes naó acharem o ouro diaphoretico Has boticas, naô fe admitem; potque como efte remedio he hum grandearcatio dos Chymieos , haó he conce- dido a todos o fabelle fazet com perfeiçãô; inaseu fempte o tenho preparado pára acúdir aos cafos de mavyoraperto: he bem vêrdade que herémedio 15 pa- ta a gente rica, porque he taô caro, comio feito de ou-
Obsermagao AVIIO 231 huma oitaba de assurar cande,, & passadas duas horas unte, & aindaquelnos primeifos dias naonlsinta alivio, nem non isso deixe dereontinuar esta cira animosa¬ mentelaendo por certoy que sonab fon. decreto absolu¬ toile Dleoa; conura uqual na&valem os embargos dos homens, que ha de sarar, como observei nesta enfer¬ ma a& em alguns mutros; porque no sim doxnbve dias se desvaneceo a inchataon, & de pode deitar sobre am¬ bos osladus, semtor molestia alguma: & para que as officinas naturaes enfraquecidas com a larga enfermi¬ dade naum bornassem a gerar novo humor, & fizesse ou¬ tra hydropesia, me empenhei em conforran as facul¬ dades, dlabuir os poros, & excitar o calor natural, que estava quasi extincta; porque todas estas cousas sao precisamente necessarias para vencer a hydropesia, & estorvanique se nao gerè outra. E para conseguir este intento, nei à minha hydropica, por tempo de quin¬ ze dias, seis granos dulouro diaphoretico, misturados com vinte gramos de crocus martis adstringente feito por mano de grande artifice, misturando tudo com tres onças de çumo de chicoria bem depurado; & se for tempoem que naon aja chicoria, serviraon tres onças de agua ordinaria cozida com cascas de murobalanos ci¬ trinos, on duas onças de vinho da verdadeira losna, naon deixando o uso quotidiano do exercicio; porque conforme diz Hippocrates, (3.) he muito necessario aos hydropicos, porque augmenta o calor, consome as cruczas, abre os poros, facilita a transpiraçaon, & o suor, resolve os flatos, fortalece os nervos, promo¬ ve a circulaçaon do sangue, & faz mil proveitos essen¬ cialmente necessarios para a cura desta enfermidade. E se os doentes naon acharem o ouro diaphoretico nas boticas, naon se admirem; porque como este remedio he hum grande arcanò dos Chymicos, haon he conce- dido a todos o sabello fazer com perfeiçaon; mas eu sempre o tenho preparado para acudir aos casos de mayor aperto: he bem verdade que he remedio so pa¬ ra a gente rica, porque he taon caro, como feito de ou¬ xo. Em
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232 Observações Medicas Doutrinaes. 4. Em todo o discurso da doença usei de agua cozida com soldanella , chamada vulgarmente brassica marinha ; porque esta raiz tem huma taõ grande virtude para curar a hydropesia que muitos lhe chamaõ erva dos hydropicos , e se prepara na fórma seguinte. 5. Tomem de raizes de soldanella huma onça , ponhaõse a cozer com fogo muito brando ; em panela de barro , com duas canadas de agua commua ; e desta mandei que bebesse a hydropica com tanta moderaçaõ , que naõ passasse de meyo quartilho ao jantar , e outro meyo à noite ; advertindolhe , que por mais que a sede a apertasse ; não excedesse esta quantidade , (4.) porque todos os remedios seriaõ baldados , se naõ se abstivesse no beber , e que estivesse certa que todo o hydropico , que se resolvesse a morrer às mãos da sede , escaparia das mãos da morte , como consta por muitas experiencias de gravissimos Authores , que sendo perguntados por semelhantes doentes , que aviaõ de fazer para ter saude , respondeo por todos Abel Rosio : (5.) Deliberaivos a morrer de sede , e logo sarareis de hydropico . Com o ouro diaphoretico curei de hydropesia a Antonio Correa Barem ; a Antonio Borralho , morador na Confeitaria ; a senhora Marqueza de Alemquer , Camareira mòr da Senhora Rainha de Portugal Donna Maria Sophia ; e esta mulher , de quem fallo nesta Observaçaõ ; e a outras pessoas , que naõ nomeyo , por naõ enfadar aos Leitores . OBSER-
232 Observações Medias Doutrinaes. . 4. ¿ Em todo o diferro da doença ufe idenguaco} zida com foldanella ,chamadaavalynpuente brafro marinha; porque:efta miz temdtumastogramde.viva tude para curar a hydropefia, que munos Brothamaa erva dos hydropicos, & fe prepara maformafdguin te. :: Bilion .S. Tomem de raizes de foldanella huma onças ponhaofe a cozer com fogo muito brandop am panes lade barro, tom duas canadas de agua combina; &d defta mandei que bebeffe a hydropica com tanta mos deraçao, que nao paffaffe de meyo quartilho ao jari- tar, & outro meyorà noite ; advertindolhe , que por mais que a fede'a apertaffe; não excedeffelofta quan' tidade, (4.) porque todos os remedios feriao baldas dos , fe nao fe abftiveffe no beber ; & que tiveffe cer ta que todo o hydropico, que ferefolvefleamorrer às mãos da fede, efcaparia das mãos da morte , comoi confta por muitas experiencias delgraviffimos Anthos res , que fendo perguntados por femelhantes doentes, que aviao de fazer para ter faude, refpondeo porto1 dos Abel Rofio: (5.) Deliberarvos a morrer de fide, de logo farareis de hydropico .. Com orouro diaphoretico curei de hydropefia a Antonio Correa Barem; a Ans tonio Borralho, morador na Confeitaria; a Senhora Marqueza de Alemquer, Camareira mor da Senhora! Rainha de Portugal Donna Maria Sophia; & efta mus lher , de quem fallo nefta Obfervacao ; & a outras pef; foas , que nao nomeyo, por nao enfadar aos Leitores .. OBSER+
a32. Obfervaco&sMedirsEottrinaes. : 4: : Emtodo:öxlifarfo dadoengar:ufideaguator zida com fdldanella ,aliamadaoulyapmknirBraffrc marinla, porqueeftaraiz temdhmastao@ramipvira tude para turar hydrapefia qut muiroxlinthamaá crva dos:hydropicoss,v&fe preparainafóratæfdgúin l pr te. :: c: :) (11:: .. 5: :Tomem derraizes.de foltlaella huma:nca pönhafe acozer ton fögo muitabrando,ams panet ladebarro'; tom duas'canadas:deagua cobnlua, & defta mandei que bebeffe.a hydropica con:tanta mo- deraga, que na:paffaffe de meyoquartöllroaojari tar., &:outro meyora noite; advertindolhe,gut por mais.que:a fede'a apartaffe, naoexcedeffekftaquans tidade , (4.) porqu:todos. os remtdios feria: baidas dos, fe na feabftiveffe no beber, & que. ftiveffe ccr. ta que todao hydropico, que fercfolveffeamorrer as maos. da fede, efcaparia das maos da:morte , coma confta por muitas experienciasalegraviffrmos Aatho res , que fendo perguntados por fermelhantesdöentes, que avia de fazer para ter faude, refpondéo por t1 dos Abel.Rofio: (s-) Detiberaitio'samorreridefde, & logofararein de bydropica.. Com örairo diaphotetices curei dehydropefia a Antonio Cörrca Bareih, a An-: tonio Borralho, morador na Confeitaria, aSenhora Marqueza de Alemquer , Camareira mor da Senhora: Rainha de Portugal Donna Maria Sophia; & efta mu- Ther , de quem fallo nefta Obfervaca; & aoustas pef: foas , que naö nomeyo, por nao enfadar aqs.Leitores: . . OBSER+
232 Obfetvaçõás Mediaas Doúbrinaes. - 4. dEnbtodo otifâio da doenfiruferdenguanos zida com faldanelld 2ehiamadazonigapwknieBrafirea - marinhas porque eltaraiz temdihimasta6 Bramede vir tude para curar by dropkfiay que muirocHrschamas erva dos:hydropicas, & (e prepara madorauofdguin+ “geo pleno co ones comellibionompçensood “$. ;AFomem de-raizes de foldanella huma onça; inhaóle a cozér com fógo muirorbrando:; em panoi Erdebarro; tom duas canadas:de aguá cosbniva ; 8d defta mandei que bebefle.a hydrópica com: tanta mos deraçaõôy que naô pafafle de meyo-quartalivo ao jaria tár, & outro meyorà noite ; advertindolhe , que por mais que a: fede a apervaftes não exçedeMlelelta quanb tidade ; (4. ) porque-todos os remédios feriaõ: baldas dos , fe naô fe-abitivefle no beber ; & quelitivefle cera ta que todo o liydropico, que ferefolvelloamorrerãs mãos da fede, efcaparia das mãos da:motte ; coma confta por muitas experiênciasalepravifimos Anthos res , que fendo perguntados por femblhantestdoentesy - ue aviao de fazer para ter faude ; rEfpondêo portos dos Abel Rofio: (5) Deliberaivos avharrer ide, Fab, OP logo farareirde bydropico.. Com gxainro diaphoreticoa curei de hydropela 4 Antonio Correa Bareihsa An tónio Borralho , morador na Confeitaria; adSenhora = Marquezade Alemquer, Câmareira môr da Senhora: ; Rainha de Portugal Donna Maria Sophia; & eltanmus - : lher , de quem fallo nefta Obfervaçao ; & a onetas pefa:. foas , que naô nomeyo, por nao enfadar aos Leitores, . D acc |
232 Observaco ds Mediuns Doutrinaes. 4. Em todo o discurso da doenqa useide ngua con zida com soldanella, e chamadaevulyapinie drassicu marinlia; porque esta riz temdsumas taon gramle vira tude para curar a hydropesia, que munocliithamaqum erva dos hydropicos, & se prepara madormsdguin¬ te. Tomem de raizes de soldanella huma onça, ponhaonse a cozer com sogo muiterbrando, um pane¬ la de barro, com duas canadas de agud comniua; & desta mandei que bebesse a hydropica com tanta mo¬ deraçaon, que naon passasse de meyo quartillio ao jari¬ tar, & outro meyo à noite; advertindolhe, que por mais que a sede a apertasse, namo excedesselesta quan¬ tidade, (4.) porque todos os remedios seriao baldas dos, se naon se abstivesse no beber; & que stivesse cer¬ ta que todo o hydropico, que se resulvesse amorrer às mamos da sede, escaparia das mamos da morte, comu consta por muitas experiencias dle gravissimos Authos res, que sendo perguntados por semelhantes doentes, que aviaon de fazer para ter saude, respondéo por to¬ dos Abel Rosio: (5.) Deliberaivos a morver de sede, & logo sarareis de hydropico. Com o ouro diaphotetico curei de hydropesia a Antonio Correa Barem; a An¬ toniò Borralho, morador na Confeitaria; a Senhora Marqueza de Alemquer, Camareira mor da Senhora Rainha de Portugal Donna Maria Sophia; & esta mu¬ lher, de quem fallo nesta Observaçao; & a outras pes¬ soas, que naon nomeyo, por naon enfadar aos Lcitores. OBSER
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Observaçaõ XXXIX. 233 OBSERVAÇAM XXXIX . De hum garrotilho taõ forte , que tendo ʃuffocado a ʃeis irmãos , aparelhava a meʃma morte a dous , que depois naʃcèraõ , & que ʃem duvida teriaõ o meʃmo perigo , ʃe eu os naõ preʃervàra , mandandolhes abrir fontes dous meʃes depois de naʃcidos . 1 . NAõ ʃaõ neceʃʃarios textos , ou perʃuaʃões efficazes para conhecermos a fragilidade da natureza humana ; pois a experiencia nos moʃtra cada dia , que todos os homens , de qualquer idade , & condiçaõ que ʃejaõ , eʃtaõ ʃujeitos à tyrannia da morte . Naõ ha enfermidade , por pequena que ʃeja , que naõ ʃe atreva a commetter com igual ouʃadia a moços , & a velhos , a robuʃtos , & a fracos , a nobres , & a humildes , ʃendo taõ inexoravel a condiçaõ da Parca , que nem tem reʃpeito aos annos , nem a riquezas , nem à purpura Real , ou ao diadema ʃoberano . Vemos a huns ʃuffocados antes de naʃcidos , vemos a outros , a quem o primeiro dia de viver foi o ultimo para acabar : vemos a outros , a quem a primavera da vida ʃe trocou em outono da morte ; naõ avendo idade , que ʃe iʃente de lhe pagar tributo , igualando na sorte , aos que ʃaõ taõ deʃiguaes na natureza . Provera a Deos naõ ouvera tantos exemplos deʃta verdade ; & em confirmaçaõ della referirei hum caso , que poderá ʃer naõ foʃʃe atè hoje viʃto , nem eʃcrito . 2 . Neʃta Cidade conheço a huns caʃados , que no eʃpaço de quinze annos tiveraõ ʃeis filhos , todos ʃãos , todos robuʃtos , & bem proporcionados todos na diʃpoʃiçaõ , & formatura do corpo . O primeiro deʃtes ainda naõ tinha hum anno , quando ʃe ʃuffocou com hum garrotilho . O ʃegundo eʃcaʃʃamente fazia anno & meyo , quando morreo affogado do meʃmo garrotilho . O terceiro compria vinte meʃes , quando faleceo
Observação XXXIX. 233 OBSERVAÇAM XXXIX. De bum garrotilho tao forte , que tendo fuffocado a feis irmãos, aparelhava a mefma morte a dous, que de- pois nafierao, o que fem duvida teriao o mefmoperigo, fe eu os nao prefervara, mandandolhes abrir fontes dous mefes depois de nafcidos. I. N Ao fao neceffarios textos , ou perfuafões efficazes para conhecermos a fragilida- de da natureza humana; pois a experiencia nos mof- tra cada dia, que todos os homens, de qualquer ida- de, & condição que fejao , eftaõ fujeitos à tyrannia da morte. Nao ha enfermidade, por pequena que feja, que nao fe atreva a commetter com igual oufadia a moços, & a velhos, a robuftos, & a fracos, a nobres; & a humildes , fendo tao inexoravel a condição da Parca, que nem tem refpeito aos annos , nem a rique- zas, nem à purpura Real, ou ao diadema foberano. Vemos a huns fuffocados antes de nafcidos, vemos a outros , a quem o primeiro dia de viver foi o ultimo para acabar : vemos a outros, a quem a primavera da vida fe trocou em outono da morte; nao avendo idade, que fe ifente de lhe pagar tributo , igualando na forte, aos que faõ taõ defiguaes na natureza. Proveraa Deos naõ ouvera tantos exemplos defta verdade; & em con- firmaçao della referirei hum cafo, que poderá fer nad foffe ate hoje vifto, nem efcrito. 2. Nefta Cidade conheço a huns cafados, que no efpaço de quinze annos tiverao feis filhos, todos fãos, todos robuftos, & bem proporcionados todos ha difpoliçao, & formatura do corpo. O primeiro deftes ainda nao tinha hum anno, quando fe fuffocou com hum garrotilho. O fegundo efcaffamente fazia anno & meyo ; quando morreo affogado do melmo garro* tilho. O terceiro compria vinte mefes , quando faler ! 1 i ' .
Obfcrvacao XXXIX: : : n33 OBSER.V ACAM XXXIX. Debum garrotithotaforte, que tendoJufocado afeis irmaos, aparelbava a mefma morte a dous, que de- pois nafcera, & que fém duvida teriao mefmoperigo,fecu osna prefervara, mandandolhes abrir fontes dous mefes depois de nafcidos. A fao neceffarios textos , u perfuafes efficazes para conhecermos a fragilida- de da natureza humana; pois aexperiencia'nos mof tra cada dia, que todos os homens, de qualquer ida de, & Condica quefeja, efta fujeitos a tyrannia da morte. Na ha enfermidade, por pequena que feja que na fe atreva a commetter com igual oufadia a mosos, & a velhos, a robuftos, & a fracos, a nobres, & a humildes , fendo tao inexoravel a condica dæ Parca , que nem tem refpeito aos arinos', nem a rique- zas, nem a purpura Real, ou ao diadeima foberano. Vemos a huns fuffocados antes de nafcidos , vemos"a outros, aquemo primeiro dia de viver foi oultimo paraacabar : vemos aoutros, a quem a primavera da vida fe trocou em outono da morte;na avendo idade, que fe ifente de lhe pagar tributo , igualando'na forte aos quefao taa defiguaes na natureza.Proveraa Deos naö ouvera tantos exemplos defta verdade; & em con- frmaca della referirei hum cafo, áue poderá fer na foffe ate hoje vifto, nem efcrito. *.. 2. Nefta Cidade conheco a huns cafados, qu@ noefpaco de quinze annos tivera feisfthos:, todos faos , todos robuftos, & bem proporcionados todos ha difpofica, & formatura do corpo. primeiro deftes ainda na tinha hum ann, quando fe fuffocou com hum garrotilho. O fegundo efcaffamente fazia ann & mey ; quando morreo affogado do mefmo garro: tilho. Oterceirocompria vinte mefes ,: quando. faler ceo
Obfervação XXXIX. = ag OBSERVAÇAM XXXIX. De bum garvorilho tao forte, que tendo faffocado a fem irmãos, apavelhava a mefina movie a dous, que dê- * Dou nafetrao, & que fêmduvida teriãvo melmoperigo, fe eu osnao prefervara, mandandolhes abrir fomos dous mefes deposs dê nafeidos. E N Aôfaô neceflarios textos , ou perfuáfões efficazes para conhecermos a fragilida- de da natureza humana; pois a experiencia nos mofz«: tra cada diá, que todos os homens , de qualquer ida“ de, & condiçaô quefejaõ , eftaô fujeitos à tyrannia da morte. Naô ha enfermidade , por pequena que feja; que naô fe atreva a commegter com igual oufadia 4 moços, & a velhos, a tobufYos ; & a fracos, a nobres; & a humildes , fendo taô inexoravel a condiçaó da Parca, que nem tem reípeito aos annos, nemarique- zas , nem à purpura Real, ou ao diadema foberano: Vemos à huns fnffocados antes de nafeidos , vemos a Outros, aquemo primeiro dia de viver foi oultimo para acabar : ventos a outros, a quem a primavera da vida fe trocou em outono da morte;naô averido idade; que fe ifente de lhe pagar tributo ; igualando na forte; aos que faõ taô defiguaes na natureza. Proveraa Deos naó ouvera tantos exemplos défta verdade; & em cons firmaçaõ della referirei hum cafo, que poderá fer naô fofle atê hoje vifto, nem eférito. + Tc cosa 2. Nelta Cidade conheço à huns cafados, que no elpaço de quinze annos tiveraô feis filhos, todos fãos , todos robuftos, & bem proporcionados todos hà difpofiçaõ, & formatura do córpo. O primeiro deftes ' tilho, Oterceiro compria vinte mefes ; quando falê- hum garrotilho. O fegundo efcaflamenite fazia anno & meyo ; quando morreo affogado do melmo garro? çêÔ ' — ainda naótinha hum anno, quando fe fuffocou com
Observaçao XXXIX. 233 a aserariarse asaele arßeasereaegee OBSERVAQAM XXXIX. De hum garrotilho tao forte, que tendo suffocado a seis irmamos, aparelhava a mesma morte a dous, que de¬ pois nasceraon, & que sem duvida teriaoo mesmo perigo, se eu os nao preservara, mandandolhes abrir fontes dous meses depous de nascidos. Aon saon necessarios textos, ou persuasones efficazes para conhecermos a fragilida¬ de da natureza humana; pois a experiencia nos mos¬ tra cada dia, que todos os homens, de qualquer ida- de, & condiçaon que sejaon, estaon sujeitos à tyrannia da morte. Naon ha enfermidade, por pequena que seja, que nao se atreva a commetter com igual ousadia à moços, & a velhos, a robustos, & a fracos, a nobres, & a humildes, sendo tao inexoravel a condiçaon da Parca, que nem tem respeito aos annos, nem a rique¬ zas, nem à purpura Real, ou ao diadema soberano. Vemos a huns suffocados antes de nascidos, vemos a outros, a quem o primeiro dia de viver foi o ultimo para acabar: vemos a outros, a quem a primavera da vida se trocou em outono da morte; naon avendo idade, que se isente de lhe pagar tributo, igualando na sorte, aos que saon taon desiguaes na natureza. Provera a Deos naon ouvera tantos exemplos desta verdade; & em con¬ firmaçaon della referirei hum caso, que podera ser naon fosse atè hoje visto, nem escrito. 2. Nesta Cidade conheço a huns casados, que no espaço de quinze annos tiveraon seis filhos, todos samos, todos robustos, & bem proporcionados todos ha disposiçaon, & formatura do corpo. O primeiro destes ainda naon tinha hum anno, quando se suffocou com hum garrotilho. O segundo escassamente fazia anno & meyo, quando morreo affogado do mesmo garro¬ tilho. O terceiro compria vinte meses, quando falè¬ ceo
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234 Observações Medicas Doutrinaes. ceo da propria enfermidade . O quarto antes de chegar a dous annos ʃe ʃuffocou com outro garrotilho mortal . O quinto , & ʃexto perdéraõ a vida pela meʃma cauʃa . 3 . Vendo os pays taõ laʃtimosos acontecimentos ,como ʃe ʃoʃʃem feridos de algum rayo , attonitos , penʃativos , & quaʃi doudos inconʃolavelmente choravaõ a falta de taõ amadas prendas . Queixavaõʃe muito da natureza , porque concedia aos veados , aos elefantes , & às gralhas ( 1 . ) taõ larga vida , que chegaõ a duzentos annos , importando taõ pouco ao mundo a duraçaõ dos taes viventes ; ʃendo taõ avara , & madraʃta para a duraçaõ dos homens , cujas vidas coʃtumaõ ʃer taõ neceʃʃarias , & uteis à Republica . A eʃta dor , que , ʃobre ʃer grande , era a mais vizinha , & por iʃʃo mais ʃenʃivel , & penetrante , me pareceo preciʃo acudir , & conʃolar aquelles deʃanimados corações ; porèm como a ferida eʃtava ainda taõ freʃca , temi ʃe aggravaʃʃe mais , & que foʃʃe incentivo de nova dor , o que eu queria applicar por lenitivo della ; reʃolvime comtudo a naõ ʃeguir neʃta parte o conʃselho de Seneca , ( 2 . ) mas a fallar aos pays na fórma ʃeguinte . Cobrai , cobrai animo , ò affligidos , & deʃconʃolados ʃenhores , naõ deʃconfieis de que os futuros filhos , que Deos vos der , & que com muito fundamento podeis eʃperar , troquem todas eʃtas penas em exceʃʃivos goʃtos , principalmente ʃendo vós ambos moços , & fecundos ambos . Porèm a dor era taõ exceʃʃiva , & tinha penetrado taõ altamente o animo de ambos , que taõ longe eʃtiveraõ de ʃe aliviar com as minhas conʃolações , que antes ʃe irritàraõ , & enfurecéraõ com mais agudo ʃentimento . 4 . Para aver pois de moderarlhes os ʃuʃpiros , lhes diʃʃe que ʃe puzeʃʃem fim a tanto pranto , & enxugaʃʃem as lagrimas , lhes enʃinaria dous remedios , com que poderia preʃervarlhes de mal taõ grande aos mais filhos , que Deos lhes deʃʃe . Ouvida taõ alegre nova ; foi incrivel o alvoroço , que ambos tiveraõ , & pegandome na maõ direita em ʃinal de goʃto , & aceitaçaõ da
1. 234 Obfervações Medicas Doutrinaes. ceo da propria enfermidade. O quarto antes de chez gar a dous annos fe fuffocou com outro garrotilho mortal .. O quinto, & fexto perderao a vida pela mef- ma caufa. 3. Vendo os pays tao laftimofosacontecimentos, como fe foffem feridos de algum rayo, attonitos, pen- fativos , & quafi doudos inconfolavelmente choravao a falta de tao amadas prendas. Queixavaofe muito da natureza , porque concedia aos veados , aos elefantes, & às gralhas (1.) tañ larga vida, que chegaõ a duzen- tos annos , importando taõ pouco ao mundo a dura- çaõ dos taes viventes; fendo tao avara, & madrafta. para a duração dos homens , cujas vidas coftumaõ fer tao neceffarias, & uteis à Republica. A efta dor , que, fobre fer grande, era a mais vizinha, & por iffo mais fenfivel, & penetrante, me pareceo precifo acudir, & confolar aquelles defanimados corações ; porem co- mo a ferida eftava ainda tao frefca, temi fe aggravaffe mais, & que foffe incentivo de nova dor, o que eu queria applicar por lenitivo della; refolvime comtu- do a nao feguir nefta parte o confelho de Seneca, (2.) mas a fallar aos pays naforma feguinte. Cobrai , co- brai animo, ò afligidos, & defconfolados fenhores; nao defconfieis de que os futuros filhos, que Deos vos der, & que com muito fundamento podeis elperar, troquem todas eftas penas emexceffivos goftos , prin- cipalmente fendo vós ambos moços, & fecundos am- bos. Porem a dor era tao exceffiva, & tinha penetra- do tạo altamente o animo de ambos , que tao longeef- tiverao de fe aliviar com as minhas confolações., que antes fe irritarao, & enfurecerao com mais agudo fen" timento, :. 4. Para aver pois de moderarlhes os fufpiros, lhes diffe que fe puzeffem fim a tanto pranto, & enxugaf- fem as lagrimas , lhes enfinaria dous remedios , com que poderia prefervarlhes de mal tao grande aos mais filhos, que Deos lhes deffe. Ouvida tao alegre nova; foi incrivel o alvoroço, que ambos tiverao, & pegan- dome na mao direita em final de gofto, & accitaçao da · 1 1 : 1 ;
34 Obfervacoes Me.dicas Doutrinaes. ceo da propria enfermidade. O quartoantes de che- gar a dous annos fe fuffocou com outro garrotilho mortal.:Oquinto, &fexto perdera a vida pela mef- ma caufa. como fe foffem feridos de algum rayo, attonitos, pen- fativos, & quafi doudos inconfolavelmente chorava afalta de tao amadas prendas. Queixavaöfe muito da natureza , porque concedia aos veados , aos elefantes, & as gralhas(1.) ta larga.vida , que. chega a duzen- tos annos, importando taö pouco ao mundo a dura- sa dos taes viventes ; fendo ta avara, &madrafta. para a duraca dos homens , cujas. vidas coftjuma fer tao neceffarias , & uteis a Republica. A.efta dor ,: que, fobrefer grande, era a mais vizinha, & por iffomais fenfivel, & penetrante., me pareceo precifo acydir, & confolar aquelles defanimados coracoes.; porem cor mo a ferida eftava ainda:ta frefca, temi fe aggravaffe mais, & que foffe incentivo de nova dor, .que eu queria applicar por lenitivo della ; refolvime :comtu- do a nafeguir nefta parte : o confelhode Seneca, (.2: mas a fallar aos pays nafórma feguinte. Cobrai ,. co brai animo, afligidos , & defconfolados fenhores; nao defconfeis de que os futuros flhes, que Deos vos der, & que com muito fundamento podeis elperar, troquem todas eftas penas em'exceffivos goftos , prin cipalmente fendo vós ambos mocos , & fecundps:am bos. Porem ador era tao exceffiya, & tinhapenetra- do ta altamente o animo de ambos , que ta longeef- tivera defe aliviar com as minhas tonfotacoes. que antes fe irritarao, & enfurecérao com mais agudofen: timento, ... 4..Paraaver pois de moderarlhes os fufpiros,lhes diffe que fe puzeffem fm a tantopranto, & enxugaf. fem as lagrimas, 1hes enfinaria dous. renedios , cotn quepoderia prefervarlhes demal tao grande aosnais flhos, que Deos.lhes: deffe. Ouvida.tas alegrenova; foi incrivel o alvoroco., que:ambos tivera , & pegan- . dome nama.direita:em final de gofto, &accitagag da
ANN: t34 Obfervações Medicas Dbutrinaes” | eco da propria enfermidade. O quartoantes déehes || .gar a dous annos fe fuffocou com outro garrotilho ; mortal..O quinto , &fexto perdéraõ a vida pela mef- ma cava. ' “: 3. Vendoospavstaôlaftimefosacontecimentos, como fe foílem feridos de algum rayo, atronitos, pen- fativos , & quafi doudos inconfolavelmente choravas 'a falta de tao amadas prendas. Queixavaófe muito da natureza , porque concedia aos veados , aos elefantes, & às gralhas (1.) taó larga vida , que chegaó a duzen- tos annos , importando taó pouco ao mundo adura- çao dos taes viventes ; fendo taô avara, & madrafta, para a duraçaô dos homens , cujas vidas coftumaõ fer taô neceflarias , & uteis à Republica. A efta dor, que, fobre fer grande , era a mais vizinha, & poriffo mais : fenfivel, & penetrante, me pareçeo precifo acudir, & confolar aquelles defanimados corações; porêmcos — mo a ferida eftava ainda ta6 frefca., temifeaggravafigÉ = - mais, & que fofle incentivo de nova dor, o que eu ueria appliçar por lenitivo della; refolvime .comtu-= do a naô feguir nefta parte o confelhode Seneça, (2:) mas a fallaraos pays nafórma feguinte. Cobrai, ço« brai animo, 6 affligidos , & defconfolados fenhores; naõ defconfieis de que os futuros filhos, que Dens vos - der, & que com muito fundamento podeis elperar, troquem todas eftas penas em'exceflivos goftos ; prin cipalmente fendo vós ambos moços , & fecundos am bos. Porêm a-dor era taó excelliva, & tinha penetras do taô altamente o animo de ambos , que taó longe ef- tiveraô de fe aliviar com as minhas egnfolações ,. e antes fe irritãraõ, & enfurecéraô com mais agudo fen= timento, - ; Potro TE :: q. Paraaver pois de moderarlhes os fufpiros,lhes — diflequefe puzellem fim a tanto pranto, & enxugafs fernas lagrimas , lhes enfinaria dous remedios, com dnepoderia prefervarlhes de má! ta grande aosmais lhos, que-Deos lhes deffe. Ouvida taô alegre nova; foi incrivelo alvoroço , que ambos táiveraó , & pegan- - dome namaõ direita eni final de gofto, Eanoizaçoã
234 Observaçones Me dicas Doutrinaes. ceo da propria enfermidade. O quarto antes de che¬ gar a dous annos se suffocou com outro garrotilho mortal. O quinto, & sexto perdéraon a vida pela mes- ma causa. Vendo os pays taon lastimosos acontecimentos, 3. como se fossem feridos de algum rayo, attonitos, pen¬ sativos, & quasi doudos inconsolavelmente choravaon a falta de tao amadas prendas. Queixavaonse muito da natureza, porque concedia aos veados, aos elefantes, & às gralhas (1.) tao larga vida, que chegaon a duzen- tos annos, importando taô pouco ao mundo a dura¬ çaon dos taes viventes; sendo tao avara, & madrasta. para a duraçaon dos homens, cujas vidas costumaon ser taon necessarias, & uteis à Republica. A esta dor, que, sobre ser grande, era a mais vizinha, & por isso mais sensivel, & penetrante, me pareceo preciso acudir, & consolar aquelles desanimados coraçones; porèm co¬ mo a ferida estava ainda taon fresca, temi se aggravasse mais, & que fosse incentivo de nova dor, o que eu queria applicar por lenitivo della; resolvime comtu¬ do a naon seguir nesta parte o conselho de Seneca, (2.) mas a fallar aos pays na forma seguinte. Cobrai, co¬ brai animo, ò affligidos, & desconsolados senhores, naon desconfieis de que os futuros filhos, que Deos vos der, & que com muito fundamento podeis esperar, troquem todas estas penas em excessivos gostos, prin¬ cipalmente sendo vós ambos moços, & fecundos am¬ bos. Porèm a dor era tao excessiva, & tinha penetra¬ do taon altamente o animo de ambos, que taon longe es¬ tiveraon de se aliviar com as minhas consosaçones, que antes se irritàraon, & enfurecéraon com mais agudo sen¬ timento. 4. Para aver pois de moderarlhes os suspiros, lhes disse que se puzessem sim a tanto pranto, & enxugas¬ lem as lagrimas, lhes ensinaria dous remedios, com que poderia preservarlhes de mal taon grande aos mais silhos, que Deos lhes desse. Ouvida tao alegre nova, foi incrivel o alvoroço, que ambos tiveraon, & pegan¬ dome na maon direita eni sinal de gosto, & accitaçaqn da
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Observaçaõ XXXIX. 235 da minha promeʃʃa , me aʃʃeguràraõ ʃe naõ lembrariaõ mais da ʃua dor , nem ʃe veriaõ mais lagrimas nos ʃeus olhos , ʃe eu lhes diʃʃeʃʃe os remedios , com que ʃeus filhos aviaõ de eʃcapar de taõ formidavel perigo . Eʃtive pelo contrato , & para os certificar da verdade com que lhes fallàra , lhes diʃʃe que por iʃʃo os ʃeus filhos morrèraõ ʃuʃʃocados , porque como todos os meninos tenhaõ as cabeças muito humidas , & cheyas de excrementos ʃeroʃos , ʃe eʃtes ʃe naõ repurgaõ por algumas boʃtellas , uʃagres , chagas , fogagés , frunchos , ou pelos ouvidos , ou babando muito , ou deitando mucos pelo nariz , ordinariamente cahem em accidentes de gotta coral , ou em garrotilhos , ou em outras doenças mortaes ; mas ʃe pelo contrario a natureza ʃe deʃcarrega por alguma deʃtas partes , lograõ perfeitiʃʃima ʃaude : ( 3 . ) & como os ʃobreditos meninos nunca tiveraõ alguma deʃcarga deʃtas , era mui factivel que toda a immundicia , & ʃaburra de humores das ʃobreditas creaturinhas ʃe tranʃpuzeʃʃe , & deʃcarregaʃʃe em os muʃculos da garganta , & oʃofago , onde comprimindo-os com mayor augmento , foraõ a total cauʃa do ʃeu perigo ; & que os remedios para impedir o tal achaque conʃiʃtiaõ primeiro no bom alimento , de que a mãy devia uʃar no tempo da prenhez , pois porque ella ( com o privilegio de prenhada ) comia toda a ʃorte de mariʃcos , frutas verdes , ervas , azeitonas , & outras bacatellas taõ abʃurdas , neceʃʃariamente criava máo ʃangue , & como deʃte ʃe ʃuʃtentavaõ as crianças , naõ era para admirar q̃ géradas todas de taõ roim ʃuʃtento tiveʃʃem diʃpoʃições para contrahir mortíferas , & repentinas doenças . Segundariamente conʃiʃtia o remedio para preʃervar da eʃquinencia aos taes meninos , em abrir fontes em hum , & outro braço , porque como a materia excrementicia , ʃeroʃa , & viʃcoʃa dos meninos defuntos naõ tiveʃʃe ʃahida para alguma parte , neceʃʃariamente cahindo na garganta os ʃuffocou , o que naõ ʃuccederia dalli por diante , porque achando a natureza porta aberta nas fontes dos braços , ʃe iria divertindo por ellas aquelle humor , que andando o tem-
Observação : XXXIX( 23] da minha promeffa, me affegurarao femao lembrarias mais da fua dor , nem fe verizo mais lagrimas nos feus .olhos , fe eu lhes diffeffe os remedios, com que feus fi- lhos aviao de efcapar de tao formidavel perigo. Efti- .ve pelo contrato , & para os certificar da verdade com que lhes fallara, lhes diffe que por iffo os feus filhos morrerao fuffocados , porque como todos os meninos tenhaõ as cabeças muito humidas, & cheyas de ex- crementos ferofos, fe eftes fe nao repurgao por algu- .. mas boftellas, ufagres, chagas, fogages, franchos, og pelos ouvidos, ou babando: muito, ou deitando mu- ‹cos pelo nariz , ordinariamente cahem em accidentes ide gotta coral, ou em garrotilhos, ou em outras do- enças mortaes ; mas fe pelo contrario a natureza fe defcarrega por alguma deftas partes, lograo perfeitif fima faude : (3.) & como os fabreditos meninos nunca riverao alguma defcarga deftas; era mui factivel que toda aimmundicia, & faburra de humores das fobre- ditas creaturinhas fe tranfpuzeffe , & defcartegafle em os musculos da garganta, & cofofago; onde com- primindo-os com mayor augmento, forao a total caux Ta do feu perigo; & que os remedios para impediro tdl achaque confiftiao primeiro no bom alimento, de que a may: devia ular. no tempo da prenhez pois porque ella (com o privilegio de prenhada ) comia toda a for- te demarifcos , frutas verdes, ervas, azeitonas; & ou- tras bacatellas tao abfurdas,. nedeffariamente criava mao fangue, & como defte fe fuftentavad as ertancat, nao era para admirar q géradas codas de tad roim fut- tento tiveffem difpofições para contrahir mortiferas, & repentinas doenças. Segundariamente confiftiaro remedio para prefervar da efquinencia aos taes meni- nos, em abrir fontes em hum ; & outro braço; porque como a materia excrementicia., ferofa., & vifcola dos meninos defuntos nao tiveffe fahida para alguma par- te, neceffariamente cahindo na garganta os fuffocod; o que nao fuccederia dalli por diante; porque achan- do a natureza porta aberta nas fontes dos braços , fe ¡ria divertindo por ellas aquelle humor, queandando o tem- .... -- - -- ---- -
ObfcrvacaXXXX 233 : ala minha rromeffa, me affegurara fe nas dembrarias mais da fua dor , nemfe.veriaö mais lagrimas nos fetr .olhos., fe eu lhes diffeffe os remedios., com que feus f- lhos avia.de efcapar deta.formidavelperigo. Efti ve pelo contrato ; & para os certifcar daverdade coin : que lhes fallara, lhes diffe que por iffoosfeus flhos .morrera fuffocados , porque como todos os meninos :tenha as cabecas muito humidas, & cheyas de ex- -crementos ferofos, fe éftes fenaárepurga por algu- .mas boftellas, ufagres, chagas, fogages, frunchos, oa -pelos ouvidos, ou babando: muito, ou deitando mu- scos pelo nariz , ordinariamente cahém em.accidentes :de gotta coral , ou emgarrotilhös, ou em outras do- -encas mrtaes ; mas fe: pelo contrario a natureza fe :defcarrega por alguma deftas:partes, lograo perfeitif fima faude : (3.) & como 0s fabreditos meninos nunca rivera alguma defcarga deftas, era mui:faetivel'que todaaimmundicia, & faburra de humores das.fobre ditas creaturinhas fe tranfpuzeffe , &:defcarregaffe am os mufculos da garganta,& :ofafago,onde com- primindo-0s.com mayor augmento, fora3 a total.cau Ta do feu perigo, & que os remedios paraimpediro tal achaque confiftiaa primeiro no bom aliménto, de qut a may: devia.ufar: no tempo.da prenhez', pois porque ella(como privilegiade prerhada:) comia toda a tor- te demarifcos , frutasverdes,ervas, azeitoyas, & ou- trasbacatellas taö abfurdas ,:. naceffariamente: criava mao fangue , & como defte.fefuftenrava as briancat, na era para admirar géradasaodas detaroim fu- tento tiveffem difpaficöes para contrahir: mortifera, & repentinas doencas. Segundariamente:tonfiftia:o remedio para prefervar da efguinencia aos tdes meni- nos, cmabrir fontes:em hum ,& outrobrac, poróte comoa materia excrementicia:, ferofa , & vifcofa aus meninos.defuntoa naátiveffe &ihida para alguma par- te, neceffariamente cahinda pa gargantas fuffotot; do a natureza porta aberta nas fontes dosbracos , fe ria diverrindopor ellas aquelle hunory: iitoandand otema
Gta Oblstvação: XXIXIX > 23% : da minha rromefla; me affeguiira6 Tem lombrarias mais da fua dor , pem fe vertaó mais tagrimás nos fes "olhos ,feeu lhes diffeife os temedios.. com que feus fiz lhos aviaô de efeapar detaóformidavel perigo. Efti- ; vepelocontrato,& para os certificar da verdade com | .quelhes fallãra, lhes difle que porifío os feus filhos morrêraô fuffoacados , porque como todos 06 meninos :tenhaó as cabeças muito humidas, & cheyas de ex- erementos ferofos , fe eftes fenaó repurgaõ por algu- .mas boftellas, ufagres, chagas, fogagês, frunchos, oa -pelos ouvidos , ou babando: muito”, ou deitando mu- «ços pelo nariz , ordinariamente cahem em accidentes ,de gotra coral , ou em garrotilhós, ou em outras do- eba môrtães ; mas fe pelo contrario a natureza fe “defcarrega por alguma deítas:paí-tes, logra6 perfeitit- - lima fande :(3.) & como os fobreditos meninos nunch fiveraó alguma defcarga deftas:; exa mui fa&ivel qe - £oda aimmundicia, & faburra de humorês das fobre- ditas creaturinhas fe tranfpuzefle ,.& defcartegafle amosmuíçulos da rarganta ,.& ofofago; onde com- : primipde-os com mayor augmento, fora à total.cad a do feu perigo; & que os remédios paraimpeédiro sl achaque confiftia5 primeiro no bom atimérito, de que a mãy: devia.ufar. no tempo-dá prenhez:y pois porque , ella(camo privilegiade prenhada:) comia toda à for- . te demarifcos , frutas verdes, ervas, azeitonas, & ei tras bacatellas taã abfurdas ,. neceffariamente criava mão fangue , & como defte fe fiiltenvavas ds Crianças, Dn46 era para admiral: 4 géradàscrodas de xaô foim fed-- tento rivellem difpofições para concrabir moórtiferas, & repentinas doenças. Segundatiamente cónfiftiato remçedio para prefervar da efquinentia-a0s des nieni- nos, em gbrir fontes.em hum ; & outro braços pordde çomoa materia excrementicia:; ferofa , & vilcofa áàs - meninos defuntoa maátivetle fahida para: aluma par- - te, neceflariamente cahindo na garganta-os luffocos, n que naô fuccederia dalli por diante; porque achafi- do a natureza porta aberta nas fontes-dos braços , Te iria divertindo por ellas aquelle humot; qe andando : otem ia nl A 3 Ri R E Lc ÁVES
WS» Observacao XXXIIX. 233 da minha promessa, me assegurâraon se naon lembrarias mais da sua dor, nem se veriaon mais lagrimas nos seus olhos, se eu lhes disfesse os remedios, com que seus fi¬ lhos aviaon de escapar de taon formidavel perigo. Esti¬ ve pelo contrato, & para os certificar da verdade com que lhes fallara, lhes disse que por isso os seus filhos morreraon sustocados, porque como todos os meninos tenhaon as cabeças muito humidas, & cheyas de ex crementos serosos, se estes se naon repurgaô por algu¬ mas bostellas, usagres, chagas, fogagens, frunchos, on pelos ouvidos, ou babando muito, ou deitando mu cos pelo nariz, ordinaramente cahem em accidentes de gotta coral, ou em garrotishos, ou em outras do enças mortaes; mas se pelo contrario a naturesa se descarrega por alguma destas partes, lograon perfeitis¬ sima saude: (3.) & como os sobreditos meninos nunch tiveraon alguma descarga destas; era mui factivel que toda aimmundicia, & saburra de humores das sobre ditas creaturinhas se transpuzesse, & descarregasse am os musculos da garganta, & osofago, onde com¬ primindo-os com mayor augmento, forao à total cali sa do seu perigo; & que os remedios para impediro tal achaque consistiaon primeiro no bom alimento, de que a mamy devia usar no tempo da prenhez; pois porque ella (com o privilegio de prenhada) comia toda a for¬ te de mariscos, frutas verdes, ervas, azeitonas, & ou¬ tras hacatellas taon absurdas, necessariamente criava máo sangue, & como deste se sustentavaò às eriançat. naon era para admirar que géradas todas de tao roim sus tento tivessem disposiçones para contrahir mortiferad, & repentinas doenças. Segundariamente consistiao remedio para preservar da esquinencia aos taes meni¬ nos, em abrir fontes em hum, & outro braço; porque como a materia excrementicia, serosa, & viscola dus meninos defuntos naqum tivesse sahida para algumna par¬ te, necessariamente cahindo na garganta os suffocou, o que naon luccederia dalli por diante, porque achas¬ do a natureza porta aberta nas fontes dos braços, se iria divertindo por ellas aquelle humor, que andando otem¬ -
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236 Observações Medicas Doutrinaes o tempo os avia de ʃuffocar . Ouvidas eʃtas razões taõ cabaes , & coherentes com o juizo , cobràraõ grande esforço , & eʃperança , & promettèraõ que infallivelmente aviaõ de executar os remedios , que eu lhes apontava , na primeira occaʃiaõ que ʃe offereceʃʃe ; & porque Deos quiz conʃolar a eʃtes caʃados , lhes deo antes de hum anno hum filho , chamado Joseph Curvo , ao qual abri duas fontes , ʃendo de dous meʃes , & naõ ʃó eʃcapou de ter garrotilho , que ʃeus irmãos tiveraõ , mas creʃceo , & deitou hum corpo taõ agigantado , que antes de quatorze annos cingio eʃpada , porque ʃe envergonhava de andar ʃem ella vendoʃe com o corpo de hum grande homem : & depois de paʃʃarem quatro annos tiveraõ outro filho chamado Pedro Joachim , ao qual mandei tambem abrir fontes antes de ter dous meʃes , & nem o minimo ʃinal de inflammaçaõ , ou dor tiveraõ na garganta atè eʃta hora ; antes tem ambos logrado ʃaude taõ perfeita , que eʃtaõ caʃados , & cheyos de filhos . 5 . E porque eʃtes dous exemplos poderáõ ʃer poucos , para confirmar , como ley inviolavel , que ʃe poʃʃaõ abrir fontes em crianças de mama , ajuntarei terceiro caso maravilhoʃamete ʃuccedido . Marianna Joʃepha , filha de Manoel Ferreyra , morador às portas do Sol , no meʃmo dia em que naʃceo , lhe ʃobreveyo hum fluxo de humor aos olhos taõ grande , que não ouve remedio que lhe aproveitaʃʃe ; neʃte aperto , & perigo de ficar cega , lhe mandei abrir fontes em ambos os braços , ʃendo de idade de trinta dias ; & foi o effeito tão prodigioʃo , que ʃe admiràraõ todos os que a tinhão viʃto em tal aperto . 6 . Deʃtas Obʃervações tomei mayor confiança para mandar abrir fontes em todas as queixas da garganta , & dos olhos em qualquer idade , por grande , ou pequena que foʃʃe , & ʃempre vi tão maravilhoʃiʃʃimos proveitos dellas , que entendo ʃaõ as fontes para as taes doenças remedio euporiʃto , & quaʃi milagroʃo . Fallo com a experiencia de muitos annos , & com aquella verdade , com que ʃe devem tratar os negocios taõ
236 Observações Medic as Doutrinaes. o tempo os avia de fuffocar. Ouvidas eftas razões tao cabaes, & coherentes com o juizo, cobraraõ grande .esforço, & efperança, & prometterao que infallivel- mente aviaõ de executar os remedios , que eu lhes apontava, na primeira occafiao que fe offereceffe; & porque Deos quiz confolar a eftes cafados, lhes deo antes de hum anno hum filho, chamado Jofeph Cur- vo, ao qual abri duas fontes, fendo de dous mefes , & nao fó efcapou de ter garrotilho, que feus irmãos ti- verao , mas creíceo, & deitou hum corpo taõ agigan- tado, que antes de quatorze annos cingio efpada, por- que fe envergonhava de andar fem ella vendofe com o corpo de hum grande homem : & depois de paffarem quatro annos tiveraõ outro filho chamado Pedro Joa- chim , ao qual mandei tambem abrir fontes antes de ter dous mefes, & nem o minimo final de inflamma- çaõ, ou dor tiveraõ na garganta atè efta hora; antes tem ambos logrado faude taõ perfeita, que eftaõ ca- fados, & cheyos de filhos." 5. E porque eftes dous exemplos poderão fer pou- cos, para confirmar, como ley inviolavel, que fe pol+ fao abrir fontes em crianças de mama, ajuntarei ter- ceiro cafo maravilhofamete fuccedido. Marianna Jo- fepha, filha de Manoel Ferreyra, morador às portas do Sol, no mefmo dia em que nafceo, lhe fobreveyo hum fluxo de humor aos olhos tao grande, que não ouve remedio que lhe aproveitaffe; nefte aperto, & perigo de ficar cega, lhe mandei abrir fontes em am- bos os braços', fendo de idade de trinta dias ; & foi o effeito tão prodigiofo, que fe admiràraõ todos os que a tinhão vifto em tal aperto. 6. Deftas Obfervações tomei mayor confiança para mandar abrir fontes em todas as queixas da gar- ganta, & dos olhos em qualquer idade, por grande, ou pequena que foffe, & fempre vi tao maravilhofiffi- mos proveitos dellas , que entendo fao as fontes para as taes doenças remedio euporifto, & quafi milagro- "fo. Fallo com a experiencia de muitos annos, & com aquella verdade, com que fe devem tratar os negocios taõ
236 Obfervacoes.Medic asDoutrinaes. 6 tempo os aviade fuffocar. Ouvidas eftas razes ta cabaes, & coherentes com juizo, cobrara grande ésforco, & efperanca, & prométtera que infallivel mente avia de executar os remedios ., que eu lhes apontava, na primeira occafia que fe offereceffe; & porque Deos quiz confolar a eftes cafados, lhes de antes de hum anno hum filho, chamado Jofeph Cur-: vo, ao qual abri duas fontés, fendo de dous mefes, & naf6efcapou de ter.garrotilho, que feus irmaos ti- vera,mascrefceo,& deitou hum corpo ta agigan- tado, que antes de quatorze annos cingio efpada, por- que fe envergonhava de andar fem ella vendofe com o corpo dehum grande homem: & depois de paffarem quatro annos tivera outro flho chamado Pedro Joa- chim,aoqual mandei tambem abrir fontes antes dc ter dous mefes, & nem o minimofinal de inflamma- sa, ou dor tivera nagarganta atéefta hora, antes tem ambos logrado faude ta perfeita , que eftaö ca fados, & cheyos de filhos. 5. . E porque eftes dous exemplos podera fer pou- cos, para confirmar., como ley inviolavel, que fe pof fa abrir fontes em criangas de mama , ajuntarei ter- ceirocafo maravilhofaméte fuccedido. Marianna Jo- fepha, filha de Manoel Ferreyra , morador as: portas dosol, no mefmodia em que nafceo, lhe fobreveyo hum fluxo de humor aosolhos tagrande,que nao ouve remedio que lhe. aproveitaffe; nefte aperto, & perigo de ficar cega, lhe mandei abrir fontes em am- bos os bracos, fendo:de idade: detrinta dias; & foi effeito tao prodigiofo, que fe admirara todos os quc a tinhao vifto em tal aperto. 6. Deftas Obfervacoes tomei mayor confianca para mandar abrir fontes em todas as queixas: da gar- ganta, & dos.olhos em qualquer idade, por grande, ou pequena que foffe, & fempre vi tao maravilhofiffi- mos proveitös dellas ; que entendo- fa as fontes para astaes doencas remedio euporifto, & quafi milagra- fo. Fallo com a experiencia de muitos annos , & com aquella verdade,com que fe devéin tratar os.negocios tao
236 Obfervações:Medic as Doutrinaes. « 6 tempoosaviade fuffocar. Ouvidas eftas razões tas cabaes, -& coherentes com o juizo, cobràraô grande eêsforço, & elperança, & prométtêraô que infallivel- mente aviaõô de executar os remedios , que eu lhes apontava, na primeira occafiaô que fe offerecefle; & porque Deos quiz confolar a eftes cafados, lhes deo antes de hum anno hum filho, chamado Jofeph Cur-" vo , ao qual abri duas fontes , fendo de dous mefes , & naô fó elcapou de ter garrotilho, que feus irmãos ti- weraô, mascreíceo, & deitou hum corpo taô agigan- tado, que antes de quatorze annos cirigio elpadas por- que fe envergonhava de andar fem ella vendofe como corpo de hum grande homem: & depois de paffarem uatro annos tiveraô outro filho chamado Pedro Joa- dim, ao qual mandei tambem abrir fontes antes de ter dous mefes, & nem o minimo final deinflamma- çaô, ou dor tiveraô na garganta até ea hora; antes tem ambos logrado faude taô perfeita, que eftaô ca- fados , & cheyos de filhos: | ENA 5. E porque eftes dous exemplos poderáô fet pour=. . cos, para confirmar , como ley inviolavel; que fe pof* : faõabrirfontes em crianças de mama , ajuntarei ter= ceirocafo maravilhofamête fuccedido. Marianna Jo- fepha , filha de Manoel Ferreyra, morador às portas do Sol, no mefmo dia em que nafceo, lhe fobreveyo hum fluxo de humor aos olhos taô grande, que não ouve remedio que lhe aproveitafle; neíte aperto , & perigo de ficar cega, lhe mandei abrir fontes em am- os os braços”, fendo:de idade detrinta dias; &foio effeito tão prodigiofo, que fe admiràraó todos os que atinhãoviftoemtal aperto. o ER 6. Deftas Obfervações tomei mayor confiança para mandar abrir fontes em todas as queixasída gar+ ganta , & dos olhos em qualquer idade, por grande, ou pequeria que fofle , & fempre vi tão maravilhofifl=- mos proveitos dellas ; que entendo faô as fontes para astaes doenças remedio euporifto , & quali milagro- ” fo. Fallocoma experiencia de muitos annos, & com aquella verdade,com que fe devem tratar os negocios tag
236 Observaçones Medic as Doutrinaes. o tempo os avia de suffocar. Ouvidas estas razones tao cabaes, & coherentes com o juizo, cobràraon grande esforço, & esperança, & promettèraon que infallivel¬ mente aviao de executar os remedios, que eu lhes apontava, na primeira occasiaon que se offerecesse; & porque Deos quiz consolar a estes casados, lhes deo antes de hum anno hum filho, chamado Joseph Cur¬ vo, ao qual abri duas fontes, sendo de dous meses, & naon so escapou de ter garrotilho, que seus irmanos ti¬ veraon, mas cresceo, & deitou hum corpo taon agigan¬ tado, que antes de quatorze annos cingio espada, por- que se envergonhava de andar sem ella vendose com o corpo de hum grande homem: & depois de passarem quatro annos tiveraon outro filho chamado Pedro Joa¬ chim, ao qual mandei tambem abrir fontes antes de ter dous meses, & nem o minimo sinal de inflamma¬ çaon, ou dor tiveraon na garganta atè esta hora; antes tem ambos logrado saude tao perfeita, que estaon ca¬ sados, & cheyos de filhos. E porque estes dous exemplos poderaon ser pou¬ cos, para confirmar, como ley inviolavel, que se pos- saon abrir fontes em crianças de mama, ajuntarei ter¬ ceiro caso maravilhosamente succedido. Marianna Jo¬ sepha, filha de Manoel Ferreyra, morador às portas do Sol, no mesmo dia em que nasceo, lhe sobreveyo hum fluxo de humor aos olhos tao grande, que namo ouve remedio que lhe aproveitasse; neste aperto, & perigo de ficar cega, lhe mandei abrir fontes em am- bos os braços, sendo de idade de trinta dias; & foi o effeito tamo prodigioso, que se admiràraon todos os que a tinhamo visto em tal aperto. 6. Destas Observaçones tomei mayor confiança para mandar abrir fontes em todas as queixas da gar¬ ganta, & dos olhos em qualquer idade, por grande, ou pequena que fosse, & sempre vi tamo maravilhosissi¬ mos proveitos dellas, que entendo saon as fontes para as taes doenças remedio euporisto, & quasi milagro¬ so. Fallo com a experiencia de muitos annos, & com aquella verdade, com que se devem tratar os negocios taon
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Observaçaõ XXXIX 237 taõ importantes , como he a vida , & ʃaude dos homens . 7 . Da efficacia que tem as fontes para os achaques da garganta , & dos olhos ; para preʃervar da peʃte ; para as azias , & dores de eʃtomago ; para os que tem dores de colica muitas vezes no anno ; para os que padecem fluxões repetidas aos dentes , & queixos ; para os que vomitaõ todos os dias o que comem ; & para os que tem dores de lombos , & para outras doenças , pudera eʃcrever livros inteiros , porque no diʃcurʃo de muitos annos me tem vindo às mãos infinitos achaques dos ʃobreditos , & depois de grandes Medicos terem trabalhado muito tempo para curallos ʃem poder conʃeguir o effeito deʃejado , ʃó com as fontes livràraõ de todos . Vejaõ os curioʃos os louvores , que Franciʃco Choinel , ( 4 . ) Jeronymo Mercurial , ( 5 . ) Ambroʃio Pareu , ( 6 . ) Chriʃtovaõ Benedicto , ( 7 . ) Thomas Rodriguez da Veiga , & outros graviʃʃimos Authores attribuem às fontes , & logo ʃaberáõ o grande fundamento que tenho para eʃtimar muito eʃte remedio , & o mandar fazer com grande confiança naõ ʃó a dous ʃobrinhos meus , ʃendo crianças de dous meʃes , com que os livrei dos garrotilhos , de que ʃeis irmãos ( pelas naõ terem ) acabarão a vida ; mas tambem a muitas outras crianças , que deixo de nomear por não fer enfadoʃo . 8 . Neʃte lugar me perguntaráõ os curioʃos , ʃe assim como muitas vezes he conveniente abrir fontes em qualquer tempo , & idade , ʃeja algumas vezes conveniente fechallas . Reʃpondo com diʃtinçaõ , dizendo que ʃe as fontes no eʃpaço de hum anno naõ tirarem , ou ao menos melhorarem a doença , por cuja cauʃa as abriraõ , não ʃó ʃe podem fechar ; mas ʃerá erro conʃervallas abertas , principalmente ʃe purgarem pouco , porque ʃerá loucura eʃtar pagando huma taõ grande penʃaõ , como as fontes trazem comʃigo , de dores , & máos cheiros ʃem conʃeguir o beneficio da ʃaude . Não he iʃto reʃolução ʃó minha , he conʃelho do grande Thomas Rodriguez da Veiga . ( 8 . ) Muitos exem-
Romain Oblarvacda - XXXIXJO Ho importantes , coiho heavida, & fande dos ho- mens. all 'mos cho"! nombre conla open voti Da efficacia que tem as fontes para os achaques da garganta, & de olhos ; para prefervar da pelte, paraashøîas , Bodoreside eftomago) para os que tem dores de colica muitas vezes no anno ; para os quepa decem: fluxões repetidas aos dentes , & queixos; para os pie vomnitdo: todos os dias o que.comem; 84 para os que tem dores de lombos, & para outras doen- ças, pudera efcrever livros inteiros, porque no difcuru fo de muitos annos me tem vindo as mãos infinitos achaques dos fobreditos., & depois de grandes Medi- cos terem trabalhado muito tempo para curallos fem poder confeguir o effeito defejado, fo com asfontes livrarao de todos. Vejao os curiofos os louvores, que Francisco Chamel , (4. ) Jeronymo Mercurial , (4) Ambrogio Pareu, (6%) Chriftovan Benedicto , (7.) Thomas Rodriguez da Veiga , & outros graviffa nios Authores attribuem as fontes , & logo faberdo o grande fundamento que tenho para eftimar multo af. te remedio, & o mandar fazer com grande confiança nao fó a dous fobrinhos meus , fendo crianças de dous mefes, com que os livrei dos garrotilhos y de que feis irmãos ( pelas nao'terem ) acabarão a vida; mas tam- bem a muitas outras crianças, que deixo de nomeat por não fer enfadofo. .8. Nefte lugar me perguntarao os curiofos , fe . affim como muitas vezes he conveniente abrir fontes em qualquer tempo, & idade, feja algumas vezes con* veniente fechallas. Refpondo com diftinçao, dizent do que fe as fontes no efpaço de humanno nao tira- rem,ou ao menos melhorarem a doença, por cujd cair fa as abrirão, não fó fe podem fechar ; mas fera erro confervallas abertas , principalmente fe purgarem pouco, porque fera loucura eftar pagando huma ta6 grande penfao, como as fontes trazem comfigo, de dores, & maos cheiros fem confeguir o beneficio da faude .. Não he ifto refolução fó minha, he confelho do grande Thomas Rodriguez da Veiga: (8. ) Muitos exem- - 1 : : ! .
sai:Ohaaqa XxXXiO aa tr imlportantes ainorhdævida, & faude dos h6 men$. llonos a n osn.*t. c v 7i satffcadia que temaasfartes pataosrachaquts da gargalta &: deiolhod : para: preferrar da peftes paraasanias.;&alarnsdeeftomago para osque tem doresxderólica imitds vezes no atn -pava s que pa decemsfhuxóes. ropetidas aos dentes , &. queixos pararor qite vomitlö: todos.osrdias qua.comem, & para bs quetemdares de lonibos, & para outras:den as,pudera efcreiterkvrs inteiros, porqueno difcur fo demuitos annos me tem vindo as maos: infnitos achaques dos fobreditos., & depois de grandes Medi cos.terem trabalhada:mtito remp para curallos fem poder.canfeguiroeffeito defejado, fó rn asfontes livrara de tdos.Vejaos:curiofos os loúvores , qud Francifca:Chona , (4) Jeroaym Mercurial , (5 AmbmborPareuy(6) Chriftovaa Benedicto., (7.) Thomas Rodriguez:da Vaiga &. outros gravilf nios Authores attribuem asfontes j: & logo fabera ö grande fundament que terho para eftimar muit öf re remedio , & randar fazer rom grandeiconfianca na fa dousfobrinhs meus, fendo criancas de dous mefes, comque s livrei dos garrotilhos , de quc fei3 irmaos(pelas na'terem ) acabarao a vida, mas tam- bema muitas outras criahgas, que deixo de nomear por nae fer enfadofo.. .. 8.. Nefte lugar me perguntaraö os curiofos,.fe affim como muitas: vezes he convemiente abrir fontes em qualquer temp, & idade, feja algumas vezes corx venientefechallas. Refpondo.com diftinta6, dizen do que fe as fontes noefpaso dehumanno na tira- rein,u ao menos melhorarem a doensa, por cuja cait. 1a as abrira, nao f6fe podetnfechar , mas fera erro confervallas abertas , principalmente fe purgarem poucö,porque fera lurura eftar pagaridohuma ras grande penfa, como as fontes trazem.comfg, dc dores,& maoscheiros fem confeguir o betieficio :da faude.. Nao he ifto refolucao. fo minha , he confelho dogrande Thomas Rodriguez da Veiga: (& ) Muitas exem-
cora Oblasaçãa asKÉRELIO 287 tô Mriportantes ; onho-hta vida, Se fade dos ho» meng.; «rilommos guissi NM OBISOO 7,68 mes vofi Daefbcadiatoetentas fonites pada.os:aóhaques da paúgaííta / &ddsijolhos ; para! prefeivar da peftos parvasavias ; Biatareside eftomago) “parva os que terá : doresle cólica túnirds vezes no atmo para os quegia decem:fluxões. ropetidas: aos dentes , &. queixos; pará mos que volnicdo: todos osdias o que.comem; 8 para 0º que tem dotes de lonibos; & para optras-doens vas, pultera efoveitet livros inteiros; porduento difcura - fo démuitos anos me tem vifido às mãos infinitos achaques dos fobreditos., 8 depois de grandes Media cos terem trabal hadômínico cémpo para curallos fem oder cimfeguit'oeffeito defejado, fó com asfontes Eviaras de todos. Vejaó os:curiofos os louvores, que Francifeo-Choma y (4) Jetoaymo Mercurial, ( je) 'Ambrotio:Pareuy (65) Chriftova6 Benedito , (7) "Thomas Rodriguez da Veiga; & outros gravills trios Aurhores ateribuem às fonces ;: & logo faberãô o grande fundamento que tenho para eftimat” mulegeL Ee temedio, & o rnhandar fázes tom grande confiança naó fó di dous fobrinhos meus; fendo crianças de dous mefes; com que us livrei dos gárrotilhos, dê que feis irmãos ( pelas naó terem ) acabárão à vida; mas tais bem a muitas: outras criahças, que deixo denoméar pornão fer enfadofo,, CENTO 1 À g, Nefte lupar me perguntarió os curiofos, fe nflim como muitas vezes lie conveniente abrir fontes em qualquer tempo, & idade, feja algumas vezes cor veniente fechallas. Refpondo. com diftinça6, dizem do que fe as fontes noelpaço de humanto nao ritas rem, ou ao menos melhoratem a doença, por cuja catr- fa asabriraãõô, não fó fe podetn fechar; mas lerá erro confervallas abertas , principalmente fe purgarem pouco, porque ferá loucura eftar pagando huma ta6 rande peníaõ, como às fontes trazem comigo, de ores, & mãos cheiros fem confeguit o betieficio da faude.. Não he ifto refolução fó minha, he confelho do grande Thomas Rodriguez dá Veiga: (.) Muitos EeXxeim+ "TAL
ObsraçadXAALAO 237 tron imsportantes, oomno he a vida, & saude dos ho¬ mens.; 7i Da efficadia que tem as fontes para os achaques da purganta, & doo olhos; parh preserrar da peste, paraas avias, &dloresde estomago, para os que tem dores de colica muitas vezes no anno; para os que pa¬ decem fluxones ropetidas aos dentes, & queixos; parâ os que vomitaon todos os dias o que comem; & para os que tem dores de lonibos, & para outras doen¬ ças, pudera escreier livros inteiros, porque no discur¬ so de muitos annos me tem vindo às mamos infinitos achaques dos sobreditos, & depois de grandes Medi¬ cos terem trabalhado muito tempo para curallos sem poder conseguir o effeito desejado, so com as fontes livraraon de todos. Vejaon os curiosos os louvores, que Francisco Chomel, (4.) Jeronymo Mercurial, (5. Ambrosio Pareu, (6.) Christovao Benedicto, (7. Thomas Rodriguez da Veiga, & outros gravissi¬ nios Authores attribuem às fontes, & logo saberaon o grande fundamentò que tenho para estimar musto es¬ re remedio, & o mandar fazer com grande confianęa naon so a dous sobrinhos meus, sendo crianças de dous meses, com que os livrei dos garrotillios; de que seis irmamos (pelas nao terem) acabaramo à vida; mas tam¬ bem a muitas outras crianças, que deixo de nomeas por namo fer enfadoso. 8. Neste lugar me perguntaraon os curiosos, se assim como muitas vezes lie convemente abrir fontes em qualquer tempo, & idade, seja algumas vezes con¬ veniente fechallas. Respondo com distinęno, dizen¬ do que se as fontes no espaço de hum anno hao tira¬ rem, ou ao menos melhorarem a doença, por cuja cau¬ sa as abriraon, namo so se podem fechar; mas sera erro conservallas abertas, principalmente se purgarem pouco, porque serà loucura estar pagando huma taum grande pensao, como as fontes trazem comsigo, de dores, & maos cheiros sem conseguir o beneficio da saude. Namo he isto resoluçamo so minha, he conselho do grande Thomas Rodriguez da Veiga. (8.) Muitos exem¬
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238 Observações Medicas Doutrinaes. exemplos pudera referir de pessoas , que as fecháraõ porque não conhecérão melhoria com ellas ; baʃta por teʃtimunha desta verdade o Padre Frey Françiʃco da Natividade ; Religioʃo de Noʃʃa Senhora do Carmo , chamado por o Latino ; eʃte as fechou depois de as ter abertas muitos annos , & tão fóra eʃteve de lhe fazer mal, que ʃó teve perfeitiʃʃima ʃaude . Tambem a ʃobredita menina Marianna Joʃepha depois de ter as fontes abertas ʃeis annos , ou por deʃcuido , ou de propoʃito as fechou , & nem por iʃʃo experimentou damno algum nos olhos , nem na ʃaude . A huma filha de Manoel Galvão , ʃendo criança de mui tenra idade , se abrio huma fonte por cauʃa de huma inflammação teimoʃa que tinha em hum olho , & depois que ʃarou do olho , a fechou ʃem prejuizo , nem damno da ʃaude . Não quero porèm dizer que as fontes ʃe fechem , ʃe purgarem muito , ou ʃe aliviarem , ainda que purguem pouco . 9 . No meʃmo tempo em que eʃtava eʃcrevendo eʃta Obʃervação , me chegàrão à noticia dous remedios para os garrotilhos , & achaques da garganta , dos quaes me diʃʃerão taes excellencias ; peʃʃoas de tanta authoridade , que me derão confiança para os eʃcrever aqui ; o que faço , para que ʃe algum doente ʃe achar em tal aperto da garganta , que ʃe veja morrer por naõ lhe aproveitarem outros remedios , & quizer uʃar deʃtes , o poʃʃa fazer , fundado neʃta experiencia , & nos conʃelhos de Celʃo , ( 9 . ) & de Valhes , ( 10 . ) os quaes nos dizem que nos caʃos deʃeʃperados lancemos mão de qualquer remedio , ainda que nos pareça temerario : eu não os experimentei , mas poʃʃo assegurar que ʃaõ tão fieis , & ʃeguros , que ʃe não fizerem o proveito eʃperado , que não faraõ damno . 10 . O primeiro remedio he atar ao redor da garganta hum eʃcarpim , ou palmilha de mea bem ʃuada , & fedorenta . Eʃte remedio tem a ʃeu favor a approvação dos Religioʃos Irlandezes , que vivem na Corte Real , os quaes uniformemente dizem que nas ʃuas patrias he o eʃcarpim ʃuado o mais decantado remedio que
238 Observações Medicus Doutrinaes" exemplos pudera referindo beffien , quais fechar att porque não conhecerão melhoria com'ellas ;. bafta por telbimunha defrio ver dadeso Padre Neffe Frey Franciftoda Natividade ; Religiofo de Notfu Suighca ra do Carmo , chamadoportantoromafalodestino; efte as fechou depois de aster abertas midicoslannos, & tão fora efteve de lhe fazer malqque foxunftao reve perfeitiffima faude: Tambem a fobredita menina Mat rianna Jofepha depois derer as, fomoes aberuas fais ant nos , ou pordefcuido , ou de prdpoliso as fechop., & nem por iffo experimentou damno algum nosolhos, nem na faude. A huma filha de Mhavel Galvãoufendo criança de mui tenra idade, ferabrio hauma fonte por caufa de huma inflammação: teimofa querminha em hum olho, & depois que farou do olho, a fechou fem prejuizo, nem damno da faude, Não quero porem dizer que as fontes fe fechem , fe purgarein muito, on fe aliviarem , ainda que purguem pouco. Si atonod' T' 9. No mefmo tempo em que eltava eftnetendo efta Obfervação,me chegarão à noticia dous remedios para os garrotilhos , & achaques da garganta y dos quaes me differao taes excelencias ; peffoashde tanta authoridade, que me-derão confiança para os ofcrever aqui; o que faço, para quefe algum doente feachar em tal aperto da garganta , que fe vejammorrer por nao lhe aproveitarem outros remedios, & quizer ufardeftes, o poffa fazer , fundadonefta experiencia, & nos con- felhos de Celfo, (9.) & de Valhes , (10: ) os quaes nos dizem que nos cafos defefperados lancemos 'mão de qualquer remedio, ainda que nos pareça temerario: eu não os experimentei , mas poffo affegurar que fao tão fieis, & feguros , que fe nao fizerem o proveito ef- perado, que não farao damno. 10. O primeiro remedio he atar ao redor da gar> ganta hum efcarpim, ou palmillia de mea bem fuada, & fedorenta. Efte remedio tem a feu favor a approva" ção dos Religiofos Irlandezes , que vivem na, Corte Real, os quaes uniformemente dizem que nas fuas pa- trias he o efcarpim fuado o mais decantado remedio que 3 . .
2s. Obldrvaces MedicusiDutrinaes. cxamilos:pudera ratcrindapeffas , qutias fechtirat porque nao conhecérao melhoria com'ellas ;-afta pon.talbimunha defioer dadtooPaihx tefte Frey Franciftoda Natiyidale :Religiofde Nnfu gunh ra do Capruo ,:chamadofporiartarfoaafiataileatino; efteas: fechou dapois da aster abrrtasmdatosiaunos, & tao fóra eftevedelhe:fazer1halaqque foxrftaaneve perfeitiffma faude.: Famben a fobrdita tnennm iMar riannaJofepha depoiadhter as fonoas abtrtas ftis ant nos,uporudefcuido si mu de prdpoisw as fedhap, & nem por iffo.cxperimentou damnoalgum.nososhos; nem na faude: A huma flha daMhnoel Galyaoupndo crianca de mui tenraidaxa; feablrio huma fontepor: caufa de huma infammacao:temofa:querrnha.em hum olho, &depois'que faroudoMho, a fechou fem prejuizo., nein damno dafaude, Mao querotporem dizer queas fontesfe fochen , (epurgarxin amuito,oa fealiviarem, aindaquepurgusmpouco.. Ji .: :9. . No mefmo temppem queeftava:eftnesendo éfta Obfervacao,me chegarao anoticiadous rémedios para os garrotilhos , &: achaques:da gargaita: das quaes mediffcrao.taes: excellenciasi,: deffoastdetanta authoridade, que me-derao.confancapara asofcrevén : aqui;o que faco, para quefe algundoente:fcachar em tal aperto da garganta , gue fe vejannorrer por na lhe: aproveitarem outros remedios, .& 'uizer ufardeftes, poffa fazer, fundadonefta experiencia, & nos con- félhos de Celfo ,(9.) & de:Valhes,(1:} os quaes nos dizem.que nos cafos: defefperados lancemos 'mao: da qualquer remedio, ainda que nosparega:femerario: eu nao os experimentei , mas: poffo affegurar que fa tao fieis, & feguros , que fe:nao fizeren o proveito ef. perado, que nao farao damno.- 10. ..O primeiro remedio he atar..ao redor.da:gar. ganta hum efcarpim, ou palmiilia:de mea bein fuata, & fedorenta. Efte remediotem a feu favor a. approvar cao dos Religiofos Irlandezes . qua.vivem na.Cort Real, os quaes uniformemente dizerf que nas fuas pa- trias hc 0: cfcarpim fuado.:majs decantada 'remedio que
5:35 Oblirvações MedicusOutrinaes. exemplospadera ceferimdelhpeffiaa , queias feqiiross porque não conhecérão melhoria com'ellas ;.bafta pontelbimunha deftaves dudeso Parto REAGE Fre Françiféioida Natividade ; Reeligiafó de Nofla Senhos ra-do Capmo;:chamado*poriamomiosnalia!odatino; eftens: fechou depois de as ter abúrtas milicoslannos, - & tão fóra efteve de lhefazerrhabaque fóxuftad eve perfeitiflmna faude: Tamberh a fobredira meqnama Mar rianra Jofenha depoisdbrer ab fonves abervas feis ans nos ,ou-posidefeuido ,. emite prdpofíso: ts fedhon,; & nem por iffo experimentou damna algum úosoihos; nem na faude.. A huma filha da Mbnodl Galyãeu fendo criança demui tenra idade; ferabirio! huma fonte pos canfa de huma inflammação: téimofa: quérminha em hum olhe, & depois que farowdoa olho; a fedlau Ted prejuizo , nem damno.daifande, Não qivero porêm dizer qué as fontes fe fechem (e?pnngaremh mito; o fe aliviarem; ainda quetiurgudém-pouco.. 1 «names T "nd. No méfmo temppv: ém qui eltava:efênetenda . éfta Obfervação,me chegârão à noticia-dois rêmedios - para os gartotilhos ,-& achaques; da-párgaiira- des > quaes mediflerão taes excellenciàás:; pelfoastdednnta ..: authoridade, que me-derão confráhça para nealcreven | + aqui;zo quefaço, para que se algum slaenteleachas em O! + ,,, talapercoda garganta, que fe vejanmortes pornao lhá me aproveitarem outros remedios , .& quizer ufardeítes, o. poffa fazer, fundadonefta experiencia ; & hos con- felhos de Celfo , (9.) & de Valhes (10; ) 03 quaes nós dizem que nos cafos defefperados Jancemos 'mão. de qualquer remedio, ainda quê nós paieça:temerario: eunão os experimentei, mas poffo-affegurat que faó . tão fieis, & feguros , que fenão fizerem o proveito ef- perado, que não faraó damno. |. Td: “10. OQOprimeiroremedio he atar ao redor da:gar» ganta hum efcarpim , ou palmillia:de mea bem fuada, & fedorenta. Efte remedio-tem a feu favor a approva- ção dos Religiofos Irlandezes , que:vivem na, Corte D Real,osquaes uniformemente dizer quê nas fuas pa- UE “ triashe o efcarpim fuado .o:mais decantado remedio
..... . - 238 Observacoes Medicus Doutrinaes. cxempilos pudera reserindespessous, que as seqhuri, porque nao conhecérano melhoria com'ellas; baste por testimunha destroverdudeo PPahe Mestce Frey Françisto da Natividatle; Religioso de Nossa Sunho¬ ra do Carmo, chamado porantonomasia lo Leauno; este as fechou depois du as rer aburtas mditos annos, & tamo fora esteve de lhe fazer mila qque soxistaum aeve perfeitissima saude. Tambem a sobredita menima Ma¬ rianna Josepha depois deter as sonoès abertas scis an nos, ou poridescuido, ou de prdposito as fedhon, & nem por isso experimentou damno algum nos oshos, nem na saude. A huma filbia de Mhuvel Galvamo, sendo criança de mui tenra idade, se abrio huma tonre pon causa de huma inflammaçamo teimosa que ninha em hum olho, & depois que sarou doolho, a fechou sem prejuizo, nem damno da saude. Namo quero porèm dizer que as fontes se fechem, se purgarem murto, on se aliviarem, ainda que purguem pouco. 9. No mesmo tempp em que estava estrerendo esta Observaçamo, me chegaramo à noticia dous remedios para os garrotilhos, & achaques da gargaista, dos quaes me disseramo taes excellencias, pessoas de iunta authoridade, que me deramo confiança para os escreven aqui; o que faço, para que se algum doente seachar em tal aperto da garganta, que se vejamnorrer por naon lhe aproveitarem outros remedios, & quizer usardestes, o possa fazer, fundado nesta experiencia, & nos con¬ selhos de Celso, (9.) & de Valhes, (10.) os quaes nos dizem que nos casos desesperados lancemos mano de qualquer remedio, ainda que nos pareça temerario: eu namo os experimentei, mas posso assegurar que saon tamo fieis, & seguros, que se namo fizerem o proveito es¬ perado, que namo faraon damno. 10. O primeiro remedio he atar ao redor da gar¬ ganta hum escarpim, ou palmillia de mea bem suada, & fedorenta. Este remediotem a seu favor a approva¬ çamo dos Religiosos Irlandezes, que vivem na Corte Real, os quaes uniformemente dizem què nas suas pa¬ trias he o escarpim suado ò mais decantado remedio que ....
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Observaçaõ XXXIX. 239 que ha para os garrotilhos , & queixas da garganta : os meʃmos louvores lhe attribue Dom Thomas de Napoles , & Noronha , que foi teʃtimunha de viʃta de hum doente , que eʃtando ungido por queixa da garganta , ʃarou com o dito remedio . 11 . O ʃegundo remedio he puxar , & esfregar as orelhas do doente para cima tanto tempo , até que ʃe fação vermelhas ; para eʃte remedio acho fundamento , & razão que o apadrinhaõ : porque as orelhas tem grande parenteʃco , & correʃpondencia com a garganta , como vemos cada dia nas peʃʃoas que tem grande dor nella , as quaes quando engolem alguma couʃa , ʃe queixão muito dos ouvidos ; & o vemos tambem nos que ʃe fazem tiʃicos por fraqueza da garganta , ou laringe ; porque vemos que a mayor parte delles deitão materia por algum dos ouvidos , ou por ambos , como o tenho obʃervado em muitas , principalmente em hum pagem de Roque Monteiro Paim , & em huma donzella irmãa de Dona Maria de Brito , que eʃtando tiʃicos por fraqueza da garganta , deitavão materia pelos ouvidos ; final infallivel da grande correʃpondencia , & communicaçaõ que a garganta tem com as orelhas . OBSER-
Obfervaçao XXXIX. 2.3.9 que ha para os garrotilhos, & queixas da garganta: os mefmos louvores lhe attribue Dom Thomas de Na- poles, & Noronha, que foi teftimunha de vifta de hum doente, que eftando ungido por queixa da gar- ganta, farou com o dito remedio. 11. O fegundo remedio he puxar, & esfregar as orelhas do doente para cima tanto tempo, até que fé fação vermelhas ; para efte remedio acho fundamen- to, & razão que o apadrinhao. porque as orelhas tem grande parentefco , & correfpondencia com a gargan- ta, como vemos cada dia nas peffoas que tem grande dor nella, as quaes quando engolem alguma coufa, fe queixão muito dos ouvidos ; & o vemos tambem nos que fe fazem tificos por fraqueza da garganta, ou la- ringe ; porque vemos que a mayor parte delles deitão materia por algum dos ouvidos, ou por ambos, co- mo o tenho obfervado em muitas, principalmente em hum pagem de Roque Monteiro Paim, & em huma donzella irmãa de Dona Maria de Brito, que eftando tificos por fraqueza da garganta ; deitavão materia pelos ouvidos; final infallivel da grande correspon- dencia, & communicaçaõ que a garganta tem com as orelhas. OBSER-
Obfcrvacao XXXIX. 239 que ha para os garrotilhos, & queixas da garganta: os mefmos louvores lhe attribue Doin Thomas de Na- poles, & Noronha, que foi teftimunha de vifta de hum doenté, que eftando ungido por queixa da gar- ganta , farou com o dito remedio. 11.. Ofegundo remedio he puxar, & esfregar.as orelhas do doenteparacima tanto tempo, até que.fe facao vermelhas ; para efte remedio acho fundainen- to, & razao que 0 apadrinha: porque as orelhas tem grande parentéfco , & correfpondencia com a gargan- ta , como vemos cada dia nas peffoas que tem grande dor rfella , as quaes quando engolem alguma coufa, fe queixao muito dos.ouvidos; &.o vemos tainbem nos quefe fazem tificos por fraqueza dagarganta, u la- ringe ; porque vemos que a mayor parte delles deitao materia por algum dos ouvidos , ou por ambos,co- moo.tenho obfervado em muitas, principalmente em hum pagem de Roque Monteiro Paim, &em huma donzella irmaa de Dona Maria de Brito, que eftando tificos :por fraqueza da garganta. , deitaväo materia pelos ouvidos ; final infallivel da grande correfpona dencia , & commünicaga que a garganta tem com as orelhas. OBSER-
Obfervaçãô XXXIX. a%9 que ha para os garrotilhos, & queixas da garganta: os melmos louvores lhe attribue Dom Thomas de Na- poles , & Noronha, que foi teftimunha de vifta de um doente, que eftando ungido por queixa da gar ganta , farou com o dito remedio. | : 11. Ofegundo remedio he puxar, & esfregar as — orelhas do doente para cima tanto tempo, até que fé fação vermelhas ; para efte remedio acho fundamen+- to, & razão que o apadrinhaô ; porque as orelhas tem grande parentefco, & correfpondencia com a gargan« ta , como vemos cada dia nas pefloas que tem grande dor ifella , as quaes quando engolem alguma coufa, fe queixão muito dos ouvidos ; & o vemos tambem nos que fe fazem tificos por fraqueza da garganta , ou la- ringe ; porque vemos que a mayor parte delles deitão materia por algum dos ouvidos , ou por ambos , co- mo o tenho obfervado em muitas, principalmente em hum pagem de Roque Monteiro Paim, & em huma donzellairmãa de Dona Maria de Brito, que eftando tificos por fraqueza da garganta ; deitavão materia pelos ouvidos; final infallivel da grande correípona dencia, & commúuúnicaçaô que a garganta tem com ab orelhas. : '
Observaçaon XXXIX. 239 que ha para os garrotilhos, & queixas da garganta: os mesmos louvores lhe attribue Dom Thomas de Na¬ poles, & Noronha, que foi testimunha de vista de hum doente, que estando ungido por queixa da gar ganta, sarou com o dito remedio. 11. O segundo remedio he puxar, & esfregar as orelhas do doente para cima tanto tempo, até que se façamo vermelhas; para este remedio acho fundamen¬ to , & razamo que o apadrinhaon: porque as orelhas tem grande parentesco , & correspondencia com a gargan- ta, como vemos cada dia nas pessoas que tem grande dor nella, as quaes quando engolem alguma cousa, se queixamo muito dos ouvidos; & o vemos tambem nos que se fazem tisicos por fraqueza da garganta, ou la- ringe; porque vemos que a mayor parte delles deitao materia por algum dos ouvidos, ou por ambos, co¬ mo o tenho observado em muitas, principalmente em Paim, & em huma hum pagem de Roque Monteiro donzella irmaa de Dona Maria de Brito, que estando tisicos por fraqueza da garganta, deitavamo materia pelos ouvidos; sinal infallivel da grande correspon¬ dencia, & communicaçaon que a garganta tem com as orelhas. OBSER
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240 Observações Medicas Doutrinaes OBSERVAÇAM XL . De humas camaras colericas taõ rebeldes que duràraõ quinze meses , e sem embargo de que em todo este tempo naõ passou dia sem q̃ se fizessem remedios muito experimentados , foi a doença taõ obstinada , que desprezou a todos , e desanimou aos Medicos de modo , q̃ se despediraõ , porque viraõ baldado o seu trabalho : neste aperto me chamàraõ , e entendendo eu que a grande quentura do figado , e entranhas eraõ a causa de taõ indomavel fluxo , ordenei que tomasse sessenta banhos de agua tibia , desfazendo em cada hum delles hum paõ de massa crua ; e foi taõ bem lograda esta diligencia , que se venceo a doença , quando todos entendiaõ que se avia de render a vida a tanta enfermidade . 1. SUpposto que para conservar a saude , espertar o calor natural , abrir os póros , exhalar as fuligens , e promover a circulaçaõ do sangue , nenhuma cousa seja taõ proveitosa como o exercicio , e trabalho ; comtudo , se qualquer cousa destas for excessiva , fara damno em lugar de proveito : porque o exercicio , ou trabalho demasiado exaspera o calor do figado , do qual esquentado , e irritado se gera grande quantidade de humor colerico , acre , e salino , e como o tal humor seja incapaz , tẽdo estas qualidades , para a nutrição das partes , a mesma natureza próvida o deita fóra do corpo , transpondo-o para os intestinos , e se nelles se derem mais tempo do que he razão , adquirem pela demora huma mordacidade taõ caustica , e corrosiva , que não só faz camaras colericas , sanguinhas , e fedorentas ; mas vicîa , e corrompe a carne , e substancia do figado com a colliquaçaõ , e transcolaçaõ cruenta dos humores . Desta verdade tenho visto muitos exemplos ; referirei sò hum , para dar gosto aos curiosos , e fazer serviço aos principiantes . Do-
e40 Observações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XL. De bumas camar as colericas tao rebeldes, que durarao. quinze mefes, & fem embargo de que em todo efte tem- po nao paffou dia fem q fe fizeffem remedios muito ex- perimentados , foi a doença tao obfinada, que def- 1 prezou a todos, & defanimou aos Medicos de modo, a fe defpedirao, porque virao baldado o feu trabalho: nef- te aperto me chamarao, & entendendo eu que a gran- de quentura do figado, & entranhas erao acaufa de tao indomavel fluxo, ordenei que tomafe feffenta ba- nhos de agua tibia, desfazendo em cada bum delles hum pao de mafa crua; do foitao bem lograda efta diligencia , que fe venceo a doença, quando todos en- tendiao que fe avia de render a vida a tanta enfer- midade. I. S Uppofto que para confervar a faude, ef- pertar o calor natural , abrir os póros , ex- halar as fuligens, & promover a circulação do fangue, nenhuma coufa feja tao proveitofa como o exercicio, & trabalho; comtudo, fe qualquer coufa deftas for exceffiva, fara damno em lugar de proveito : porque o exercicio, ou trabalho demafiado exafpera o calor do figado,do qual efquentado, & irritado fe gera gran- de quantidade de humor colerico , acre, & falino , & como o tal humor feja incapaz, tédo eftas qualidades, para a nutrição das partes, a mefma natureza próvida odeita fora do corpo, tranfpondo-o para os intefti- nos, & fe nelles fe detem mais tempo do que he razão, adquirem pela demora huma mordacidade taõ cauf- tica, & corrofiva, que não fó faz camaras colericas, fanguinhas , & fedorentas .; mas vicia, & corrompe a carne, & fubftancia do figado com a colliquaçao, & tranfcolaçaõ cruenta dos humores. Defta verdade te- nho vifto muitos exemplos ; referirei fo hum, para dar gofto aos curiofos, & fazer ferviço aos principiantes. Do- .. -
4o Obfervacoes Medicas Doutrinacs: OBSERV ACAM. XL. Debumas.cainaras colcricas ta rebeldes, que durara quinze inefes, fem embargo de que eim todoefte tem- po na pafJou dia fem q fe fizeffemremedios nuito ex- perimentados , foi a doenga ta obftinada, que def- prezou atodos, defanimou aös Medicos de inodo, defpedira, porque vira baldado o feu trabalbo: nef te aperto ine chamara, & entendendo eut que a gran-- de quentura dofigado, entrankas era a tatfa de ta indomavel fluxo, ordenei que tomaffe feffenta ba- nbos de agua tibia, desfazendo em cada bum delles bum pade maffa crua; d foita bem lograda efta diligencia, que fe venceo a doenga, quando todos en- tendia quefe avia derender a vida a tanta enfer- midade. C Uppofto que paraconfervar afaude, ef- pertar o calor natural , abrir os póros , ex- nenhuma coufa feja ta proveitofa coino o exercicio & trabalho; comtudo, fe qualquer coufa deftas for exceffiva, fara damno em lugar de proveito: porque 0exercici, u trabalho demafiado exafpeta o calor dofigado,do qual efquentado,& irritado fe gera gran- dequantidade de humor colerico,acre,& falino, & como o tal humor feja incapaz, têdo eftas qualidades, para anutricao das partes , a mefina'natureza próvida odeita fóra docorpo, tranfpondo-o para os intefti- nos, & fe.nelles fe detem mais tempo do que lerazao, adquirem pela.demora huma. mordacidade taö cauf- tica, & corrofiva, que nao f6faz camaras coléricas, fanguinhas,&fedorentas., mas vicia, & corrompe carne,& fubftancia do.figado com .a tolliquaca, & tranfcolaca cruenta dos humores. Defta verdade te nho viftomuitos exemplos ; referirei f hum, para dar gofto aos curiofos,& fazer fervico aos principiantes. Dor
e40 Obfervações Medicas Doutrinaês: ' OBSERVAÇAM XL. De bumas camaras colevicas tao rebeldes, que durarao -— quinzemefes, & fem embargo de que em todo efte tem- . ponabpallou dia fem à fefizeffemremedios muito ex-« perimentados , foi a doença tao obftinada , que def= ; Prezouatodos,& defanimou aos Medicos de modo, à fe defpedirao, porque vira baldado o feu trabalho: nef= te aperto me chamurao, & entendendo eu que a gran. de quentura do figado , & entranhas evao aca Ha de ! tao indomavel fluxo, ordenei que tomalfe felfenta ba. : nhos de agua tibia , desfazendo emcada hum delles , bum paíde mala crua; & foitao bem lograda efta - diligencia, que fe venceo a doença, quando todos en- tendiao que fe avia de vender avida atanta enfer= midade. : | : 1 Uppotto que para confervar a faude, ef 3 pertar o calor natural , abrir os póros ; ex= halar as fuligens, & Promover a circulaçaóô do fangue, — nenhuma coufa feja taô proveitofa como o exercicio, & trabalho; comtudo, fe qualquer confa deftas for excefliva , fara damno em lugar de proveito: porque :o exercicio, ou trabalho demafiado exaípera o calor Aofigado,do qual efquentado,& irritado le gera gran- de quantidade de humor colerico sácre, & falino, & como o tal humor feja incapaz, têdo eftas qualidades, Para a nutrição das partes , a melina natureza próvida odeita-fóra docorpo, tranfpondo-o para os intefti- nos, & fe nelles fe detem mais tem podoque Herazão, adquirem pela demora huma mordacidade taõ canf. tica, & corrofiva, que não 1ó faz camaras coléricas, fanguinhas , & fedorentas. smasvicia, & corfompe a carne, & fubftancia do figado com à Colliquaçaô, & tranícolaçaô cruenta dos humores. Defta verdade te- nho viftomuitos exemplos ; referirei fô hum, para dar gofto aos curiofos,& fazer ferviço aps principiantes. Dor
240 Observaçones Medicas Doutrinaès. serasea aso arsearse arse a o arßo aeade arde OBSERVAQAM XL. De humas camaras colericas tao rebeldes, que durarao quinze meses, & sem embargo de que em todo este tem¬ po naon passou dia sem que se sizessem remedios muito ex¬ perimentados, foi a doença tuon obstinada, que des¬ prezou a todos, & de sanimou aos Medicos de modo, quae se despediraon, porque viraò baldado o seu trabalho: nes- te aperto me chamaraon, & entendendo eu que a gran- de quentura do sigado, & entranhas erao a causa de tao indomavel fluxo, ordenei que tomasse sessenta ba¬ nhos de agua tibia, desfazendo em cada hum delles hum paon de massa crua; & foi taon bem lograda esta diligencia, que se venceo a doença, quando todos en¬ tendiaon que se avia de render a vida a tanta enfer¬ midade. 1. Upposto que para conservar a saude, es¬ pertar o calor natural, abrir os poros, ex¬ halar as fuligens, & promover a circulaçaon do sangue, nenhuma cousa seja taon proveitosa como o exercicio, & trabalho; comtudo, se qualquer cousa destas for excessiva, fara damno em lugar de proveito: porque o exercicio, ou trabalho demasiado exaspera o calor do figado, do qual esquentado, & irritado se gera gran- de quantidade de humor colerico, acre, & salino , & como o tal humor seja incapaz, tendo estas qualidades, para a nutriçamo das partes, a mesma natureza provida o deita fora do corpo, transpondo-o para os intesti¬ nos, & se nelles se detem mais tempo do que hie razamo, adquirem pela demora huma mordacidade taon caus¬ tica, & corrosiva, que namo so faz camaras colericas, sanguinhas, & fedorentas; mas vicia, & corrompe a carne, & substancia do figado com a colliquaçaon, & transcolaçaon cruenta dos humores. Desta verdade te¬ nho visto muitos exemplos; referirei sò hum, para dar gosto aos curiosos, & fazer serviço aos principiantes. Do¬
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Observaçaõ XL. 241 2. Domingas Ferreira Lopa, vendo a seu marido em perigo da vida por causa de huma febre maligna , com que esteve desconfiado de todos os remedios humanos , recorreo ao Medico Divino , pedindolhe com enternecidos rogos , e copiosissimas lagrimas quizesse dar saude a seu agonizante enfermo , valendose para o despacho de petição tão justa , da poderosissima intercessaõ de Nossa Senhora de Penha de França , fazendolhe promessa , e voto , que se seu marido livrasse de tam grande perigo , iria nove dias continuos , em acção de graças , à sua Igreja a pé descalço . Não lhe sahio baldada a sua supplica ; porque feito o voto , se tirou no mesmo dia a febre do marido , e conseguio saude taõ perfeita , que todos a avaliàrão por milagrosa . Não sossegou o agradecido animo desta taõ bem ouvida , como bem despachada mulher , sem que na mesma hora fosse prostrarse aos pès da piedosissima Senhora , e começou logo a pagar a novena prometida ; mas pela grandeza , e distancia do caminho , ou pelas excessivas calmas , que avia , ou ( o que he mais certo ) pelo excessivo trabalho , a que não era costumada , se accendèrão o figado , e entranhas de tal maneira , que geràraõ humores mais acres , e colericos do que convinha , derretendo-os , e perturbando-os de modo , que como se fossem turgentes , os não pode a natureza conter , nem governar , antes os arrojou impetuosamente para os intestinos , donde se lhe seguio hum fluxo de ventre tam porfioso , e obstinado , que durou quinze meses . 3. Para remedio destas camaras se chamàraõ dous Medicos de fama , de cujos conselhos usou quinze meses sem conseguir alivio . Naõ he dizivel quantas sangrias lhe fizeraõ ; quantas ajudas alterantes , e lavativas lhe deitàraõ ; de quantos emplastros confortativos , e adstringentes se valèraõ ; quantas bebidas , e medicamentos especificos ; quantas purgas , e apozemas appropriadas ; quantos cordeaes adstringetes ; quantos epithemas refrigerantes ; não lhes esquecèraõ as sangrias da vea salvatella da mão direita ; recorrèraõ
Qblervaçaõ 2. Domingas Ferreira Lopa wwvendo'a feu marido. em perigo da vida por caufa de huma febre maligna, com que efteve defconfiado de todos os remedios hu- -manos, recorreo ao Medico Diyino, pedindolhe com enternecidos rogos, & copiof ffimas lagrimas quizef- fe dar faude a feu agonizante enfermo, valendofe pa- ra o defpacho de petição tão jufta; da poderofiffima. interceffao de Noffa Senhorade Penha de França, fa- zendolhepromeffa, & voro, quefe feu marido livraf- fe de tamgrande perigo, iria nove dias continuos, em . acção de graças, xfua Igreja a pé defcalço. Não lhe lahio baldada a fua fupplica ; porque feito o voto; fe tirou no mesmo dia a febre do marido, & confeguio faude tao perfeita, que todos a avaliarão por milagro- fa. Não foffegou o agradecido animo defta tao bem ouvida, como bem defpachada mulher, fem que na mefma hora foffe proftrarfe aos pes da piedofiffima · Senhora, & começou logo a pagar a novena promet- tida ; mas pela grandeza, & diftancia do caminho, ou pelas excellivas calmas, queavia, on ( o que he mais ' certo ) pelo excelfivo trabalho, a que não era coftu- mada, fe accenderão o figado, & entranhas de tal maneira, que geràraõ humores mais acres , & coleri- cos do que convinha , derretendo-os; & perturban- do-os de modo.,que como fe foffem turgentes , os não pode a natureza conter, nem governar , antes os arro- jou impetuofamente para osinteftinos, donde fe lhe feguio hum Auxo der mrt fam porfofo, & ob tina .. do, que durou quinze mefes. 3. Para remedio deftas camaras le chamarao dous Medicos de fama, de, cujos confelhos ufou quinze mefes fem confeguif alivio. Nao he dizivel quantas fangrias lhe fizerao ; quantas ajudas alterantes, & la- vativas lhe deitarao; de quantos emplaftros confor- tativos , & admiringentes de valerao siquantas bebidas, & medicamentos efptcificos; quantas purgas & apo- zemas appropriadas; quantoscordeaesaditri gentes; quantos epithemas refrigerantes ; não lhes elquece- 6 às fangrias da vea falvatella damão direita ; recor- Férao 1 -
Qbfervacao : XL.*. .24t Domingas Ferreira Lopa vendoa feu marida 12: em perigo da vida por caufa dé huma febre maligna, com que efteve defconfiado de todös os remedies hu- .manos, recorreo ao MedicoDiyino pedindolhe com interceifaö de Noffa Senhorade Penhade Franca, fa- fe de tamgrandéperigö, iriatiove dins continus, em tirounomefmo dia afebre do marido, & confeguio ouvida, como bem defpachada mulher, fem que na 'mefma hora foffe proftrarfe aos pes da piedofiffima. cos do que convinha, derretendo-os, & perturban- do-os de modo.que.como fe foffem turgentes., os na pode a natureza conter, ner governar , aates os arro- mefes fem confeguit alivio. Nao he dizivel quantas as fangrias da vea falvatella dama diraita , recor- X. r&rao
» .*r%, DomingasFerreiraLopaflvendoafenmarido , em psrigodavida por caufa'de huma fébre maligna, . *. comqueefíteve deflconfiado de todôós as remedies hu- « «manos, recorreo ao Medico Di ino., pedindolhe com - : — entefhecidos rogos, & copiafiflimas lagtiias quizef=- + fedar faude af agonizante enfermo, válendofe pa” ra o defpacho de petição tãognita; da podêrofiflima. interceífaô de Naffa Senhorade Penhiade França, fa? — O. zendolhe proraeffa,, & voto, quéte feu marido livraf 2 o. fe de tamgrandepérigo, iriatiove dias continuas, em — - , * ' «açção de Braças, “Elna Ipreja a pé defealço. Nãolhe “ , .- tahio aldada a fua mp lica; porque feito ovoto; fe tironnó túelmo'dia a febre do marido, & confeguio ' — faudetaGperteita, que todus a avaliàrão por milagros Ta. Não.follegou o agradecido animo defta taô bem ouvida, como bem defpachada mulher, fem que na .. mefma hora fóffe proftrarfe aos pês da piedofifhima | ' Senhora, & Começou logo a pagar a novena promet=' tida ; más pela grandeza, & diftancia do caminho, ou ] peêlas excelhvas ealmas , que aviá, on-(oque he mais. * certo ) pelo exceffiio trabalho”, a que não era coftu- . mada , fe accendêrão o figado, & entranhas de al maneira, que geràrao humores mais acres , & coleri= cos do que convinha , derretendo-os, & perturban= * do-os de modo que como fe foflem turgentes os não pode a natureza contég, nem governar ;'ábces os arro- o ' jou impetiofamef iogintaftinos, donde lhe, - feguio hum lux En : fo, & obitinas. | do, que duro quinze ns. Pá 3. Paráremediode! las comiiaiie tha des dou co . Medicos de fama , dé; cujos cofifelhos ufôu- quinzê 2 : Mefes fem copfeguit qlivio.. Naô he dizivel quantas 15 faúlérias lhe fera, rasajudas alteradtes, Sela” vativas lhe deitârão; .d& quantos énípl ! tativos, & adftringantes (exaliraOugianeas bebidas =. + '&e medicamentos elecifichs; QuapeêsPorgam Áaps gemas appropriadas; quançtesiçordéaes: rdftra Neo Meo epithemias refrigerantes 3.não BA ; às langrias da vea falvateMa datmão dit ta;jrecora A coco t A» as - r . E, Fórao A = o 4 o. ] 7 " 2 ” . " ' o te é " : * . * " AA e. e) . laftios tonfors E oa É
* .. 241 Observat ao 2. Domingas Ferreira Lopa vendo a seu marido em perigo da vida por causa de huma febre maligna, com que esteve desconfiado de todos os remedios hu¬ manos, recorreo ao Medico Divino, prdindolhe com enternecidos rogos, & copiosissimas lagrimas quizes¬ se dar saude a seu agonizante enfermo, valendose pa¬ ra o despacho de petiçao tamouusta, da poderosissima intercessaon de Nossa Senhorade Penha de França, fa¬ zendolhe promessa, & voto, que se seu marido livras¬ le de tamgrande perigo, iria nove dias continuos, em acçao dę graças, a sua Igreja a pé descalço. Namo lhe sahio baldada a sua supplica; porque feito o voto, se tirou no mesmo dia a febre do marido, & conseguio saude tao perfeita, que todos a avaliàtamo por milagro¬ sa. Nao sossegou o agradecido animo desta taon bem ouvida, como bem despachada mulher, sem que na meſma hora foſse prostrarse aos pès da piedosissima Senhora, & começou logo a pagar a novena promet- tida; mas pela grandeza, & distancia do caminho, ou pelas excellivas calmas, que avia, ou (o que he mais certo) pelo excessivo trabalho, a que nao era costu¬ mada, se accendèramo o figado, & entranhas de tal maneira, que geràraon humores mais acres, & coleri¬ cos do que convinha, derretendo-os, & perturban¬ do-os de modo, que como se fossem turgentes, os namo „nem governar, antes os arro¬ pode a natureza conte jou impetuosamente para os intestinos, donde se lhe Mesolg d. doltinas seguio hum Aluxo dle gentre tam do, que durouquinzemeses. 3. Parâ remedio destas camaras ie chamaraon dous Medicos de fama, de cujos conselhos usou quinze meses sem conseguir alivio. Naon he dizivel quantas santtrias lhe fizeraon; quantas ajudas alterantes, & la vativas lhe deitàramo; de quantos emplostros confor¬ rao s quantas bebidas, tativos, & adstringentes se va¬ & medicamentos especificos; quantas purgas & apo¬ zemas appropriadas; quantos cordeaes adstringentes; quantos epithemas refrigerantes; namo lhos esquecè¬ as sangrias da vea salvatella da mao difeita; recor¬ rérad X(
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242 Observações Medicas Doutrinaes rèraõ aos pòs do cypò , às raizes da erva limonio ; fizerãolhe tomar por baixo os bafos de vinagre forte cozido com rosas balaustias , e pinhas bravas ; usarão dos fumos de esterco de burro ; appellàraõ para os pòs das tunicas das castanhas ; usárão muitos dias em jejum do xarope de sorvas ; derãolhe o pò da ova do peixe Anjo colhido em Mayo ; applicarãolhe duas vezes no dia ajudas de cozimento de mãos de carneiro cozidas com arroz torrado , e alquitira , ajuntando a cada ajuda oitava , e meya de Philonio Persico ; tomou muitas vezes os fumos de cerol dos capateiros ; pela banda de fóra applicaràrão sobre toda a barriga , e estomago emplastros de marmelada , biscouto preto , losna , ortelãa , pòs de casca de romãa , de murta , çumagre , maçãs de acipreste , polvorizado tudo subtilmente , e amassado com vinho tinto , finalmente derãolhe , em duas noites successivas , huma pilula de tres grãos de laudano opiado : e sendo todos estes remedios admiraveis , e muito qualificados com largas experiencias , nenhum proveito fizerão ; antes àlem das camaras , lhe sobrevierão hum fastio mortal , huma magreza excessiva , huma melancolia profunda , e huma febre lenta . 4. Vendose a pobre enferma em estado tam miseravel , e desenganada dos Medicos , de que certamente morreria , se a febre , e as camaras perseverassem , se resolveo a cuidar menos dos remedios corporaes , pelo pouco que lhe aproveitàraõ ; e só se entregou nas mãos de Deos , pedindolhe com lagrimas de dor huma boa morte : porèm os parentes , que estavão mui lembrados dos extremos que ella fizera no perigo de seu marido , naõ quizerão desprezar os remedios da Arte , nem deixar a doença atida só às esperanças de milagre , parecendolhes que era locura , e desesperação , desprezar o conselho do Medicos , (1.) mayormente quando Deos manda que o sigamos , e estimemos , porque ainda que a vida , e a morte estejão na mão de Deos , nem por isso se haõ de desprezar os remedios , que elle deixou para soccorro dos homẽs ; que
242 Obfervações Medicas Doutrinaes. 0 verão aos pas do cypo, as raizes da erva limonie , zerãolhe temar por baixo os bafos de vinagre, forte cozido 'com rofas balauftias , & pinhas bravas ; sifa rão dosfumes de efterco de burro ; appellarao para o pos das tunicas das caftanhas; ufarão muitos dias em jejum do xarope de forvas ; deraolhe o po da ova do peixe Anjo colhido em Mayo; applicaraolhe duas yer zes no dia ajudas de cozimento de mãos de carneing cozidas com arroz torrado, & alquitira, ajuntando a cada ajuda oitava, & meya de Philonio Perfico , tq mou muitas vezes os fuimos de cerol dos cagateiros! pela banda de fora applicarão fobre toda abarriga cftomago emplaftros de marmelada, bifcouto ptero, lofna, ortelaa, pos de cafca de romaa, depuisa,. t magre , maças de aciprefte , polvorizado sudo fubtil. mente., & amaffado com vinho tinto, finalmente de rãolhe,em duas noites fucceffivas, huma pilula de tred grãos de laudano opiado : & fondo todos eftes reme- dios admiraveis, & muito qualificados com largas en periencias , nenhum proveito fizerão; antes àlem das camaras, lhe fobrevierao hum faftio mortal, huma magreza exceffiva;, huma melancolia profunda , & . huma febre lenta. L 4. Vendofe a pobre enferma lin eftado ram mi- feravel, & defenganada dos Medicos, de que certa- mente morreria, fe a febre, & as camaras perfeveraf. fem , fe refolveo a cuidar menos dosremedios corpor raes, pelo pouco que lhe aproveitaraos & foie es tregou nas mãos de Deos, pedindolhe com lagring de dor huma boa morte ; poreni os parentes, que efta- vão mui lembrados dos extremos que ella fizere no perigo de feu marido, nacquize rao desprezar os roma dios da Arte hem devar a doença acido fo às rancesde milagre , parecendolhes que era locat delefperação, delprevar o confello dos Medico; mayormente cuando Llecs manda que o figamo y eftimemos , porque aitola que a vida, & a mortecite jão na maode Deos, nem por iffo fe hao dedefpi .os remedios, queelle deixou para foccorre dos h que
24z . Obfervacoes Medicas Doutrinaes. rrao aos':p's. do cyp, as raizesda crva limonias 'zeraolhe tamar por baixo os bafos de vimagre,forte cozido com rofas balauftias. & pinhas bravas;fa . rao dosfumesde.cfterco de burro; appellara para o .. pos dastunicas das caftanhas:, ulara muitos dias em peixe Anjo colhidoem Mayaapplicaraolhe duasxer. zes no dia ajudas de cozimento de maos decarneirg cozidas com arroz torrado, & alquitira, ajuntar@o.a cada ajuda oitava, & meya de Phitonio Perfico ..to. mou muitas vezes os fuimos de cerol dos cagateiross: pela banda de fora applicarao fobre todaabatriga & lofna , ortelaa, pos de cafca de romaaš degnua, t magre, macas de aciprefte, polyorizadotudo fubtil. mente., & amaffado com vinho tinto, fpalmente d. raolhe,em duas noites fucceffivas, huina piula de tres graos de laudano opiado : & fendo todos eftes rem dios admiraveis, & muito qualificados.com largase periencias , nenhum proveito fizera@; antes alemdaa camaras, lhe fobrevierao humfaftio morral , huma 'magreza exceffiva;, huma melancolia profunda , humafebrelenta. 4.. Vendofe apobre.enferma.et eftadoram mi. feravel.,&.defenganada dós Medigos, dequecerta mente orreria , fe afebre, & as camaras ptrfeveraf- fem, fe refolveo a.cuidar menos dosremedios corpg raes, pelo pouco. que lhc aproveitara5: & f6fe vao mui lembrados dósextremos queclla fizere nd defefparacaa, defprezarotonfelho dos Medico mayormente ufando.fec @ manda que o.figano eftimemos, porque air laguc a vida,& amorteelte jaonamao le Deos , nem por iffo fe ha dedefpd .os rémedios,queelle.deixou para foccorra dos hr
d1z Obfertváções Medicas Doutrinaçs. -— rtrão aos-pils docypô, às raizes da erva limonigsfia "zerâolhe temar gor-baixo os bafos de vinagre-forte . “cozido 'com rofas balauftias ; & pinhas bravas ;sáífáz * - rãodosfumesde efterco de burro ; appellàraô xá ot pôs dastanicas dás caltanhas; ufárão muitos dias em jejum do xarope de tomas ; derãolhe o pô da ova.do E peixe Anjo colhido em Maya; ap plicaraoine duasxer es no dia ajudas de cozimehto de mãos decagrneins “cozidas com arroz torrado, & alguitira; agetando à cada ajuda oitava, & meya de Phitonio: Penfico 3 .rejé — moumuitas vezes os fumos de cerol dos cagtateiross! pela banda de fóra applicàrão fobre toda a bãtriga eftomago emplaítros de marmelada ; hifgouyroó ptefo lofna , ortelãa, pôs de cafea de romãa? dEjseaea,: Ge, magre, maçãs de aciprefte , olvorizado tdo fubrile . mente, & amaífádo com vinho tintos, finalmente dem rãolhe,em duas noites fuccefivas, homa Áiula de tres grãos de laudano opiado :: & fendo godes sites rerae= dios admiraveis , & muito qualificados com largas exe periencias , nenhum proveito fizerãe ; antes àlemdass camaras, lhe fobrevierão hum faítio mortal, huma magreza excelliva:, huma melancolia profunda , de . . huma febre lenta. 2 E : 4 4. Vendofe apobre enferma ae eltad: : feravel, & defeniganada dos Medigos, de, que certas mente rorreria, fe a febre , &-as camaras perfeverafa fem , fe refolveo a cuidar menos dotremedios Sie 5 raes, pelo poncó que lhe aproveirâraõs & fóie tregou nas mãos de Deos, pedindolht com lagri de dor huma boa mort | 06 parentes que efia=-"-— eftimeitos, porque aiíia que a vida, & a mor jáona mogi Dgos , nem por iflo fehao dedef À .os rêmedios, quêelie deixon para foccorre dos has a ATT So que a bo , CNS LNLS
". 242 Observaçones Medicas Doutrinaos. reramo aos pas do cypò, às raizes da erva limonie, si¬ zeramolhe tomar por baixo os bafos de vinagre, forte cozido com rosas balaustias, & pinhas bravas; ussa¬ ramo dos fumos de esterco de burro; appellaraon para ont pos das tunicas das castanhas; usaramo muitos dias em jejum do xarope de somas; deramolhe o pò da ova do peixe Anjo colhido em Mayq; applicaraolhe duas ye zes no dia ajudas de cozimento de manos de carneiro cozidas com arroz torrado, & alquitira, ajuntando a cada ajuda oitava, & meya de Philonio Persico, to¬ mou muitas vezes os fumos de cerol dos çapateirogs pela banda de fora applicàramo sobre toda a barriga, & estomago emplastros de marmelada, hiscouto pteto, losna, ortelama, pòs de casca de romana, denuna, qu¬ magre, maçans de acipreste, polvorizado tudo subtil¬ mente, & amassado com vinho tinto, sinalmente da¬ ramolhe, em duas noites successivas, huma prllula de tres gramos de laudano opiado: & sendo jodos estes reme dios admiraveis, & muito qualificados com largas en¬ periencias, nenhum proveito fizerame; antes àlem das camaras, lhe sobrevieramo hum fastio mortal, huma magreza excessiva, huma melancolia profunda, & huma febre lenta. adoram. mi¬ 'endole a pobre enferma seravel, & desenganada dos Medioos, de que corta¬ mente morreria, se a febre, & as camaras perseveras¬ sem, se resolveo a cuidar menos dos remedios corpo¬ raes, pelo poucò que lhe aproveitàaraon? & so se e tregou nas mamos de Deos, pedindolha com lagrini de dor huma boa morte; poreni os parentes, que esta¬ vamo mui lembrados dos, extremos, que ella fizera no perigo de seu marido, nad dlize jao desprozar os rem a dpença atida so as, dios da Arte, nem den ręcendolhes que era locui ranças de milagre, p desetperaçamd, despregat oconselho dos Medico mayormente quando Dequ manda que o sigamo estimemos, porque aimla que a vida, & a morte elt jano na mamode Deos, nem por isso se haò de desi os remedios, que elle deixou para soccorro dos lig que 4:
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Observaçaõ XL. 243 que quem desestima o beneficio , offende ao bemfeitor : por estas razões , e outras não menos ponderosas me consultàraõ para q lhes acudisse em tão grande aperto . 5. Fui pois chamado a 4. de Janeiro de 1663 . & para que a cura se principiasse com bom auspicio , depois de fazer varias perguntas , quiz ver os excrementos que deitava no curso , para que pela grossura , ou delgadeza delles , pela mayor , ou menor quantidade , pela cor mais , ou menos subida tivesse perfeito conhecimento do achaque , e causa de que procedia . 6. Examinados com toda a attenção os excrementos , e vendo que erão retintos de cor amarella escura , conheci por elles , e pelo temperamento quente da enferma , que a causa occasional das sobreditas camaras fora o grande trabalho , que tivera nas jornadas da novena ; e que a causa material erão os humores colericos , que com o mesmo trabalho se geràraõ ; e que a parte mandante era o figado exasperado ; e recipiente erão os intestinos . Isto assim premeditado , lhe assegurei que cobrasse animo , porque avia de ter a saude que desejava ; com tal condição que obedecesse ao que eu lhe mandasse . Prometteome que faria quanto eu quizesse . Julguei pois que era precisamente necessario evacuar primeiro os humores , porque de outra sorte seria o trabalho baldado , e a diligencia infructuosa ; (*) e como para tirar os taes humores , que erão a causa material da enfermidade , nenhum remedio aja mais efficaz que a minha purga corroborante de myrobalanos citrinos , ruibarbo , e xarope das nossas rosas , cuja receita se achará escrita na minha Polyanthea nova da segunda impressaõ cap. 56. fol. 372. num. 6. e 7. lhe receitei a dita purga , para tomar tres vezes em dias alternados : e como para temperar o calor das entranhas , que erão a causa efficiente , nada aja tam efficaz como os banhos de agua doce , lhos ordenei , não só porque refrescão , e temperão muito o calor ; mas porque abrem , e dilatão os póros de todo o corpo , de que se segue a attracção , e re
Obfervação XL .: 243 que quem defeftima obeneficio, offende ao bemfei- tor : por eftas razões, & outras não menos pondero- fas me confultarao para q lhes acudiffe emtao gran-' 'de aperto. 5. Fui pois chamado a4. de Janeiro de 163. & para que a cura fe principiaffe com bom aufpicio , de- pois de fazer varias perguntas , quiz ver os excremen- tos que deitava no curfo, para que pela groffura, ou delgadeza delles , pela mayor , ou menor quantidade, pela cor mais, ou menos fubida tiveffe perfeito conhe -. cimento doachaque, & caufa de que procedia. 6. : Examinados com toda a attenção os excremen- tos, & vendo que erao retintos de cor amarella efcu- ra, conheci por elles , & pelo temperamento quente da enferma, que a caufa occasional.das fobreditas ca- maras fora o grande trabalho , que tivera nas jorna- das da novena ; & que a caufa material erão os humo- res.colericos , que tom o mefmo trabalho fe geraraos & que a parte mandante era o figado exafperado ; & # recipiente erão os inteftinos. Ifto afim premeditado, lhe affegurei que cobraffe animo, porque avis de tera faude que defejava ; com tal condição que obedeceffe. 20 que eu lhe mandaffe. Prometteome que faria quan- ,to eu quizeffe. Julguei pois que era precifamente ne- ceffario evacuar primeiro os humores , porque de ou- tra forte feria o trabalho baldado, & a diligencia in- fructuofa;(*) & como para tirar, os taes humores, que erão a caufa material da enfermidade, nenhum reme- dio aja maisefficaz que a minha purga corroborante de myrobalanos citanos , ruibarbo', & xarope das noffas rofas, cuja aceita fe achara eferita na minha Polyanthea nova da legunda imprefab cap. 56. fol. 377, num. 6. & 7. lhe receitei a dita purga, para to- · mar tres vezes em dia's alternados: & como para tem+ perar o calor das entranhas y que erão a caufa efficien- te , nada aja tam efficaz como os banhos de agua do- ce , lhos ordenei, não fo porque refrefcão, & tempe- to muito o calor ; mas' porque abrem, & dilatão os Poros de todo o corpo , de que fe fegue a attracção , & re: . : ji :
Obfervacao XL: : : 243 .que quem defeftima obeneficio, offende a bemifti- tor : por eftasrazoes, & outras nao nenos pondero- .fas me confultara para lhes acudiffe em tao gran- 'deapérto. : 5:. Fui pois.chamad a4: deJanefro de 1663: &. para que & cura fe principiaffe com bom aufpicio , de- pois de fazer varias perguntas, quiz ver os excremen- .tos que deitavanocurfo, para que pela groffura, ou .delgadeza delles , pela may sr , ou menor'quantidade,. pela cor mais, ou menos fubida tiveffe perfeito conhe-. cimento doachaque, & caufa de que procedia. :6. :Examinadoscom toda a attencao os excremen- tos:, & yendoque erao retintos de cor amarella efcu- ra, conheci por elles,& pelo temperamento quent da enferma , que a caufa occafional.das fobreditas ca- maras fora o grande trabalho,que tivera nas jornaa das da.novena ; &.que a caufa material érao os hurno- res.colericos , quetom mefmo trabalho.fe geraraö. & queaparte mandanteera ofigadoexafperado; &a 'recipiente eraoos inteftinos. Ifto affim premetdlitado, 1he affegurei que.cobraffe.animo, por que avia de ter a faude que defejava , com tal condicao que obedecelfc ao que eu lhe mandaffe.Prometteome que faria quan- . to'éu quizeffe. Julguei pois que era precifamente ne- ceffario evacuar primeiro os humores, porqut de ou- traforte feria otrabalha baldad, & a diligencia in- fructuofa;(*).& comopara tirar os taes humores, que erao a caufa material da énfefmidade, nenhum reme- dioaja maiseffcaz que a minha purga corroborante. de myrobalanos citrinos , ruibarbo', & xarope das noffas rofas, cuja teita fe achara efcrita na minha Polyanthea nova dategunda impreffa5 cap. 56. fol. . mar trés vezes emdias alternados: & como para tem+ perar o calor das entranhas' que éraó a caufa efficien- te , nada aja tam effcaz como:os banhos de agua do- ce., lhos ordenei, naofo porque refrefcao , & tempe- aormuito ocalr . mas porque abrem, & dilatao os ros detödoocorp., de que fafeguea attracca, &
ND Obfeivação XELCO aa '” quequem defeftima obenefício , offende ao bemfeia “tor: por eftas razões, & outras não fnenos pohdero- fas me confultaraô para à lhes acudifle emtão gran-* “deapêrto. SE ma 1 5: Fui pois chamado a4. de Janetro de 1663. &. para que Z cura fe prineipiafle com bom auípicio , de . pois de fazer varias perguntas”, quiz ver Os excremens tos que deitava no curfo ,, pára que pela groílura, ou “delgadeza delles , pela mayer , ou menor' quantidade, . pela cor mais, ou menos fubida tivefle Qerícito conhe. cimento doachaque, & caufa de que procedia. 6. :Examinados com toda 2 attenção os excremen* tos., & vendo que erão retintos de cor amarella efeus ra, conheci por elles , & pelo temperamento quente da enferma , que a caufa occafional.das fobreditas cas. maras fora o grande trabalho , que tivera nasjornas - das da hovenaà ; & que a caufa material éerão ós humo.- ' rescolericos , quet i & quea parte mandanteera o figado exafperado; & à 'recipiente erão os inteítinos. tio afim premetlirado, : lheaflegurei que cobrafle animo, porque avia de tera -- faude que defejava ; com tal condição que obedecefle. ' ao que einlhe mandafle.Prometteotne que faria quan- , to eu quizefle. Julguei pois que era precifamente ne- ceflario evacuar primeiro os humores, porquê de ou» ., tra forte feria otrabalha baldado ; & a diligencia in- - fruétuofa; (*) & comospara titar.os taes humores, que erão a caufainaterial dá énfefihidade, nenhum reme- dio aja mais.efficaz que a, minha purga corroborancê de myrobalanoós citminos , riibarbo', & xarope das : noffas rofas, cujállbteira fe achará eferita na minha Polyanthea ava dá fegunda imprefla6 cap. 56. fol, 372: num. 6. & 7. lhe receitei à dita purga , para to- . martrês vezesemdias alternados: & como pára tem- peraro calor das entranhas; que erãoa caufa eficiem te , nada aja tam efficáz. come; es banhos de aguá do- ce , lhos ordenei:, não fó porque refrefcão, &tempe= - * tão muito o caldr; fas porque abrem, & dilatrão os Dios detódo o corpo ; de que fe fegue a attracção ;, om o mefimo trabalho fe geràraós, eo
Observaçaon XL. 243 que quem desestima obeneficio, offende ao bemfei¬ tor: por estas razones, & outras namo męnos pondero¬ sas me consultaraon para que lhes acudisse em tamo gran¬ de aperto. 5. Fui pois chamado a4. de Janefro de 1663. & para que à cura se principiasse com bom auspicio, de¬ pois de fazer varias perguntas, quiz ver os excremen¬ tos que deitava no curso, para que pela grossura, ou delgadeza delles, pela mayur, ou menor quantidade, pela cor mais, ou menos subida tivesse perfeito conhe¬ cimento do achaque, & causa de que procedia. 6. Examinados com toda a attençamo os excremen¬ tos, & vendo que eramo retintos de cor amarella escu¬ ra, conheci por elles, & pelo temperamento quente da enferma, que a causa occasional. das sobreditas ca- maras fora o grande trabalho, que tivera nas jorna¬ das da hovena; & que a causa material eramo os humo¬ res colericos, que tom o mesmo trabalho se geraraon & que a parte mandante era o figado exasperado; & a recipiente eramo os intestinos. Isto assim premeditado, Ihe assegurei que cobrasse animo, porque avia de tera saude que desejava; com tal condiçamo que obedęcesse. ao que eu lhe mandasse. Prometteome que faria quan¬ to eu quizesse. Julguei pois que era precisamente ne¬ cessario evacuar primeiro os humores, porque de ou¬ tra sorte seria o trabalho baldado, & a diligencia in¬ fructuosa; (*) & como para tirar os taes humores, que eramo a causa material da enfermidade, nenhum reme¬ dio aja mais efficaz que a minha purga corroborantè de myrobalanos citrinos, ruibarbo, & xarope das noſſas roſas, cuja eita ſe acharà escrita na minha Polyanthea nova da segunda impressao cap. 56. fol. 372. num. 6. & 7. lhe receitei a dita purga, para to¬ mar tres vezes em dias alternados: & como para tem¬ perar o calor das entranhias, que eramo a causa efficien¬ te, nada aja tam efficaz como os banhos de agua do¬ ce, lhos ordenei, namo so porque refrescamo, & tempe¬ ramo muito o calor; mas porque abrem, & dilatamo os poros de todo o corpo, de que se segue a attracçano, & re¬ " * *
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244 Observações Medicas Doutrinaes revulsaõ da materia pungente , que avia de despenharse nos intestinos , e fazer os cursos ; por isto pondo de parte os engrossantes , e adstringentes de que tanto tempo tinha usado , a purguei , tres dias alternados , com o remedio sobredito , e depois disso lhe fiz tomar cincoenta banhos de agua doce , em que mandei desfazer todos os dias hum pão de massa crua , e antes de passarem trinta dias , teve saude taõ perfeita , que admirou a todos, e entendèraõ que resuscitàra ; e vive por beneficio desta cura , ha mais de quarenta e tres annos . 7. Com as mesmas purgas , e banhos curei muitas camaras antigas , que tinhaõ desprezado aos mais decantados remedios da Medicina , como observei no Senhor Bispo de Miranda Manoel de Moura Manoel ; no Padre Mattheos Gomes de Mercado ; na mulher de Luis Rodriguez de Paiva ; na mulher de Lourenço Friarte , ourives do ouro ; e em outras muitas pessoas , que deixo de nomear , por naõ ser enfadoso . E porque naõ pareça que os banhos para curar as camaras saõ louvados só por minha authoridade , e experiencia , ouçaõ a Galeno , (2.) o qual fallando delles diz as seguintes palavras : São os banhos convenientissimos para reter os cursos , porque revellem , e chamaõ o humor do ventre para a superficie do corpo , e deste modo paraõ o fluxo . Ouçaõ tambem a Avicenna , (3.) o qual em termos identicos diz assim : São os banhos , e as esfregações os dous remedios , que retem os cursos , porque dilataõ os póros , e attrahem a materia delles para as partes exteriores . Confirmase a virtude , que os banhos tem para curar camaras , com a experiencia de Riverio ; (4.) diz elle as seguintes palavras : Achandome eu acometido com humas camaras colericas taõ acres , e mordazes , que me seriaõ , e escandalizavaõ as partes sedaes , e provocavaõ ardores de ourina por causa dos humores salgados , e acrimoniosos que naquellas partes cabiaõ ; e tomãdo banhos , naõ só melhorei das taes camaras , mas me preservei de as ter de sangue q̃ me estavaõ ameaçando . Thomas Rodriguez da Veiga , (5.) que
244 Obfervações Medicas Doutrinaes." ! revulfao da materia pungente, que avia de defpenhar- fe nos inteftinos , & fazer os curlos ; por ifto pondo de parte os engroffantes , & aditringentes de que tanto tempotinha ufado, a purguei, tres dias alternados, com o remedio fobredito, & depois diffo lhe fiz to- mar cincoenta banhos de agua doce , em que mandei desfazer todos os dias hum pão de maffa crua , & an- tes de paffarem trinta dias, teve faude. tao perfeita, que admirou a todos, & entenderao que refufcitaras & vive por beneficio defta cura, ha mais de quarenta & tres annos. · 7. Com as mesmas purgas , & banhos curei mui- tas camaras antigas , que tinhaõ defprezado aos mais decantados remedios da Medicina, como obfervei no Senhor Bifpo de Miranda Manoel de Moura Manoel; no Padre Mattheos Gomes de Mercado ; na mulher de Luis Rodriguez de Paiva; na mulher de L'ouren+ ço Friarte, ourives do ouro ; & em butras muitas pef- foas, que deixo. de nomear, por nao fer enfadofo. E porque nao pareça que os banhos para curar as cama -* ras fao louvados fó por minha authoridade, & expe- riencia, ouçao a Galeno, (2.) o qual fallando delles diz as feguintes palavras: Sao os banhos convenientifi- mos parareter os cur fos, porque revellem , & chamao humor do ventre para a Superficie do corpo, & defle mo- do parao o fluxo. Ouçao tambem a Avicenna, (3.) qual em termos identicos diz affim : Sao os banhos, as esfregações os dous remedios, que retem os cur fos, por que dilatao os poros, & attrahem a materia delles para as partes exteriores. Confirmafe a virtude, que os ba- nhos tem para curar camaras, co a experiencia de Riverio ; (4') diz elle as leguintes palavras: Achand me eu acometido com bumas camar as colericas tagare & mor dazes, que me feriao, & efcandalizavas a tes fedaes, & provocavao ardores de ourina por dos humores Jalgados , sacrimoniofos que naquellas partes cabiao; & tomado banhos, nao fo melhorei darlaes camar as, mas me prefervei de as ter de Sangue q is rao ameaçando. Thomas Rodriguez da Veiga, (.) · que
244 . Obfervacoes Medicas Doutrinaes. revulfa da materia pangente; qué avia de defpenhar- fe nos inteftinos , & fazer os curfos ; porifto pondo de parte os engroffantes, & aditringentés de que tanto: tempotinha ufado, a purguei, tres dias alternados, com o remediofobredito, & depois.diffo lhe fiz to- mar cincoenta banhos de aguadoce , em qüe mandei desfazer todos os dias hum pao de maffa crua , & an- tes de paffarem trinta dias., teve faude.ta&perfeita, que admirou a todos , & entendera que refufcitara & vive por beneficio defta cura, ha mais de quarenta & tres annos. 7. -. Com as mefmas purgas , &. banhos curei mui- - tas camaras antigas , que tinla defprezado aos mais decantados remedios da Medicina , como.obfervei n Senhor Bifpo de Miranda Manoel de Moura Manoel: rro Padre Mattheos Gomes de Mercado; nammulher de Luis Rodriguez de Paiva;, namulhet deLourén o Friarte, ourives do ouro, & ein butras muitas pef. foas, quedeixo.de nomear, por naafer enfadofo. E porque naö pareca que os.banhos para curar as cama-- ras falouvados f6por minha authoridade, &expc- riencia, ouca a Galeno,(2.)oqual fallando.delles diz as feguintes palavras:. Sa os:bánbos convenientifi mos parareter os curfos,parquerevellem, & chama.o. :1 humor do ventre para a uperfcie dacorpo, r defte no-. do paraofluxo. Oua tambeim a Avicenna, (3.) @ qual em termosidenticos diz aff:m : Sa os banbos, as esfregagöes os dous remedios, que reten os curfos, por. que dilata os pöros, attrálem a materia delles.para: as partes cxteriores. Confirmafea virtude, que os ba-- nhos tem paracurar camaras, co a:experiencia da Riverio, (4) diz clfeas feguintes palavras: Achan me cu acometidotom bunas tamaras.coleritas tagar mordazess que me feria, & eftandalizava a tesfedaes, provocava ardores de ourina por dos bumores (algados ,as. acrimoniofos que naquellat partes cabias; s tomado banbos,na melhorei da camaras, inas ineprefervei deas tcr de fang ue g m. ta aineacando..Thomas Rodrigucz da Veiga, que
244 Oblervações Medicas Doutrinaes: ! to % º revulfaô da máceria pupgente, que avia de defpenhar« fe nos inteftinos ,'& fazer os cur(os ; por ifto pondo de parte os engroflantes , & aditringentês de que tanto», - temposinha ufado, a purguel , tres dias alternãdos com o remedió fobre ito , & depois diffo lhe fiz to- Mar cincoenta banhos de aguadóce , em que mandei desfazer todos os dias lim pão de maffa crua , & an« tes de pallarem trinta dias ; teve faude .taô perfeita, . que admirou à todos , & entendeêraõ que refafcitàâra; & vive por beneficio deta cura , ha mais.de quarenta & tres annos. . . 7. “« Comas melmas purgas , & banhos curéi mui- - tas camaras antiga porque'naô pareça e bh À dizas s Riverio; (4:) dize | Fesfedaes, & provocava i ri ! dos bunares [algados ,:&' acrimoniofos que aque Tas partes Gúbias, & tomado banhos,naão Jó melhores dagkãa LAmaras, mas me pr | vao ameaçando. me eu acometido com bumas camaras colericast é& mordazes, que me feriao , & efecandalizava s, quetinhao defprezado 290s mais decantados remedios da Medicina, como obfervei no Senhor Bifpo de Miranda Manoel de Moura Manoel; no Padre Mattheos Gomes de Mercado ; na mulher de Luis Rodriguez de Paiva; na mulhe? de Louren+ ço Friarte, ourives do ouro ; & em butras muiças pefo foas, que deixo.de nomear, por vtaó fer enfadofo. E = que os banhos para curar as camas' ras faó louvados fó por minha autharidade , & expe- .tiência, ouçaô a Galeno, (2.) o qual fallando delles feguintes palavras: Saô osbanhos comvenientilfia mos paraveter os curfos, porque vevellem , & chamao a, : bumor do ventre para d do parao o fluxo. Outaó tambem à Avicenna, (3.) & | qual em termosidenticos diz aflim : Saõ osbanhos, 2áB é esfregações os doys remedios, que retem os curfos; poa que dildsao os póros , & attráhem a materia delles.pard aspartes exteriores. Confirmafea virtude ,que os bas nhos tem para curar camaras, & a:expetiencia de uperfeie da;corpo , & defle mo» líeas Teguintes palavras: Ac - o urdores de ourina por É ferve tep de fangue 5 Mk homas Rodriguez da Veiga;(5" Rod i * que : . p e . DO
244 Observaçones Medicas Doutrinaes. revulsaon da materia pungente, quę avia de despenhar¬ se nos intestinos, & fazer os cursos; por isto pondo de parte os engrossantes, & adstringentes de que tanto, tempotinha usado, a purguei, tres dias alternâdos, com o remedio sobredito, & depois disso lhe fiz to¬ mar cincoenta banhos de agua doce, em que mandei desfazer todos os dias hum pao de massa crua, & an- tes de passarem trinta dias, teve saude tao perfeita, que admirou a todos, & ontendèrao que refuscitàra; & vive por beneficio desta cura, ha mais de quarenta **.* & tres annos. 7. Com as mesmas purgas, & banhos curei mui¬ tas camaras antigas, que tinhaon desprezado aos mais decantados remedios da Medicina, como observei no Senhor Bispo de Miranda Manoel de Moura Manoel; no Padre Mattheos Gomes de Mercado; na mulher de Luis Rodriguez de Paiva; na mulhet de Louren- ço Friarte, ourives do ouro; & em butras muitas pes¬ soas, que deixo de nomear, por naon ser enfadoso. E porque naon pareça que os banhos para curar as cama- ras saon louvados so por minha authoridade, & expe¬ riencia, ouçaon a Galeno, (2.) o qual fallando delles diz as seguintes palavras: Sao os hanhos convenientissi¬ mos para reter os cursos, porque revellem, & chamao o humor do ventre para d superficie do corpo, & deste mo¬ do paraon o fluxo. Ouçao tambem a Avicenna, (3.) a qual em termos identicos diz assim: Sao os banbos, & as esfregaçones os dous remedios, que retem os cursos, por que dilataon os poros, & attrahem a materia delles para as partes exteriores. Confirmase a virtude, que os ba¬ nhos tem para curar camaras, co a experiencia de Riverio; (4.) diz elle as seguintes palavras: Achan me eu acometido com humas camaras colericas taquema & mordazes, que me feriaon, & escandulizavao a tes sedaes, & provocavaon urdores de ourina pord dos bumores salgados, & acrimoniosos que naquellas partes cabia; & tomando banhos, nao so melhorei da camaras, mas me preservei de as ter de sangue quam n vaq ameaçando. Thomas Rodriguez da Veiga, que -
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Observaçaõ XL. 245 que foi o mayor Medico que teve Portugal , adverte , que para curar camaras antigas he remedio utilissimo chamar o humor para as partes superficiaes , e cutaneas , fazendo esfregações em todo o corpo , e deitando ventosas sobre os hypocondrios , e espadoas , e dando banhos de agua quente ; he porèm de advertir , que supposto os ditos banhos aproveitem muito para as camaras procedidas de humor quente , acre , e corrosivo , e sejaõ uteis aos magros , adultos , e esquentados , e os que tem grande ardor do corpo , e aos resecados da febre , como tambem aos melancolicos , e opprimidos com o humor crasso , e terreno , como tambem aos que padecem terçãs exquisitas , principalmente se forem pessoas esquentadas , magras , e torradas , como diz Galeno , (6.) comtudo he necessario advertir , que saõ damnosissimos aos que tem o corpo cheyo de cruezas , e de humores cacochymicos ; e aos que tem as entranhas languidas , e debilitadas ; e finalmente àquelles que tem os hypocondrios duros , ou tumorosos , porque adelgaçaõ o humor preternatural , e cahindo em alguma parte languida degenera em tumores , e abscessos . 8. Neste lugar me faraõ os curiosos duas perguntas . A primeira , porque razaõ assegurei à sobredita enferma que avia de ter saude , quando Galeno (7.) nos aconselha que nas doenças perigosas naõ demos grandes esperanças de vida aos enfermos ; porque disso resulta , que se a melhoria tarda , ou a doença peyora , se entregaõ a huma melancolia taõ profunda , que basta para os matar ; e se saõ grandes os esforços que o Medico lhes dá , cobraõ tal animo que naõ querem aceitar os remedios , porque se persuadem que naõ tem perigo . 9. A esta pergunta respondo , que ainda que he conselho prudente naõ encher de esperanças aos muito perigosos , por lhes naõ ser occasiaõ a que , se faltar o promettido , se cuide que o Medico he mentiroso , ou ignorante ; comtudo , quando o doente he imaginativo , e desconfiado , e tem tratado da sua salvaçaõ , e feito
Obfervaçao XL. que foi o mayor Medico que teve Portugal, adverte, que para curar camaras antigas he remedio utiliffimo chamar o humor para as partes fuperficiaes, & cuta- neas , fazendo esfregações em todo o corpo,& deitan= do ventofas fobre os hypocondrios ; & efpadoas, & dando banhos de agua quente ; he porem de advertir, que fuppofto os ditos banhos aproveitem muito para as camaras procedidas de humor quente, acre, & cor- rofivo , & fejao uteis aos magros , aduftos, & efquen- tados , & os que tem grande ardor do corpo, & aos re- fecados da febre, como tambem aos melancolicos, & opprimidos com o humor craffo, & terreno, como tambem aos que padecem terçãs exquifitas, princi- palmente fe forem peffoas efquentadas , magras, & torradas, como diz Galeno, (6.) comtudo he necef- fario advertir, que fao damnofiffimos aos que tem o corpo cheyo de cruezas, & de humores cacochymi- cos; & aos que tem as entranhas languidas, & debi- litadas ; & finalmente aquelles que tem os hypocon- drios duros, ou tumorofos , porque adelgaçao o hu- mor preternatural, & cahindo em alguma parte lan- guida degenera em tumores , & abfceffos. . 8. Nefte lugar me farao os curiofos duas pergun- tas. A primeira, porque razao affegurei à fobredita enferma que avia de ter faude, quando Galeno (7.)nos: aconfelha que nas doenças perigolas nao demos gran- des efperanças de vida aos enfermos ; porque diffo re- fulta, que fe a melhoria tarda, ou a doença peyora, fe entregaõ a huma melancolia tao profunda, que baf- ta para os matar ; & fe fao grandes os esforços que o Medico lhes da, cobrao tal animo que nao queremi aceitar os remedios, porque fe perfuadem que nao tem perigo. 9. A efta pergunta refpondo, que ainda que he confelho prudente naỡ encher de efperanças aos mai- to perigofos, por lhes nao fer occafiao a que, fe faltar o promettido, fe cuide que o Medico he mentirofo , ou ignorante ; comtudo, quando o doente he imaginati- vo, & defconfiado, & tem tratado da fua falvaçao , & feito 243
Obfervacao XL.. 2:43 que foi o mayor Medico que teve Portugal , adverte, que para curar camaras antigas he remedio utiliffimo chamar o.humor para as partes fuperficiaes, & cuta- neas , fazendo esfregacöes em todo o corpo,& deitan- do ventofas fobre os hypocondrios; & efpadoas, & dandobanhos de agua quente; he porem de advertir, que fuppoftoos ditos banhos aproveiten muito para as camarasprocedidas de huimor quente, acre, & cor- rofivo,& feja uteis aos inagros, aduftos, & efquen- tados , & os que tem grande ardor do corpo, & aos re- fecados da febre, como tambem aos melancolicos, & opprimidos com humor craffo, & terren, como tambem aos que padecem tercas exquifitas, princi- palmente fe.forem peffoas efquentadas ; magras, & torradas, como diz Galeno, @.) comtudo he necef- fario advertir, que fa damnofiffimos aos que tem corpocheyo de.cruezas, & de humores cacochymi- cos; & aos que tem as entranhas languidas, & debi- litadas; & finalmente aquelles que tein os hypocon- drios duros, ou tumorofos , porque adelgacaö o hu- mor preternatural, & cahindo em alguma parte lans guida degenera em tumores , & abfceffos. 8. Nefte lugar me farao os curiofos duas pergun- tas. A.primeira, porque raza affegurei a fobredita enferma que avia de ter faude, quando Galeno (7.)nos aconfelha que nas doencas perigofas naó demos gran des efperancas devidaaos enfermos ; porquc diffo re- fulta, que fea melhoria tarda, ou a doenca peyora, fe entrega a huma melancolia ta profunda,que baf- ta para os matar ; & fe fa grandes os.esförcos que Medico lhés da, cobra tal animo que a querem aceitar os remedios, porque fe perfuadem que na tem perigo.. 9. ..A efta pergunta refpondo, que ainda que he confelho prudente niaencher de efperangas aos mui- to perigofos, por lhes na fer öccafia a que,fe faltar 0 promettido, fe cuide que o Medico he mentirofo + ou ignorante ; comttido, quando ö doente he imaginati- vo, & defconfiado,& tem tratado da fuafalvaca, & feitd
Obfervaáçaó XL. 245 que foi o mayor Medico que tevê Portugal, adverte, ue para curar camaras antigas he remedio utilifimo . : chamar o humor para as partes fuperficiaes, & cuta- neas , fazendo esfregações em todo o corpo, & deitana e do ventofas fobre os hypocondrios ; & efpadoas, & dando banhos de agua quente ; he porêm de advertir, que fuppofto os ditos banhos aproveitem muito para 'as camaras procedidas de humor quente, acre, & cor- rófivo, & fejaô uteis aos magros, adufítos , & efquen- tados , & os que tem grande ardor do corpo, & aos re-. fecados da febre , como tambem aos melancolicos, & opprimidos tom o humor craflo, & terreno, como” tambem aos que padecem terçãs exquifitas, princi- palmente fe forem pefloas efquentadas ; magras, & torradas, como diz Galeno , 66.) comtudo he necefs fario advertir, que faô damnofiflimos aos que temo corpo cheyo de cetuezas , & de humores cacochymi= cos; & aos que tem as entranhas languidas ; & debi- Yitadas ; & finalmente àquelles quetem os hypocon- drios dutos, ou tumorofos , Porque adelgaçao o hu. - mor preternatural , & cahindo em alguma parte lan- " — guidadegenera em tumores , & abfceflos. 8. Neftelugar me faraô os curiolos duas pergun-. . À tas. A primeira, porque rázaô aflegurei à fobredita enferma que avia de ter faude, quando Galeno (7. )nos: aconfelha que nas doenças perigolas naó demos gran- des efperanças devidaaos enfermos ; porque diflore- fulta, que fea melhoria tarda, ou a doença peyora, fe entregaô a huma melancolia taó profunda,que baf- ta para os matar ; & fe faó grandes os esfórços que o Medico lhes dá, cobraô tal ánimo que naô querem: aceitar os remedios ; porque fe perfnadom que nao tem perigo. e o 9: A efta- pergunta telpondo, que ainda que he confelho prudente nai encher de efperanças aos mui- to perigotos, por lhes naô fer occafiaõ a que, fe faltar o promettido , fe cuide que o Medico he mentirofo ; ou ignorante ; comttido, quando ô doente heimáginatis =, , vo, & defconfiado , & tem tratado dá fa falvaçaô, & | : « feito ' ' ,
Observaçaon XL. 245 que foi o mayor Medico que teve Portugal, adverte, que para curar camaras antigas he remedio utilissimo chamar o humor para as partes superficiaes, & cuta¬ neas, fazendo esfregaçones em todo o corpo, & deitan- do ventosas sobre os hypocondrios, & espadoas, & dando banhos de agua quente; he porèm de advertir, que supposto os ditos banhos aproveitem muito para as camaras procedidas de humor quente, acre, & cor- rosivo, & sejaon uteis aos magros, adustos, & esquen¬ tados, & os que tem grande ardor do corpo, & aos re¬ secados da febre, como tambem aos melancolicos, & opprimidos com o humor crasso, & terreno, como tambem abs que padecem terçans exquisitas, princi¬ palmente se forem pessoas esquentadas, magras, & torradas, como diz Galeno, (6.) comtudo he neces- sario advertir, que saon damnosissimos aos que tem o corpo cheyo de cruezas, & de humores cacochymi- cos; & aos que tem as entranhas languidas, & debi¬ litadas; & finalmente àquelles que tem os hypocon¬ drios duros, ou tumorosos, porque adelgaçao o hu¬ mor preternatural, & cahindo em alguma parte lan¬ guida degenera em tumores, & abscessos. 8. Neste lugar me faraon os curiosos duas pergun¬ tas. A primeira, porque razaon assegurei à sobredita enferma que avia de ter saude, quando Galeno (7.) nos aconselha que nas doenças perigosas naon demos gran¬ des esperanças de vida aos enfermos; porque disso re- sulta, que se a melhoria tarda, ou a doença peyora, se entregaon a huma melancolia taon profunda, que bas¬ ta para os matar; & se saon grandes os esforços que o Medico lhes dâ, cobraô tal animo que naon querem aceitar os remedios, porque se persuadem que naon tem perigo. A esta pergunta respondo, que ainda que he conselho prudente naon encher de esperanças aos mui¬ to perigosos, por lhes naon ser occasiaon a que, se faltar o promettido, se cuide que o Medico he mentiroso, ou ignorante; comtudo, quando ò doente he imaginati¬ vo, & desconfiado, & tem tratado da sua salvaçaon, & feito
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246 Observações Medicas Doutrinaes. feito testamento , he licito , e justo animallo , e alentallo muito , porque no bom conforto , e esforço do Medico consiste algumas vezes toda a cura , ou huma boa parte della . 10. A segunda pergunta he , porque razaõ dei banhos a esta doente em Janeiro , se as camaras duràraõ quinze meses , e no discurso delles ouve tempo mais proprio para este remedio . Respondo , que como eu era entaõ muito moço , e falto de experiencia , naõ tive confiança para aconselhar remedios , aonde assistiaõ Medicos mais velhos , e experimentados ; porèm quando vi que elles desconfiàraõ , e se despediraõ , me resolvi a dar os banhos , porque ainda que o rigor dos frios era grande , muito mayor era o perigo em que a doente estava ; e nestes termos a todo o tempo he tempo, porque a dilaçaõ em nenhuma cousa he taõ prejudicial , como nos casos da Medicina . (8.) Mas este zelo de acudir ao proximo affligido com risco do proprio credito , costuma Deos favorecer com successos taõ maravilhosos , e felices , (9.) como foi o desta doente ; a qual depois de padecer camaras tanto tempo , e estar deixada por incuravel , a livrei da morte dentro de trinta e seis dias . 11. Finalmente saõ os banhos taõ proveitosos para suspender as camaras , que até para as que procederem de algũa superpurgaçaõ , ou purga taõ forte , q̃ em hum dia provoque noventa , ou cem cursos , obraõ effeitos maravilhosos ; mas neste caso ha de ser a agua do tal banho hum pouco mais quente que aquella dos que se daõ para temperar as febres , e para os hypocondriacos , ou dores ictericas ; porque nas camaras de superpurgaçaõ , e excessivas todo o intento do Medico he abrir os póros , para chamar , e diverti para a superficie do corpo os humores , que despenhadamente correm para o ventre , e fazem a superpurgaçaõ , ou camaras taõ excessivas que podem matar . 12. Tambem os banhos que se derem aos que tem suppressoens de ourina por causa da pedra , ou grossura dos humores , devem ser com agua mais quente , para deste
246 Obfervações Medicas Doutrinaes. feito teftamento, he licito, & jufto animallo, & alen- tallo muito, porque no bom conforto, & esforço do Medico confifte algumas vezes toda a cura, ou huma boa parte della. 10. A fegunda pergunta he , porque razaõ dei banhos a efta doente em Janeiro", fe as camaras durà- rao quinze mefes, & no difcurfo delles ouve tempo mais proprio para efte remedio. Refpondo; que como eu era entaõ muito moço', & falto de experiencia, naõ tive confiança para aconfelhar remedios, aonde affif- tiao Medicos mais velhos, & experimentados; po- rèm quando vi que elles defconfiarao, & fe defpedi- rao , me refolvi a dar os banhos, porque ainda que o rigor dos frios era grande , muito mayor era o perigo em que a doente eftava; & neftes termos a todo o tem- po he tempo , porque a dilaçaõ em nenhuma coufa he tao prejudicial , como nos cafos da Medicina. (8.) Mas efte zelo de acudir ao proximo afligido com rif- co do proprio credito, coftuma Deos favorecer com fucceffos tao maravilhofos, & felices, (9.) como fai o defta doente; a qual depois de padecer camaras tan- to tempo, & eftar deixada por incuravel, a livrei da morte dentro de trinta & feis dias. 11. Finalmente fao os banhos tao proveitofos pa- ra fufpender as camaras , que até para as que procede- rem de algua fuperpurgaçao, ou purga tao forte, q em hum dia provoque noventa, ou cem curfos, obrao ef feitos maravilhofos; mas nefte cafo ha de fer a agua do tal banho hum pouco mais quente que aquella dos que fe dao para temperar as febres, & para os hy- pocondriacos , ou dores ictericas ; porque nas camas ras de fuperpurgacao, & exceffivas todo o intento dey Medico he abrir os poros, para chamar, & diverti para a fuperficie do corpo os humores, que defpenti damente correm para o ventre, & fazem a fuperpoi gação, ou camaras taõ exceffivas que podem matar. 12. Tambem os banhos que fe derem aos que tem fuppreffoens de ourina por caufa da pedra, ou groffara dos humores, devem fer com agua mais quente , para defte i : :
246 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. feito teftamento, he licito, & jufto animallo,& alen tallo muito, porque no bom conforto, & esforco do Medico confifte algumas vezes.toda a cura , ou huma boa parte della. A fegunda pergunta he , porque raza dei 10. banhos a efta doente em Janeiro, fe as camaras dura ra quinze mefes, & no difcurfo delles ouve tempo mais proprio para efte remedio. Refpondo; que cono eu era entaö muito noco, & falto de experiencia, na tive confianca para aconfelhar remedios, aonde affif- tia Medicos mais velhos, &,experimentados; po- rém quandovi que elles defconfiara, & fe defpedi- ra, me refolvi a dar os banhos , porque ainda que o rigor dos frios era grande , muito mayor era perigo em que a doente eftava; & neftes termos a todo o tem- po he tempo , porque a dilaca em nenhuma coufa he ta prejudicial , como nos cafos da Medicina. (8.) Mas efte zelo de acudir ao proximo affligido com rif- co do proprio credito, coftuma Deos favorecer.com fucceffos tao maravilhofos, & felices, (9.) comofai o deftadoente; a qual depois de. padecer camaras tan-- - totempo, & eftar deixada por incuravel, a livrei da morte dentro de trinta & feis dias. 11. Finalmente fa os banhos ta proveitofos pa-. ra fufpender as cainaras , que até para as que procede- rem de algua fuperpurgaca, ou purga taö forte, em feitos maravilhofos, mas nefte cafo ha de fer a agua: do tal banho hum pouco mais quente que aquella dos que fe daö para temperar as febres, & para os hy- pocondriacos ,ou dores ictericas ; porque nas camas ras de fuperpurgaca,& exceffivas todo o intento de Medico he abrir os póros, para chamar, & diverti para a fuperficie do corpoos humores, que defpent. damente correm paraoventre, & fazem a fuperpur gagaö , ou canaras ta exceffivas que'podem matar. I 2. Tambem os banhos que fe derem aos que.tema fuppreffoens de ourina por caufa da pedra,ou groffira dos humorcs, devem fer com agua mais quente , para defte
246 Obfervações Medicas Doutrinaes? feito teftamento, he licito , & juíto animallo, & alen= tallo muito , porque no bom conforto, & esforço do Medico confifte algumas vezes .toda a tura , ou huma . — boapartedella. ; a ” 10. A fegunda pergunta he , porque razaõ dei banhos a efta doente emJaneiro”, fe as camaras durà- raó quinze mefes, & no difeurfo delles ouve tempo mais proprio para efte remedio. Refpondo; que como eu era entaó muito moço”, & falto de experiencia, nao tive confiança para aconfelhar remedios, aonde aflif- tiaô Medicos mais velhos, & experimentados; po- rêm quando vi que elles defconfiarao, & fe defpedi- raô , me refolvi a dar os banhos , porque ainda que o , rigor dos frios era grande , muito mayor era o perigo em que a doente eftava;& neftes termos a todo o tem- po he tempo , porque a dilação em nenhuma coufa he taô prejudicial , como nos cafos da Medicina. (8.) Mas efte zelo de acudir ao proximo affligido com rif- co do proprio credito, coftuma Deos favorecer com fucceflos taô maravilhofos , & felices, (9.) comofoi. o defta doente; a qual depois de padecer camaras tan--- totempo, & eftar deixada porincuravel, a livrei da morte dentro detrinta & feis dias. * 11. Finalmentefa6osbanhos taô proveitofos pa= & ' ra fulpender as carnaras , que até para as queprocede- =— | remde alga fuperpurgaçaõ, ou purga taó forte, qem. | hum dia provoque noventa , ou cem curfos , obraô ef*;: feitos maravilhofos; mas nefte cafo ha de fer a agua? do tal banho hum pouco mais quente que aquella dos que fe daô para temperar as febres, & para os hy- pocondriacos , ou dores i&tericas ; porque nas camas ras de fuperpurgaçao , & exceflivas todo o intento de's* Medico he abrir os póros , para chamar, FS ' para afuperficie docorpo-os humores, que defpenhã damente correm para o ventre , & fazem a funerptit= gaçaô, ou camaras taô excellivas que podem matar. 12. Tambemos banhos que fe derem aos que tem fupprefloens de ourina por caufa da pedra,ou groffêra dos humores, devem fer com agua mais quente, para. Na : ' defte
246 Observaçones Medicas Doutrinaes. feito testamento, he licito , & justo animallo , & alen- tallo muito, porque no bom conforto , & esforço do Medico consiste algumas vezes toda a cura, ou huma boa parte della. 10. A segunda pergunta he, porque razaon dei banhos a esta doente em Janeiro, se as camaras durà- raon quinze meses, & no discurso delles ouve tempo mais proprio para este remedio. Respondo; que como eu era entaon muito moço, & falto de experiencia, naon tive confiança para aconselhar remedios, aonde assis- tiaon Medicos mais velhos, & experimentados; po¬ rèm quando vi que elles desconfiàrao , & se despedi- raon , me resolvi a dar os banhos, porque ainda que o rigor dos frios era grande , muito mayor era o perigo em que a doente estava; & nestes termos a todo o tem- po he tempo , porque a dilaçaon em nenhuma cousa he tao prejudicial, como nos casos da Medicina. (8. Mas este zelo de acudir ao proximo affligido com ris¬ co do proprio credito, costuma Deos favorecer com successos taon maravilhosos, & felices, (9.) como foi o desta doente; a qual depois de padecer camaras tan- to tempo, & estar deixada por incuravel, a livrei da morte dentro de trinta & seis dias. 11. Finalmente saon os banhos taon proveitosos pa¬ ra suspender as camaras, que até para as que procede- rem de alguma superpurgaçaon, ou purga tao forte, quae em hum dia provoque noventa, ou cem cursos, obraon ef¬ feitos maravilhosos; mas neste caso ha de ser a agua? do tal banho hum pouco mais quente que aquella dos que se daon para temperar as febres, & para os hy- pocondriacos, ou dores ictericas; porque nas cama¬ ras de superpurgaçaon, & excessivas todo o intento de Medico he abrir os póros, para chamar, & divers para a superficie do corpo os humores, que despenu damente correm para o ventre, & fazem a superpur¬ gaçaon, ou camaras taon excessivas que podem matar. 12. Tambem os banhos que se derem aos que tem suppressoens de ourina por causa da pedra, ou grossura dos humores, devem ser com agua mais quente, para deste —-
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Observaçaõ XL. 247 deste modo se facilitar a saida da pedra , alargar as vias , e adelgaçar os humores . 13. Estes dous casos saõ os em que he necessario dar os banhos com agua mais quente ; mas em todos os mais achaques , em que se derem banhos , seja a agua menos de morna , de tal sorte , que os doentes se queixem de que a achaõ fria . Digo isto em utilidade dos doentes , e conselho dos Medicos novatos , porque como saõ faltos de experiencia , dão muitas vezes os banhos com agua mais quente do que convem , donde se segue fazerem mais damno , que proveito . 14. Tres documentos colheraõ daqui os Medicos modernos : o primeiro , que nas camaras rebeldes procedidas de quentura do figado , saõ os banhos de agua morna excellente remedio , com tal condiçaõ , que se appliquem depois do corpo estar evacuado : o segundo , que nas suppressoẽs de ourina , ou camaras procedidas de superpurgaçaõ , ou excessivas , deve a agua do banho ser mais quente , que para qualquer outra doença , pelas razões acima apontadas : o terceiro , que os banhos se podem dar a todo o tempo que a necessidade o pedir , ainda que seja no mayor rigor do inverno ; como eu os dei muitas vezes em Janeiro , e Fevereiro , e com tão feliz successo , como os curiosos poderáõ ver na minha Polyanthea nova no trat. 2. cap. 57. fol. 374 do num. 13. até 14. aonde nomeyo as pessoas , a quem os dei nesse tempo , e por isso os livrei da morte , porque nunca me pareceo bem o demasiado medo de alguns , q se os chamão para curar hum hectico , ou tisico em Novembro , dizem que não he tempo , que esperem até vir Março : perguntaria eu a esse tal , que se se lhe queimassem as suas casas de noite , se avia de esperar que viesse o dia para acudir ao incendio : eu dei já aço nos Caniculares a certa senhora , que tinha huma febre ardente , procedida de huma grande opilação , e se a mandàra esperar até que o tempo esfriasse , morreria primeiro . OBSER-
247 Obfervaçaõ XL. defte modo fe facilitar a faida da pedra, alargar as vias, & adelgaçaros humores. .13. Eftes dous cafos fao os em que he neceffarid dar os banhos com agua mais quente; mas em todos os mais achaques, em que federem banhos, feja a agua . menos de morna, de tal forte, que os doentes fe quei- xem de que a achaõ fria. Digo ifto em utilidade dos doentes, & confelho dos Medicos novatos, porque como faõ faltos de experiencia, dão muitas vezes os banhos com agua mais quente do que convem , donde fe fegue fazerem mais damno, que proveito. 14. Tres documentos colheráo daqui os Medi- cos modernos : o primeiro, que nas camaras rebeldes procedidas de quentura do figado, faõ os banhos de agua morna excellente remedio, com tal condiçaõ, que fe appliquem depois do corpo eftar evacuado:ofe- gundo, quenas fupprefoes de ourina, ou camaras pro- cedidas de fuperpurgaçao, ou exceffivas , deve a agua do banho fer mais quente, que para qualquer outra doença, pelas razões acima apontadas: o terceiro, que os banhos fe podem dar a todo o tempo que a neceffi- dadeo pedir , ainda que feja no mayor rigor do inver- no ; como eu os dei muitas vezes em Janeiro, & Feve- reiro, & com tão feliz fucceffo , como es curiofos po- derao ver na minha Polyanthea nova no trat. 2. cap. 57.fol. 374. do num. 13. até 14.aonde nomeyo as pef- foas, a quem os dei neffe tempo, & por iffo os livrei da morte, porque nunca me pareceo bem o demafiado medo de alguns, q fe os chamão para curar hum hecti+ co, ou tifico em Novembro, dizem que não he tem- po, que efperem até vir Março : perguntaria eu a effe tal, que fe fe lhe queimaffem as fuas cafas de noite, fe avia de efperar que vieffe o dia para acudir ao incen- dio: eu dei já aço nos Caniculares a certa fenhora, que tinha huma febre ardente, procedida de huma gran+ de opilação, & fe a mandara efperar até que o tempo esfriaffe, morreria primeiro. OBSER .
Obfervacao XL: 2x defte modo fe facilitar a faidada pedra,alargar as vias, & adelgacaros humores. Eftes dous cafos fa os emquehé néceffari .13. . dar. os banhos com agua mais quente; mas em todos os mais achaques, em que fe derem banhos, feja a agua menos de morna, de tal forte, que os doentes fe quei- xem de que a acha fria. Digo ifto em utilidade dos doentes, &.confelho dos Medicos novatos, porque comofao faltos de experiencia, dao muitas vezes os banhos com agua mais quente do que convem , donde fe fegue fazerem mais damno, que proveito. 14.. Tres documentos colherao daqui os Medi- cos modernos : 0 primeiro, que nas camaras rebeldes procedidas de quentura do figado, faö os banhos de agua morna excellente remedio, com tal condica, que fe appliquem depois do corpo eftar evacuado:o fe- gundo,quenas fuppreffos deourina, ou camarás pró- cedidas de fuperpurgaca, u exceffivas , deve a agua dobanhofer mais quente, que para qualquer outra doenca, pelas razöes acima apontadas: o terceiro, gue os banhos fe podem dar a todo o tempo qué a teceffi- dadeo pedir , ainda que feja no mayor rigor doinver. no , comoeu os dei muitas vezes em Janeiro , & Fete- reiro, & com tao feliz fucceffo, comoes curiofos pa- derao ver na minha Polyanthea nova no trat. 2. cap: 57.fol: 374. do num. 13. até 14.aonde nomey as pef- foa$, a quem os dei neffe tempo,& por iffo os livrei da morte, porque nunca me parecebetn demafiado me dode alguns, fe os chamaopara curar hurn heatis co, ou tifico em Novembro, dizem que nao he tem- po , que efperem até vir Marco : perguntaria éu a effe tal, que:fefe lhe queimaffem as fuas cafas de noite, f avia deefperar quevieffe odiapara acudir ao incen: dio: eu dei jä aco nos Caniculares a certa fenhora , quc tinha huma febre ardente, procedida de huma gran de opilacao, & fe a mandara efperar até gue otempd esfriaffe, morreria primeiro. OBSER
Obfetvacaoó XL 247. defte modo fe facilitar a faida-da pedra alargar as vias, & adelgaçaros humores. —.13. Eftesdous cáfos faõô os em que heê necelfario dar os banhos com agua mais quénte; mas em todos os anais achaques , em que federem banhos, feja a agua ! sf . menos de morna, de tal forte , que os doentes fe quei- xemde que a achaô fria. Digo ifto em utilidade dos doentes , & confelho dos Medicos novatos, porque como faõ faltos de experiencia, dão muitas vezes os banhos com agua mais quente do que convem ; donde fe fegue fazerem mais damno, que proveito. 14. Tres documentos colheráõô daqui os Medis cos modernos: o primeiro, que nas camaras rebeldes procedidas de quentuta do figado, faõô os banhos de agua morna excellente remedio, com tal condiçaõ, que feappliquem depois do corpo eftar evacuado:o fe- gundo,quenas fupprefloês de ourina, ou camarãs pro- cedidas de fuperpurgaçaõ, ou exceflivas, deve a agua do banho fer mais quente , que para qualquer ourra . doença, pelas razões acima apontadas; o terceiro, que os banhos fe podem dar à todo o tempo que a hecelliz dadeo pedir , ainda que feja no táyor rigor doinver« = no ; como eu os dei muitas vezes em Janeiro ; & Feves AS feiro, & com tão feliz fucceflo, comoes cutiofos por — - o deráô ver na minha Polyanthea hová ho trat: 2. cap. 57.fol. 374. donum. 13. até 14.a6nde nomeyo as pefs foas, a quem os dei nefle teripo,& por ifflooslivreida. morte, porque nunca me pareceo bem ademafiado medode alguns,;á fe os chamãopara curar hum heftis co, outificoem Novembro, dizem que não he tem=s po, que efperem até vir Março: perguntatia êu a efle tal, que fe fe lhe queimaffem as fuas cafas de noite; fê avia de efperar que viefle o dia pará acudir ao inceéns dio: eu dei já aço nos Caniculares à certa fenhorá, que tinha huma febre arderite, procedidá de huma grans de opilação, & fea mandàra efperar até que o tempd - esfriafle, morreria primeiro, — “OBSER=
Observacaon XL. 247 deste modo se facilitar a saida da pedra, alargar as vias, & adelgaçar os humores. 13. Estes dous casos saon os em que he necessario dar os banhos com agua mais quente; mas em todos os mais achaques, em que se derem banhos, seja a agua menos de morna, de tal sorte, que os doentes se quei- xem de que a achaon fria. Digo isto em utilidade dos doentes, & conselho dos Medicos novatos, porque como saon faltos de experiencia, damo muitas vezes os banhos com agua mais quente do que convem, donde se segue fazerem mais damno, que proveito. Tres documentos colheraon daqui os Medi¬ 14. cos modernos: o primeiro, que nas camaras rebeldes procedidas de quentura do figado, sao os banhos de agua morna excellente remedio, com tal condiçao, que se appliquem depois do corpo estar evacuado: o se¬ gundo, que nas suppressoes de ourina, ou camaras pro¬ cedidas de superpurgaçaon, ou excessivas, deve a agua do banho ser mais quente, que para qualquer outra doença, pelas razones acima apontadas: o terceiro, que os banhos se podem dar à todo o tempo que a necessi¬ dade o pedir, ainda que seja no mayor rigor do inver¬ no; como eu os dei muitas vezes em Janeiro, & Feve¬ rei ro, & com tamo feliz successo, como os curiosos po¬ deráo ver na minha Polyanthea nova no trat. 2. cap. 57. fol. 374. do num. 13. até 14. aonde nomeyo as pes- soas, a quem os dei nesse tempo, & por isso os livrei da morte, porque nunca me pareceo bem o demasiado me do de alguns, quae se os chamano para curar hum hecti¬ co, ou tisico em Novembro, dizem que namo he tem¬ po, que esperem até vir Março: perguntaria eu a esse tal, que se se lhe queimassem as suas casas de noite, se avia de esperar que viesse o dia para acudir ao incen¬ dio: eu dei jà aço nos Caniculares a certa senhora, que tinha huma febre ardente, procedida de huma gran¬ de opilaçano, & se a mandara esperar até que o tempo esfriasse, morreria primeiro. OBSER¬
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248 Observações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XLI . De huma dor iliaca , que durou quatro dias com vomitos eʃtercoroʃos , ʃuores frios , ventre muito duro , & inchado ; & eʃtando a doente ʃem eʃperanças de vida , lhe fiz beber tres onças de azougue , & no meʃmo inʃtante ficou boa , com grande credito da Arte , & da minha peʃʃoa . 1 . JUnto à Igreja de Saõ Miguel de Alfama mora huma mulher , chamada Franciʃca Dias , a qual em 19 . de Março de 1665 . eʃtando na ʃobredita Igreja para ʃe confeʃʃar , começou a ʃentir humas dores no ventre , as quaes ʃe foraõ augmentando de sorte , que eʃteve reʃoluta a irʃe para caʃa ; mas o pio affecto , & ardente deʃejo que tinha de confeʃʃarʃe , & commungar naquelle dia , por ʃer do Senhor Saõ Joʃeph , lhe embargàraõ a ʃahida , & por eʃta cauʃa ʃe deixou eʃtar mais tempo do que podia , & com eʃta grande demora creʃcèraõ as dores com tal exceʃʃo , que foi neceʃʃario levarem-na para caʃa em braços ; & como ( ʃegundo o adagio ( 1 . ) commum ) tantos ʃaõ os homens , quantos ʃaõ os pareceres , cada huma das peʃʃoas que alli eʃtava , fez particular juizo da doença : diziaõ huns que era dor de colica ; outros diziaõ que era flato ; affirmavaõ outros que era accidente uterino : & como a gente ordinaria naõ coʃtuma chamar Medico nos primeiros dias das doenças , contentáraõʃe com os remedios caʃeiros , & faceis de fazer , & aʃʃim lhe metèraõ os pès em hum banho quentiʃʃimo de vinho fervido com huma maõ cheya de alfazema , & alecrim , & depois de meya hora de banho lhe puzeraõ ʃobre as ʃolas dos pès dous ladrilhos quentiʃʃimos borrifados com agua ardente ; & vendo que as dores naõ aplacavaõ com eʃtes pediluvios , que coʃtumaõ ʃer maravilhoʃos para tirar ʃemelhantes dores , lhe fomentáraõ o ventre com banha de flor misturada com oleo
248 Obfervações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM .XLI. De huma dor iliaca, que durou quatro dias com vomitos eftercorofos, fuores frios , ventre muito duro, dy in- chado; d eftando a doente fem esperanças de vida, lhe fiz beber tres ongas de azougue , & no mesmo infante ficou boa , com grande credito da Arte, is da minha peffoq. I. J Unto à Igreja de Sao Miguel de Alfama mora huma mulher , chamada Francifca Dias, a qual em 19. de Março de 1665. eftando na fo- bredita Igreja para fe confeffar, começou a fentir hu- mas dores no ventre, as quaes fe foraõ augmentando de forte, que efteve refoluta a irfe para cafa ; maso" pio affecto, & ardente defejo que tinha de confeffar- fe, & commungar naquelle dia, por fer do Senhor Sao Jofeph, lhe embargarao a fahida, & por efta caufa fe deixou eftar mais tempo do que podia, & com efta grande demora crefcerao as dores com tal exceffo, que foi neceffario levarem-na para cafa em braços ; & como (fegundo o adagio (1.) commum ) tantos fao os homens, quantos fao os pareceres, cada huma das peffoas que alli eftava, fez particular juizo da doença. diziao huns que era dor de colica ; outros diziao que era flato; affirmavaõ outros que era accidente uteri ?? no: & como a gente ordinaria nao coftuma chamar Medico nos primeiros dias das doenças, contentáraõ- fe com os remedios cafeiros , & faceis de fazer, & af- fim lhe meterao os pes em hum banho quentifimode vinho fervido com huma mao cheya de alfazemajte alecrim , & depois de meya hora de banho lhe puze- rao fobre as folas dos pès dous ladrilhos quentiffimos borrifados com agua ardente; & vendo que as dores nao aplacavao com eftes pediluvios, que coftumaõ fer maravilhofos para tirar femelhantes dores , lheffo- mentáraõ o ventre com banha de flor mifturada com . oleo -
248 Obfervacoes Medicas Doutrinaes. OBSERVACAM.XLI. 4 De buma dor iliat a, que durou quatro dias com vomitos eftercorofoss fuores frios ; ventre muito duro, in- chado ; s eftando a doentefem efperansas de vida, lhe fiz beber tres ongas de azougue , no me/mo inftante ficou boa , com grande credito da Arte, & da minka peffloq. Unto a Igreja de $a Miguel de Alfama mora huma mulher , chamada Francifca Dias, a qual em 19. de Marco de 1665 : eftando na fo- bredita Igreja para fe confeffar , comegou a fentir hu- mas dores no ventre, as quaes fe fora augmentando de forte, que efteve refoluta airfe para cafa, maso: pio affecto, & ardente defejo que tinha de confeffar- fe, & commungar naquelle dia, por fer do Senhor Sa Jofeph, lhe embargaraafahida, & por efta caufa fe deixou eftar mais tempo do.que podia, & comefta grande demora crefcera as dores com tal exceffo, que foi neceffario levarem-na para cafa em bracos ; &. como(fegundooadagio (1.) commum ) tantos fa os homens, quantos fa os pareceres, cada huma das peffoas que alli eftava, fez particular juizo da doenga era lato; affirmavaoutros que era accidente uteri no: & como agente. ordinaria na. coftuma chamar Medico nos primeiros dias das doengas, contentára-- fe com os remedios cafeiros,& faceis de fazer, & af- fim Ihe metera os pes em hum banho.quentiffimode vinhofervido com huma ma.cheya de alfazema & alecrim,& depois de meya hora de banho lhe pu%t. ra fobre as folas dos pes dous ladrilhos quentiffmos borrifados com agua ardente; &endo que.as dores " na aplacava com eftes pediluvios, gue coftumafer maravilhofos para tirar femelhantes dores , th@fo- mentarao o ventre com banha de flor mifturada con olea
248 Obfervações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XL. — ;& o De huma dor iliaca, que durou quatro dias com vomitos eftercorofos, fuores frios , ventre muito duro, & tm: chado ; & eftando a doente fem efberanças de vida, lhe. fiz beber tres ouças de azougue , & no mefmo inftante ficou boa , com grande credito da Arte, & daminha . peloa. : 1. Unto à Igreja de Sao Miguel de Alfâma À mora huma mulher , chamada Francifca Dias ,a qual em 19. de Março de 1665. eftando na fo- bredita Igreja para fe confeflar , começou a fentir.hu- mas dores no ventre, as quaes fe foraô augmentando de forte, que efteve refolâta airfe para cafa; maso” io affe&to , & ardente defejo que tinha de confeflar. e, & commungar naquelle dia, por fer do Senhor Saã Jofeph, lhe embargâraõ a fahida, & por eftá caufafe. deixou eftar mais tempo do que podia, & comefta grande demora crefcêraó as dores com tal exceflo, que foi neceffario levarem-na para cafa em braços ; &. como (fegundo o adagio (1.) commum ) tantos faô osy - homens, quantos faô os pareceres, cada huma das peífoas que alli eftava, fez particular juizo da doenças, diziaô huns que era dor de colica ; outros diziaô quet. no: & como agente ordinaria naó coftuma chamar Medico nos primeiros dias das doenças, contentáraõ-., fe com os remedios cafeiros , & faceis de fazer, & af fim lhe metêraó os pês em hum banho quentifimoade: vinho fervido com huma maô cheya de alfazema;çãdo alecrim ; & depois de meya hora de banho lhe pude: ra fobreas folas dos pês dous ladrilhos quentiffimos borrifados com agua ardente; & Yendo que as dores “naõ aplacavaô com eftes pediluvios, que coftumaífer maravilhofos para tirar femelhantes dores , IKEBRo- mentráraô o ventre com banha de for mifturada com * olea , era flato ; afirmavaõ outros que era accidente uteri=*
248 Observaçones Medicas Doutrinaes. aeasearseaßto asarßeo asears aa age OBSERVAQAM XLI. De huma dor iliaca, que durou quatro dias com vomitos estercorosos, suores frios, ventre muito duro, & in¬ chado; et estando a doente sem esperanças de vida, lhe fiz beber tres onças de azougue, & no mesmo instante ficou boa, com grande credito da Arte, & da minha pessoa. FUnto à Igreja de Sao Miguel de Alfama 1. mora huma mulher, chamada Francisca Dias, a qual em 19. de Março de 1665. estando na so- bredita Igreja para se confessar, começou a sentir hu¬ mas dores no ventre, as quaes se foraon augmentando de sorte, que esteve resolûta a irse para casa; maso pio affecto, & ardente desejo que tinha de confessar- se, & commungar naquelle dia, por ser do Senhor Saon Joseph, lhe embargàraon a sahida , & por esta causa se deixou estar mais tempo do que podia, & com esta grande demora crescèraon as dores com tal excesso, que foi necessario levarem-na para casa em braços; & como (segundo o adagio (1.) commum) tantos saon os, homens, quantos saô os pareceres, cada huma das pessoas que alli estava, fez particular juizo da doença? diziaon huns que era dor de colica; outros diziaon que era flato; affirmavaon outros que era accidente uteri¬ no: & como a gente ordinaria nao costuma chamar Medico nos primeiros dias das doenças, contentaraon¬ se com os remedios caseiros, & faceis de fazer, & as- sim lhe metèraon os pès em hum banho quentissimo de vinho fervido com huma maon cheya de alfazema, & alecrim, & depois de meya hora de banho lhe pue¬ raon sobre as solas dos pès dous ladrilhos quentissimos borrifados com agua ardente; & vendo que as dores naon aplacavaon com estes pediluvios, que costumaqum ser maravilhosos para tirar semelhantes dores, lhso¬ mentaraon o ventre com banha de flor misturada com oleo
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Observaçaõ XLI. 249 oleo de macella ; fizeraõlhe beber tres onças de agua de flor de laranja : mas vendo as mezinheiras que com eʃtes remedios naõ ʃentiaõ alivio , appellàrão ( como he coʃtume ) para hum barbeiro ; ordenou eʃte varias ajudas ; humas de caldo de gallinha bem açafroado , com tres onças de lambedor violado , & huma gema de ovo ; outras de cozimento de cabeça de carneiro , alfavaca , ortelãa , & ortigas mortas , ajuntando a cada cinco onças deʃte cozimento quatro onças de aʃʃucar maʃcavado , & huma onça de diaprunis ; outras de quatro onças de oleo de amendoas doces miʃturado em quatro de manteiga de vaccas . 2 . Tudo iʃto ʃe executou , mas ʃem proveito ; porque a deʃgraçada enferma de hora em hora ʃentia mayores dores ; vomitos , & agonias . Neʃte aperto ; & grande deʃconfiança da vida ʃe reʃolvèraõ a chamar Medico , naõ tanto com eʃperança de que a curaʃʃe , quanto para que foʃʃe teʃtimunha da ʃua morte , & deʃʃe huma certidaõ da doença de que morrèra , para a enterrarem ; ( como he coʃtume neʃta Corte ) chamáraõme entaõ , & a 24 . de Março de 1665 . lhe fiz a primeira viʃita : & como para curar com acerto ʃeja neceʃʃario conhecer primeiro a doença , a cauʃa della , & os remedios , que ʃe devem applicar ; foi preciʃo examinar bem em que parte tinha a dor ; & foime reʃpondido que junto do embigo , & inteʃtinos delgados ; & que no meʃmo lugar tinha hum grande tumor com notavel diʃtenʃaõ do hypogaʃtrio , & que juntamente ʃentia huma total ʃuppreʃʃaõ dos excrementos fecaes , com muitos flatos , & rugidos por todo o ventre , & finalmẽte ʃentia palpitações do coraçaõ , extremidades do corpo muito frias , & vomitos fedorentos . ( 2 . ) Por eʃtes ʃinaes conheci que a enfermidade deʃta mulher era huma dor , a que os Authores chamaõ paixaõ iliaca , por outro nome Volvulo , ou miʃerere mei , cauʃada , ou de obʃtrucçaõ das vias , ou de inflammaçaõ dos inteʃtinos , ou de eficaçaõ , & dureza das fezes , ou de mudança de ʃitio dos inteʃtinos , ( como succede nos quebrados , ) ou erro do movimento periʃtaltico
Oblervação . XLI. .249 oleo de macella ; fizeraolhe beber tres onças de agua de flor de laranja: mas vendo as mezinheiras que com jeftes remedios nao fentiao alivio, appellarão. ( como he coftume ) para hum beiro ; ordenou efte varias ajudas ; humas de caldo de gallinha bem açafroado, com tres onças de lambedor violado, & huma gema de ovo ; outras de cozimento de cabeça de carneiro, "alfavaca, ortelãa , & ortigas mortas, ajuntando aca- da cinco onças defte cozimento quatro onças de affu+ car mafcavado , & huma onça de diaprunis ; outras de tro onças de oleo de amendoas doces mifturado h quatro de manteiga de vaccas. 2. . Tudo ifto fe executou, mas fem proveitos porque a defgraçada enferma de hora em hora fentia mayoresdores; vomitos, & agonias. Nefte aperto; & grande defconfiança da vida fe refolveraő a chamar Medico, nao fanto com efperanca de que a curaffe, quanto para que foffe teftimunha da fua morte, & deffe huma certidão da doença de eme morrera , para a enterrarem; (como he coftume nefta Corte )chama- raome entao , & a 24. de Março de 1665. lhe fiz a pri- meira vifita: & como para curar com acerto feja ne- ceffario conhecer primeiro a doença, a caufa della, & os remedios , que fe devem applicar ; foi precifo examinar bem em que parte tinha a dor ; & foime ref- pondido que junto do embigo, & inteftinos delgados; & que no mefmo lugar tinha hum grande tumor com notavel diftenfapdo hy pogaftrio ; & que juntamente fentia huma total fappreffao dos excrementos fecaes , com muitos flatos, & rugidos por todo o ventre; & fi- ' nalmete fentia palpitações do coração , extremidades do corpo muito frias, & vomitos fedorentos. (z.) Por efter Bnaes conheci que a enfermidade defta mulher era huma dor, a que os Authores chamaã paixao ilia- ca ; por outro nome Volyulo, ou tiferere mei, cau- fada, ou de obftruccato das vias, ou de inflammacao dos inteftinos, ou dereficação, & dureza des fezes, ou de mudança defitio dos intestinos , ( como fucce- de nos quebrados , ) ou erto do movimento periftal- i . . ! ! ii tico
Obfervacao . XLt. 249 oleo de macella; fzeralhe béber tres oncas de agua de flor de laranja: mas vendo as mezinheiras qua com. eftes remedios na fentia.alivio , appellarao.( coin hecoftume.) parahum beiro , ordenou efte varia* ajudas ; humas.de.cald de gallinha bém. asafroado, com tres @ncas de Fambedor violado, & huma gema de ovo ; outras de coziment de cabeca decarnciro, alfavaca,ortelaa,&ortigasmortas, ajuntando aca- da cinco ncas defte cozimento.quatro oncas de affu- car mafcavado , & huma onca de diaprunis ; utras de tro oncas de oleo.dé amendoas doces iniftürad h quatro: de manteiga de vaccas. Tudo ifto feexecutou, mas fen proveitos 2. porque a defgrasada enferina de hora em hora fentia mayoresdores,vomitos,& agonias. Nefte aperto, & grande defconfianca da vida fe refolvera6 a chaimar Medicona tant com efperanca de que a curaffe, quanto para que foffe teftimunha da fua morte, & deffe huma certida da doenga de qe morrera, para a enterrarem; (coinhe coftume nefta Corte)chama- raomeentao, & a 24: de Marco de 166s. lhe fiz a pri- meira vifita: &.tomo para curar com acerto feja ne- ceffarioconhecer, primeiro a doenca, acaufa della, & os remedios, que fe devem applicar , foi precifo examinar bem emque parte tinha a dor ; & foime ref- pondido que juntodoembigo,& inteftinos delgadoss & que no mefmolugar tinhahun grande tumor coim notavel diftenfaadohy pogaftrio : &.que juntamente fentia humatoral fappreffa dos ektrementos fecaes , com muitos flatos, & ragidos por todo sentre; & f- nalméte fentiapalpitacöes docoraca ,extremidades docorpo ráaitofrias,& vomitos fedorentos.(. Por efres fnaes conheci qut aenfer'midade defta mulher era huma dor, aqueös Autkores chamapaixa ilia- ca, por outronome Volvulo , bu tmiferere nei, cau- fada, ou de obftrucra das vias, öu de inflargmaca dos inteftinos, ou dereficaca, & dureza dsfezes, ou de mudanca defitio dos inteftinos , ( como fucce- de nos'quebrados , )uerte d naviiento periftai- tico
| : | Lt a | ' ' * . e | . Da MEO Oblervação . XLFE. = a ANS ' — oleodemacella;fizeraólhe bêber eres onças de água G de flar de laranja: mas vendo as mezinheiras qua com to . eftes remedios naó fentiaó alivio , appellãrão. (como ' ecoftume ) para humdae beira ; ordenou efte varias =; ajudas ; humas de cald&Me gallinha bem açafroado, | : comtres dhças de fambedor violada, & huma gema ao de ovo ; outras de cozimençô de cabeça decarneiros + ANN ALNCA - alfavaca ,ortelãa , & ortigaS mortas, ajuntando acas coco. 05 — dacinco onças defte cozimíénto quatro onças de aflus 2 o, car mafcavado , & huma onça de diaprunis ; outras de e onças de óleo.de amendoas doces mifturado quatro de manteiga de vaccas, .: 200 : 3.* "Tudoifto feexecutou, mas fem proveitos cc, porque a delgraçada enferma de hora em hora fentia ia. : — —mayoresdoressvomitos, & agonias. Nefte aperto”, & ra * grande defconfiança-davida ferefolvêrao a chama oo Medico paó tanto com efperança de que acurafle,* ” ; anto pará que fole teftimunha da fuamoite, & +. + > | efle huma certidaô da doença de que morrêra, pará à Doo aenterrarem; (como be coftome nefta Corre)éhama- - - NES : gaómecenta6, & a 24. de Março de 1665. lhe iza pri- = ; | meira vifita: & como para curar comacetro fejames o 1... o “ceflarioconhecer primeiro a doença, acaufa della, 10 + co, | & os temedios, que fe devem applicar; foi precifo 2. co: " examinar bem em que parte tinha a dor ; & foimerefs 0 0 + pondido que junto da embigo, & inreftinos delgadoss cc ae & que to melmodupar tinha hum grande tumor com SEDIA horavel diftegfã&do hy pogaítrios & que Juntamente fentia huma tôtal fappreflaô dos exetemeritos fecaes , 4 com muitos Ratos; & vugidos por todo 6 vêúcio; E f- * nalmête fentia palpitações do coração ;excremidades do corpo riuitofrias, & vomiros fedóreritos. (1.) Por ' citeslinaes conhecique a enfermidade defta mulher era hutha dor, aqueós Authores chamaã paixao ilias ca, pot outro nome Volvulo, ou tiferere mei, caús, fada, ou de obftrucçadAHas vias, Qu de inflagamaçãõ- . dosinteítinos, ou deseficação, & ddreza E fezes, out mudança défitio dos inteftinos , ( como fucde* . denosquebrados , )úuerro de movimento perifkal-. NOS : : | DO tico AAA
249 Observaçaon XLI. oleo de macella; fizeraonlhe beber tres onças de agua de flor de laranja: mas vendo as mezinheiras que com estes remedios naon sentiaon alivio, appellàramo (como ne costume) para hum, beiro; ordenou este varias ajudas; humas de caldò de gallinha bem açafroado, com tres onças de lambedor violado, & huma gema de ovo; outras de cozimentô de cabeça de carneiro, alfavaca, ortelana, & ortigas mortas, ajuntando a ca¬ da cinco onças deste cozimento quatro onças de assu¬ car mascavado, & huma onça de diaprunis; outras de stro onças de oleo de amendoas doces misturado quatro de manteiga de vaccas. 2. Tudo isto se executou, mas sem proveito; porque a desgraçada enferma de hora em hora sentia mayores dores; vomitos, & agonias. Neste aperto; & grande desconfiança da vida se resolvèraon a chamar Medico, naon tanto com esperança de que a curasse, quanto parà que fosse testimunha da sua morte, & desse huma certidaon da doença de que morrèra, para a enterrarem; (como he costume nesta Corte)chama¬ raome entaon, & a 24. de Março de 1665. lhe fiz a pri¬ meira visita: & como para curar com acerto seja ne¬ cessario conhecer primeiro a doença, a causa della, & os remedios, que se devem applicar; foi preciso examinar bem em que parte tinha a dor; & foime res¬ pondido que junto do embigo, & intestinos delgados; & que no mesmo lugar tinha hum grande tumor com notavel distensaqum do hy pogastrio; & que juntamente sentia huma total suppressaon dos excrementos fecaes, com muitos flatos, & rugidos por todo o ventre; & fi¬ nalmente sentia palpitaçones do coraçaon, extremidades do corpo muito frias, & vomitos fedorentos. (2.) Por estes sinaes conheci que a enfermidade desta mulher era huma dor, a que os Authores chamaqum paixaon ilia¬ ca; por outro nome Volvulo, ou miserere mei, cau¬ sada, ou de obstrucçal das vias, ou de inflammaçao dos intestinos, ou de resicaçao, & dureza de fezes, ou de mudança defitio dos intestinos, (como succe¬ de nos quebrados,) ou erro do movimento peristal¬ tico
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250 Observações Medicas Doutrinaes. tico dos meʃmos inteʃtinos , porque impedindoʃe por qualquer cauʃa deʃtas a ʃahida , ou deʃcida dos flatos , dos excrementos , ou dos humores , neceʃʃariamente pela demora ʃe irrita o arch ou a faculdade expulʃiva dos inteʃtinos , & faz deitar pela boca , o que avia de ʃahir por baixo . ( 3 . ) E vendo eu que as dores , àlem de ʃerem vehementiʃʃimas , eraõ acompanhadas com muita febre , julguei que naõ procediaõ de flatos , nem de mudança dos inteʃtinos , ( porque naõ era quebrada ) mas de inflammaçaõ dos inteʃtinos , ou de dureza das fezes : & para me certificar melhor ʃe eʃte juizo era verdadeiro , quiz ver as ourinas , porque , da que ( como diz Galeno , ) ( 4 . ) ʃe ʃaõ boas , nem por iʃʃo aʃʃeguraõ ao doente do perigo deʃta enfermidade ; comtudo ʃe ʃaõ roins , acreʃcentaõ o cuidado , porque moʃtraõ , que ʃobre a grande offenʃa dos inteʃtinos , eʃtá o genero venoʃo tambem enfermo : como pois viʃʃe que as ourinas eʃtavão muito vermelhas , entendi que os inteʃtinos , & entranhas eʃtavaõ inflammados , & excandeʃcentes , & por iʃʃo nos primeiros dous dias a mandei ʃangrar ʃeis vezes nos braços , a ʃaber pela madrugada , antes do meyo dia , & junto da noite ; para com eʃte apreʃʃado ʃoccorro impedir que os humores naõ correʃʃem , ou ʃe deʃpenhaʃʃem ʃobre a parte inflammada : & para mollificar as fezes , & laxar as vias , lhe mandei lançar ajudas muito emollientes , & attemperantes , preparadas de partes iguaes de azeite roʃado , & lambedor de violas ; mas como naõ evacuaʃʃe com ellas couʃa alguma , lhe ordenei que tomaʃʃe cada dia dous grandes caldos de frangaõ cozido com malvas , & ortigas mortas , ajuntando a cada caldo quatro onças de oleo de amendoas doces tirado ʃem fogo ; porque naõ tem a Medicina remedio melhor abrande , & laxe as vias : mas como eʃʃes remedios ( ʃem embargo de ʃerem excellentes) aproveitaʃʃem , appellei para meter a doente ( duas vezes no dia ) em hum banho muito emolliente de agua morna , que primeiro foʃʃe cozida com do arrateis de amendoas doces bem pizadas , folhas de malvas
250 Obfervações Medicas Doutrinaes. tico dos mefmos inteftinos , porque impedindofe por . qualquer caufa deftas a fahida, ou defcida dos flatos, dos excrementos, ou dos humores, neceffariamente pela demora le irrita o archou a faculdade expul- fiva dos inteftinos , & faz deitar pela boca , o que avia de fahir por baixo.(3.) È vendo eu que as dores , alem de ferem vehementiffimas , erao acompanhadas com muita febre , julguei que nao procediao de flatos, nem " de mudança dos inteffinos, (porque nao era quebra- da ) mas de inflammaçaõ dos inteftinos , ou de durezà das fezes : & para me certificar melhor fe efte juizo era verdadeiro, quiz ver as ourinas, porque, a da que (como diz Galeno, ) (4.) fe fao boas, nem por iffo affegurao ao doente do perigo defta enfermidade; comtudo fe fao roins , acrefcentaõ o cuidado, porque moftrao, que fobre a grande offenfa dos imeftinos, efta o genero venofo tambem enfermo: como pois viffe que as ourinas eftavão muito vermelhas', enten di que os inteftinos, & entranhas eftavao inflamma- dos, & excandefcentes, & por iffo nos primeiros dous dias a mandei fangrar. feis vezes nos braços, a faberg pela madrugada, antes do meyo dia , & junto da noi- te; para com efte apreffado foccorro impedir que os humores nao correffem , ou fe delpenhaffem fobre a parte inflammada : & para modificar as fezes, & laxar. as vias , lhe mandei lançar ajudas muito emollientesy & attemperantes, preparadas de partes iguaes.de azem te rofado, & lambedor de violas ; mas como naoew cuaffe com ellas coufa alguma, lhe ordenei que tos maffe cada dia dous grandes caldos de franga cozido com malvas , & ortigas mortas , ajuntando a cada cal- do quatro onças de oleo de amendoas doces firade fem fogo; porque nao tem a Medicina remedie melhor abrande, & laxe as vias: mas como eff medios ( fem embargo de ferem excellentes aproveitaffem , appellei pa meter a doente ( duas vezes no dia ) en hum banho muito emollientede agua morna, que primeiro foffe cozida com dos rateis de amendoas doces bem pizadas, folhas de mal- . -
250 Obfervacoes MedicasDoutrinacs tico dos mefmos inteftinos , porqut impedinddfe por qualquer caufa deftas a fahida, ou defcida dos flatos,. dos excrementos, ou des humores, neceffariamente pela demora fe irrita o arch ou afaculdade expul- fiva dos inteftinos,& faz dertar pela boca , o que avia de fahir por baixo.(3.) E vendo eu que as dres , alem de ferem vehemcntiffimas , era acompanhadas com nuita febre, julguei que na procedia de flatos, nem de mudanca dos inteftinos, (porque na cra quebra da ) mas dé inflammaca dos inteftinos , ou de dureza das.fezes : & para me certificar melhor fe efte juizoera verdadeiro, quiz ver as ourinas, porque,a da que(como diz Galeno,)(4.) fe fa boas, nem por iffo affegura ao doente do perigödefta enfermidades comtudo fe fa roins , acrefcenta ö caidado , porgue moftra, que fobre a grande offenfa dos imeftinos , eftä o genero venofo tambem enfermo:. como pois viffe que as ourinas eftavao muit. vermelaas, enten di que os inteftinos, & entranhas eftava inflamma dos,&'excandefcentes, & por iffonos primeiros dou dias a mandei fangrar. feis vezes nos bracos, a faber pela'madrugada, antes do meyodia , & junto danoi- te; para comefte apreffado foccorro impedir que os humores na correffem , ou fe defpenhaffem fobre a parte inflammada : & para mollificar as fezes, & laxar: as vias, lhe mandei lancar ajudas muito emollientecy &.attemperantes,preparadas de partes iguaesde.azes te rofado, & lambedor de violas ; mas.como naoev cuaffecom ellas coufa :alguma, lhe ordene que. to- maffe cada dia dous grandes caldos de.franga cozido com'malvas , & ortigas mortas , ajuntando.a cada cal do quatro oncas de oleo de amendoas: doces tira fem fogo, porque nao tem a Medicina remedic? melhor abrande, &.laxe as vias: mas comoeffej medios ( fem embargó de ferem excellentes: aproveitaffem , apellei pa meter a doente ( duas vezes n dia :ehum banho muito emollienrd agua morna, que primeiro foffe cozida Com do rateis de amendoas dóces bem pizadas,folhas denfal va9,
32 "as : *.., 250 Obfervações Medicas Doutrinaes. tico dos melmos inteítinos , porque impedindofe por , : qualequer caufa deftas a fahida, ou defcida dos flatos,. . dos excrementos , ou des humores, neceffariamenta . pela demora fe irrita o arc ou afaculdade expult= $ fiva dosinteftinos , & faz der pela boca , o queavia de fahir por baixo.(3.) E vendo eu que as d$tes , àlem de ferem vehementiflimas , eraô acompanhadas com muita febre , julguei que naõ procediaô de flatos, nem * de mudança dos inteftinos, (porque naô efa quebra- da ) mas de inflammaçaõ dos inteÍtinos , ou de dureza das, fezes : & para me certificar melhor fecitedii | juizo era verdadeiro, quiz ver as ourinas, porque, | da que (como diz Galeno , ) (4.) fe faó boas, nerh pet iflo afleguraõ ao doente do perigo defta enfermidade; comtudo fe faô roins , acrefeentaõ o chidado, porque molítraô, que fobre a grande offenfa dosimeítinos, *eftá o genero venofo tambem enfermo: como pois vifle que as ourinas eftavão muirô vermelhas”, enten- di que os inteftinos , & entranhas eftavao inflamrha“ dos , & excandefcentes, & por iflonos primeiros dous: dias a mandei fangrar. feis vezes nos braços, a faber g pela madrugada , antes do meyodia , & junto danoi= te; para comefte apreflado foccorro irmapedir que os humores naõ corfeifem , on fe defpenhaffem fobre 4 parte inflammada :-& para moHificar asfezes, & laxar. as vias, lhe mandei lançar ajudas muito emollientes; & attemperantes, preparadas de partes iguaes.de azejfs te rofado, & lambedor de violas ; mas. como nao ev cuaflecom ellas coufa alguma, lhe ordenej que tc mafle cada dia dous grandes caldos de frangaó cozido. com malvas , & ortigas mortas , ájuntando.a cada calé do quatro onças de oleo de amendoas: doces rixage fem fogo; porque niaô tem a Medicina remedi&aas melhor abrande, &-laxeas vias: mas como efteil medios (fem embargó' de ferem excellentes TS aproveigaflem ; appellei PRB meter a doente ( du vezes nô dia ) esi-hum banho muito emollién agua morna , que primeiro fofle cozida com doi rateis de amendoas doces bem pizadas,folhas de ] 1 H n ».
250 Observaçones Med icas Doutrinaes. tico dos mesmos intestinos, porque impedindose por, qualquer causa destas a sahida, ou descida dos flatos, dos excrementos, ou dos humores, necessariamente pela demora se irrita o archeou a faculdade expul¬ siva dos intestinos, & faz destar pela boca, o que avia de sahir por baixo. (3.) E vendo eu que as dores, àlem de serem vehementissimas, eraon acompanhadas com muita febre, julguei que naon procediaon de flatos, nem de mudança dos intestinos, (porque nao era quebra¬ da) mas de inflammaçaon dos intestinos, ou de dureza das fezes: & para me certificar melhor se este juizo era verdadeiro, quiz ver as ourinas, porque,a da que (como diz Galeno, ) (4.) se sao boas, nem por isso asseguraon ao doente do perigo desta enfermidade; comtudo se saon roins, acrescentaon o cuidado, porque mostraon, que sobre a grande offensa dos intestinos. está o genero venoso tambem enfermo: como pois visse que as ourinas estavamo muitò vermelhas, enten¬ di que os intestinos, & entranhas estavaon inflamma¬ dos, & excandescentes, & por isso nos primeiros dous dias a mandei sangrar seis vezes nos braços, a saber; pela madrugada, antes do meyo dia , & junto da noi- te; para com este apressado soccorro impedir que os humores naon corressem, ou se despenhassem sobre a parte inflammada: & para mollificar as fezes, & laxar as vias, lhe mandei lançar ajudas muito emollientes, & attemperantes, preparadas de partes iguaes de azej te rosado, & lambedor de violas; mas como naon eva cuasse com ellas cousa alguma, lhe ordenej que to¬ masse cada dia dous grandes caldos de frangaon cozido com malvas, & ortigas mortas, ajuntando a cada cal¬ do quatro onças de oleo de amendoas doces tir sem fogo; porque naon tem a Medicina remedio melhôr abrande, & laxe as vias: mas como esti medios (sem embargo de serem excellentes aproveitassem, appellei pa meter a doente duas vezes no dia) eluhum banho muito emollies Bie agua morna, que primeiro fosse cozida com dos rateis de amendoas doces bem pizadas, folhas de mal vas,
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Observaçaõ XLI. 251 vas , ortigas mortas , & raizes de malvaiʃco : & como eʃtes banhos ( ʃendo hum dos principaes remedios em que eu punha a eʃperança da ʃaude ) nenhum alivio cauʃaʃʃem , entendi que toda a doença procedia do inteʃtino Ilion eʃtar torcido , ou do movimento periʃtaltico ʃe fazer errado ; & que ʃe iʃto era aʃʃim ( como eu o imaginava , ) o unico remedio avia de ʃer endireitar , & deʃtorcer o dito inteʃtino , porque ʃó deʃte modo poderia eʃcapar da morte ; pela qual razaõ manifeʃtei aos circunʃtantes o evidente perigo , em que a doente eʃtava ( 5 . ) dizendolhes que eu tinha por melhor fazer algum remedio , ainda que foʃʃe duvidoʃo , que deixar morrer a enferma ao deʃemparo ; ( 6 . ) mayormente , quando he conʃelho de Galeno , ( 7 . ) que nos perigos extremos ʃe devem applicar remedios extremos . Naõ deʃagradou eʃta minha reʃolução a todos os circunʃtantes ; aos quaes diʃʃe , que eu naõ achava remedio mais efficaz para endireitar o inteʃtino torcido , & curar huma doença taõ perigoʃa , & formidavel , como era o azougue , porque ʃó elle com o ʃeu grande peʃo poderia fazer o effeito deʃejado , & livrar a enferma da morte . Iʃto aʃʃim preʃuppoʃto , & invocado o nome de Deos , mandei que erguida , & poʃta em pè a doente , bebeʃʃe tres onças de azougue vivos & foi o ʃucceʃʃo taõ maravilhoʃo , que logo ʃe deʃtorceo o inteʃtino , & evacuou copioʃamente , ʃahindo primeiro que tudo o azougue , & no meʃmo dia livrou do perigo , & teve ʃaude , com admiraçaõ dos circunʃtantes , & credito da Arte . 3 . E porque ʃey naõ haõ de faltar homens , que digaõ foi temeraria ouʃadia dar a beber tres onças de azougue a huma mulher , que eʃtava eʃpirando por cauʃa de hum volvulo , me dou por obrigado a acudir por minha honra , & pela verdade , dizendo que tan fóra eʃteve de ʃer erro , ou atrevimento dar o azougue em hum volvulo taõ apertado , que antes ʃeria erro , & peccado ʃem deʃculpa , naõ recorrer ao remedios mais efficazes , ainda que ʃejaõ violentos , & desabridos , com tanto que ʃejaõ capazes de ʃalvar a vida do doen
Observação XLI vas , ortigas mortas, & raizes de malvaifco: & como sites banhos (fendo hum dos principaes remedios, em 'que su punha a efperança da faude ) nenham alivio caufaffem , entendi que toda a doença procedia do in* teftino Ilion eftar torcido, ou do movimento periftal -. tico fe fazer errado; & que fe ifto era affun (como eu o imaginava; ) o unico remedioavia de fer endireitar, & deftorcer o dito inteftino, porque fó defte modo poderia efcapar da morte ; pela qual razão manifestei aos circunftantes o evidente perigo, em que a doente eftavas (5.) dizendolhes que eu tinha por melhor fa- zer aloum remedio, ainda que foffe duvidofo , que deixar morrer a enferma ao defemparo; (6.) mayor- mente, quando he confeiho de Galeno, (7.) que nos perigos extremos fe devem applicar remedios extre- mos. Nao delagradou efta minha refolucao atodos os circunitantes, aos quaes diffe , que eu nao achava ; remedio mais etacaz para endireitar o inteftinotorci- do, & curar; huma doença tao perigofa; & formidal vel, como era orazougue, porque fuelle com o fel grande pefotpoderia fazer o effeito defejado, & livrar a enferma da morte. Ifto affim prefuppofto, & invo. cado.o nomede Deos , mandei que erguida, & pofta em pe a doente , bebeffe tres onças de azougue vivo: & foi o fucceffo tao maravilhofo, que logo fe deftor- ceo o inteftino , & evacuou copiofamente , fahindo primeiro que tudo o azoudug .¿ no metmo dia livros do perigo , & text faude, com a maacao dos circunf tantes, & crediroda Arten 3. E porqueley ha hao de faltar homens , gite digao foi temeraria quiadia dar a beber tres onçasde azougue a huma mulher , que estava elpirando por caufa de hum volvulo, me dou por obrigado a acudir por minha honra, & pela verdade , dizendo que tany fora efteve de fer erro , ou atrevimento dar oazouque em hum volvulo tao apertado, que antes feria erro, & peccado fem defculpa ; não recorrer aos remedios mais eficazes , ainda que fejlő violentos, & o cabri dos com tanto que fejao capazes defalvar a tali do doch **
Olfervacao XLk. " 3 yas :ortigas mortas., & raizes de malvaifco: & como eftes banhos (fendo hum dos prncipaes remedios,em que cu punha.a cfperanca.da faude) aenham alivio Gaufaffem , entendi que todaa doenca procedia do in- teftino Ilion eftar torcido, ou do movinto periftal- tico fefazererrado, & que fe iftoera affun(como cu o imaginava, )ounico renedioavia deferendireitar, & deftorcer dito inteftineaporque fö deftemad as circunftantes.o evidenteperige, emquc adoente eftavas(s.) dizendolhes que eu tinha por melhor fa- zer als am remedio, ainda que foffe duvidofo , que. deixar morrer a enferma ao defemparo, (6.) mayor- perigos extremos fe devem applicar remedios extre- mos. Na defagradou efta minha refoluqa atodos s circunftantess aqs quaes diffe , quecu naö achava do, & cutar hnma docnca tag perigofa, & formidar. grande pefoipoderia fazcro.cffeito defejado,& livrar 3enferma damorte. Ifto affim prefuppofto, & invo. Cada.a nomedeDeos, mandei que erguida, & pofta .sm pe a doente, btbeffe tres oncas de azougue viva. & foia fucceffotao maravilhofo., qut: loga fe deftor ceo: o inteftino &evacuou copiofanentc , fahindo 3. Eporq! digafoi temeraria qfladia darabeber. tres oncasat azougue a huma mulher que.eftava efpiranda por caufade hum volvulo,me dou por obrigado aacudir por minha honra,& pelaweritade, dizendo qur tan. fóraefteve de fer erro, ou atreviment dar.oaznaue abri maiscfficazes , ainda gue fejlö yiolentos. & g. +talos com tanto que feja capazes defalvar a v Li ad
... ENE Obfervaçao LE SG FEM PSES vas ; ortigas moótras , & raizes de rmalvaífco: & como x EN «eftes banhos (fendo hum dos ICipaés remendios,em ' | que eu punha a efperança da fande ) nenham alivio caufaflem , entendi que toda a doença precedia do in+ teftino Ilion eftar torcido, ou do movimêNnto periftal-. tico fe faz errado safe que feifto era àflum (como eu *, fo imagina jouni remedi evia de fe endireitar, & deftoréer o dito inteftina," porque fó defte modo poderia efcapar da marte ; pelamual razão manifeítei aoscircunitantes o evidente perige, em que a doente eftavas (5.) dizendolhes qué eu tinha por melhor fa- zer algum remedio , ainda que fole duvidofo , que deixar morrer n enferma ao defemparos (6.) mayos- mepte, quando.hê confeiho de Galeno > (7.) que nos PEerlgos FR fe devem applicar remedios extre- Fmnos. Nao defanradou efta minha refoluçaó a todos Oscireunitantes, aos quaes diffe , quecu naô achava ; remedio mais efhraz para endireitar o intéftinocorei- do, & quitar. hua doença taá perigofa, & farmidal, vel, como tra Qagongus ; porque fáelle com-o (ea, grande peloipodetia fazei o efeito delejado , & livrat enferma da morte. Ito afliqa prefuippofto, & invo: cada o nomalde Deos ; mandei que erguida, & pofta empta dognte, btbeffe tres onças de azougue vivo: = + & foi fucceffotao maravilhofo , que logo fe deftor" o: o inteítino., &gevacuou copiofamente ; fahindo Primeiro que tudo o a4audue. 3 no metmo did kivros % do perigo) & texb feudg., tora agpngucas dos cirennfo E por deu hag ha : falraí Bómens, E digao foi temerarta à darabe er res Oriças de Í SS: azougue à huma Cód que eftava elpiranda POR. cos o " caufade hum volvito , Ine deu por obrigado a acudir,» ar ininha honrá , & pela verdade, dizendo que tan =, ' fóraefteve de emo y ou atrevinfento dar.oa2ôgque : em hum-volviito tao apertado” que: resferiaeo” | * & peceado fem defeulga-fao fecaiáot 10; regue: OB einefficazes ,aifida quê reÃo yi6lá EDS ,,&X ab . mas E “com tánto quê fejag-capazes dedalvar a VEIA dê coco * . SAD ES oO ao A 2 %w
XLI. 251 Observaçaon tas, ortigas mortas, & raizes de malvaisco: & como estes banhos (sendo hum dos pilficipaes remedios, em que eu punha a esperança da saude) nenhum alivio causassem, entendi que toda a doença procedio do in¬ testino Ilion estar torcido, ou do movimento peristal¬ tico se fazexerrado; & que se isto era assim (como eu t ò imaginavam, )o unico remedigavia de ser endireitar, & destorcer o dito intestino, porque so deste modo poderia escapar da morte; pela qual razao manifestei aos circunstantes o evidente perigo, em que a doente estava; (5.) dizondolhes què eu tinha pot melhor fa¬ zer algum remedio, ainda que fosse duvidoso, que deixar morrer a enferma ao desemparo; (6.) mayor¬ mente, quando he conselho de Galeno, (7.) que nos perigos extremos se devem applicar remedios extre mos. Nao delagradou esta minha resoluçaon a todos os circunstantes, aos quaes diffe, que eu naon achava remędio mais efticaz para endireitar o intestino torci¬ do, & cular huma doença taon perigosa, & formida vel, como era grazougue, porque su elle com o sca grande pesopoderia fazero effeito desejado, & livrar 3 enferma da morte. Isto assim presupposto, & invo¬ eado o nomode Deos, mandei que erguida, & posta em pè a doente, hebesse tres onças de azougue vivo: & forque successo tao maravilhoso, que logo se destor & evacuon copiosamente, sahindo geo o intestino primeirę que tudo o axouque, & no mesmo did hivron d cag dos cireun do perigo; & texi saude, com a tantes, & credi da Arie e n ga de dae homens, c 3. E porq digaon foi temeraria quladia dara beber tres onçag de azougue à huma mulher, que estava espirando por causa de hum volvumlo, me dou por obrigado a acudir por minha honra, & pela verdade, dizendo que tam fora esteve de ser erro, ou atrerimento dar o azongue em hum volvuio taon apertado, quę antes feria erro, & peceado sem desculpa, nao recortui ao, renedios mais efficazes, ainda que sejlo yiolentos, & qulabri¬ uos, com tanto que sejaque capazes desalvar a va do och
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252 Observações Medicas Doutrinaes. doente , & como o Volvulo da ʃobredita mulher naõ tiveʃʃe obedecido aos muitos , & bons remedios , que ʃe tinhaõ feito , nem ouveʃʃe já para onde appellar , por iʃʃo , poʃto de parte o ruʃtico temor do que podiaõ dizer os fiʃcaes das acções alheyas , dei o azougue com feliciʃʃimo ʃucceʃʃo . 4 . E para que os doentes , que daqui por diante tiverem ʃemelhante enfermidade , naõ tenhaõ medo de tomar o dito azougue , & ʃaibaõ que ʃe póde tomar ʃeguramente , nomearei aqui as peʃʃoas , a que livrei da ʃepultura com elle . Foi o primeiro Franciʃca Dias , da qual fallo neʃta Obʃervaçaõ . Foi o ʃegundo Manoel Alvarez , ʃirgueiro de agulha , aprendiz de Joaõ de Pina , morador na rua Nova . Foi o terceiro Cathea Gomes , mulher de hum oleiro de azulejos , moradora aos Poyaes de Saõ Bento . E porque no caʃo deʃta terceira enferma ouveʃʃe algumas circunʃtancias de mayor perigo , & que fizeraõ a cura mais affamada , me ʃeja permitido referillas para utilidade da Republica , & credito da Arte . 5 . Tinha eʃta mulher huma hernia antiga , & naõ ʃey porque cauʃa lhe deʃcèraõ hum dia as tripas até o joelho , & no meʃmo dia a aʃʃaltou huma dor Iliaca , ou Volvulo vehementiʃʃimo , por cuja cauʃa começou a ter ancias mortaes , & vomitos eʃtercoroʃos . Para acudir a eʃte caʃo ʃe chamáraõ alguns Medicos bem opinados , os quaes conhecendo o perigo da doença ʃe atemorizáraõ de maneira , que nem quizeraõ ver , nem pôr as mãos na miʃeravel enferma : te aperto ( como muitas vezes fazem muitos ) me chamáraõ ; & conʃiderando eu que naõ podia curar o Volvulo , que a dita mulher padecia , ʃem que os inteʃtinos ʃe tornaʃʃem a repor em ʃeu lugar , intentei primeiro que tudo recolhellos ; porèm eʃtava a hernia ta inchada , dura , & retezada , que ʃe naõ pode rec & deʃte modo era impoʃʃivel dar o azougue para deʃtorcer , & indireitar o inteʃtino , & conʃequentemente naõ avia eʃperanças de eʃcapar da morte . grande perigo mandei por ʃobre a hernia hu vivo ,
$52 Obfervações Medicas Doutrinaes. doente, & como o Volvulo da fobredita mulhermad tiveffe obedecido aos muitos, & bons remedios, que fe tinhao feito ; nem ouveffe ja para onde appellar por iffo, pofto de paste o ruftico temor do que podiță, dizer os fifches das acções alheyas, dei o azougue com feliciffimo facceffo. 4. E para que os doentes, que daqui por diante ti- verem femelhante enfermidade , nao tenhao medo de tomar o dito azougue, & faibao que fe podetomar fe- guramente, nomearei aqui as peffgas, a que livrei da fepultura com elle. Foi o primeiro Francifca Dias, da qual fallo nefta Obfervacao. Foi o fegundo Manoel Alvarez, firgueiro de agulha, aprendiz de Joaodedi- na, morador na rua Nova. Foi o terceiro Catherina Gomes , mulher de hum oleiro de azulejos moodis ra aos Poyaes de Sao Bento. E porquemo cafo deffa terceira enferma ouveffe algumas circunftancia's de mayor perigo, & que fizerao a cura mais afamada, mes feja permitido referillas para utilidade de Republice, & credito da Arte. $ 5. Tinha efta mulher huma hernia antiga, nao fey porque caufa The defcerao hum dia as tripas até o joelho, & no mesmo dia a affaltou huma dor Iliaca, ou Volvulo vehementifico, por cuja canfa, começou a ter ancias mortaes & yonos eftercord, fos. Para acudir a efte cafo fe chamarao alguns Mer dicos bem opinados, os quaes conhecendo o perio da doença fe atemorizárao demaneira, que nem zerao ver, nem por as mãos na miferavel enferma :. te aperto (como muitas vezes fazem muitos ) me chac marao; & confiderando en que nao pedia curar o Vel vulo, que a dita mulher padecia, fem que os intestinos fe tornaffem'a repor en feu ligar, intentei pr que tudo recolhellos , porem eftava a hernia ta inchada, dura , & retezada, que fe nao pode res & defte modo era impolfivel dar o azougue para . . torcer, & indirerar o intestino, & confequentemen- te nao avn esperanças de efcapar da morte. grande perigo mandei por fobre a hernia hub VIYO, 1 ..
a52 Obfervacoes Medicas Dutrinacs. doente , &como o Volvuloda fobredita nulherna tivéffe obedecido aos muitos, & bons remedis,qur? fe tinhafeito , nem ouveffe ja para onde appellr por iffo, poftode paste o ruftico temor do que podia&. dizer os fifcaes das accörs alheyas,dei o azougue.com feliciffimo.fucceffo. 4.. E paraque os doentes,que daqui por diante ti- verem femelhante enfermidade, na tenhaömeda de tomar o dito azougue , & faiba@ que fe pédetomar fe guramente, noimearei aqui as peffoas,aque livreida fepultura com elle. Foi o primeiro Franeifca Dias, d. qual fallo nefta Obfervaca. Foi afegundo 4ano Alvarez, firgueiro de agulha, aprendiz deJöaödej na, morador narua Nova. FoiotexceiroCathe Gomes, mulher de hum oleirodeazulejos, mg ad ra aos Poyaes de Sa Bento.Eporquenocafo.defta terceira enferma ouveffe algumas circunftancia's de mayor perigo,& que fizerao a curamaisafamada, me feja permitido referillas para utilidade a Republicaj & credito da Arte. Tinha efta mulher huma hernia antiga. & 5. .naö fey porque caufa The defcera .hum dia as tripas até o joelho, & no mefmo..dia a affaltou humador fos. Para acudir a efte.cafo. fe.chamarao.alguns Mc. dicos bem opinados, os quaes conhecendoperi:. da doengafeatemorizara demaneira , que nem zera.yer, nem pör as máos.namiferavel enferma:. fe tornaffemarepor en feu k gar, intentei prt :te nao? grande:perigo:mandei por fobre a hernia hu
e. 852 Obfervações Medicas Dôuttinaes. doente, & como o Volvulo da fobredita nulheraas tivefle obedecido aos muitos , & bons remedios, que fe rinha6Ícico, nem ouvelle já para onde appeilar por iflo, poftade paste o ruftico temor do que podis& - dizer os fifehes das acções alheyas,dei o azougue com " feliciflimo fuceeffo. o SS... 2 - q. Eparaqueosdoentes,que daqui pôr diante tis verem femelhante enfêrmidade , naó tenhao medo, de tomar o dito azougue , & faiba&6 que fe pódetomar le guramente , nomearei aqui as peílgas 1 que livrei- da ' fepulturacom elle. Foi o primeiro Franeifca Na 7 qual fallo nefta Obfervaçaõ. Foi a fegundodfaçoêf . Te na, morador narua Nova. Foi-otertreiroÇ a - Gomes, mulher de hum oleiro de azuifiga, m th ra aos Poyaesde Saô Bento. E, pórquemmo galo delha terceira enferma ouvefle algumas circnfiftancias de mayor perigo, & que fizeraõa cura,mais, ad, mas feja permitido referillas para utilidade da Republica, & credito da Árte. DENCENTEA PESAA é 5. Tinhaefta mulher huma hernil antiga, & “nao fey porque caufa lhe defcêraô hum dia as tripas até o joelho, & no mefmo dia a-affaltéu huma dor Tliaca, ou Volvulo vehemsentisidao. por cuja canfa, Alvarez, firgueiro de agulha, aprendiz ds Joaga tha & ', . começouater ancids mortes. Ag vorittos eltgreoras fos. Para acudir a efte cafo fe chamaraó alguns M dicos bem opinados, os quaes conhecendo,g pe i da doença featemorizáraó degnangira, que nemg ZEra6 ver, hem por as mãos na miferavel enferma:& te aperto (como muitas Yezagfazem muitos ) me c máraõó;& confideran que não pedia curar oMgaj- .Vulo, quea dita mulhef padecia, Ígm que os ir - de torniallem'a re or ea leu rar, intencei 7, quertudo recolhe los;iporêm eltava a hernia Ras x& retê&tada , que fe ni. pode x & defte mõdo era inip: | dar 0.4zougue pa ” TOECer., é indires: to) eítino, & contequenges te nao avaa, ESpera eo e elcapar da morte. grande-pêrigo «mandei pôr. fobre a herfia hr
... 152 Observaçones Medicas Doutrinaes. doente, & como o Volvulo da sobredita mulhermao tivesse obedecido aos muitos, & bons remedios, quo se tinhaon feito, nem ouvesse ja para onde appellar, por isso, postque de parte o rustico temor do que podiaqm dizer os fiscles das acçones alheyas, dei o azougue com felicissimo successo. 4. E para que os doentes, quem daqui poor diante ti¬ verem semelhante enfermidade, naon tenhaon medo, de tomar o dito azougue , & saibaon que se pode tomar le¬ guramente, nomearei aqui as pessqas, a que livrei da sepultura com elle. Foi o primeiro Francisca Dias, da qual fallo nesta Observaçaon. Foi qui segundo Manoel Alvarez, sirgueiro de agulha, aprendiz de Joaquidexi¬ na, morador na rua Nova. Foi o terceiro Cathen Gomes, mulher de hum oleiro de azulejos, motadu ra aos Poyaes de Sao Bento. E porquemo caso desta terceira enferma ouvesse algumas circunstancias de mayor perigo, & que fizeraon a cura mais asfamadam, me¬ seja permitido referillas para utilidade qu Republica, & credito da Arte. 45. Tinha esta mulher huma herniâ antiga, & naon sey porque causa lhe descèraon hum dia as tripas até o joelho, & no mesmo dia a assaltou huma dor Iliaca, ou Volvulo vehementissiso, por cuja caufa, começou a ter ancias mortaes, & vonistos estercoro¬ sos. Para acudir a este caso se chamáraon alguns Ma¬ dicos bem opinados, os quaes conhecendo9 perio da doença se atemorizáraon de maneira, que nem zeraon yer, nem pôr as manos na miseravel enferma:y vezas fazem muitos) me cha te aperto (como muitas maraon; & confiderando gu que naon podia curar o a a, vulo, que a dita mulh padecia, sem que os intestine se tornaſsem a repor em seu ar, intentei pi que tudo recolhenllos; porèm estava a hernia inchada, dura, & retezada, que se naqun pode red & deste modo mpel dar o azougue parasei¬ torcer, & indireuar oi itestino, & consequentemen te nao avia epefanças de escapar da morte. grande perigo mandei pôr sobre a herñia hul Vd,
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Observaçaõ XLI 253 vivo , eʃperando que com o calor natural daquelle vivente cobraʃʃe a hernia quentura , ʃe diʃʃipaʃʃem os flatos , & ʃe desfizeʃʃe a inchaçaõ , & deʃte modo ʃe pudeʃʃe recolher : & naõ me ʃahio baldada a diligencia ; porque no termo de huma hora depois de applicado o caõ , aqueceo a parte , & ʃe abrandou de tal ʃorte a dureza , que com pouca moleʃtia ʃe recolhèraõ os inteʃtinos . Mandei entaõ ligar a quebradura com a ʃua funda , & que ergueʃʃem , & puzeʃʃem a mulher em pè , & lhe dei a beber tres onças de azougue , & no meʃmo inʃtante ʃe indireitou o inteʃtino , paráraõ os vomitos , & ficou boa . 6 . Vejaõ agora os Medicos , que lerem , ou tiverem noticia deʃtas tres curas de Volvulos taõ felicemente ʃuccedidos com o azougue , que conta haõ de dar a Deos , dos doentes , que daqui por diante tiverem eʃta enfermidade , & por temerem as murmurações , naõ lhes acudirem com o azougue , vendo-os em perigo de vida . 7 . Tres couʃas de muita importancia quero advertir aos Medicos modernos . A primeira he , que ʃe algum Volvulo for taõ rebelde , que ʃe naõ cure com as tres onças de azougue , que neʃte caʃo ʃe podem dar ʃeis , & naõ faltão Authores de boa nota , que mandão dar dous arrateis : porque ʃó o grande peʃo indireita o inteʃtino torcido ; o que algumas vezes naõ ʃuccede , quando a quantidade he pouca , & por falta do peʃo não paʃʃa , & encalha em alguma dobrez do inteʃtino ; donde ʃe ʃegue que ʃe ao dito azougue , retido dentro , ʃe ajuntar alguma porçaõ de humor acido-ʃalino ( como he factivel ) ʃe transforme em ʃolimão venenoʃo , & corroʃivo , porque de ʃemelhantes ʃaes juntos com o azougue ʃe faz o ʃolimaõ : & naõ ʃuccederà eʃta deʃgraça , ʃe a quantidade do azougue for grande , porque o ʃeu meʃmo peʃo o farà paʃʃar , & ʃahirà logo do corpo com vitoria da natureza , & gloria da Arte . 8 . A ʃegunda couʃa muito importante , & que he neceʃʃario ʃaberʃe , he , que ʃuppoʃto digo q̃ o azougue dado a beber , he o mais eficaz remedio que há para os
1 1 Obfervação XLI. vivo, efperando que'com o calor natural daquelle vi- vente cobraffe a hernia quentura, fe diffipaffem os fla- tos , & fe desfizeffe a inchacao, & defte modo fe pu- deffe recolher : & nao me fahio baldada a diligenciaj porque no termo de huma hora depois de applicado d. cao „aqueceo a parte, & fe abrandou de tal forte a du- 'rezabque com pouca moleftia fe recolherao os intef- tinos. Mandei entao ligar a quebradura com a fua fun- da, & que ergueffer, & puzeffem a mulher em pe ; & lhe dei a beber tresioncas de azougue , & no mefmo inftante fe indireitou o inteftino, parara6 os vomitos, & ficou boa. 6. Veja6 agora os Medicos, que Terem, ou tive- rem noticia deftas tres curas de Volvulos .tao felice- mente fuccedidos com oazougue, que conta haõ de dar a Deos, dosdoentes, que daqui por diante tive- rem efta enfermidade , & por temerem as murmura- ções, nao lhes acudirem comoazongue; vendo-os em perigo de vida. 7. Tres coufas de muita importancia quero ad- vertir aos Medicos modernos; A primeira he , que fe algum Volvulo for tao rebelde, que fe nao cure com as tres onças de azougue, quemelte cafo fe podem dar feis , & nao faltab Authores de boa nota , que mandão dar dous arrateis : porque fó o grande pefo indireita o inteftino tomcido ; o que algumas vezes nao fuccede, quando a quatidade he pouca, & por falta do pefo não paffa, & encalha em alguma dobrez do inteffinordon- de fe fegue que fe ao dito azougue, refido dentro, fe ajuntar alguma porção de humor acido-falino ( como hefactivel ) fe transforme em folimão venenofo, & coprofivoj porque de femelhantes faes juntos com o azougue fe faz. ofolimao: & pao fuccederà efta def- graça, fe a quantidade de azougue for grande ;, por- que o feu mefmo pefo o farà piffar, & fahira logo do- corpo com vitoria da natureza, & gloria da Arte. số - 1 . : > ; : 5 : - - 8. A fegunda, coufa muito importante ; & que he heteffario faberfe, be , que fuppofto digo q o azougue dado a beber , he e mais efficaz remedio que ha para
Obfervatao XLi: 233 Vivo, efperando qae'com o calornatural daquele vi- ventecobraffe a hernia quentura, fe diffipaffem os fla- tos,& fe desfizeffe a inchaca, & defte modo fe pu- deffe recolher : & na me fahio baldada a diligenciaj porque no termo de huma hora dépois de applicado o. .caöagueceo aparte,, & fe abrandou detal forte a du- tinos.Mandei enta ligar á áuebraduracom a fuafun- da,& que ergueffem,& puzeffema mulher em pe, &. Ihe dei a beber tresnsnsas deazougue ,& no mefmo. inftante fe indireitou o inteftino, parara5 os.vomitos, & ficou boa: 6. Vejab agora os Medicos, quelerem, ou tive- rem noticia deftas, tres curas de Volyulos ta felice i. dar a Deos, dosdoéntes, que daqni por diante: tive- em perigo de vida: : algum Volvulöfor ta rebelde , que fe na cure com: as tres oncas de azougue , quefte cafo.fepodem dar. feis , & na falta Authöres deboa nota, que inanda inteftino toncido ; öque algumas vezes na fuccede, quandoa quatidade he pauca, & por falta d peföna paffa, & encalhaem alguma dobrez ao inteffimödon- 2 de fe fegu que fea ditaazougue, repido dentro,fe ajuntar alguma porca de humor acid-falinö ( com hefactivel). fe transforme em folimao venenofo , & t corrofivoporque.de feinclhantes faasjuntas com a azougue fe faz.foliinao: &na fuccedera efta def- graca,fea quantidade doazougue for grarde,por- queofeumefma pefoofarapafar , & fahira logo do. corpo.com vitoria datiatureza , & gloria da Arte: .8.: : A fegundacbufamuitoimport&nte , &.qüe ha Htteffariofaberfe, hes qiefuppoftdigo qo azougue dado a beber , he mais efficaz remedio quc hapara
- "PP (Or : * Obleavação XLE Bát vivo, elperando quetom o cálor natural daquele vi- tente-cobrafle a hernia quentura, fe difhpaflem os fla: tos , & fe desfizefle a inchaçao, & defte modo fé pu='* defferecolher : & naô me fahio baldada a diligencia; porque no termo de huma hora depois de applicado o, caô., aqueceo a parte, & fe abrandou deal forte a du+ *rezágue com pouca moleftia fe recolhêraô os intef= tinos.Mandei entaó ligar a quebraduracom a fuafuns da , & que ergueflera, & puzeflem.a mulher em pé ; & lhe dei a beber trestbhgas de azoúgue , & no méfmo- inftantefe indireitou o inteítino;, parárab os vOIitos, &ficonboa, = : ERNNNTÕO: 6: Vejabagoraos Medicos, que Terei, Gu tives. rem noticia deftas tres curas de Volvulos.táófelices mente fuccedidos com oazougue, que conta háô de dar a Deos ; dos doéntes, que daqui por diánte.tives. ” tem eftá enfermidade , & por temeret as Murnura?; > ao €ões, haô lhes águdirem com oadonghes vendo-os. + em berigo de vida, O gs “Tres coufas de mala importância quêroads 1 vertir 4os Medicos modernos; A primeira he, que fe algum Volvulo for taó rebeldé; que fe naó cure com; " astresonçãs de nzougue ; queseelte cafo fepodem dar feis , & tia faltat Aurthores de boa nora; que mandão dar"dousáirateis : porque fó-b grande pefo indireita o O inteftino toseido ; ó que algumas vezes naó quandeá quártidade he pouca, & por falé pafífa; & encalha em alguma dobrez do inte tnosdon+ de fe feguê'que feno dito azonigue, regido detirio, fé ajuntar algum porção de lúrnor açido-falião (comô hesfa&ivel ) fe transforme emá flimão vencnofo, & úpelonão aófuceede; - “ torrófivoporque: de femselhântes faas juítas com O E azougue fe faz a folimao: & nao fuccedera efta del vo graça, fea quaritidade do ázougue for" grande ; Por: que o feu mefmo pelo o farà.piflar, & fahirã loga do- corpo com vitoria dá tiáturezá , & glotia da Arte: .-, .- .8, A fegundácoufa mui 'AMéeilario fáberle, he ; que fuppolto digo qo d2ouguê dade a beber ; he Sm o ” ks : ! als á” femedio que Rá pasa toimportinte ; & que he -
233 XLI. Observaçao vivo, esperando que com o canlor natural daquelle vi¬ vente cobrasse a hernia quentura, se dissipassem os fla¬ tos, & se desfizesse a inchaçaon, & deste modo se pu¬ desse recolher: & naon me sahio baldada a diligencia; porque no termo de huma hora depois de applicado o caon, aqueceo a parte, & se abrandou de tal sorte a du- que com pouca molestia se recolhèraon os intes¬ tinos. Mandei entaon ligar à quebradura com a sua fun¬ da, & que erguessem, & puzessem a mulher em pe, & lhe dei a beber tresonças de azougue, & no mesmo instante se indireitou o intestino, paráraó os vomitos, & ficon boa. Vejao agora os Medicos, que lerem, où tive¬ 6. rem noticia destas tres curas de Volvulos. taon felice¬ mente succedidos com oazougue, que conta haon de dar a Deos, dos doentes, que daqui por diante tive¬ rem esta enfermidade, & por temerem as murmura¬ cones, naon lhes acudirem com oazougue, vendo-os em perigo de vida. 7. Tres cousas de muita importancia quero ad¬ vertir aos Medicos modernos. A primeira he, que se algum Volvulo for taon rebelde, que se naon cure com as tres onças de azougue, que meste caso se podem dar seis, & naon faltamb Authores de boa nota, que mandamo dar dous arrateis: porque soo grande peso indireita o intestino toncido; o que algumas vezes naon succede, quando a quantidade he pouca, & por falta dò peso namo passa, & encalha em alguma dobrez do intestino; don¬ de se seguè que se ao dito acougue, retidò dentro, se ajuntar alguma porçaon de humor acido-salino (comò he factivel) se transforme em solimano venenoso, & corrosivo; porque de semelhantes saas juntos com o azougue se faz o solimaon: & naon succederà esta des¬ graça, se a quantidade do dzougue for grande, por¬ que o seu mesmo peso o farà passar, & sahirà logo do¬ corpo com vitoria da fiatureza, & gloria da Arte. 8. A segunda, cousa muito importante, & que ha necessario saberse, he, que supposto digo quamo azouguè dado a beber, he o mais efficaz remedio que ha para o8 . . , . .
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254 Observações Medicas Doutrinaes os Volvulos deʃeʃperados , que nem por iʃʃo ʃe deve dar a todos ʃem diʃtinçaõ , nem à carga cerrada : porque ʃe o Volvulo proceder de inflammaçaõ dos inteʃtinos , ( o que conheceremos pela grande febre , grandes dores , ʃede grande , grande quentura no ventre , & em todo o corpo ) não convirá o azougue ; mas conviráõ ʃangrias repetidas nos braços , meadas enʃopadas em leite , & applicadas ao ventre , banhos de agua morna cozida com quatro arrateis de amendoas bem pizadas , & tiʃanas . Tambem naõ convirà o azougue aos Volvulos , que procederem de materia fria , ou de flatos groʃʃos embebidos nos inteʃtinos porque a eʃtes ( como diz Hippocrates ) ( 7 . ) convem darlhes vinho puro , & generoʃo , para que ʃe cozam , & diʃʃipem as taes cruezas , & flatos ; & deitarlhes ajudas de vinho bom , ourina de menino , em que cozeráõ primeiro eʃterco de cabra , cominhos , funcho , biʃnaga , com hum eʃcropulo de Caʃtoreo . 9 . Tambem não convem dar o azougue nos Volvulos , que procederem de dureza do eʃterco , ʃem que primeiro ʃe mollifiquem com algumas ajudas de çumo de ortigas mortas , & igual quantidade de oleo violado . E ʃe eʃtas não baʃtarem , deitaremos outras feitas de dezaʃeis onças de oleo violado miʃturado com quatro onças de vinho branco , fervendo tudo até ʃe gaʃtar o vinho . 10 . Das ʃeguintes ajudas tenho mayor conceito para Volvulos que procedem de dureza , & reʃicaçaõ dos excrementos , & ʃe fazem do modo ʃeguinte . Tomai de raizes de malvaiʃco machucadas huma onça , de folhas de violas , malvas, ortigas mortas , alʃavaca de cobra , endros , coroa de Rey , & macella ; de cada couʃa deʃtas huma maõ cheya , tudo ʃe coza em huma canada de agua com hum frangão , de sorte que ʃe faça calda para tres ajudas , & a cada ʃeis onças deʃte cozimento ajuntei de canafiʃtula huma onça , de Benedicta laxativa meya onça , de oleo de amendoas doces , de macella , & de endros , de cada hum huma onça , & com huma gema de ovo , & duas oitavas de ʃalgema
#$4* Obfervações Medicas Doutrinaes. os Volvulos defefperados , que nem por iffo fe deve dar a todos fem diftinçao, nem à carga cerrada .: por- sque fe o Volvulo proceder de inflammacao dos intef- tinos , ( o que conheceremos pela grande febre, gran- des dores, fede grande, grande quentura no ventre, & em todo o corpo) não convirá o azougue ; mascon- virao fangrias repetidas nos braços , meadas de ho enfopadas em leite , & applicadas ao ventrey. banhos de agua morna cozida com quatro arrateis de amen? doas bem pizadas, & tifanas. Tambem nao conviràs azougue aos Volvulos, que procederem de materia fria, ou de flatos groffos embebidos nos intestinos porque a eftes (como diz Hippocrates ) (7.) convem, darlhes vinho puro, & generofo, para que fe cozam, & diffipem as taes cruezas, & flatos ; & deitarlhes ajn- das de vinho bom, ourina de menino, em que coze; rão primeiro efterco de cabra, cominhos, funchos bifnaga , com hum efcropulo de Cafforeo. ( ... 9. Tambem não convem dar o azougue nos Vol vulos , que procederem de dureza do efterco, fem que primeiro fe mollifiquem com algumas ajudeatle çu- mo de ortigas mortas „& igual quantidade de oled violado. E feeftas nãobaftarem, deitaremos outras. feitas de dezafeis onças de oleo violadas mifturado com quatro onças de vinho branco, fervendo tudo até fe gaftar o vinho. IO. Das feguintes ajudas tenho mayor conceito para Volvulos que procedem de dureza, & reficaçad dos excrementos, & fe fazem do modo Seguinte. Tos mai de raizes de malvaifeo machticadas huma onça, de folhas de violas , malvas, Ortigas tortas, alfavad ca de cobra, endros , coron de Rey, amadella , de za da coufa deftas huma mocheya, rado fe cozaem bus ma canada de agua com hum frangady de forte que fe " faça calda para tres ajudas, & a cadafeis onças defte cozimento ajuntei de canafiftula huma onça, de Be- nedicta laxativa meya onça , de óleo de amendoas da- ces , de macella, & de endros, de cada hum hamis ça, &.com huma gema de ovo, & duas oitavas defal- gema 1
54' Obfervates Medicas Dautfinacs. os Volvalos defefperados, qac nem por iffo fe deve dar a todos fem diftinea , nen a carga cerrada.. por-- quefeVolvul pröceder de inflamthaca dos intef tinos , ( o que conheceremos pela grande febre , gran : des ores, fede grande, grandequentura noventre, & em todo. corpo) nao.tonvira o azougue ; ma vira fangrias répetidas nos bracos , meadas :d. : enfopadas em lcite , & applicadas ao ventrey.banhos de agua morna cozida coinquatro arrateis-deamenz doasbem pizadas, & tifanas. Tambem naconvira: azougue aos:Volvulos, que procederem. dematerin. fria, ou de flatgs groffos embebidos nos inteftino porquea éftes (como diz Hippcrates ) (7.).convem. darlkes vinhopuro, & generofo, pata que fe cozam, & diffipem as tae$cruezas, & flatos; & deitarlhes ja. das de vinho bom, ourina de menino, em que coza: rao primeiro fterco de .cabra, cothinhos , funaho bifnaga ,.com hum efcropulode Caftoreo. . :. 9.. . Tambem naoconvem dar o azouguenos Vel. yalos ; que procederem de dureza d sfterco, Yemque primeiro fe mollifiquem com algunas ajudate gu- mo de ortigas mortas.,'& igual :quantidade ae oléo: violado. E fe cftas naobaftaremy deitaremos: outras feitas de dezafeis oncas de ole ioladasmifturado com quatro oncas devinh brancoferiveado tadoatê: fe gaftar o vinho. : 1o. Das. feguintes ajudas tenhonayor coriceite paraVolvulosque procedéra de dureza, & reficaca. dos excrementos, & fefazem donodo feguinte. Toa mai de raizes de malvaileo.machtrcadas huma onca de folhas de vialas , malvas, srtigashrtas, utfavat ca de'cobra, erraros, coroa de Rey,&auallaI de a.. da coufa deftas huma mmacheya, rudo fe cozaem hus ma canadade agua com hum frangao, de forte quefa *facacalda paratres ajudas, & a cadaftis oneas defte cozimento ajuntei de canafftula hüma onca, de Be- nedi&a laxatiya meya onca , de oleo dt amendoasir ces, de macella, & de endros, de cada hum huni? ga,&.com humagema de ovo, & duas oitavas defal-. gema
54” Obfervatões Medicas Doutfinaes. — ot Volvulos defefperados , que nem pór iffo Te diva dar a'todos fem diftinçaô, nem à carga cerrada : por .tquefeo Volvulu proceder de inflammnaçaõ dos intef= tinos , ( o que conheceremos pela grande febre , gran des dures , fede grande, grande quentura no ventres ; &emtodoo corpo) não convirá o azongue ; mas virão fangrias repetidas nos braços ; meadas enfopadas em leite , & applicadas ao ventre, bios | de agua morna cozida com quargo arráteis-deamenz ANNCãS *. doasbem pizadas, & tifanas. Tâmbemnaócomrirão a azougue aos Volvulos, que o aSNAHO máterig: fria, ou de flatos groflos embebidos nos inteftinoss | à, porque eftes (Como diz Hippoeraces ) (7.) convega, darlhes vinhopuro, & generofo, pata que fe cozam, & diflipem as taes cruezas, & flatos ; & deitarlhes ajua das de vinho bom, ourina de menino, em que cones. = ráo primeiro efterco de cabra, cominhos , fatichoy”. bifnaga , com hum eferopulode Caftores. “o 9. “Tambemnão convem dar o azougue nos Vols yulos ; que procederem de dureza do efferco,femque = primeiro fe moltifiquem-com algurnas ajudasse sus sho de ortigas mortas Bá igual quantidade dé ole | violado. E feeftas naobaltarems deitatemos outras. j feitas de dezaféis onças de oleo violudg; niiltúrado: |; com quatro onças de vinha branco, faivéfdo endo"até: | fegaftarovinho, 4 Tn e OT a “10. Das feguintesajudas tenhotnayor corçeies para-Velwulos que procederá de dúteza , & reficaçad dos excrementos ; & fe fazem do thodo feguinte. Tos mai de raizes dé malvaifeo Machucadas huma Onça, de fólhas de vialas , maivas, Wrrtigasthortas, HlfaVvad ca de cobra, eriditós , coroa de Rey iemageliz de ças da coufa deftas huma maócheya, tado fe contem bus ma canada de aptia com hum frahgãos dé forte: quefo | , 2. > *façacalda paratres ajudas, & 2 cadafeis-ohças defte - ** cozimento ajuritei de canaliftula hráiina onça, de Bea | 'nedi&a laxativd meya onça ; de leo de améridoasida- 2 oo es , de macélla , & de endros , de cada httim hua 60 , a, & com humagemade ovo , & duás oitavas defal. + gema PENA
154 Observaçones Medicas Doutfinaes. os Volvulos desesperados, que nem por isso se deve dar a todos sem distinçaon, nem à carga cerrada: por¬ ique se o Volvulo proceder de inflammaçaon dos intes¬ tinos, (o que conheceremos pela grande febre, gran¬ des dores, sede grande, grande quentura no ventre, & em todo o corpo) namo convirà o azougue; mascon¬ e viraon sangrias repetidas nos brąços, meadas di ensopadas em leite, & applicadas ao ventre, burhos de agua morna, cozida com quatro arrateis de amen¬ doas bem pizadas, & tisanas. Tambem naon convirà o azougue aos Volvulos, que procederem de materia fria, ou de flatos grossos embebidos nos intestinos porque a estes (como diz Hippocrates) (7.) convem darlhies vinho puro, & generoso, para que se cozam, & dissipem as taes cruezas, & flatos; & deitarihes aju¬ das de vinho bom, ourina de menino, em que cozt¬ raon primeiro esterco de cabra, cominhos, funcho, bisnaga, com hum escropulo de Custoreo. 9. Tambem namo convem dar o azougue nos Vol¬ vulos, que procederem de dureza do esterco, sem que primeiro se mollisiquem com algumas ajudade çu¬ mo de ortigas mortas, & igual quantidade de oleo violado. E se estas namo bastarem, deitaremos outras feitas de dezaseis onças de oleo violadq misturado com quatro onças de vinho branco, fervendo tudo até se gastar o vinho. 10. Das seguintes ajudas tenho mayor conceitu para Volvulos que procedem de dureza, & resicaçaqum dos excrementos, & se fazem do modo seguinte. To¬ mai de raizes de malvaiseo machucadas huma onça, de folhas de violas, malvas, ortigas mortas, alfuva¬ ca de cobra, endros, coroa de Rey, & magella, de ca¬ da cousa destas huma maon cheya, tudo se coza em hu¬ ma canada de agua com hum frangad, de sorte que se faça calda para tres ajudas, & a cada seis onças deste cozimento ajuntei de canasistula huma onça, de Be¬ nedicta laxativa meya onça, de oleo de amendoas da ces, de macella, & de endros, de eada hum humad ça, & com huma gema de ovo, & duas oitavus dosal¬ gema
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Observaçaõ XLL. 255 gema ʃe deitem eʃtas ajudas mornas , & o bom effeito dellas acredita a ʃua grande virtude . 11 . Meter aos doentes , que tem Volvulo por cauʃa de dureza das fezes , em hum banho de ʃeis almudes de agua morna , miʃturada , & bem batida com meyo almude de azeite , he remedio muito louvado , assim para mollificar o ventre duro , como para abrandar a dor , com tal advertencia , que depois de ʃahir do banho ʃe fomente toda a barriga com boʃta de boy freʃca , miʃturada com a gordura que deitarem de ʃi quatro redenhos de carneiro derretidos . 12 . Os caldos de gallinha bem gorda , cozida com boa quantidade de folhas de malvas , & ortigas mortas , a que ajuntém quatro eʃcropulos de cremores de tartaro , ou duas oitavas dos meus trociʃcos de Fioravanto , obraõ effeitos milagroʃos nos caʃos de durezas das fezes , ou dores de ventre . 13 . A terceira couʃa , q̃ he muito importante ʃaberʃe , he , que ʃe o Volvulo proceder por cauʃa de algũa quebradura , em que os inteʃtinos deʃcerem atè o eʃcroto , que neʃte caʃo mandemos virar o homem com a cabeça para baixo , & com os pès para cima , & deʃte modo reduzamos o inteʃtino a ʃeu lugar , & enfaixando-o muito bem , lhe daremos entaõ o azougue . 14 . Da maravilhoʃa virtude que tem o azougue vivo dado a beber para curar a dor iliaca , & indireitar os inteʃtinos torcidos , matar lombrigas , & facilitar os partos apertados , eʃcrevèraõ Joaõ Schenkio , ( 8 . ) Felix Platero , ( 9 . ) Henrique ab Heers , ( 10 . ) Braʃavolo , ( 11 . ) Andre Mathiolo , (12 . ) Joaõ Hartmano , ( 13 . ) Fabricio Hildano , ( 14 ) Baptiʃta Zapata , ( 15 .) Joaõ Helmonte , ( 16 . ) Nicolao de Blegni , ( 17 . ) Bernardo Conor , ( 18 . ) & infinitos outros que naõ refiro , por naõ canʃar aos Leitores . 15 . Vanelmonte ( 19 . ) louva muito nos Volvulos as balas de chumbo , & diz que nunca vira morrer deʃta doença , aos que uʃáraõ dellas , com tal condiçaõ que as tome eʃtando em pè , ou andando paʃʃeando , ainda que ʃeja ajudado por outrem . OBSER-
- Obfervaçao XLL* gema fe deitem eftas ajudas mornas, & o bom efeito dellas acredita a fua grande virtude. 11. Meter aos doentes, que tem Volvulo por caus fa de dureza das fezes , em hum banho de feis almudes de agua morna, mifturada, & bem batida čoin meyo almude de azeite, he remedio muito louvado , affim para mollificar o ventre duro; como para abrandar a dor , com tal advertencia, que depois de fahir do ba- nho fefomente toda a barriga com bofta de boy fref- ca, mifturada com a gordura que deitarem de fi qua- tro redenhos de carneiro derretidos. 12. Os caldos de gallinha bem gorda , cozida com boa quantidade de folhas de malvas, & ortigas mor- ' tas , a que ajuntém quatro efcropulos de cremores de tartaro, ou duas oitavas dos meus trocifcos de Fiora- vanto, obrao effeitos milagrofos nos cafos de durezas das fezes , ou dores de ventre. 13. A terceira coufa, qhe muito importante fa- berfe, he, que fe o Volvulo proceder por caufa de algua quebradura , em que os inteftinos defcerem ate o ef- croto, que nefte cafo mandemos virar o homem com a cabeça para baixo., & com os pès para cima, & defte modo reduzamos o inteftino à feu lugar, & enfaixan- do-o muito bem , lhe daremos então o azougue. · 14. Da maravilhofa virtude que tem o azougue vi- vo dado a beber para curar a dor iliaca, & indireitar os inteftinos torcidos , matar lombrigas, & facilitar os partos apertados , efcreverao Joao Schenkio, (8.) Fe- lix Platero, (9.) Henrique ab Heers, (io. ) Brafavolo, (II.) Andre Mathiolo, (fr.) Joao Hartmano, (13.) Fabricio Hildano; (14) Baptifta Zapata, (15.) Joao Helmonte, (16.) Nicolao de Blegni; (17.) Bernardo Conor , (18.) & infinitos outros que nao refiro; por nao canfar aos Leitores. 15. Vanelmonte (19. )louva muito nos Volvulos · as balas de chumbo, & diz que nunca vira morrer def- ta doença, aos que ufáraõ dellas, com tal condição que tome eftando em pe, ou andando paffeando, ain- da que feja ajudado por outrem. OBSER- - . 1 . :
Obfervacao: : XLf* ema fe deitém eftas ajudas mornas, & bom effeito dellas acredita a fua grande virtude. .11. ..Meter aos dentes,qué tern Volvulopor caur fa de dureza das fezes , em hum banho de feis almudes de aguamorna, mifturada, & bém batida toin meyo almude deazeite, he rmedio rriuito louvado, affum para mollificar o ventre dur, com para abrandar a dor , com tal advertencia, que depois de fahir-do ba- nhofefomente toda a barriga com bofta de boy fref- ca,mifturadacom agordura que deitarem de fi.qua- tro redenhos de carneiro derretids. 12. Os caldos de gallinha bem gorda, cozida com boa quantidade defolhas de malvas, & ortigas mor- . : tas , aque ajuntém quatroefcropülos de Cremores de tartaro, Ou duas oitavas dos meus trocifcos de Fiora- vanto, obra effeitos milagrofos nos cafos de durezas dasfezes; ou dores dé ventre. .13.: Aterceira coufa, q he muito importante fa berfe,he,que feo Volvulo proceder por caufa dealgua quebradura, , en que os inteftinos defcerem ate o ef- Croto, que nefte cafo mandemos virar o homen com a cabeta parabaixo., &com os pes para cima, & defta modoreduzamos o inteftino afeu lugar, & enfaixanj do-o muito bem , lhe daremos enta o azougue. . : - 14. Da maravilhofa virtude que teni c azougue vi- vodado abeber para curar ador iliaca,& indireitar os inteftinos torcidos , matar loinbrigas, & facilitar os partos apertados , efcrevera Joa Schenkid, (8.) Fe- lix Platero, (9:) Henrique ab Heers, (10) Brafavolo, (11.)Andre Mathiolo(1r:) Joa.Hartmano,(13.) Fabricio Hildano, (14,Baptifta Zapata, (15.)Joa Helmonte, (16:) Nicolaade Blegnf, (17.)Bernardo Conor ,(t8.) &infinitos outfos que na refiro, por naocanfar aos Leitores. : : 15. : Vanelmonte(19:louva muito nos Volvulos : as balas de chumbo, & diz que nunca vira.norrer def- ta doenca, aos que ufara dellas,com tal condica que stome eftando &m pe, ou andando paffeando., ain- da que feja ajudado por outrem: -- OBSER-
. Obfervação XLL' Cs $ema fe deiteém eftas ajudás mornas, & o borá efeito dellas acredita a fua grande virtude. E 11. “Meter aos dôentes,qué tem Volvilo por Cats: fa de dureza das fezes , em hum banho de feis almudes de agua morna , milturada, & bem batida Eoin meyo almude de azeite, he remedio tiuito louvado, aflm “para mollificar o ventre duro ; como pata abrandar a dor , com tal advertencia, que depois de fáhir.do ba- + nhofefomentetoda a bartipa com bofta de boy fref= ! “ca, mifturada coma gordura que deitarem de fi qua: tro tedenhos de carneiro derretidos. + o, 12. Oscaldos de gallinha bem gorda ; eozida com boa quantidade de folhas dé malvas , & ortigasmor- "tas, a qãe ajuntém quatro efcropulos de cremóres de tarraro, ou duas oitavas dos meus trocifcos de Fidra- vanto , obraô effeitos milagrofos nos cafos de duiezas 1 —dasfezes;ou dores dê ventre, oco “> 43. Aterceiracoufa, Ghe muito importante faz * — berfe,hequeleoVolvulo proceder por caufa dealgãa 7 —quebradura , em que os inteftinos defcerem atê o ef= crorto, que nefte éalo manderhos vitár 6 homem coma * cabeçá para baixo, & com os pês para cima , & defta modoreduzamos o inteftino a feu lugar, & enfaixan: — do-o muito bem , lhe daremos entao o azougue. : “14. Dátraravilhofa virtude que tem o azougue vi- . vodado a bêber pára curar adoriliaca;& indireitar os. inteítinos torcidos , matar lombrigas» & facilitar os partos apertdos ; eferevêrao Joa6 Sehenkiv, (8.) Fe: Hx Platero ; (9.) Henrique àb Heers, (io. ) Brafavolo, (11.) Andre Mathioto , (13) Joao. Hartmato; (13.) Fabricio Hildano; ( 1 BA Baprifta Zapata, (15.) Joaô Helmonte, (16:) Nicolao de Blegni'; (17.) Bernardo Conor , (18.) &infinitos outfos que naô refiro; por naôcanfaraos Leitores. e 15. — Varielmonte (19, )louva muito hos Volvulos as balas de chumbo, & diz que nuricà vira morrer.def- EX oença, aos que ufáraô dellas, com tal condiçaô que 38 toing eltando em pê ; -ou andando paffeardo,, ai da que fejaájudado porougrems «+ cos É Poe o mos OBSER - . . . " | SITE : / : PESTLÇTT
Observaçao XLI 255 gema se deitem estas ajudas mornas, & o bom effeito dellas acredita a sua grande virtude. 11. Meter aos doentes, que tem Volvulo por cau¬ sa de dureza das fezes, em hum banho de seis almudes de agua morna, misturada, & bem batida com meyo almude de azeite, he remedio muito louvado, assim para mollificar o ventre duro, como para abrandar a dor, com tal advertencia, que depois de sahir do ba¬ nho se fomente toda a barriga com bosta de boy fres¬ ca, misturada com a gordura que deitarem de si qua¬ tro redenhos de carneiro derretidos. 12. Os caldos de gallinha bem gorda, cozida com boa quantidade de folhas de malvas, & ortigas mor¬ tas, a que ajuntèm quatro escropulos de cremores de tartaro, ou duas oitavas dos meus trociscos de Fiora¬ vanto, obraon effeitos milagrosos nos casos de durezas das fezes, ou dores de ventre. 13. A terceira cousa, quam he muito importante sa¬ berle, lie, que se o Volvulo proceder por causa de alguma quebradura, em que os intestinos descerem atè o es¬ croto, que neste caso mandemos virar o homem com a cabeça para baixo, & com os pès para cima, & deste modo reduzamos o intestino à seu lugar, & enfaixan do-o muito bem, lhe daremos entao o azougue. 14. Da maravilhosa virtude que tem o azougue vi¬ vo dado a beber para curar a dor iliaca, & indireitar os intestinos torcidos, matar lombrigas, & facilitar os partos apertados, escrevèraon joaon Schenkio, (8.) Fe¬ lix Platero, (9.) Henrique ab Heers, (10.) Brasavolo, (11.) Andre Mathiolo. (11.) Joaon Hartmano, (13. Fabricio Hildano, (12) Baptista Zapata, (15.) Joaon Hel monte, (16.) Nicolao de Blegni, (17.) Bernardo Conor, (18.) & infinitos outfos que nao refiro, por naon cansar aos Leitores. 15. Vanelmonte (19.) louva muito nos Volvulos as balas de chumbo, & diz que nuncà vira morrer des¬ ta doença, aos que usaraon dellas, com tal condięaon que as tomg estando em pè, ou andando passeando, ain¬ .. da que seja ajudado por outrem. OBSER¬ --
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256 Observações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XLII . De huma febre cau∫ada de enchimento do e∫tomago ; para remedio da qual ∫e deraõ vinte ∫angrias , & por isso degenerou a febre em maligna de tam veneno∫a qualidade , que o doente chegou a e∫tar ungido , & certamente morreria , ∫e eu lhe naõ acudira dandolhe o meu Bezoartico , com cuja virtude solutiva , & cardiaca foi lentamente purgando os humores damno∫os , & rebatendo a qualidade veneno∫a , & por este caminho o livrei da morte e∫tando qua∫i metido na ∫epultura. 1 . – Naõ averá Medico tam falto de ciência , que ignore o muito que Galeno , ( 1 . ) & todos os Doutores ( 2 . ) reprovaõ as ∫angrias nas febres , & doenças , que procedem de cruezas , ou enchimento do e∫tomago : comtudo naõ ∫ei com que cegueira, ou fado infelice desprezaõ alguns homens os preceitos dos Oraculos da Medicina , mandando ∫angrar em todas as febres , ∫em differença , nem distinçaõ das cau∫as dellas , nem dos temperamentos , ou forças dos doentes ; & o que mais he , que nem queixando∫e elles que ∫entem o e∫tomago pejado ; que tem vontades de vomitar ; que lhes amarga a boca ; & que tem grande fastio ; naõ ba∫taõ todos e∫tes finaes , & reclamos , para conhecerem que os taes doentes nece∫∫itaõ de ∫er logo purgados ; mas cega , & incon∫ideradamente mandaõ logo ∫angrar , ∫em embargo que a experiencia lhes mostra cada dia , que os que ∫e ∫angraõ tendo os e∫tomagos cheyos , ou morrem na contenda , ou livraõ por milagre . Devem pois os Medicos principiantes advertir , que naõ commettaõ hum erro taõ ab∫urdo , como he ∫angrar a alguém e∫tando com o estomago cheyo , ou com de∫ejos de vomitar , ou tendo grandes amargores de boca ; porque os que em ∫emelhantes termos ∫angrarem aos doentes ∫em os purgar primeiro quando os naõ matem , os exporáõ a grandes perigos. Em confir-
. 256 Observações Medicas Doutrinaes. OBSERVACAM XLH. De huma febre cani fada de enchimento do estomago ; pa- ra remedio da qual fe der ao vinte fangrias, & pariffo degenerou a febre em maligna de tam venenofa di- dade, que o doente chegou a eftar ungido, & certa- mente morreria, fe eu lhe nao acudira dandolhe o meu Bezoartico ; com cuja virtude folutiva, de cardiaca foi lentamente purgando os humores damnofos , & re- batendo a qualidade venenofa, & por efte caminho o livrei da morte eftando quafi metido na fepultura. 1. N "Ao avera Medico.tam falto de ciencia, que ignore o muito que Galeno, (1.) & todos os Doutores(2. )reprovao as fangrias nas febres, & doenças , que procedem de cruezas, ou enchimen. to do eftomago: comtudo naofei com que cegueira, ou fado infelice defprezao alguns homens os precei- tos dos Oraculos da Medicina, mandando fangrar em todas as febres , fem diferença, nem diftinçao das eaufas dellas , nem dos temperamentos, où forças dos doentes ; & o que mais he, que nem queixandofe elles que fentem o eftomago pejado ; que tem vontades de vomitar ; que lhes amarga a boca ; & que tem grande faftio ; nao baftao todos eftes finaes , & reclamos, pa- ra conhecerem que os taes doentes necefhitaõ de fer logo purgados;mas cega, & inconfideradamente man- dao logo fangrar, fem embargo que a experiencia lhes. moftra cada dia, que os que fe fangrao tendo os elto- magos cheyos, ofi morrem na contenda, ou livraõ por milagre. Devem pois os Medicos principiantes adver- tir., que nao commettaõ hum erro tao abfurdo, como he fangrar a alguem eftando com o eftomago cheyo, ou com defejos de vomitar, ou tendo grandes amar- gores de boca ; porque os que em femelhantes termo fangrarem aos doentes fem os purgat primeiro quan- do os nao matem, os exporao a grandes perigosEm confir-
2s6 Obférvacbes Medicas. Doutrinaes. OB SER V.A.C A'M.XLH.. De burna febre canfada de encbimento:do eftomago ; pa- ra renedio da qual fe dera vintefangrias, & porif degenerou a febre en nalignadle tan: venenofa dade, que o doente chegou a eftar ungidos- certa- mente morreria,feeu.lbe na acudira dandolbe.o mess Bezoartico; com cu1a virtude /olutiva, cardiaca foi lentainentepurgando os bumores damnofos , ds re- bateno aqualidade venenofa, d.porefte caminbo.o livrei da morte eftando quaft netido nafepultura. Ao avera Medico tam falto deciencia, que ignoreomuito que Galena, (1.)& todos os Doutores(2.)reprovaas fangrias nasfebres, & doengas , que procedem'de cruezas, ou enchimen- to do eftormago: comtudo nafei com que cegueira, ou fado infelice defpreža: alguns homens osprecei-: tos dos Oraculos da Medicina, mandandofangrar em: todas as febres , fem &ifferenca, nem diftina.das caufas dellas , nem dos témpéramentos; ou forgasdos docntes ; & o.que mais he, que nemqueixandofe.elles que fentem o eftomagopejado; que: tem vontades de vomitar ;, que lhes amarga a boca ; &t.que tem grande faftio , na bafta todos eftes finaes ,& reclamos, pa ra conheccrem que os taes doentes, necffita defer logopurgados;mas cega,&t inconfideradamente man- da lögo fangrar, fem embargo qúea experiencia lhes: moftra cada dia que os que fefangræö tendo os:efto- magos chéyos, ú.morrem na contenda,ou livra por milagre. Devem pois os Medicos princrpiantes adver- tir., que na commetta hum erro taabfurdö: como he fangrar aalguem eftando: com aeftomago cheyo; ou con: defejos. de vomitar , ou tendograndes arnar- gores de:boca; porque os que cm femalhantes terma fangrarem aos doentes fem os purgat primeiro quatr confr
266: Obférvações Medicas Doutrinaes. OBSERVAÇAM XL. De huma febre caúfada de enchimento-do eftomago; par degenevou a febre em maligna de tam: veneno/a dade, que o doente chegou a eftar ungido, & certa. mente morreria, fé eu lhe não acudira daudothe.o mem oe coa 0 oz Bezóayrticos som cuja virtude folútima, & cirdiaca o + foilentamentepurgandooshumores damnofos, & re- "*, batendo aqualidade venenofa, & porefte caminho o livrei Ha morte eftando quali metido na fepultura. " s. ” s | & doenças, que proceder de-cruezas, ouenchimenea ou fado infelice defprezao. alguns homens os'precei+ “tos dos Oraculos-da Medicina, mandando fangrár em. | todas as febres , fem differença, nem diftinçaó das doentes ; & o que mais he, que nem queixandofe elles que fentem o eftomago pejado ; quê tem vontades de fafítio ; naô baítaô todos eftes finaes , & reclâmos ; pa- ra conhecerem que os taes doentes, nectfhraó de fer logo purgados;mas cegá,& inconfideradamente únan- daô logo fangrar, fem embargo que.a experiência lhes. molítra cada dia que os que (ef magos chéyos, dfi morrem na contérida,ou livraô por milagre. Devem pois osMíedicos principiantes adver- tir, que naô commettaô hum erro raó adbfurdo:;. como he fangrar a alguem eftando: com o eftomago cheyo; Dr goresdeboca; porque os que em femelhantes termas : 4 fangrarêmaos doentes fem os purgar primeiros quat PE O dô os naô matem, os exporão:a grades perigos Ent a 1. A TA6O averá Medico .tam falto deciencia, 1 W que ignore o muito que Galeno, (1.)8&s . todos os Doeutores(2.)reprovaõas fangrias nasfebres, . | todo eftomago: eomtudo nabfei com que cegueira, ou com:defejos de vomitar, outendo grandes arnar- ra remedio da qual fe derao vinte fangrias, E Fa " ecaufas dellas , nem dos têmpeéramentos; oi forças dos vomitar; que lhesamargaa boca ; & que tem grande | angrao tendo oselta«
— » 256 Observaçbes Medicas Doutrinaes. e OBSERVAQAM XLI. De huma febre causada de enchimento do estomago; pa¬ ra remedio da qual se deraon vinte sangrias, & ponisso degenerou a febre em maligna de tam venenosa quli¬ dade, que o doente chegou a estar ungido, & certa¬ mente morreria, se eu lhe nao acudira dandolhe, o meu Bezoartico; com cuja virtude solutiva, & curdiaca foi lentamente purgando os humores damnosos, & re¬ batendo a qualidade venenosa, & por este caminho o livrei da morte estando quasi metido na sepultura. 1.* JAo averá Medico tam falto de ciencia, que ignore o muito que Galeno, (1.) & N todos os Doutores (2.) reprovaon as sangrias nas febres, & doenças, que procedem de cruezas, ou enchimen¬ to do estomago: comtudo nao sei com que cegueira, ou fado infelice desprezaon alguns homens os precei¬ tos dos Oraculos da Medicina, mandando sangrar em todas as febres, sem differença, nem distinçao das causas dellas, nem dos temperamentos, où forças dos doentes; & o que mais he, que nem queixandose elles que sentem o estomago pejado; què tem vontades de vomitar; que lhes amarga a boca; & que tem grande fastio; naon bastaon todos estes sinaes, & reclamos, pa¬ ra conhecerem que os taes doentes necessitaon de ser logo purgados; mas cega, & inconsideradamente man¬ daon logo sangrar, sem embargo que a experiencla lhes mostra cada dia, que os que se fangraon tendo os esto¬ magos cheyos, où morrem na contenda, ou livraon por milagre. Devem pois os Medicos principiantes adver¬ tir, que naon commęttaon hum erro taon absurdò, como he sangrar a alguem estando com o estomago cheyo, ou com desejos de vomitar, ou tendo grandes amar- gores de boca; porque os que em semelhantes termos sangrarem aos doentes sem os purgat primeiro, quas¬ do os naon matem, os exporáon a grandes perigos Em confir¬
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Observaçaõ XLII. 257 confirmação de∫ta verdade pudera repetir muitos exemplos a∫∫im dos ∫eculos pa∫∫ados , como dos ∫eculos presentes ; mas he e∫cusado buscar exemplos de fora , quando nos ∫obejaõ os que temos de casa ; & por naõ ∫er importuno , nem infinito em repetir exemplos , ba∫te por todos o ∫eguinte ; pelo qual mo∫trarei com toda a evidencia , quam errados vaõ aquelles Médicos , & em que precipicios de∫penhaõ aos doentes , que tendo os e∫tomagos cheyos de cruezas , ou humor, os ∫angraõ , ∫em os purgar primeiro . 2: O Reverendo Padre Frey Antonio de Tancos , Religio∫o Carmelita Calçado , teve em 14 . de Ago∫to de 1665 . huma febre grandi∫∫ima acompanhada de varios ∫ymptomas , que demo∫travaõ ∫er procedida de enchimento de e∫tomago , porque padecia amargores de boca , dores na parte dianteira da cabeça , de∫ejos de vomitar , & fastio taõ horrendo , que nem podia comer , nem ouvir falar ni∫∫o ; & o que fazia mayor prova que a febre procedia de carga do e∫tomago, era ser o dito Frade mu∫ico , costumado a andar em fe∫tas , & banquetes , & dado a vida ∫edentaria , & regalona . Ba∫tantes indícios eraõ e∫tes , para que o Medico na primeira vi∫ita conhece∫∫e que no e∫tomago e∫tava a causa da febre , & que por e∫ta razaõ convinha darlhe logo hum vomitorio de tres onças de agua benedicta vigorada , ou huma onça de agua Angelica , ou dous e∫cropulos de vit-iolo branco , ou huma infu∫aõ de duas oitavas de folhas de sene com cinco onças de a∫∫ucar ro∫ado de Alexandria ; ou , o que era mais ∫uave , duas oitavas dos meus trociscos de Fioravanto , polvorizados , & misturados com hum pouco de caldo dc gallinha ; porque aliviado o e∫tomago da grande carga que tinha , ∫e tiraria a febre , como muitas vezes ∫uccede , & eu o tenho vi∫to ; & por con∫equencia ∫e e∫cu∫ariaõ as ∫angrias ; ou ba∫tariaõ poucas , & naõ chegaria o doente a tanto perigo. 3. Porèm como o doente e∫colhe∫∫e para ∫e curar a hum Medico , que ∫angraria aos defuntos depois de enterrados , quiz e∫te a torto , & a direito , ( ∫em attender
Obferyaçao XLII. 257. confirmação defta verdade pudera repetir muitos ex- emplos afim dos feculos paffados, como dos fecalos , prefentes ; mas he efcufado bufcar exemplos de fora, quando nos fobejao os que temos de cafa ; & por nao · fer. importuno , nem infinito em repetir exemplos, baf" por todoso feguinte', pelo qual moftrarei com todia evidencia, quam errados vao aquelles Médicos, & em que precipicios defpenhao aos doentes, queten- do os eftomagos cheyos de cruezas , ou humor, os fangrao, fem os purgar primeiro. 2! O Reverendo Padre Frey Antonio de Tancos, Religiofo Carmelita Calçado, teve em 14. de Agof- to de 1665. huma febre grandiffima acompanhada de. varios fymptomas , que demoftravao fer procedida 'de enchimento de, eftomago, porque padecia amar- gores de boca, dores naparte dianteira da cabeça, de -. fejos de vomitar , & faftio tao horrendo, que nem po- . dia comer, nem ouvir fallar niffoy & o que fazia ma -. yor prova que a febre procedia de carga do eftomago, era fero dito Frade mufico, coftumado a andar em fef- tas , & banquetes, & dado à vida fedentaria, & rega- lona. Baftantes indicios erao.ces , para que o Medi- co na primeira vifita conheceffe que no eftomago ef- tava a canfa da febre, & que por efta razao convinha darlhe logo hum vomitorio de tres onças de agua ber * nedicta vigorada, ou huma onça de agua Angelica, ou dous efcropulos de vitfiolo branco, ou huma in- fufao de duas oitavas de folhas de fene com cinco on- ças de affucar rofado de Alexandria; ou,o que era mais . fuave, duas oitavas dos theus trocifcos de Fioravanto; polvorizados, & mifturados com huth pouco decal- do de gallinha ; porque aliviado o eftomago da gran- de carga que tinha , fe tiraria a febre, como muitas vezes fuccede, & eu o tenho vifto ; & por confequen- cia fe elcufariao as fangrias , ou baftariao poucas, & nao chegaria o doente a tanto perion. Porem como o doente efcomileffe para fe curat a hum Medico, que fangraria aos defuntos depois de enterrados, quiz efte a torto, & a direita (fem atten- d - 1 : :
Obfervaca. XLI. tonfirmacaö defta verdade pudera repetir muitos ex- emplos affim dos feculos paffados, .como dos feculos . prelentes ; mas he efcufado bufcar exemplos de fora, quando nos fobeja os que temos decafa; & por na fer.importuno , nem infinito em repétir exemplos, + baf: por todoso feguinte, peloqual moftrareicom todaa evidencia,quam errados vaaquelles Mdicós, & em que précipicios défpenha aos dentes,que ten- doos eftomagos cheyos de cruezas , ou humor, os fangra , fem os purgar primeiro. 2: OReverendo Padre Frey Antonio.de Tan'cos, Religiofo Carmelita Calcado, teve em 14. dt Agof-: Li to de 1665. huma febre grandiffima acompanhada de. varios fymptomas , que demoftrava. fer procedida de enchimento de. eftomago, porque padecia amar-: gores de beca, dores nasparte dianteira da cabeca , de-. fejos de vomitar , & faftio tao horrendo, qué nem po-. dia comer, nem ouyir.fallarniffos & oque fazia ma-. yor prova que.afebre procedia de carga döeftomago era férodito Erade mufico, coftumado aandar em fef tas,& ba'nquetes, & dadoa vida fedentaria, & rega- cona primeira vifita conheceffe que no eftomago ef-: tava a canfada febre, & que por efta razao. convinha darlhe logohum.vomitorio de tres oncas:deagua ber nedicta vigorada, ou huna onca de agua Angelica; ou dous tfcropulos de vitfiolo branco, uhuma ins: fufaö de duas oitavas de folhas de fene.com ancoona $as de affucar rofado de Alexandria;ou,o:queera mais fuave , duas oitavas dos neus trocifcos de Fioravanto; polvorizados,& mifturados com hu a pouco decal. do degallinha, porque aliviado oeftomago da gran de carga que tinha,fe tiraria a febre, como muitas vezes fuccede, & eu o'tenho vifto & por confequen- cia fe eicufaria as fangrias ; ou .baftaria poucas, & na chegaria o doente a tanto per feffepara fecurat. .: Poremcomoodoenteefco a hum Medico, que fangrariaaos defuntos depois de enterrados , quiz eftea tortö, & a direita(fem atten:
4 + Obfervação XLII. as tonfirmaçaõ deffa verdade pudera repetir muitos ex“. * emplos affimdos feculos paflados, como dos feculos * | : , preflentes; mas he efcufado bufcar exemplos de fóra, AAA quando nos fobejaó os que temos de cafá ; & por naô " | * ferimportuno , nem infinito em repetir exemplos; bafo: todos o feguinte”, pelo qual moltrarei com todefi evidencia,quam errados vaó aquelles Médicos, & em que precipicios defpenhaô aos dôentes,que ter" do os eftomagos cheyos de cruezás'; ou humor, os fangraõ, fem os purgar primeiro. ea 2º OReverendo Padre Frey Antonio de Tafcos, Religiofo Carmelita Calçado, teve em 14. dê Agof« | to de 1665. huma febre grandiflima acompanhada de. SA Yarios fymptomas , que demoltravaõ fer procedida — DO 'de enchitnerito de, eftomago, porque padecia amars' . + oco gores de beca, dores nasparte dianteira da cabeça,des —. * fejos de vomitar , & fáftio raô horrendo, qué nem po-. “ diacomer, nem ouvir fallatniflos & o que fazia ma-. yor prova que.a febre procedia de carga o eftomago, ea féro dito Brade mulico, coftumado a andaremfel. — - tas , & banquetes, & d&do à vida fedentaria, &regas== —* %ona, Baftantes indicios era0.elikes , para que oMediz .. . . cona primeira vifita conhecefle que no eltomago ef: E : ravaa canfa-da febre, & que poreftarazaó.convinha — > | darlhe logoWhum vomitorio de tres onças deagua ber * nediéta vigorada, ou huma onça de agua Angelica; eu dous elcropulos de vitrfiolo brinco, ou-huma in» fufaô de duas oitavas de folhas de fene com:éiico one — = os de aflfucar rofado de Alexandria;oti,0 qug.era mais * fuave, duas oitavas dos meus trocifcos de Fioravanto; "ic polverizados , & miftuftados com hua pouco deals, 20 do de gallinhã ; porque aliviado. o eftomago da gran- de carga que tinha fe tiraria a febre, como muitas *. vezes fuccede, & eu o téênho viffo 3 & por confequeit- o cia fe elcufariaô as fangrias, ou baftariao poucas,ê& NAL naõ chegaria o doente a tanto PE: o o ” - Porêm como o doente efcóMelle para fe enrag, 26 — ahum Medico, que fangrariaaos defuntos depois de PRESS sé ' — enterrados, quiz efteartortó,& a direiggen(fes iagicão ENA ht SR a va 1. a * a » . » . e á : PP . . P . ' ' + . '
257 Observaçao XLII. confirmaçaon desta verdade pudera repetir muitos ex¬ emplos assim dos seculos passados, como dos seculos presentes; mas he escusado buscar exemplos de fora, quando nos sobejaon os que temos de casa; & por naon ser. importuno, nem infinito em repetir exemplos. baspor todos o seguinte, pelo qual mostrarei com todaa evidencia, quam errados vaon aquelles Medicos, & em que precipicios despenhaon aos doentes, que ten¬ do os estomagos cheyos de cruezas, ou humor, os sangraon, sem os purgar primeiro. 2. O Reverendo Padre Frey Antonio de Tancos, Religioso Carmelita Calçado, teve em 14. de Agos¬ to de 1665. huma febre grandissima acompanhada de varios symptomas, que demostravaon ser procedida de enchimento de estomago, porque padecia amar- gores de boca, dores naparte dianteira da cabeça, de- se jos de vomitar, & fastio taon horrendo, que nem po¬ dia comer, nem ouvir fallarnissos & o que fazia ma¬ yor prova que a febre procedia de carga do estomago, era sero dito Frade musico, costumado a andar em fes¬ tas, & banquetes, & dado à vida sedentaria, & rega- lona. Bastantes indicios eraon.estes, para que o Medi¬ co na primeira visita conhecesse que no estomago es¬ tava a causa da febre, & que por esta razaon convinha darlhe logoihum vomitorio de tres onças de agua be¬ nedicta vigorada, ou huma onça de agua Angelica, ou dous escropulos de vitfiolo branco, ou huma in¬ fusaon de duas oitavas de folhas de sene com cinco on¬ ças de assucar rosado de Alexandria;ou,o quę era mais • suave, duas oitavas dos meus trociscos de Fioravanto, polvorizados, & misturados com hum pouco decal¬ do de gallinhâ; porque aliviado o estomago da gran- de carga que tinha, se tiraria a febrè, como muitas zes succede, & eu o tenho visto, & por consequen- cia se escusariaon as sangrias, ou bastariaon poucas, & naon chegaria o doente a tanto periop. . Porèm como o doente escolesse para se curat a num Medico, que sangraria aos defuntos depois de enterrados, quiz este a tortò, & a direitque (sem atten¬ des * *.. . * *.* a *
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258 Observações Medicas Doutrinaes. der a outra razaõ mais que porque achou febre ) tirar ∫angue , ( em que a doença não peccava , ) & por nenhum modo quiz darlhe hum vomitorio , ou alguma das ∫obreditas purgas , para de∫pejar do e∫tomago os humores , em que ∫e radicava a enfermidade ; porque ∫e per∫uadio o tal Medico que os de∫ejos de vomitar , os amargores da boca , o grande fa∫tio , as ancias , & as mais queixas que o doente padecia , procediaõ de enchimento das veas ; & fundado ne∫ta fal∫a conjectura , julgou que as ∫angrias ∫e deviaõ antepor aos vomitorios , & purgas alviducas , & por isso mandou ∫angrar vinte vezes ao de∫graçado enfermo ; mas taõ infelizmente , que quanto mais ∫angue lhe tirava , tanto em mayores ancias , & mais ardentes febres o metia: multiplicavaõ∫e os vomitos, cre∫ciaõ as frialdades dos extremos, perturbavaõ∫e os ∫entidos , embaraçava∫e a língua, ourinava ∫em ∫entir∫e ; & ∫obre todas e∫tas mi∫erias , erão tam grandes , & taõ repetidos os ∫oluços, que moviaõ compaixaõ nos corações mais penha∫co∫os. 4. Ne∫te aperto , (e∫tando já o doente ungido , & o Medico de∫confiado da sua vida ) me chamou o Padre Doutor Frey Gregório de Je∫us , que era entaõ Prior do Convento , & dandome larga informaçaõ das queixas q o doente padecia ; ( porque elle já naõ e∫tava capaz de me informar ) entendi que a febre, & todos os ∫ymptomas referidos procediaõ de enchimento do e∫tomago , naõ ∫ô porque o doente o confe∫∫ava, em quanto e∫teve em ∫eu acordo ; mas porque os ∫obreditos finaes o te∫timunhavaõ a∫∫im : & perguntando eu ao Reverendo Prior , & mais Religio∫os , ∫e o doente e∫tava purgado , me re∫pondéraõ que naõ , porque o Medico entendèra que as queixas do doente naõ , tinhaõ a ∫ua origem no e∫tomago , mas nas veas , & que por e∫∫a cau∫a julgàra por mais convenientes as ∫angrias , que a purga . Confe∫∫o que naõ pude achar de∫culpa a e∫te Medico , pois via que a doença ∫e augmentava ao compa∫∫o que as ∫angrias ∫e repetiaõ , & devia lembrar∫e que Galeno ( 3 . ) acon∫elha que os reme
258 Observações Medicas Doutrinaes. der a outra razao mais que porque achou febre firar fangue, ( em que a doença não peccava, ) & por ne- nhum modo quiz darlhe hum vomitorio, ou alguma das fobreditas purgas , para defpejar do eftomago os:' humores , em que fe radicava a enfermidade ; porque fe perfuadio o tal Medico 'que as defejos de vo os amargores da boca, o grande faftio, as ancia as mais queixas que o doente padecia, procediao de enchimento das veas; & fundado nefta falfa conjectu .. ra, julgou que as fangrias fe deviaõ antepor aos vomi- torios, & purgas alviducas, & por iffo mandou.fan- grar vingt vezes ao defgraçado enfermo; mas tao infe lizmente", que quanto mais fangue lhe tirava , tanto em mayores ancias, & mais ardentes febres o metias multiplicavaofe os vomitos, crefciao as frialdades dos extremos, perturbavaofe os fentidos , embaraçavafes lingua, ourinava fem fentirfe; & fobre todas eftas mis ferias , erão tam gsandes, & tao repetidos osfoluços, que moviao compaixão nos corações mais penhafco- fos. . 4. Nefte aperto, (eftando ja o doente ungi & Medico defconfiadoda fua vida ) me chamou. o Pa- dre Doutor Frey Gregorio de Jefus , que era então Prior do Convento, & dandome larga infe anaçao das queixas q o doente padecia; ( porque ellejá nao efta-" va capaz de me informar ) entendi que a febre, & tor dos os fymptomas feferidos procediao de enchimen- to do eftomago, nao fo porque o doente o confeffavas em quanto efteve em feu acordo; mas porque os fos breditos finaes o teftimunhav to affim : & perguntan 'do eu aoReverendo Prior, & mais Religiofos , fe doente eftava purgado ,me refponderao que nao, por que o Medicoentendera que as queixas do doentena@ " tinhao ifua origem no eftomago, mas nas veas, & que por effa caufa julgara por mais convenientes as fany grias , que a pure" Confeffo que nao pude achar def4 pulpa a efte Med co, pois-via que a doença fe: a mentava ao compaffo que as fangrias fe repetiaos& devia lembrarde que Galeno (3. ) aconselha que ortes X
s* Obfervacoes Medicas.Doutrinaes. der aoutra raza: mais que porqueachau febre tirar fangue; ( em que a doenga nao peccava, )&por ne- nhum modo quiz darlhe hum vomitario, au alguma: das fobreditas purgas , para. defpejar do eftomago os: hunores, en qae.fe radicava aenfermidadeporaue fé perfuadio otal Medico que as defejos. de vo os amargores da boca., o grande fafio, as anci. as mais queixas que o doente padecia, procedia de enchimento das veas; & fundado nefta falfa conjectu-- ra, julgou que as fangrias fe devia antepor aos vomi- torios,.& purgas alviducas, & por iffo mandoufana: grar vin vezes ao defgracado enfermo; mas ta infe lizmente,quequanio mais fangue lhe tirava , tant em mayoresancias, & mais. ardentes febres o metia multiplicavaofe os vomitos, crefcia as frialdades do extremos, perturbavafe os f@ tidos , cmbaracavafé . lingua, ourinava fem fentirfe; & fobre todas eftas m ferias , erao tamgsandes, & ta repetidos: osfolugos, que moviacompaixa nös coracóes mais penhafco los. 4. Nefte aperto., t'eftando jao doente ungi & e Medico defcanfiado nfuavida ) me chamou. o Pa- dre Doutor Frey Gregorio.de.Jefus , qus era enta Prior do Conventó,& dandone larga infe nacadasi queixasádoente padecia.; ( porque ellejá na efta- va capaz de meinformar )entendiqueafebre, & to dos os fymptoinas feferidos procedia de enchimen- to do eftomago , na f porque 0 doente oconfeffava. em quanto.efteve em feu acordo; mas porque os fo- breditos finaes o teftimunhav öaffim : & perguntan do eu aoRevendo Prior, & mais Religiofos #fe.? que o Madicontendera que as queixas dodoenteras . tinhao afua drgem ng eftomago, mas nas veas, & que por effa caufa julgara por maisconvenientes asfany grias , que a pur.. .Confeffo que nao pudt achar def- sulpa a efte Mea, pois via que a doenca fe:at mentava ao compaffo.que as fangrias fé repetiayt rae
“sst Obfervações Medicas Doutrinães. 4 * deraoutrarazaó mais que porqueachou febre ita “fangue; (em que a doença não pecceava, ) & porne nhum modo quiz darlhe hum vomitario, ou alguma - ' dasfobreditas purgas , para. defpejar do ettomago os: fé perfuadio oral Medico 'que es defejos de vo: Es os amarpores da boca, o grande faftio, as anci ã as mais queixas que 0 doente padecia, procediaô de i enchimento das veas; & fundado nefta falfa canje&kux= “« . ra,jultoiqueasfangriasfedeviaõ anteporaos vomi< | ', torios, & purgas alviducas, & poriflo mandouYana: i ' grar vinee vezes ao dels graçado enfermo; mas táo infes. , . klizménte, que quanzo mais fangue lhe tirava , tanto ESSA . em mayoresancias,'& mais ardentes febres o metia? 26x o a. o: maultislicaváófeosvomitos, crefciaõ as frialdades dos . “. extremos, perturbavaófe os fagidos , embaraçavafeia + lingua, ourinava fem fentirfe; & fobre todas eftas m humores, em«júe fe radicava a enfermidade " e | ferias , erão tam grandes , & taó repetidos: osfoluços, - que moviaô compaixaó nos corações mais penhafeos Ss. ' * No : 4. Nefteaperto, (eftand6 jão doenteu 8 : : e Medico defcanfiadogfua vida ) me chamou o Pas Dé o dre Doutor Frey Gregorio de Jefus , que era entas " 1.37, Priordo Conveéntó,& dandome larga in açao das; CS queixas á a doente padecia ; ( porque ell&já naô elta- va cápaz de me informar ) entendi que a febre, & to * ? dos os fympromas feferidot procediaô de enchimen=. * —todoeltomuago, naófô porque o doente oconfeffava; em quango efteve em feu acordo ; mas porque os foi | 1 breditosfinaes o teftimunhawõ-aflim : & perguntaris 4 coz o 0 'doguadRevesendo Prior, & mais Religiofos ;fé z | doeate eltáva purgado ,ane relpondérão que naó, porigr ! “3 dqueoMedicagirendêraqueas queixas do doentensã Na . tinhao ifoagHpemnoa citomago, mas nas veas, & que Po — * porgHacaufa julgãra por mais convenientes astany o grias , que a purgasConfeflo que naó pude achai def asulpa a elite MedMEO, pois-via que a doença fe:aMh menrava ao compaflo que as fangrias fe repetiaõs devia lembrarfe que Galeno (3. ) acanfelha que Fes - " ") O e e : tetos or Li y Y
258 Observaçones Medicas Doutrinaes. der a outra razaon mais que porque achou febre) tirar langue, (em que a doença nano peccava, ) & por ne- nhum modo quiz darlhe hum vomitorio, ou alguma das sobreditas purgas, para despejar do estomago os humores, em que se radicava a enfermidade; porque se persuadio o tal Medico que as defejos de vos os amargores da boca, o grande fastio, as ancia as mais queixas que o doente padecia, procediaon de enchimento das veas; & fundado nesta falsa conjectu¬ ra, julgou que as sangrias se deviaon antepor aos vomi¬ torios, & purgas alviducas, & por isso mandousan¬ grar vinae vezes ao desgraçado enfermo; mas taon infe¬ lizmente, que quanto mais sangue lhe tirava, tanto em mayores ancias, & mais ardentes febres o metiai multiplicavaonse os vomitos, cresciaon as frialdades dos extremos, perturbavaonse os sontidos, embaraçavase a lingua, ourinava sem sentirse; & sobre todas estas mia serias, eramo tam grandes, & taon repetidos os soluços, que moviaon compaixaon nos coraçoes mais penhasco¬ los. Neste aperto, (estando jao doente une, & o Medico desconfiado sua vida) me chamou o Pa¬ dre Doutor Frey Gregorio de Jesus, quę era entao Prior do Conventò, & dandome larga infemaçaon das queixas que o doente padecia, (porque ellejà naon esta¬ va capaz de me informar) entendi que a febre, & tos dos os symptomas referidos procediaon de enchimen¬ to do estomago, naon sô porque o doente oconfessava; em quanto esteve em seu acordo; mas porque os so breditos sinaes o testimunha non assim: & perguntan do eu ao Revemndo Prior, & mais Religiosos, se doente estava purgado, me respondéramo que naon, por que o Medicopntendèra que as queixas do doente nao tinhaon à sua prigem no estomago, mas nas veas, & que por essa causa julgàra por mais convenientes as san¬ grias, que a purg Confesso que naon pude achar des¬ gulpa a este Meuco, pois via que a doença se al mentava ao compasso que as sangrias se repetiaon; & devia lembrarse que Galeno (3.) aconsellia que os re¬ e ..
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Observaçaõ XLII. 259 medios ∫e devem ∫eguir , ou ∫uspender, conforme o proveito , ou damno que fazem ; & ∫endo i∫to a∫∫im , parecia cegueira do entendimento abraçar tanto as sangrias , & abominar com tal exce∫∫o purgas . Porèm como as veas estivessem sem vicio , por isso multipli as as ∫angrias , & retrahidas por ellas as cruezas do estomago , cahio em huma enfermidade mortal . Neste ca∫o fiquei muito duvido∫o ∫obre a re∫oluçaõ do que avia de obrar ; porque para purgallo , ( que era o que convinha ) era já tarde , & naõ avia forças ; para sangrallo mais , era acre∫centar erro a erro , pois as muitas ∫angrias lhe tinhaõ feito tanto damno lançarlhe ∫angui∫ugas , ( àlem de que eraõ pequeno remédio para tão grande mal ) não e∫tavaõ indicadas da doença , pois a cau∫a della e∫tava no e∫tomago , & já pecava mais em qualidade de veneno∫a o oc lta , do que em podridão manife∫ta dos humores ; ne∫ta angu∫tia naõ re∫tava outra e∫perança mais que rebater & fixar a má qualidade da febre com algum remedio bezoartico , que lentamente ∫o∫∫e tambem purgando algum humor , em que a tal veneno∫a qualidade ∫e ateava ; & como e∫tas duas virtudes juntas ∫e achem ∫o no meu Cordeal Bezoartico , puz nelle toda a e∫perança temporal , fiado nas muitas , & mui prodigio∫as curas , que com o tal Bezoartico tinha feito , & a∫∫im lho receitei na forma ∫eguinte. 5. Tomei de pevides de cidra azeda huma oitava de raízes se e∫corcioneira huma onça , tudo machucado mandei ∫e coze∫∫e em huma panela de barro com huma canada de agua commua , até ficar em três quartilhos , & que quando a panela se tirasse do fogo deitassem dentro nella quatro oitavas de folhas de seno de Lapata , & ∫eis onças de a∫∫ucar rosado de Alexandria , & se deixasse estar de infusão quatro horas , no fim das quaes ordenei se coasse a dita agua com forte expressaõ , & nella se deitassem três oitavas do meu Bezoartico que eu faço em minha ca∫a , & o vendo feito aos boticários João Gomes Silveira , morador ao Chiado , & a Fr. Manoel de Jesus Maria boticario de Saõ
Oblervação XLII. 259 medios fe devem feguir , ou fufpender, conforme o proveito, ou damno que fazem ; & fendo ifto afim ;. . parecia cegueira do entendimento abraçar tanto as fangrias, & abominar comtal exceffo ampurgas. Po- rem como as veas eftiveflem fem vicio,por iffo multi- plitodas as fangrias , & retrahidas por ellas as cruezas dor somago, cahio em huma enfermidade mortal. Nefte cafo fiquei muito duvidolo fobre a refolucao do que avia de obrar ; porque para purgallo, ( que era o que convinha )'era já tarde , & nao avia forças ; para fangrallo mais , era acrefcentar erro a erro , pois as muitas fangrias lhe tinhao feito tanto damno lançar» lhe fanguifugas, ( alem de que erao pequeno remedio para tão grande mal ) não estava indicadas da doer ça, pois a caufa della eftava noeftomago, &. ja pec. cava maisem qualidade genenofa ocedita, do que em podridao manifefta dos humores ; nefta angustia nao reftava outra efperança mais querabater, & fixar z má qualidade da febre com algum remedio bezoartir co , que lentamente foffe tambem pargando alguma- humor, em que a tal venenofa qualidade fe ateava ; & como eftas duas virtudes junms fę achem fó no meu Cordeal Bezoartico , puz nelle toda a esperança tem- poral, fiado nas muitas, & mui prodigiofas curas , que com o tal Bezoartico tinha feito, &affim lho receitei na forma seguinte, 5. Tomei de pevides de cidra azeda huma oitava). de raizes de efcorcioneira huma onça, tudo machut cado mandei fe cozeffe em huma panela de barro com huma canada de agua commun, até ficar em tres quan- tilhos, & que quando a panela fe tiraffe do fogo , dei. taffem dentro nella quatro oitavas de folhas de fene de Lapata , & feis onças de affucar rofado de Alexan. dria, & fe deixaffe eftar de infufao quatro horas, no fim das quaes ordenei fe coaffe a dita agua com forte * expreffao, & nella fe deitaffem tres oitavas do meu Bezoartico, que eufaço em min cafa, & o vendo feito aos boticarios Joao Gomes Silveira, morador ao Chiado, & a Fr. Manoel de Jefus Maria boticario de Sao . - 1 O
Obfervagao XLII : 259 medios fe devem feguir,"ou fufpender, conforme o proveito, ou damno que fazem; & fendo ifto affimj parecia cegueira do entendimento abracar tanto as fangrias, & abominar com tal exceffo aspurgas. Po- rém.como as veas eftiveffem fem viciepor iffo multi. plissslas as fangrias, & retrahidas por ellas ascrueza* do Homago, cahio em huma enfermidadenaprtal. Nefte cafo fiquei muito duvidofa fobre a refoluca . doque avia de obrar; porque para purgalloa que era o queconvinha)erajatarde,& naaviaforcas; para fangrallomais,eraacrefcentar erro.a erro , pois as muitas fangrias lhe tinhaö feito tant damnoalancare lhe fanguifugas, ( álem de que era pequeno*rerardi. para taogrande mal ) naoeftava indicadas da doer ca, poisacaufa della eftava noeftomago,&.japec- cava maisem qualidad atenenofaocealta , do queem odridao manifefta dss humores :. nefta anguftia na Teftava outra efperanca mais quarabater, & fixar a. ma qualidadeda febre com algum remedo bezoartir co , que lentamenterfoffe tambem purgando alguma humof, em que a tal venenofa qualidade fe ateava ; & como eftas. duas virtudes.jup as fe achem fo nomeu Cordeal Bezoartico, puz nelletoda a efperanca te n poral, fiadonas muitas, & mui prodigiofas curas , qu&. com o tal Bezoartico tinha feito., &affim iho.reccitei - nafórma.eguinte, . s.. Tomei de pevides de cidra azeda huma oitavay de raizes de efcorcioneira.huma onca, tuda machut cado mandei fe.cozeffe em huma panala de barro com huma canada de agua ce mmua, ate fcer em trasquar. tilhos,& que quando apanelafetiraTe do fogg dai. taffem dentro nella quatro oitayas de fothas delene de Lapata,& feis oncas deaffucar rofado de.Alexant dria, & fedeixaffe eftar de infufa quatr& horas, no fim das quaes :ordenei fe coaffe a dita agua com forta expreffa, & nella fe deitaffem tres oitavas do imeu Bezoartico, que eufago-em mini xafa, &:o.venda feito aos boticarios Joa Gomes Silveira , morador ag Chiado, &a Fr. Manoel deJefus Mariaboticaria de
" FU ANN medios fe devem feguir ,-ou fufpender, conforme o proveito, ou damno que fazem ; & fendo ifko alim;. arecia cegueira do entendimento abraçar tanto as angrias , & abominar comtal exceflo agpurgas. Por - rêmcomoas veaseftiveflem fem vicia;por iflo multi. . oelomago, cahio em huma enfermidade nevreal. ao as fangrias , & retrahidas por ellas as eruezas Nelte cafo fiquei muito duvidafo fobre a reloluças ' doqueaviade obrar; porque pata purgalio, ( que era ' o que convinha )'era já tarde , & na6 avia forças ; para fangrallo mais , era acrefcentar erro a êrro , páis às muitas fangrias lhe tinhaó feito tanto damôanlançars * lhe fanguilugas, ( àlem de que eraó pequeno rengedia "para táograndeemal ) não eftavaghindicadas da doem". ça, poisacaufa della eftava noéeltomago,'& jápecs ,*. EE: maisem qualidadegencnofa oeeflta» do que em “Podridas manifefta d Teltava outra elperança mais querabater, & fixar 2 - má qualidade. da febrecôm algum remedão bezoartis to, que Tentâmegre-fofle tambem purgando algum- humo?, em que à tal verenofa qualidade fe ateava ;& Cordeal Bezoattico, puz nelletoda a el jérança teima poral, fiado rias muitas, & mui prodigiofos curas, quê como tal Bgzoartiço tinha feico, &allimlhoe.receices 'i çomo eftas duas virtudes junggs fe achem, fó no meu * ha fórmafeguinte, ” 4 oo o “sm : * ” «+ 5. Tomeide pavides de cidra azeda huma oitava), de raizes de efcorcioneira- huma onça, tuda machuz E) cado mandei fe cozefle em huma panela de barro com” huma canada de agua copimua, até fica em tres quars Obfervaçãõ XE 25917 umores:! rieita anguítia na& —* + s = * º Ex tilhos , & que quando a panela fe tirafle do fogadeis 'taflem dentro nella quatro eirayas,c ONA A NAAS de Lapata ,& feis enças de afluicar rofado de Alexane dria, & fedeixafle eltar de infila6 quatro horas, no fim das quaes ordenei fe cpafle á dita agua com forte. expreffas, .& nella fe deitaflem oitavas do meu Beroattico, que eufaço.cm mingtala , & 6 ven feito aos boticarios Joaô Gomes Silveira, moradorag .. se e. 7a a to * ' ' ” e. “.. e. . PENTA * . e .., ES . zhiado , & a Fr, Manoel de Jeíus Mariaãàoticaris de so 3 ” ao —a%
Observaçaon XIII. 259 medios se devem seguir, ou suspender, conforme o proveito, ou damno que fazem; & sendo isto assim, parecia cegueira do entendimento abraçar tanto as sangrias, & abominar com tal excesso aspurgas. Po¬ rèm como as veas estivessem sem vicio, por isso multi¬ plixadas as sangrias, & retrahidas por ellas as cruezas do, qdomago, cahio em huma enfermidade mortal. Neste çaso fiquei muito duvidoso sobre a resoluçaon do que avia de obrar; porque para purgallo, (que era o que convinha) era jà tarde , & nao avia forças; para sangrallo mais, era acrescentar erro a erro, pois as muitas sangrias lhe tinhaon feito tanto damnonlançar¬ Ihe sanguisugas, (alem de que eraon pequenoremedio para tamo grande mal) namo estava? indicadas da doen¬ ça, pois a causa della estava no estomago, & jà pec¬ cava maisem qualidade venenosa occulta, do que em podridaon manifesta dos humores: nesta angustia naom restava ontra esperança mais quę rabater, & fixar a ma qualidade da febre com algum remedio bezoarti¬ co, que lentamente fosse tambem purgando algum humor, em que a tal venenosa qualidade se ateava; & como estas duas virtudes juntas se achem so no meu Cordeal Bezoartico, puz nelle toda a esperanęa tem¬ poral, fiado nas muitas, & mui prodigiosas curas, que com o tal Bęzoartico tinha feito, & assim lho receitei * na forma seguinte. 5. Tomei de pevides de cidra azeda huma oitava, de raizes de escorcioneira huma onça, tudo machu¬ cado mandei se cozesse em huma panela de barro com huma canada de agua commua, até ficar em tres quar¬ tilhos, & que quando a panela se tirasse do fogqu, dei¬ tassem dentro nella quatro oitayas de folhas de lens de Lapata, & seis onças de assucar rosado de Alexan¬ dria, & se deixasse estar de infusaque quatra horas, no sim das quaes ordenei se coasse à dita agua com forta expressao, & nella se deitassem tras oitavas do meu Bezoartico, que eu faço em min casa, & o vendq feito aos boticarios Joaon Gomes Silveira, morador ac Chiado, & a Fr. Manoel de Jesus Maria boticario de Sad 2 . . .
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